No Peru houve um movimento
guerrilheiro/terrorista chamado Sendero Luminoso. Ele era “metralhadora
giratória” porque suas ações eram desprovidas de qualquer lógica. Lembrei-me
deles nestes dias em que o terrorismo ganhou outra vez os noticiários. Mas não
quero falar do Charlie Hebdo, mas do Boko Haram, a “metralhadora giratória” que
atua na Nigéria.
A Igreja da Irmandade tem um trabalho
naquele país que se iniciou em 1923 com missionários que para lá foram. Em
1955, o primeiro pastor nigeriano foi ordenado. A igreja focou seus trabalhos
em educação, saúde e agricultura. Escolas foram criadas, serviços médicos
oferecidos e projetos agrícolas foram desenvolvidos. A igreja cresceu ao ponto
de ser hoje quase o dobro em tamanho que a igreja-mãe, a Church of the Brethren.
Conheci a vários dos pastores desta
igreja (EYN - Igreja da Irmandade na Nigéria) no tempo em que estudei e dei
aulas no Bethany Theological Seminary. A partir de 2000 comecei a ouvir destes
irmãos nigerianos referências ao Boko Haram. As menções se intensificaram e as
práticas começaram a ser selvagens: matavam indiscriminadamente, às vezes
centenas, outras vezes milhares.
Se se quer resumir as intenções deste
grupo, pode-se dizer que pretendem instalar um califado islâmico que tenha a
lei da Sharia como fundamento e a erradicação de qualquer vestígio de educação
ocidental e cristianismo. Eles não pensam duas vezes para aniquilar quem se
coloca como obstáculo às suas pretensões.
A EYN teve vários dos seus pastores e
membros assassinados, templos queimados, lavouras destruídas, escolas fechadas.
Muitas das moças sequestradas em 2014 pertencem à EYN. 96 mil membros da EYN
foram obrigados a se mudar por causa da violência e necessitam de abrigos,
comida e água. Dos 50 Distritos que a EYN tem (grupos de igrejas de uma mesma
região geográfica que se coordenam em suas atividades), 37 foram fortemente
impactados e 18 foram fechados. 280 pastores e evangelistas tiveram que se
mudar e deixar seus templos. Mais de 3 mil membros da EYN já foram mortos.
Esta é uma crise que não acabará em
breve. Talvez demore décadas!
O Boko Haram é movido por uma
“cristofobia” (termo emprestado do Reinaldo Azevedo). A EYN, tem suas raízes
históricas e teológicas alicerçadas no pacifismo (assim como as demais igrejas
da paz/anabatistas: Irmandade, Menonitas e Quáqueros). Têm ensinado e praticado
a não-violência, mesmo diante das barbáries sofridas. Ser pacifista em meio a
esta crise e tanta barbárie gratuita tem sido um grande desafio para os
cristãos nigerianos.
Apoio maciço e massivo tem sido
prestado aos refugiados que sobrevivem aos extermínios.
A Church of the Brethren já mandou este
ano mais de 2,8 milhões de dólares para ajudar nesta crise e decidiu colocar um
prédio histórico da denominação à venda para levantar fundos para ajudar os
nigerianos.
Jovens voluntários, membros da Church
of the Brethren estão sendo enviados para ajudar aos refugiados, fugitivos e
famintos. Movimentos de oração e jejum têm sido promovidos clamando a Deus pela
Nigéria e pelos cristãos que lá vivem.
A Igreja da Irmandade no Brasil, ainda
que pequena, tem se solidarizado e orado por esta grave situação que a EYN e a
Nigéria vivem.
Marcos Inhauser