Em viagem, passei o dia de sábado em quarto de hotel, com
chuva e vendo o desenrolar das coisas no Senado. Ouvi cada pergunta e cada
resposta. No domingo li o que eu pude sobre o processo de impeachment, ouvi
programas específicos com especialistas e análises. Nesta segunda, assim que
voltei ao hotel, tive a pachorra de ouvir na íntegra o discurso da Dilma, assim
como peguei algumas das respostas que a Dilma deu às perguntas de senadores.
Há neste processo algumas coisas que quero salientar e
comentar nesta coluna. A primeira é que, passados vários meses insistindo no
mesmo discurso de golpe, os aliados da presidente não conseguiram reverter um
só voto. Isto ficou claro na votação para a admissibilidade do processo e na
votação na comissão. A proporção foi a mesma.
A segunda é que, no que pese todo o esforço feito, pouca ou
nenhuma explicação plausível foi dada para os fatos apontados e denunciados. A
tese do golpe foi repisada mil vezes, sem que nenhuma novidade fosse
adicionada. Como diria o Einstein (ao menos é a ele que se atribui a frase):
nada mais idiota do que esperar resultados diferentes fazendo sempre as mesmas
coisas. Foi o que ela e seus aliados fizeram.
A terceira é que a tropa de choque no Senado foi histérica e
histriônica. As atitudes, os comportamentos e as atuações das senadoras Gleisi
e Graziotini, e do senador Lindenberg foram causadoras de uma atitude de
defensiva e recusa de qualquer possibilidade de se dialogar.
A quarta é que não se esperava que a presidente fosse pessoalmente
ao Senado se defender. Ela o fez. E o seu discurso lido foi um posicionamento
claro, coisa não comum nas falas da presidente. Se ela tivesse parado e ficado
nele, teria conseguido desmontar muita coisa. Ela, no entanto, cedeu à tentação
de responder às perguntas. Aí a coisa se complicou.
Eu me explico. Se ela tem alguns neurônios na cabeça e se
tem ouvidos para conselhos, deveria ter feito o discurso e se retirado. Ela
sabe e todos sabem que a votação está definida. Ela sabe e todos sabem que não
vai se reverter o resultado previsto do processo. Se ela sabia que não mudaria
os votos e o resultado, porque insistir em responder perguntas? Será que havia
nela e no grupo a veleidade de que poderiam mudar as coisas? Se ela tivesse
denunciado que estava ali em um julgamento que já havia se definido há tempos,
por que ela não acentuou a característica de jogo marcado do julgamento?
Teria marcado posição, teria feito um discurso para a
história e deixaria a sala se recusando a participar de uma coisa pró-forma.
Teria sido mais contundente se recusasse a responder aos questionamentos. Do
bom discurso inicial ela passou a um péssimo desempenho ao responder as
perguntas, assumindo o tom arrogante, professoral e a insistência nas
expressões “eu acho”, “estou convencida”. Nada de mea culpa para uma recessão de magnitude nunca antes vista, para a
insistência em manter o eterno ministro das desgraças econômicas, o responsável
pela “contabilidade criativa” (Mantega, que não está sendo julgado pelas
lambanças que fez). Nenhuma menção a Lula, ao PT, aos apoiadores enrolados com
a justiça (Lindenberg, Gleisi, Wagner, Mercadante, Lula, Humberto Costa, e
outros mais).
Ela não soube parar. Falou mais do que devia e a sobriedade
e sabedoria ensejavam. Foi verborrágica de uma tese só: repetitiva e irritante.
Marcos Inhauser
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