Sai uma, o Eduardo Cunha, mas o monte permaneceu. E a mosca
que o substituiu tem o mesmo DNA da mosca antecessora.
A certeza veio da maracutaias celebrada na segunda-feira
próxima passada, com as bênçãos do Rodrigo Maia e do Renan, para a aprovação,
por baixo dos panos, de um projeto de lei prá lá de safado: anistiar deputados
que fizeram caixa dois nas campanhas. Por ser beneficioso, a sua aplicação pode
ser retroativa. E todos os desmandos das campanhas seriam colocados neste item.
O argumento do “caixa dois” foi o que se usou para diminuir
a culpabilidade e a pena dos envolvidos no mensalão. Se o dinheiro usado é
lícito e de boa origem, por que o esconder com subterfúgios contábeis? A quem
interessa esconder os recebimentos e pagamentos? Quantos ficaram ricos com as
“sobras de campainha”?
A prevalecer esta maracutaia, as doações com propina feitas
aos partidos e candidatos, serão “caixa dois” e anistiadas por lei feita de
encomenda e para benefício dos próprios legisladores. É o criminoso se
inocentando por sentença auto-proclamada.
E quem estava neste rolo? A julgar pelas notícias que vieram
à luz, parece que quase todos os partidos, representando os impolutos deputados
e senadores que se valeram e ainda se valem dos descaminhos para se reeleger.
Com estas artimanhas e patranhas, percebe-se e sabe-se hoje porque é tão
difícil renovar a Câmara e o Senado. Além do salário, tem as verbas mil, e um
monte de aspones para sair a campo e trabalhar a candidatura do chefe, forma de
garantir a continuidade no emprego. Concorrer com eles, sem as verbas, a
visibilidade na televisão pública, sem a capacidade de legislar em causa
própria, renovar é tarefa tão hercúlea quanto carregar o mundo nas costas.
Espetáculo de igual fedentina se deu e se concretizou no
fatiamento da votação do impeachment. A artimanha engendrada nos bastidores e
negociada com o presidente do STF (a julgar pelo que se descobriu e noticiou).
Ele foi chamado de ato vergonhoso por um ministro do próprio STF e de algo
estranho por outro.
Quando a Justiça Eleitoral, que já a chamei de ELENTOral,
começa a dar sinais de que está se modernizando e usando dos meios eletrônicos
para flagrar em tempo real as maracutaias de candidatos à eleição e reeleição;
quando, antes mesmo do pleito, já se flagrou defunto doando para candidato;
beneficiário de bolsa família contribuindo regiamente para as campanhas de
candidatos e nem conhecem; quando um deles deu para sua campanha mais que todo
o capital que diz ter; quando vídeos mostram “pastores” em meios cultos,
pedindo votos e orações para os candidatos por eles indicados; quando
religiosos 171 se apresentam como ovelhas beatificadas, mas manchadas por
processos de apropriação indébita e ações de despejo; quando a população tem
participado denunciando a propaganda eleitoral irregular, a manobra dos
deputados nesta segunda é deplorável, vergonhosa e digna de mafiosos.
A nota de destaque positiva é que, diante do clamor popular,
ou diante do medo do clamor popular, a votação foi retirada de pauta. Uma
vitória temporária, porque, com certeza, aparecerá como emenda jabuticaba em
alguma medida provisória, tal como já ocorreu inúmeras vezes.
Cabe a nós população vigiar e orar, porque os ladrões nos
assaltam a toda hora. Se antes se dizia que não se sabe a hora em que ele vem,
agora se sabe que a cada sessão da Câmara ou do Senado ou de ambas no
Congresso.
Marcos Inhauser
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