Como não tenho feito outra coisa que ficar de molho, a cabeça
tem trabalhado! E, por estar vendo notícias até não mais poder, o que tenho
pensado e refletido tem conexão com o que escuto que está acontecendo, relacionando
com meu estado de saúde.
Se há algumas semanas a palavra da semana foi “ilação”, a
desta, ao que parece é “recuperação”. Nisto estou: em processo de recuperação
de uma Trombose Venosa Profunda que me obstruiu cinco veias da perna esquerda.
A cada dia é uma expectativa nova de que a coisa esteja melhor, a cada
movimento mais ousado fico esperando a reação, se favorável ou não. Fui fazer
os exames requeridos e a primeira coisa que fiz foi ver a data dos resultados.
Frustrei-me com um que só deve sair em meados de agosto. É muita espera para
saber com clareza o que aconteceu. Imagino que não me deixarão livre e solto
até lá. Um martírio!
Fico entre o desejo e a consciência da gravidade. Ela me faz
repousar (ainda que a contragosto). Ele me move a querer fazer coisas,
trabalhar e ser o que sempre fui: elétrico. Os sinais de melhora, por mais
imperceptíveis que possam ser, e alguns deles só eu sinto, são comemorados, a
expectativa de pronto restabelecimento é aquecida e o desejo de voltar à
normalidade é promovida.
Vendo os noticiários percebo que o Temer também está no
mesmo. Acometido por várias tromboses incriminatórias, fruto de seu
comportamento questionável no trato das questões políticas e republicanas e
também pelo DNA da política brasileira que tem o cromossomo da corrupção, ele teve
que entrar na UTI da CCJ e manobrar como pode para se safar e tentar voltar à
normalidade. Trocou diagnósticos, médicos, remédio e, de uma forma bastante
questionável, safou-se da UTI, ainda que haja um novo exame detalhado a ser
feito pelo plenário da Câmara.
Ganhou uns dias de “aparente” recuperação que só ele e seus
asseclas percebem e propagam aos quatro ventos. Sinais mínimos são
hiperbolizados nas mídias sociais, meio escolhido para dizer o que quer e não
ser questionado de pronto por jornalistas, tal como se dá nas coletivas. Os
pronunciamentos pasteurizados e feitos sob encomenda, onde marqueteiros
regiamente pagos cuidam da “imagem”, de forma a mostrar que o paciente está
bem, quando está moribundo.
Um 0,001% em alguma coisa é vendido como se o trem estivesse
voltando aos trilhos. A criação de alguns postos de emprego (desprezíveis
diante da massa de desempregados) é anunciada como a recuperação do paciente e
da economia. Faz-se um processo seletivo dos dados, uma vez que nada se fala da
queda do PIB, das projeções que diminuem a cada semana. Uma recuperação
desejada pelo paciente, mas não referendada pelos diagnósticos.
O Temer e eu estamos na mesma (guardadas as devidas
proporções e natureza da enfermidade). Ambos queremos a recuperação imediata,
como se ela viesse por um passe de mágica, num estalar dos dedos. Ambos
aguardamos resultados de exames feitos e olhamos a cada dia para os indicadores
para buscar sinais mínimos de melhora. As semelhanças param aqui. Eu tenho gente
orando por mim e querendo que eu melhore. Ele tem gente querendo que seja
comido pela enfermidade e que não se recupere. Eu não suborno médicos e não dou
verbas extras para garantir diagnósticos favoráveis. Confio no meu Deus. Ele
confia no Padilha, Moreira, Geddel, Marun, Perondi, etc. Eu tomo remédios. Ele,
ao que me parece, está tomando veneno.
Mas, ao fim e ao cabo, pensando que o enfermo também é a
nação brasileira, oro por mim e pela nação para que ambos nos recuperemos
prontamente!
Marcos Inhauser