Ouvi hoje a entrevista do ex-jogador são-paulino que volta
ao time, o Hernanes. Em quinze segundos de fala ele repetiu três vezes o
advérbio “realmente”. Irritante!
Cada vez que ouço alguém falando e usa um dos cacoetes
(serão mesmo cacoetes?) como “realmente”, “na verdade”, “neste momento”, “
entendeu?”, “né” passo a contar quantas vezes a pessoa vai repetir o irritante
cacoete. Tem gente que diz que sofro de Transtorno Obsessivo Compulsivo, mas
acho que é implicância com coisas que só fazem irritar.
Dou alguns exemplos: um repórter da CBN Campinas, quando do
acidente com o barco na Lagoa do Taquaral e que lá estava para reportar o que
estavam fazendo, falou em sua intervenção (que durou uns dois minutos) mais de
quinze vezes a expressão “neste momento”. Uma repórter da mesma rádio, em uma
fala de 30 segundos mais ou menos, repetiu o “realmente” sete vezes. Uma
psicóloga dando uma entrevista na televisão, repetiu nada menos que 28 vezes o
“realmente”.
Quando uma pessoa começa a frase com o “na verdade” eu me ponho
na defensiva: ele quer me convencer de que está falando a verdade e que o que
ele fala não pode ser questionado. Se ele começa com “na verdade” como posso
duvidar do que diz? Como posso questionar? A melhor atitude para os que usam o
“na verdade” é ficar quieto e engolir o que falam, mesmo que seja asneira. Digo
isto porque já tentei questionar e me dei mal e quase perco um amigo.
Dependendo do que a pessoa fala, o “neste momento” é
desnecessário. A descrição feita pelo repórter era feita em cima dos fatos e
dizer “neste momento” era redundante. Só podia ser naquele momento. E pela
redundância e pela repetição tornou-se cansativo. Já ouvi muitas vezes em
igrejas esta expressão: “neste momento” vamos ter uma oração ... Desnecessário!
Mas o que me irrita e me coloca na defensiva é a repetição
do “entendeu”. Para mim, o que a pessoa está me comunicando é que o que ela
está dizendo é tão complicado ou profundo que ela precisa se certificar de que
estou entendendo a sua colocação. No fundo, é uma forma de me depreciar. Se
você disser para sacanear: “não, não estou entendendo” a pessoa se perde na sua
fala ou, o que é pior, vai tentar explicar o óbvio que está dizendo. Mesmo
porque, todas as vezes que vi alguém empregando com insistência o “entendeu”
não estava dizendo nada mais que obviedades.
Acho que esta minha implicância e o contar as vezes que as
coisas se repetem se deve a uma experiência da juventude. Tive um professor de
química que abusava do “né”. Os alunos faziam um bingo para ver quem mais
próximo chegava da quantidade de “né” que ele proferia em uma hora de aula.
Três estavam encarregados de contar e se tirava a média das contagens porque a
gente às vezes perdia um ou outro. Quem mais próximo chegasse do número
aferido, ganhava a bolada das apostas feitas. A média era de 250 por hora!
Para mim o “né” é manipulador: é uma contração do “não e?” e
o uso dele implica em me fazer concordar com o que a pessoa está falando, sem
ter chances de questionar.
Na verdade, realmente fui chato neste momento, né? Perdão!
Marcos Inhauser