Há várias semelhanças entre o governo do PT e o carnaval.
O carnaval dura quatro dias. Se a Escola de Samba for a
campeã, esta alegria pode se prolongar por mais alguns dias e volta à passarela
no ano seguinte com energia para tentar o bicampeonato. As notas dadas pelos
juízes para a eleição da campeã sempre são questionadas e os perdedores ficam
chiando. Terminada a festa, entra-se na quarta-feira de cinzas para espiar os
pecados e curtir a ressaca. Não um dia inteiro, mas meio dia de trégua.
Se for campeã, a escola de samba não tem muito do que se
arrepender e a quarta de cinzas, ao invés de ser para curtir a ressaca e se
penitenciar dos erros, se transforma em oba-oba pela vitória obtida.
Assim foi com o PT: botou seu bloco na rua várias vezes e
não ganhou o campeonato. As alegorias e a o enredo eram os mesmos, sempre
enfatizando a santidade da sigla, o compromisso ético que o levava ao purismo
de nunca aceitar alianças com outros partidos. Um dia, orientados pelo
guru-agora-condenado-e-sempre enrolado, o José Dirceu, decidiram mudar o enredo
e a alegoria, ainda que não mudaram o mestre-sala. Foram para a passarela e
ganharam o título pela primeira vez. A quarta de cinzas foi de celebração. Foi
um carnaval não de quatro dias, mas de quatro anos.
No próximo carnaval voltaram com as mesmas alegorias, carros
alegóricos, agora recheados com Vales-Refeição, Transporte, e especialmente o
carro-mór que foi o destaque: o Bolsa Família. Bingo! Deu bicampeonato! Mais
quatro anos de carnaval, com direito muita rega-bofe e a transas sem
preservativo e com isto engravidaram o Mensalão.
Perceberam que manter o mesmo enredo poderia tirar o
tricampeonato. Mudaram a porta bandeira e colocaram uma cria do mestre-sala
bicampeão. Encheram a “coisa” de plumas e paetês, adereços mil, para que o povo
não percebesse o perfil nada esguio e o currículo fabricado às pressas para que
a madame fosse a nova porta-bandeira. Com muitos efeitos pirotécnico e
tecnológicos, levaram o tricampeonato. A quarta de cinzas foi de celebração de
deuses que se encastelaram no trono do poder e de lá nunca mais sairiam. Tinham
galgado a eternidade. Mais quatro anos de celebração desbragada. Mantiveram o
carnavalesco nas finanças para obedecer os desígnios dos deuses tricampeões. O
antigo mestre-sala, sempre reverenciado, vivia dando seus pitacos.
Vieram para a passarela para o tetracampeonato. Mesma
alegoria, mesma porta-bandeira, mas com a promessa de que o carnavalesco seria
demitido na quarta-de-cinzas. Na área de concentração começou a cheirar lona
queimada, porque alguém inesperado, que não era terrorista, mas juiz federal,
decidiu dizer que a mestre-sala tinha rebolado mais do que devia e que o salto
tinha quebrado.
Foi um Deus-nos-acuda. Perceberam que a escola rival tinha
bom mestre-sala, boas fantasias, um carnavalesco experiente e que o tetra podia
ir para a cucuia. Mandaram balas para adoçar os juízes votantes, pediram a
colaboração de subalternos de empresas estatais para garantir a votação e foram
para a passarela mostrando uma confiança tímida, mesmo porque, o carro
alegórico da ética estava comprometido e pegando fogo! A ética não podia
desfilar.
A votação dos juízes foi sintomática: se emocionaram com as
pirotecnias do carro Bolsa Família. Deu tetracampeonato! A quarta-de-cinzas foi
diferente das anteriores. Ganharam, mas não tinham o que celebrar. O novo
carnavalesco mostrou as lambanças feitas pelo anterior, quem, para garantir o
tetra, comprometeu as finanças da Escola de Samba. O incêndio do carro da ética
não conseguiram apagar e na área da dispersão várias ambulâncias tiveram que
levar aos hospitais “estrelas” com overdose e ressaca de bebedeira prolongada.
Os quatro anos não serão de carnaval, mas de cinzas!