A data de 12 de setembro poderá ser lembrada no futuro como sendo o dia
em que duas mudanças significativas ocorreram no cenário brasileiro. A saída do
Lewandowsky da presidência do Supremo Tribunal Federal e a cassação do Eduardo
Cunha.
Quanto ao primeiro, quem me lê com certa assiduidade, sabe que sempre o
critiquei e afirmei que ele não tinha postura e competência para assumir um
cargo no STF, muito menos na presidência da corte. Sua atuação no processo do
Mensalão, a meu ver, sempre foi criticável e atenuante, como para eximir os
envolvidos de suas culpas e responsabilidades. Se já não gostava dele, tenho
hoje ainda mais motivos para manter-me nesta posição, em função da sua
escorregada como presidente do STF e condutor da votação do impeachment, ao
permitir o fatiamento da decisão. Versões e mais versões dão conta de que o
assunto foi tratado/negociado com ele de antemão e há quem veja neste seu ato,
um agradecimento a quem o indicou ao STF.
A sua substituta, pelo menos, tem mais seriedade e menos apreço aos
holofotes (coisa que o Gilmar Mendes e o Marco Aurélio adoram). Sua saudação ao
povo brasileiro é fundamental em se tratando de uma corte onde o povo quase nenhum
acesso tem, pois ela tem tratado muito mais de assuntos pertinentes aos
poderosos e ricos. Fico em polvorosa com o seu vice, futuro presidente o
Toffoli. Que a saída do Lewandowsky seja também a saída da justiça feita sob a
luz dos holofotes.
Quanto ao Eduardo Cunha, tudo o que se diga, ainda é pouco. Com uma
capivara que se estende desde as primeiras aparições na vida pública, ele
representa um tipo de fazer política que deve ser apagado e escorraçado da vida
nacional. Os rolos na Telerj, o convite para que fosse tesoureiro no RJ da
campanha do Collor, seus métodos de intimidação e clientelismo (haja visto a
afirmação feita a um dos delatores e por este trazido a público de que
sustentava mais de 200 deputados), sua inteligência maquiavélica e maldosa, os
arroubos na defesa sem nunca provar o que diz (nunca mostrou uma só lata da
carne que diz ter vendido; nunca permitiu o acessos aos passaportes que,
segundo ele, comprovariam as suas idas ao país africano, nunca mencionou um só
dos seus clientes), suas falaciosas argumentações para provar que o que é seu
não é seu, que Trust não é conta, no que pese governos suíços e brasileiro, em
várias instâncias assim afirmarem.
Auto apresentado como evangélico (ainda que nunca soube conceitualmente
o que este termo significa), trazia suas mensagens, tem 228 sites (ejesus.com)
e gasta mais de R$ 11.000, por mês para hospedá-los. Muitos destes são de cunho
religioso como, por exemplo: youtubejesus.com.br, facebookjesus.com.br e gmailjesus.com.br.
Sites de compras coletivas também ganharam versão religiosa. É o caso docrenteurbano.com.br e do shoppingjesus.com.br.
No seu afã de vincular seu nome à uma denominação, não teve escrúpulos
em fazer doação suspeita a uma Igreja da Assembleia de Deus, que está sob
investigação. Ele não teve escrúpulos para colocar a esposa e filhas enrascadas
nas suas falcatruas. Atrevido nas suas investidas ao dinheiro público, cruel no
trato com quem lhe deve, ardiloso ao ponto de usar seu computador para fazer
petições intimidatórias e dar para uma assecla assinar e apresentar, cínico no
seu sorriso e argumentação, ofensivo ao ponto de voltar as costas a quem dele
falava, Eduardo Cunha é exemplar da pior espécie de político.
Que sua cassação e afastamento da vida pública seja também o afastamento
desta forma de se fazer política.
Marcos Inhauser