O modelo vigente nas igrejas por séculos é o da cátedra, onde há uma confissão de fé, aceita pela denominação como expressão final e definitiva das crenças e ensinamentos exarados nas Escrituras, ensinados domingo após domingo pelo catedrático (pregador). O pregador, no uso da palavra não interrompida e nunca questionada no momento em que é proferida, deve ser a repetição para consolidação dos ensinamentos confessionais.
O problema com este tipo de religiosidade é que o líder não pode pensar, não pode fazer teologia, porque a sua já está feita e consolidada na Confissão de Fé de sua denominação. Se ousa dizer algo fora do que preceitua o receituário doutrinal, será inquirido, processado eclesiasticamente poderá ser disciplinado por um período de suspensão ou afastamento definitivo. Eu passei por isto, juntamente com alguns outros colegas.
Ousamos pensar e criticar algo e fomos acusados por uma mente fundamentalista, quem, treinado na letra da lei, só via obediência e jamais podia aceitar o questionamento. Para estas confessionalidades, a pergunta inquisitiva e exploratória de novas possibilidades é pecado. Perguntar arguindo o estabelecido é pecado sem perdão. É atentar contra a sacralidade de um Manual Doutrinário que, não importa quando foi estabelecido, nem as circunstâncias históricas em que tal se deu, aceitam que as formulações ali contidas têm a aura da infalibilidade. Um amigo foi fazer um curso de teologia contemporânea dado por uma pessoa recém-chegada com o título de ThD (Doctor in Theology). Ele começou na patrística, foi até Calvino e terminou seu curso. Meu amigo o questionou sobre os teólogos contemporâneos e ele disse que, depois de Calvino, não houveram mais teólogos.
Falar o novo, pensar o diferente, perguntar sobre o estabelecido é garantia de ser rotulado como herege. Herege não é um título que alguém se dê a si mesmo. Encontrar-se-ão milhares dos que se afirmam ortodoxos, conservadores, fieis à Palavra, fundamentalistas. Mas alguém que, sem estar sendo irônico, se caracterize como herege, é algo raro, incomum mesmo. Herege é sempre o outro. Dizer que o outro é herege é um ato de exercício de um pretenso poder de julgar quem é quem e quem está certo ou errado. Neste processo muitos foram sacrificados pelos donos do poder eclesiástico, tanto nas inquisições, como nos tribunais eclesiásticos das igrejas não-católicas.
Se perguntar criticamente sobre a fé e a confissão é ser herege, devo admitir que o sou. Por estar em uma denominação, talvez a única no mundo, que se afirma como não-credal (não temos um credo) e não-confessional (não temos uma confissão de fé), não há lugar para ser herege no seio dela. Nela não há quem tenha a autoridade de dizer: “você está errado”. O máximo que podemos é discordar, dizendo: “eu não penso como você”. Posso até dar as razões pelas quais creio diferente, mas sem acusar ou discutir opiniões.
No seio desta denominação, por isto, se pratica a hermenêutica comunitária, onde todos podem e devem participar da interpretação do texto estudado naquele momento. É no exercício de todos os dons presentes na comunidade que se dá a interpretação consensual. Nela o perguntar é virtude, o discordar é maturidade, o afirmar o que se pensa é essencial.
Marcos Inhauser
Professor, pastor, teólogo e educador corporativo Textos escritos para a coluna semanal no Correio Popular, da cidade de Campinas e texto escritos depois de 2021, que tratam de temas nacionais, internacionais, sobre igreja e teologia
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quarta-feira, 26 de outubro de 2016
A HERESIA DO PERGUNTAR
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quarta-feira, 19 de outubro de 2016
FÉ? O QUE É ISTO?
Há enorme quantidade de gente que, perguntada sobre o que é a
fé, não hesitariam em responder com a afirmação constante no livro dos Hebreus:
“a fé é o firme fundamento das
coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem” (Hb 11:1). No entanto, a definição
acima traz dificuldades intrínsecas, uma vez que só se aplica às coisas que se
esperam e às que se não veem. Interpretada a definição literalmente, não há fé
nas coisas passadas e nem nas que se veem.
Se ela só se aplica ao que se espera, como ter fé no Jesus
histórico que veio e que é fato do passado? Como crer nos relatos bíblicos da
libertação do povo de Deus do Egito, nas pragas, na passagem do Mar Vermelho e
outras narrativas do passado? Se são passado, já não são alvo de espera e se
não o são, não são objeto da fé.
Como fica a narrativa de Tomé que precisou ver para crer? “Se
eu não vir o sinal dos cravos nas suas mãos, e não meter o dedo no lugar dos
cravos, e não meter a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei” (Jo
20:27).
Se olharmos para o Antigo Testamento e para as narrativas de
fé que ali se encontram, vamos perceber que não há nele um manual de crenças,
ou um compêndio de teologia conceitual. Antes, pelo contrário, vamos encontrar
uma coletânea de narrativas de fé de que Deus estava agindo na história a favor
do seu povo. Parece mais uma página de um diário de fé nos atos de Deus. Criam
no Deus da história que faz dela o seu palco revelacional. Deixar de ver nas
minúcias dos atos históricos concretos o agir de Deus é cegar-se à revelação.
Pasma-me que os púlpitos e os cânticos em moda nos templos
pouco ou nada façam desta leitura do agir de Deus na história hoje. Parece que
as prédicas ensinam um Deus que morreu no passado, ou em um Deus catatônico que
deixou de agir e está paralisado. Ficou mudo no dia em que, sábios teólogos
concluíram quais os livros que fazem parte do cânon e depois disto proibiram
Deus de continuar falando e se revelando.
Olham para o passado para encontrar histórias bonitas de como
Deus agiu, mas são cegos para o presente e para os atos de Deus na história
brasileira, latino americana e mundial do ano de 2016. O Deus mudo e catatônico
das modernas pregações se limita a curar enfermos, expulsar demônios e dar
prosperidade aos bispos de igrejas gananciosas.
Deus encolheu. Foi exuberante no passado, mas perdeu seu
brilho e vigência no século da tecnologia. Como discípulos devemos viver das
glórias do passado, ir aos templos que são museus a contar histórias antigas,
preservar a memória de um povo, e acreditar que um dia a glória será
restabelecida na mesma Jerusalém de antanho. Ele fazia milagres e hoje ... bem
.... hoje ... é diferente.
Mais que pregadores, deveriam ser “leitores da história”. Como
disse o Karl Barth, um bom pregador é o que tem a Bíblia em uma mão e o jornal
na outra. Um iluminando o outro. O jornal trazendo luzes para a leitura bíblica
e a Bíblia iluminando o entendimento dos acontecimentos atuais.
Um Deus fora da história é marionete nas mãos de pregadores
analfabetos e inescrupulosos.
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 12 de outubro de 2016
SOMOS?
Na
narrativa bíblica se conta que Moisés teve o seguinte diálogo com Deus: “Moisés perguntou: Quando eu chegar diante dos israelitas e lhes disser:
O Deus dos seus antepassados me enviou a vocês, e eles me perguntarem: ‘Qual é
o nome dele? ’ Que lhes direi? Disse Deus a Moisés: Eu Sou o que Sou. É isto
que você dirá aos israelitas: Eu Sou me enviou a vocês" (Êxodo 3:13,14). A
expressão Eu-sou-o-que-sou só pode ser dita por Deus sobre si mesmo. Ninguém
mais pode afirmá-la.
Digo isto
porque, nós, humanos, não somos um “eu-puro”, um “eu-sou-eu-mesmo”. Somos, sim,
a somatória das obediências que prestamos a quem nos deu ordens e formou a
nossa forma de ser. Sou a somatória das ordens recebidas e para as quais não
tive poder de desobedecer.
Cada um de
nós tem algo de si mesmo, mas tem também um monte de coisas que os pais, a
família e a sociedade impuseram sobre nós. Ninguém pode dizer “eu-sou-eu
mesmo”, “eu-sou-só-eu”. Como já disse Ortega y Gasset, somos nós mesmos e o
contexto em fomos criados, as influências que recebemos.
Ainda que
haja no português e, mais especificamente no Brasil, a expressão
“e-sou-mais-eu”, ela não se refere ao grau de autonomia do eu, mas ao grau de
autoconfiança e autoestima que a pessoa tem.
Se somos
esta mistura de autonomia e heteronomia (a lei própria e a lei dos outros sobre
nós), ninguém pode se arvorar em ser completamente independente das pressões,
injunções, constrangimentos e obediências prestadas, ainda que de forma
inconsciente ou até mesmo consciente, as circunstâncias não permitem
desobedecer.
Assim, o
comportamento individual não é só um ato de volição autônomo, mas, antes, um
ato de obediência ou rebeldia. A obediência se dá quando o nível de poder não
permite outra coisa a fazer senão o que lhe pedem, ensinaram ou a sociedade
exige. O nível de desobediência se dá no exercício consciente da desobediência
pela avaliação de que se tem poder para enfrentar as consequências. Diante
disto, há mais “eu” nas rebeldias que nas obediências.
Isto posto,
digo que o conservador é um “ser-sem-opinião-própria” porque repete ad nausean o que lhe ensinaram e não tem
a mais mínima possibilidade, em função das coisas que lhe ensinaram e do poder
sobre ele exercido, de romper o círculo ideológico que o mantem preso. E quando
se trata de um “conservador-religioso” a coisa fica ainda mais complicada
porque o poder de quem ensinou as coisas que repete qual papagaio vieram com a
aura da infalibilidade, da Vox Dei, e afirmar algo diferente é pecado e
passível de condenação eterna. Pensar, refletir e se posicionar autonomamente é
desvio da fé, é ser herege, apóstata.
Fica assim
proibido o fazer perguntas ao texto sagrado, seja ele Bíblia, Alcorão, Bhagavad
gita ou algo assemelhado. Os dissidentes (os que pensam e tem posições
autônomas) são infiéis e merecem a morte. Isto explica a guerra entre xiitas e
sunitas, entre reformados e pentecostais e neopentecostais. Todos são donos da
verdade. E se são donos da verdade, quem não repete e não obedece o que
ensinam, merece morte e castigo eterno.
Fica fácil
entender porque tantos são mandados ao inferno pelos fundamentalistas,
conservadores e assemelhados. Na constelação dos eu não-pensam-mas-repetem, a
graça de Deus é heresia, o perdão é abominação e o amor ao inimigo é coisa de
louco varrido.
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 5 de outubro de 2016
PERPETUAÇÃO POLÍTICA
Nenhum poder político é natural e inerente. Sempre é
concessão via votos, eleições ou, em casos extremos e recrimináveis, via
violência do golpe ou pelas “vias constitucionais” (vide exemplo da Venezuela e
Bolívia). Nenhum poder político é eterno. Mesmo os mais poderosos imperadores e
reis sucumbiram pela morte, deposição ou queda. O exercício do poder
democrático é o exercício do diálogo, ao contrário do poder autocrático que é o
monólogo de “um-que-tudo-sabe”. Na democracia se busca a maturidade cidadã (ao
menos é o que se espera), na autocracia se produz o paternalismo.
Por outro lado, já dizia Maquiavel, que não há posse mais
duradoura que a ruína. Quem se torna senhor de uma nação livre e não a destrói,
será destruído por ela. O desejo de liberdade não se esquece nunca e ele será o
motor para destronar os reis que arruínam a vida do seu povo.
O exercício do poder político se dá sobre um determinado
povo e espaço geográfico. Não há controle remoto nesta matéria. Quando os
poderosos deixam de cooperar para o bem do seu povo, mesmo que antes o tenham
feito, este mesmo povo, anteriormente beneficiado, se levantará contra para
recuperar o que lhe foi tirado ou para ampliar o que tem. Quando o povo tem os
benefícios e estes se mantêm iguais por um longo período, a insatisfação cresce
e o poder político está ameaçado. Eis, assim, o paradoxo: se não dá o que o
povo espera, é derrubado. Se dá e se mantém no mesmo nível, o povo se insurge
querendo mais.
Como todo poderoso tem o desejo de se tornar eterno no poder
e que seu reinado se perpetue na lembrança do povo, precisa ele ser hábil nas
concessões e na administração das insatisfações. Ser eterno, eis a questão.
Para que este projeto se realize, precisam conquistar o
poder, prometendo ao povo, aos mais necessitados, aquilo que anseiam porque
vital para eles: saúde, educação e segurança. Daí porque os discursos de
campanha se repetem a cada nova rodada.
Na história recente do Brasil viu-se projetos que esperavam
vinte ou mais anos de poder. Se inicialmente produziram alguns benefícios para
o povo, enveredam-se por caminhos os mais desastrados possíveis. Assim foi o
Sarney com o Plano Cruzado que redundou na hiperinflação (ainda que, dizem as
más línguas, ele se eternizou no poder); assim foi com o Collor e sua “caça aos
marajás”, que redundou na sua própria caçada e de seu tesoureiro. O FHC com sua
ambição produziu o advento da reeleição e, depois de terminar seu mandato,
muitos dos seus tinham vergonha de colocá-lo ao lado nas aparições públicas.
Assim foi com o PT: do “Fome Zero” para o Mensalão e Petrolão.
Muito se fala que o povo não sabe votar. Isto é verdade em
parte. Muitos dos corruptos, dos malandros, dos propineiros não conseguiram se
eleger ou se reeleger. Ficaram pelo caminho. Partidos há que encolheram,
perdendo votos, prefeituras e representação nas Câmaras Municipais. O PMDB
encolheu 12,5% e o PT bateu os 60,9%. Como toda regra tem sua exceção, o PP,
todo enrolado com a Lava Jato, manteve-se praticamente igual: -0,1%.
Houve significativa renovação nos quadros políticos, o que
dá certa esperança de que gente nova terá novos hábitos e nova forma de fazer
política. E assim deve ser, haja visto a alta taxa de abstenção, votos nulos e
em branco. Somados, pode-se entender como uma nota Zero para a classe política.
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 28 de setembro de 2016
MUDANÇAS À VISTA?
Atribui-se a Churchill a frase de que a democracia é um
péssimo sistema de governo, mas ainda é o melhor que conhecemos. Tenho que
concordar com ele, especialmente quando se considera que a democracia é feita
por eleições baseadas no poder aquisitivo dos candidatos, o que permite maior
exposição e chance de ser lembrado na hora do voto.
Com as mudanças havidas na legislação brasileira impedindo a
doação de empresas, estabelecendo teto de gastos segundo as cidades, fazendo o
cruzamento dos dados de arrecadação com o CPF dos doadores, algo mudou na forma
eleitoral brasileira. No entanto, ainda não são mudanças radicais, haja visto
que o ex-prefeito de Campinas, que tem seus direitos políticos cassados,
apresenta-se como candidato e consegue manter a candidatura sabe lá Deus como.
Neste novo modelo de arrecadação via contribuição de pessoas
físicas, já se sabe que muitas maracutaias foram feitas e que mais ou menos 30%
das contribuições são questionáveis: mortos doando, gente com bolsa família
doando, funcionários de prefeituras doando o salário integral, um candidato do
Paraná que deu para a sua campanha mais do que todo o seu patrimônio declarado.
Acredito que mais maracutaias aparecerão. Explico-me com
este exemplo. Na minha declaração de Imposto de Renda do ano que vem não
declaro nenhuma contribuição partidária ou para algum candidato. Se algum
candidato, inescrupulosa e sorrateiramente, usou meu CPF para declarar alguma
contribuição, a Receita virá por cima de mim. Como provar que não dei? Se fosse
para provar que dei, teria um recibo. Como não tenho como provar a
inexistência, corro o risco de ser tributado pelo que não doei.
Com estas que já apareceram e outras que aparecerão, com
candidatos semi ficha suja (estão condenados em primeira instância), com
verdadeiros 171 se apresentando como éticos e probos e com poder de fogo na
mídia, com vereadores carregados de assessores pagos com dinheiro público,
prefeitos com centenas de cargos comissionados a garantir votos próprios, dos
familiares e na cabala, fica difícil haver uma mudança radical no cenário
político municipal.
Há que considerar-se ainda que os deputados estaduais e
federais se envolvem de cabeça nesta eleição, porque dependem dos vereadores e
prefeitos para conseguir votos nas suas respectivas eleições.
É verdade que o terremoto que se abateu sobre a classe
política, especialmente sobre o PT, PP e parte do PMDB, fez com que houvesse um
rearranjo de forças, especialmente nas eleições dos prefeitos das capitais.
Estas mudanças implicarão em um novo arranjo político na macro política, ainda
que não se deve desprezar a capacidade dos profissionais do voto de se
articularem para sempre estar por cima. São surfistas do poder: sempre pegando
a onda.
Tenho esperanças, mas prefiro ser realista. Haverá mudança,
mas não no tamanho que a população espera e nem na medida que se precisa ter.
Mas, antes algo que nada!!
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 21 de setembro de 2016
MUDARAM A MOSCA, MAS …
Sai uma, o Eduardo Cunha, mas o monte permaneceu. E a mosca
que o substituiu tem o mesmo DNA da mosca antecessora.
A certeza veio da maracutaias celebrada na segunda-feira
próxima passada, com as bênçãos do Rodrigo Maia e do Renan, para a aprovação,
por baixo dos panos, de um projeto de lei prá lá de safado: anistiar deputados
que fizeram caixa dois nas campanhas. Por ser beneficioso, a sua aplicação pode
ser retroativa. E todos os desmandos das campanhas seriam colocados neste item.
O argumento do “caixa dois” foi o que se usou para diminuir
a culpabilidade e a pena dos envolvidos no mensalão. Se o dinheiro usado é
lícito e de boa origem, por que o esconder com subterfúgios contábeis? A quem
interessa esconder os recebimentos e pagamentos? Quantos ficaram ricos com as
“sobras de campainha”?
A prevalecer esta maracutaia, as doações com propina feitas
aos partidos e candidatos, serão “caixa dois” e anistiadas por lei feita de
encomenda e para benefício dos próprios legisladores. É o criminoso se
inocentando por sentença auto-proclamada.
E quem estava neste rolo? A julgar pelas notícias que vieram
à luz, parece que quase todos os partidos, representando os impolutos deputados
e senadores que se valeram e ainda se valem dos descaminhos para se reeleger.
Com estas artimanhas e patranhas, percebe-se e sabe-se hoje porque é tão
difícil renovar a Câmara e o Senado. Além do salário, tem as verbas mil, e um
monte de aspones para sair a campo e trabalhar a candidatura do chefe, forma de
garantir a continuidade no emprego. Concorrer com eles, sem as verbas, a
visibilidade na televisão pública, sem a capacidade de legislar em causa
própria, renovar é tarefa tão hercúlea quanto carregar o mundo nas costas.
Espetáculo de igual fedentina se deu e se concretizou no
fatiamento da votação do impeachment. A artimanha engendrada nos bastidores e
negociada com o presidente do STF (a julgar pelo que se descobriu e noticiou).
Ele foi chamado de ato vergonhoso por um ministro do próprio STF e de algo
estranho por outro.
Quando a Justiça Eleitoral, que já a chamei de ELENTOral,
começa a dar sinais de que está se modernizando e usando dos meios eletrônicos
para flagrar em tempo real as maracutaias de candidatos à eleição e reeleição;
quando, antes mesmo do pleito, já se flagrou defunto doando para candidato;
beneficiário de bolsa família contribuindo regiamente para as campanhas de
candidatos e nem conhecem; quando um deles deu para sua campanha mais que todo
o capital que diz ter; quando vídeos mostram “pastores” em meios cultos,
pedindo votos e orações para os candidatos por eles indicados; quando
religiosos 171 se apresentam como ovelhas beatificadas, mas manchadas por
processos de apropriação indébita e ações de despejo; quando a população tem
participado denunciando a propaganda eleitoral irregular, a manobra dos
deputados nesta segunda é deplorável, vergonhosa e digna de mafiosos.
A nota de destaque positiva é que, diante do clamor popular,
ou diante do medo do clamor popular, a votação foi retirada de pauta. Uma
vitória temporária, porque, com certeza, aparecerá como emenda jabuticaba em
alguma medida provisória, tal como já ocorreu inúmeras vezes.
Cabe a nós população vigiar e orar, porque os ladrões nos
assaltam a toda hora. Se antes se dizia que não se sabe a hora em que ele vem,
agora se sabe que a cada sessão da Câmara ou do Senado ou de ambas no
Congresso.
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 14 de setembro de 2016
DUAS MUDANÇAS SIGNIFICATIVAS
A data de 12 de setembro poderá ser lembrada no futuro como sendo o dia
em que duas mudanças significativas ocorreram no cenário brasileiro. A saída do
Lewandowsky da presidência do Supremo Tribunal Federal e a cassação do Eduardo
Cunha.
Quanto ao primeiro, quem me lê com certa assiduidade, sabe que sempre o
critiquei e afirmei que ele não tinha postura e competência para assumir um
cargo no STF, muito menos na presidência da corte. Sua atuação no processo do
Mensalão, a meu ver, sempre foi criticável e atenuante, como para eximir os
envolvidos de suas culpas e responsabilidades. Se já não gostava dele, tenho
hoje ainda mais motivos para manter-me nesta posição, em função da sua
escorregada como presidente do STF e condutor da votação do impeachment, ao
permitir o fatiamento da decisão. Versões e mais versões dão conta de que o
assunto foi tratado/negociado com ele de antemão e há quem veja neste seu ato,
um agradecimento a quem o indicou ao STF.
A sua substituta, pelo menos, tem mais seriedade e menos apreço aos
holofotes (coisa que o Gilmar Mendes e o Marco Aurélio adoram). Sua saudação ao
povo brasileiro é fundamental em se tratando de uma corte onde o povo quase nenhum
acesso tem, pois ela tem tratado muito mais de assuntos pertinentes aos
poderosos e ricos. Fico em polvorosa com o seu vice, futuro presidente o
Toffoli. Que a saída do Lewandowsky seja também a saída da justiça feita sob a
luz dos holofotes.
Quanto ao Eduardo Cunha, tudo o que se diga, ainda é pouco. Com uma
capivara que se estende desde as primeiras aparições na vida pública, ele
representa um tipo de fazer política que deve ser apagado e escorraçado da vida
nacional. Os rolos na Telerj, o convite para que fosse tesoureiro no RJ da
campanha do Collor, seus métodos de intimidação e clientelismo (haja visto a
afirmação feita a um dos delatores e por este trazido a público de que
sustentava mais de 200 deputados), sua inteligência maquiavélica e maldosa, os
arroubos na defesa sem nunca provar o que diz (nunca mostrou uma só lata da
carne que diz ter vendido; nunca permitiu o acessos aos passaportes que,
segundo ele, comprovariam as suas idas ao país africano, nunca mencionou um só
dos seus clientes), suas falaciosas argumentações para provar que o que é seu
não é seu, que Trust não é conta, no que pese governos suíços e brasileiro, em
várias instâncias assim afirmarem.
Auto apresentado como evangélico (ainda que nunca soube conceitualmente
o que este termo significa), trazia suas mensagens, tem 228 sites (ejesus.com)
e gasta mais de R$ 11.000, por mês para hospedá-los. Muitos destes são de cunho
religioso como, por exemplo: youtubejesus.com.br, facebookjesus.com.br e gmailjesus.com.br.
Sites de compras coletivas também ganharam versão religiosa. É o caso docrenteurbano.com.br e do shoppingjesus.com.br.
No seu afã de vincular seu nome à uma denominação, não teve escrúpulos
em fazer doação suspeita a uma Igreja da Assembleia de Deus, que está sob
investigação. Ele não teve escrúpulos para colocar a esposa e filhas enrascadas
nas suas falcatruas. Atrevido nas suas investidas ao dinheiro público, cruel no
trato com quem lhe deve, ardiloso ao ponto de usar seu computador para fazer
petições intimidatórias e dar para uma assecla assinar e apresentar, cínico no
seu sorriso e argumentação, ofensivo ao ponto de voltar as costas a quem dele
falava, Eduardo Cunha é exemplar da pior espécie de político.
Que sua cassação e afastamento da vida pública seja também o afastamento
desta forma de se fazer política.
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 7 de setembro de 2016
ERROMENÊUTICA
Não é a
primeira vez que ouço sermão ou leio textos que trabalham sobre o tema do amor
na Bíblia e que o mesmo tipo de má interpretação acontece. Refiro-me ao
clássico texto do “amarás ao Senhor teu Deus sobre todas as coisas e ao teu próximo
como a ti mesmo”. O erro está no fato, costumeiramente praticado, de ver no
texto três mandamentos: amar a Deus, ao próximo e a mim mesmo, como se fossem
três coisas distintas e que se pode observar por parcela ou na integralidade
segundo uma escala de valores.
Há não
muito tempo estive em uma igreja como visitante e outra vez ouvi o descalabro
desta erromenêutica. Afirmou o “pregador” que Jesus nos ensinou três coisas
essenciais à vida cristã e que as três devem ser observadas em ordem. Primeiro,
disse ele, temos que amar a Deus. Se não O amamos antes de tudo e sobre tudo,
não estamos habilitados a amar a nós mesmos e ao próximo. Só depois de cumprido
este mandamento estaremos aptos a passar para o cumprimento do segundo
mandamento. Afirmou ainda que é possível amar a Deus sobre todas as coisas e
não amar ao próximo e a mim mesmo. Seria uma obediência parcial, mas válida.
Neste
momento, em mais uma prática da erromenêutica e da má fé, inverteu a ordem do
texto e disse que, em segundo lugar, devemos amar a nós mesmos. Como condição
para isto, devemos estar conscientes de que Deus nos fez como somos, devemos
amá-lo sobre todas as coisas e entender que, criaturas de Deus feitos à sua
imagem e semelhança, devemos nos amar.
Quando
cumprimos a primeira e segunda partes do tríplice mandamento, podemos e estamos
habilitados para amar ao próximo. Não podemos amar ao outro se não nos amamos e
não conseguimos nos amar se não amamos a Deus.
Não
preciso dizer que a esta altura eu já estava na ponta dos pés para sair dali.
Mas aguentei firme e ouvi a pérola: “amar ao próximo é o último dos mandamentos
essenciais da vida cristã. É possível ser verdadeiro cristão cumprindo os dois
primeiros”.
Pasma-me
a negligência teológica e prática das igrejas no amor ao próximo. Se no Antigo
Testamento os dízimos trazidos à Casa do Senhor eram para que mantimento
houvesse para suprir aos necessitados, hoje a ênfase é na compra dos
equipamentos de som, no ar condicionado, no pagamrntos das horas de televisão
ou rádio, na reforma, na suntuosidade e pouco ou nada se faz pelo necessitado.
Algumas montam uma cesta básica por mês e acham que já fizeram a sua parte
social.
O
mandamento é único e indivisível. Não há como amar a Deus sem me amar e ao
mesmo tempo amar ao próximo. Se amo ao próximo e por ele faço o que precisa ser
feito, passa a amar-me e amo a Deus que o fez a mim também. Como posso amar a
Deus a quem não vejo se não amo meu irmão a quem vejo, pergunta o escrito da
carta joanina. Colocar uma hierarquia na obediência do mandamento, fazer do
único mandamento um picadinho de mandamentos, estabelecer prioridades no amor,
é erromenêutica, coisa de analfabeto bíblico e teológico.
Marcos
Inhauser
quinta-feira, 1 de setembro de 2016
NÃO SOUBE PARAR
Em viagem, passei o dia de sábado em quarto de hotel, com
chuva e vendo o desenrolar das coisas no Senado. Ouvi cada pergunta e cada
resposta. No domingo li o que eu pude sobre o processo de impeachment, ouvi
programas específicos com especialistas e análises. Nesta segunda, assim que
voltei ao hotel, tive a pachorra de ouvir na íntegra o discurso da Dilma, assim
como peguei algumas das respostas que a Dilma deu às perguntas de senadores.
Há neste processo algumas coisas que quero salientar e
comentar nesta coluna. A primeira é que, passados vários meses insistindo no
mesmo discurso de golpe, os aliados da presidente não conseguiram reverter um
só voto. Isto ficou claro na votação para a admissibilidade do processo e na
votação na comissão. A proporção foi a mesma.
A segunda é que, no que pese todo o esforço feito, pouca ou
nenhuma explicação plausível foi dada para os fatos apontados e denunciados. A
tese do golpe foi repisada mil vezes, sem que nenhuma novidade fosse
adicionada. Como diria o Einstein (ao menos é a ele que se atribui a frase):
nada mais idiota do que esperar resultados diferentes fazendo sempre as mesmas
coisas. Foi o que ela e seus aliados fizeram.
A terceira é que a tropa de choque no Senado foi histérica e
histriônica. As atitudes, os comportamentos e as atuações das senadoras Gleisi
e Graziotini, e do senador Lindenberg foram causadoras de uma atitude de
defensiva e recusa de qualquer possibilidade de se dialogar.
A quarta é que não se esperava que a presidente fosse pessoalmente
ao Senado se defender. Ela o fez. E o seu discurso lido foi um posicionamento
claro, coisa não comum nas falas da presidente. Se ela tivesse parado e ficado
nele, teria conseguido desmontar muita coisa. Ela, no entanto, cedeu à tentação
de responder às perguntas. Aí a coisa se complicou.
Eu me explico. Se ela tem alguns neurônios na cabeça e se
tem ouvidos para conselhos, deveria ter feito o discurso e se retirado. Ela
sabe e todos sabem que a votação está definida. Ela sabe e todos sabem que não
vai se reverter o resultado previsto do processo. Se ela sabia que não mudaria
os votos e o resultado, porque insistir em responder perguntas? Será que havia
nela e no grupo a veleidade de que poderiam mudar as coisas? Se ela tivesse
denunciado que estava ali em um julgamento que já havia se definido há tempos,
por que ela não acentuou a característica de jogo marcado do julgamento?
Teria marcado posição, teria feito um discurso para a
história e deixaria a sala se recusando a participar de uma coisa pró-forma.
Teria sido mais contundente se recusasse a responder aos questionamentos. Do
bom discurso inicial ela passou a um péssimo desempenho ao responder as
perguntas, assumindo o tom arrogante, professoral e a insistência nas
expressões “eu acho”, “estou convencida”. Nada de mea culpa para uma recessão de magnitude nunca antes vista, para a
insistência em manter o eterno ministro das desgraças econômicas, o responsável
pela “contabilidade criativa” (Mantega, que não está sendo julgado pelas
lambanças que fez). Nenhuma menção a Lula, ao PT, aos apoiadores enrolados com
a justiça (Lindenberg, Gleisi, Wagner, Mercadante, Lula, Humberto Costa, e
outros mais).
Ela não soube parar. Falou mais do que devia e a sobriedade
e sabedoria ensejavam. Foi verborrágica de uma tese só: repetitiva e irritante.
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 24 de agosto de 2016
QUANTO CUSTA UMA MEDALHA?
Havia me proposto a não falar das Olimpíadas porque, diante da profusão de notícias, comentários e críticas, eu seria repetitivo. Mas, cedo à tentação. Li no site da UOL que cada medalha que o Brasil ganhou custou R$ 194 milhões. O levantamento considera os investimentos diretos feitos por estatais, isenção, loteria, Forças Armadas e Ministério dos Esportes no período compreendido entre Londres e Rio de Janeiro.
Será este o único investimento? Estive em Seul alguns anos depois da Olimpíada e visitei algumas das construções feitas para as Olimpíadas de 88, assim como visitei as instalações de Beijing. Uma das coisas que ouvi nas duas cidades de moradores delas é que os complexos olímpicos se tornaram elefantes brancos.
Penso também no que custa uma medalha em termos de sacrifício pessoal. Inúmeros foram os que salientaram o tempo que estiveram afastados de suas famílias, da privação de muitas coisas, para que pudessem chegar onde chegaram. Michael Phelps, Usain Bolt, as duplas Diego e Nory, Jader e Flavinha, Alison e Bruno e muitos outros falaram, alguns com lágrimas, o quanto se esforçaram e sofreram (literalmente) para conseguir algo.
Virou bordão (ao menos na Globo) que a dor é o uniforme do atleta olímpico. As marcas de ventosa no ombro do Phelps, os muitos esparadrapos para enganar músculos doloridos, as baixas por contusões, os acidentes (Annemiek van Vleuten, ciclista que capotou na curva; Samir Ait Said que quebrou a perna ao saltar, e outros) provam que não falavam irrealidades. De um total de 11.544 atletas que participaram, quase 10% deles tiveram lesões. Os relatórios médicos das 92 delegações nacionais, revela que a metade dos 1.055 atletas que se machucaram durante a Olimpíada tiveram problemas nas pernas ou nos pés e outros 100 sofreram com contusões na cabeça. O boxe, o futebol, handebol, o hóquei, o tae-kwon-do e o levantamento de peso foram os que mais lesionaram atletas.
Para os que “chegaram lá”, será que vale a pena, se se considera a quantidade de dores sofridas e que, na quase totalidade dos casos, os acompanhará pelo resto da vida? O prazer de mostrar uma medalha compensa o sofrimento atual e futuro?
Fico a pensar que um dos charmes das Olimpíadas é a quebra de recordes. No entanto, um dia eles acabarão. O ser humano chegará ao seu limite. Depois, o que se terá, será a manutenção do que já se conseguiu? Será que alguém, algum dia, pelo uso tão somente de suas forças e músculos, conseguirá baixar o que já se conseguiu nos 100 metros rasos, ou nos 200 metros. Será que o recorde mundial do Cielo poderá ser superado? Quando o for, sobrará qual motivação para os atletas? Se não há mais chance de quebrar recordes, para que servirão as Olimpíadas?
É verdade que os esportes promovem o congraçamento dos povos e que as Olimpíadas se constituem em evento ímpar para isto. No entanto, deve-se pensar que isto se faz em clima de competitividade, de subliminar mensagem de superioridade desta ou daquela nação. Não fosse isto, por que a Rússia teria investido tanto em dopar seus atletas? Por que o “quadro de medalhas” é tão cobiçado e divulgado? O que dizer da música, da poesia, da literatura? Seria o caso de se ter eventos mundiais para estes segmentos?
Marcos Inhauser
Será este o único investimento? Estive em Seul alguns anos depois da Olimpíada e visitei algumas das construções feitas para as Olimpíadas de 88, assim como visitei as instalações de Beijing. Uma das coisas que ouvi nas duas cidades de moradores delas é que os complexos olímpicos se tornaram elefantes brancos.
Penso também no que custa uma medalha em termos de sacrifício pessoal. Inúmeros foram os que salientaram o tempo que estiveram afastados de suas famílias, da privação de muitas coisas, para que pudessem chegar onde chegaram. Michael Phelps, Usain Bolt, as duplas Diego e Nory, Jader e Flavinha, Alison e Bruno e muitos outros falaram, alguns com lágrimas, o quanto se esforçaram e sofreram (literalmente) para conseguir algo.
Virou bordão (ao menos na Globo) que a dor é o uniforme do atleta olímpico. As marcas de ventosa no ombro do Phelps, os muitos esparadrapos para enganar músculos doloridos, as baixas por contusões, os acidentes (Annemiek van Vleuten, ciclista que capotou na curva; Samir Ait Said que quebrou a perna ao saltar, e outros) provam que não falavam irrealidades. De um total de 11.544 atletas que participaram, quase 10% deles tiveram lesões. Os relatórios médicos das 92 delegações nacionais, revela que a metade dos 1.055 atletas que se machucaram durante a Olimpíada tiveram problemas nas pernas ou nos pés e outros 100 sofreram com contusões na cabeça. O boxe, o futebol, handebol, o hóquei, o tae-kwon-do e o levantamento de peso foram os que mais lesionaram atletas.
Para os que “chegaram lá”, será que vale a pena, se se considera a quantidade de dores sofridas e que, na quase totalidade dos casos, os acompanhará pelo resto da vida? O prazer de mostrar uma medalha compensa o sofrimento atual e futuro?
Fico a pensar que um dos charmes das Olimpíadas é a quebra de recordes. No entanto, um dia eles acabarão. O ser humano chegará ao seu limite. Depois, o que se terá, será a manutenção do que já se conseguiu? Será que alguém, algum dia, pelo uso tão somente de suas forças e músculos, conseguirá baixar o que já se conseguiu nos 100 metros rasos, ou nos 200 metros. Será que o recorde mundial do Cielo poderá ser superado? Quando o for, sobrará qual motivação para os atletas? Se não há mais chance de quebrar recordes, para que servirão as Olimpíadas?
É verdade que os esportes promovem o congraçamento dos povos e que as Olimpíadas se constituem em evento ímpar para isto. No entanto, deve-se pensar que isto se faz em clima de competitividade, de subliminar mensagem de superioridade desta ou daquela nação. Não fosse isto, por que a Rússia teria investido tanto em dopar seus atletas? Por que o “quadro de medalhas” é tão cobiçado e divulgado? O que dizer da música, da poesia, da literatura? Seria o caso de se ter eventos mundiais para estes segmentos?
Marcos Inhauser
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