A vida me deu certo gosto pela
precisão no uso das palavras. Só o gosto, porque a prática tem se mostrado
muito mais complicada que a intenção. A intenção é boa, mas ...
Neste afã de entender o sentido
preciso das palavras, andei “assuntando” nestes dias sobre o significado de quatro
delas, relacionadas entre si por serem do contexto da comunicação e se
referirem ao comportamental.
Como seres humanos, temos
“sangue” que nos move a mostrar os sentimentos quando falamos. Especialistas
atribuem à linguagem corporal e à metalinguagem algo em torno de 75% do
processo comunicacional.
A primeira palavra é indolência.
Ela veio do latin indoles (prefixo in significando negação e dolens e dolere usada para dor). No português indolência está mais para a
passividade, para a atitude indiferente em relação aos fatos e/ou fala. O
indolente é aquele que ouve um insulto e parece que não ouviu ou não deu bola
para o que lhe foi dito. É aquele que, quando fala, mais parece ter sangue de
barata que ser uma pessoa com sentimentos e convicções. Parece que não acredita
no que fala.
A segunda é veemência. Ela também
veio do latim: vehementia,
significando o ardente, que tem vigor. Ela tem uma relação com vehere que significa levar ou portar. A
pessoa veemente é a que fala e acredita no que fala e leva isto aos seus
ouvintes. Ela fala com “sangue nos olhos”. Acredita e quer que os demais
acreditem no que está falando. Uma pessoa veemente não vai falar baixinho,
manso, antes terá um tom de voz mais elevado para expor o que pensa. Os
ultrassensíveis acharão que ela exagera, que poderia e deveria falar com menos
vigor e intensidade, que grita quando fala.
A terceira é estridente, que
também vem do latin (stridente que significa
fazer ruído). O estridente é verborrágico, fala alto como se o volume da sua
fala pudesse ser entendida como veemência. O estridente, no mais das vezes é
uma pessoa sem argumentos que usa da gritaria para fazer calar as vozes que não
quer ouvir. Há o estridente que se vale da tergiversação da fala do outro para
fazer valer seu raciocínio, pois ele cria ruído na comunicação e entende o que
lhe convém entender.
Há ainda a violência, que também vem do latim (violentus: “o que age pela força”, com sentido derivado de violare que é “tratar com brutalidade,
desonrar, ultrajar”). O violento na comunicação tem a intenção de ofender e
ultrajar o outro, faltando com o respeito e usando, no mais das vezes, palavras
de baixo calão.
Há certo consenso de que a
sociedade brasileira é indolente no que se refere às questões políticas. O consenso
é que o brasileiro faz piada de tudo e tem memória curta. Parece que a cúpula
do PT acredita nisto. Acham que podem fazer o que querem que o povo vai fazer
piada e logo cai no esquecimento.
Quando o povo decidiu comunicar
com veemência o que acredita e quer, não poucos foram os que se levantaram para
tergiversar o que está acontecendo e alguns partiram para a estridência. Neste
contexto, entendo que o panelaço foi estridência e não veemência. Chamar os
manifestantes de “elite branca” e “coxinhas” foi violência.
Mas, na fala dos ministros que
deram a cara aliviar a vergonha da Dilma, houve veemência e estridência.
Afirmaram com a convicção que se esperava que deveriam ter (ainda que não
concorde com eles), mas a estridência ficou por conta do Rosseto ao dizer que
falar de impeachment é ilegal e que os manifestantes eram pessoas que não
tinham votado na Dilma. Puro ruído para atrapalhar o que as ruas estavam
dizendo.
Se alguém puder ensinar isto ao
Rosseto, ao Mercadante, Berzoini e Cardoso, eu, na minha humildade,
agradeceria, mesmo porque, não acredito que eles tenham tempo para ler o que
este escriba da periferia tem a dizer.
Marcos Inhauser