Depois de 22 anos regressei a San Salvador, América Central, onde tinha vivido por um ano na minha adolescência. As lembranças daqueles tempos pululavam na minha mente e estava ansioso por rever certas coisas.
Uma pessoa me pegou no aeroporto e me levou à cidade, me deixou no hotel com a recomendação expressa de que não saísse do hotel sob nenhum pretexto, que fizesse minhas refeições no próprio hotel e que no outro dia cedo passariam para me pegar para algumas entrevistas e reuniões.
Perguntei à recepcionista se ela sabia onde ficava o Ginásio Nacional e do Parque Cuzcatlán (tinha morado em uma rua perto) ao que me informou que ficava a três quadras. Fiquei empolgado com a possibilidade de rever áreas que tantas recordações me traziam. Mal dormi. Bem cedo desci ao refeitório, tomei meu café e sai para rever coisas, no que pese a orientação expressa que me havia sido dada. Primeiro fui rever a casa. Desci até o Parque e fui surpreendido por mais de uma centena de soldados sentados na mureta que separava o Parque da avenida. Todos eles tinham uma de suas pernas amputadas, vítimas das minas quita-pié (arranca-pé). Era desfile de muletas, pernas com curativos, jovens com suas vidas limitadas por uma guerra estúpida. Estavam ali para curativos no Hospital Militar. Aquilo me embrulhou o estômago!. Voltei ao hotel sem rever o Parque e a ele não mais voltei.
À tarde tive uma reunião com um grupo de pessoas que trabalhavam com Direitos Humanos, entre elas uma senhora que me contou que havia conhecido uma família brasileira que vivera ali e que tinha o mesmo sobrenome e me perguntava se eu os conhecia. Disse eu era daquela família, o filho mais velho. Lágrimas rolaram pela sua face. Ela me contou quem era e dela recordei por ser a mãe de uma paquera que tivera e que ambas, mãe e filha vieram à nossa casa muitas vezes.
Ela era a Diretora de um Orfanato que recebia órfãos da guerra. Ela insistiu para que eu fosse conhecer o trabalho. Marcamos um dia de manhã. Para lá fui. Era uma pequena chácara fora da cidade. Mal o jipe parou, um bando de crianças veio correndo e gritando e tive que dar a mão e cumprimentar a todas elas. Uma delas, de uns três anos de idade, estava meio longe, meio desligada e não tinha vindo como as demais.
Em um certo momento ela olhou para mim, veio correndo, abraçou minha perna e começou a dizer: “papá, papá, papá”. A Diretora me explicou que ela era a mais recente, que seus pais haviam sido executados. Eu lhe perguntei por que a criança me chamava de papá e ela me disse: você tem uma aparência muito parecida ao pai dela e ela está achando que é o pai que voltou. Carreguei-a no colo por mais de uma hora. A cada pouco ela me acariciava o rosto e me puxava a face para olhar para ela. Voltei ao pátio, brinquei com ela. Não sabia como ir embora.
A despedida foi terrível. Sai dali em lágrimas. Pela segunda vez aquele criança perdia o seu “papá”. Naquele dia decidi que, com todas as minhas forças e inteligência iria combater a violência e a guerra. Por isto, entre outros motivos, estou em uma igreja pacifista!
Marcos Inhauser
Professor, pastor, teólogo e educador corporativo Textos escritos para a coluna semanal no Correio Popular, da cidade de Campinas e texto escritos depois de 2021, que tratam de temas nacionais, internacionais, sobre igreja e teologia
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Há outros artigos e livros de Marcos e Suely Inhauser à sua disposição no site www.pastoralia.com.br . Vá até lá e confira
quarta-feira, 7 de agosto de 2013
quarta-feira, 31 de julho de 2013
PROVIDENCIAL
Ainda seminarista, fui convidado para pregar em uma igreja
na Vila Maria em São Paulo. Vivia numa pindaiúba de dar dó. Para lá fomos eu e
um meu irmão, o Miltinho.
Tínhamos no bolso a passagem do ônibus para a ida e uns
trocos a mais. Ele me perguntou como seria a volta e eu disse que, normalmente,
as igrejas fazem uma pequena oferta que seria suficiente para comermos algo e
para voltar.
Terminado o culto as pessoas vieram até nós, nos
cumprimentaram e um a um foram embora e nada de alguém aparecer para entregar a
esperada e necessária oferta. Fomos os últimos a sair, juntamente com um casal.
Já na rua, o mano me perguntou: “e agora? O que fazemos?”. O
dinheiro que tínhamos não dava para comer algo e para voltar de ônibus. Disse
isto a ele e ele me disse que estava morrendo de fome. Eu também estava. E
quando chegássemos em casa não teríamos nada para comer. Naquela hora havia que
tomar uma decisão: comer e voltar a pé para casa, em uma caminhada de uns 15
quilômetros ou pegar um ônibus e passar a noite com fome.
Conversamos, estudamos a situação e decidimos que iríamos
comer algo e depois sair em caminhada até o centro da cidade. Sentamos em uma
padaria, pedimos algo que os trocados podiam pagar e, terminada a “refeição”,
criamos coragem para sair caminhando.
Mal havíamos saído da padaria, escutamos alguém nos chamar.
Era a pessoa que me havia convidado para pregar que estava à nossa procura
porque havia se esquecido de dar a oferta que o tesoureiro havia destinado.
Preocupadíssima, nos pediu mil perdões, sem saber que
estávamos era gratos e surpresos com os fatos. Como ele tinha nos achado? Como
sabia que podíamos ter parado em algum lugar para comer algo?
Um amigo que vive nos Estados Unidos, o Manelão, que me
hospedava quando ia para as aulas do doutorado, me contou como sempre via a mão
de Deus suprir suas necessidades, muitas vezes depois de vencer o prazo de
pagar uma conta. Ele, um dia, meio
desesperado, pediu a Deus que Ele adiantasse a provisão para que viesse no dia
que deveria pagar suas contas. Em lágrimas ele me confidenciou que desde aquele
dia nunca mais havia atrasado uma conta.
Experiências de ver a mão de Deus suprindo cada necessidade,
mesmo quando penso que nada mais ocorreriam. São muitas na minha vida e na vida
de muitos que me contaram suas experiências de ser abençoados de maneira toda
especial e inusitada.
Não gosto de transformar experiências pessoais em normas
para outros. Esta eu vivi e o Manelão experienciou. De uma coisa tenho certeza:
a providência de Deus vem quando necessitamos e da forma mais inesperada
possível.
E Ele assim faz por pura graça, não por mérito que
porventura tenhamos. Não é questão de fé. É questão de favor imerecido da parte
de Deus.
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 24 de julho de 2013
CÂNDIDO VAGGAREZA
O PT não tem
sido muito feliz na composição dos seus quadros. Um partido que teve Delúbio,
Zé Dirceu, Genoíno, José Mentor, João Paulo, Silvio Pereira, entre outros de
menor expressão, tem agora uma figura emblemática: Cândido Vaccareza, que
melhor seria identificado como Vaggareza.
Ele é
um ginecologista, filiado ao PT, eleito suplente de deputado estadual em São Paulo (1998). Reelegeu-se em
2002 e em 2006 elegeu-se deputado
federal. Foi líder do partido de fevereiro de 2009 a 2012. Neste período protagonizou alguns
episódios de fidelidade canina ao Lula e à Dilma.
Mas,
desde que deixou a liderança, algo mudou nele. Indicado a fórceps como líder da
comissão encarregada de apresentar proposta de reforma política, ele honrou seu
nome: deu uma de vagareza.
No
que pese o fato de que a Dilma, atabalhoada com as manifestações de rua, ter
acelerado propostas e derrapado nas curvas da política, ela nunca deixou de
afirmar que queria a reforma política para as eleições de 2014. O deputado, não
lendo as manifestações contrárias à sua indicação pelo presidente da Câmara,
nem atento aos anseios da sua bancada que queria outro deputado na condução dos
trabalhos, insistiu em continuar. Sua renúncia foi pedida e ele se fez de
ouvidos moucos.
Ele quer flexibilizar a utilização das redes sociais pelos
candidatos. Para ele as “redes sociais são extensão do escritório. Só me aceita
quem quer e só aceito quem eu quero. Portanto, está 100% liberado. Posso entrar
na minha rede social e dizer que vou ser candidato e pedir que vote em mim. Não
posso ser punido por isso”, alegou.
Também quer modificar dispositivo da Lei da Ficha Limpa que beneficiaria gestores reprovados pelos tribunais. Vaggareza afirmou que a proposta de lei complementar estava pronta e seria levada ao colégio de líderes. Depois de muitas críticas, deu uma recuada estratégica.
Algumas das propostas são: para a quitação eleitoral, o candidato precisará apenas comprovar que votou; havendo cassação, ocorrerá uma nova eleição para decidir quem assume a vaga; o político poderá dizer que é candidato a qualquer momento; poderá usar as redes sociais para fazer campanha.
Também quer modificar dispositivo da Lei da Ficha Limpa que beneficiaria gestores reprovados pelos tribunais. Vaggareza afirmou que a proposta de lei complementar estava pronta e seria levada ao colégio de líderes. Depois de muitas críticas, deu uma recuada estratégica.
Algumas das propostas são: para a quitação eleitoral, o candidato precisará apenas comprovar que votou; havendo cassação, ocorrerá uma nova eleição para decidir quem assume a vaga; o político poderá dizer que é candidato a qualquer momento; poderá usar as redes sociais para fazer campanha.
O mais preocupante é que ele quer deixar a reforma política,
tal como ocorreu em tantas outras oportunidades, para sabe Deus quando. Ao afirmar
que não há tempo hábil para uma reforma, plebiscito, referendo ou consulta
popular, ele dá marcha de vaggareza ao processo que as ruas pedem urgência.
A depender de um líder de comissão como ele, que não consegue
se afinar com o seu partido, com os colegas, com a Dilma e com o povo, que
reforma política pode vir?
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 17 de julho de 2013
ACUSAÇÕES LEVIANAS
Um amigo pastor, residente de em uma pequena cidade do
interior paulista, muito dinâmico e carismático, em pouco tempo ganhou respeito
e notoriedade. Como a cidade enfrentava sérios problemas de corrupção,
especialmente na Câmara Municipal, convidado e instado por cidadãos e
políticos, decidiu lançar-se candidato, crendo que poderia ter uma atuação
ética e que contribuiria para uma mudança na política local.
Tão logo seu nome apareceu como candidato, começou a receber
uma saraivada de críticas, especialmente de pessoas evangélicas e membros de
sua própria igreja. Diziam que ele estava se vendendo, que tinha cedido à
corrupção, que o que buscava era ficar rico, assim como os demais. Assustado
com a reação pensou em abandonar, mas também pensou que seus atos, caso fosse
eleito, mudariam a opinião dos seus detratores.
Foi eleito com expressiva votação, sendo o segundo mais
votado na cidade. As críticas não diminuíram. Já no primeiro ano estourou um
escândalo no qual ele não estava envolvido e isto estava fartamente demonstrado.
As críticas se acentuaram, com pessoas dizendo que ele era muito esperto e por
isto não o haviam flagrado. Tantas foram as críticas e denúncias infundadas
que, mesmo tendo amplas chances de ser reeleito ou até mesmo concorrer para
prefeito, desistiu da política.
Conheço outra pessoa, também pastor, que uma noite recebeu
uma chamada telefônica de pessoa de sua relação, que lhe pedia/exigia que ele
desse algumas informações, que o mesmo, naquele momento, estava impossibilitado
de dar. Para sua surpresa, a pessoa começou a acusá-lo de coisas absurdas.
Ele confessava que a pessoa detratora nunca o havia ouvido
pregar, nunca havia participado de sua comunidade e, talvez, nunca tivesse lido
qualquer coisa que ele tivesse escrito. Mesmo assim se sentia no direito e em
condições de emitir juízos severos sobre seu ministério e a coerência dele. Com
lágrimas ele confidenciava: “como posso ser acusado por alguém que mal me
conhece? E meus anos de ministério? E os frutos que já tive foram parar onde?”
A coisa não é nova. Em estudos que estamos fazendo em Atos
dos Apóstolos, Paulo também foi vítima de acusações levianas. Tantas foram as
críticas que ele escreveu algumas cartas à igreja de Corinto para se defender e
defender seu ministério.
Ninguém há que seja inculpável. Paulo, escrevendo aos
Gálatas disse “que se uma pessoa chegar a ser surpreendida em algum delito, os
que são espirituais o corrijam com espírito de mansidão, olhando para si
mesmos, para que também não sejam tentados.” O mesmo, escrevendo aos Corintos
que o acusavam disse: “Aquele, pois, que pensa estar em pé, veja que não caia”.
Estas considerações me fazem recordar o saudoso Rev. Joás
Dias de Araújo em uma frase que costumava repetir: “o ministério pastoral é um
mistério”. A partir dela cunhei outra: “o pastorado é a arte de levar pancadas
e distribuir sorrisos”.
Agostinho disse que a vocação é irresistível. Calvino disse
que a vocação é eficaz. Jeremias disse: “Não ... falarei mais no seu nome; mas
isso foi no meu coração como fogo ardente, encerrado nos meus ossos; e estou
fatigado de sofrer, e não posso mais” (Jr 20:9).
Só a graça de Deus nos mantém no ministério.
Marcos Inhauser
quarta-feira, 3 de julho de 2013
O QUE SOBE DESCE NA MESMA VELOCIDADE!
Já escrevi aqui
mais de uma vez, sobre o sábio Cirilo. Negro, bóia fria, trabalhou com famílias
alemãs na área de Indaiatuba e acabou aprendendo alemão. Sua maior virtude era
a forma como via a vida e a julgava a partir de coisas corriqueiras.
Um dia, na porta
da casa de sítio onde passávamos férias, ele me ensinou uma coisa que a levei
por toda a vida: as coisas caem na mesma velocidade que sobem. Se subir muito
rápido, a queda vai ser rápida também. Fui revisitado pelas lembranças do sábio
nestes dias ao ler e sentir no bolso as consequências de um destes fenômenos.
Falo do Eike
Batista, filho de Eliezer Batista da Silva, ex-presidente da Vale do Rio Doce
(61-64; 79-86), ex-ministro de Minas e Energia. Depois de passar a infância no
Brasil, foi morar na Suíça, Alemanha e Bélgica. Nunca terminou o curso de
Engenharia Metalúrgica na Universidade Técnica de Aachen.
Com 18 anos,
voltou ao Brasil e vendeu apólices de seguro de porta em porta.
No início dos
80, se dedicou ao comércio de ouro e diamantes. Fluente em cinco idiomas (português,
alemão, inglês, francês e espanhol). Com 21 anos montou uma empresa de compra e
venda de ouro e em um ano e meio, acumulou US$ 6 milhões. Aos 29 anos tornou-se
o executivo da TVX Gold. De 1980 a 2000, criou US$ 20 bilhões com a operação de
8 minas de ouro no Brasil e Canadá e uma de prata no Chile. Entre 91 e 96, o
valor da empresa triplicou. Em 2001, a TVX Gold foi vendida por 875 milhões de
dólares canadenses.
Considerado o
homem mais rico do Brasil, hoje amarga o fundo do poço. Eike está negociando com os bancos uma dívida de curto prazo de R$ 7,9
bilhões. A OGX (petróleo), MMX (minério), LLX (logística), OSX (estaleiro), MPX
(energia) e CCX (carvão) precisam pagar ou renegociar R$ 7,9 bi até março de
2014. A LLX renovou com o Bradesco um empréstimo de quase R$ 590 milhões que
venceu em abril.
As
ações do grupo estão se esfarelando na Bolsa. No último ano caíram entre 24,6%
(MPX) e 85% (OSX). Só na segunda-feira houve queda de 27%.
Vendeu
sonhos e não entregou um centavo aos investidores: "São projetos de longa
maturação, que exigem altos investimentos e não estão produzindo o que se
imaginava" disse um analista.
A
crise de confiança do grupo começou há um ano, quando um campo de petróleo da
OGX frustrou as expectativas de produção. A partir daí, os investidores
começaram a questionar a capacidade do empresário de "entregar".
Pelo
jeito ele vai entregar uma manada de bezerros para a “vaca leiteira do
governo”. E vamos virar sócios na dívida!!!.
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 26 de junho de 2013
O QUE ENVERGONHA O PAÍS
A presidente Dilma “Soucheff” veio a público, depois de um
longo silêncio ante a gravidade das manifestações públicas, dizer mais do mesmo
e fazer propaganda do seu governo. Depois de dez dias, ela gastou dez minutos
para dizer nada. E no meio do nada tentou dar uma lição de moral: “a violência envergonha
o Brasil”.
Marcos Inhauser
Acrescento coisas que, sim, envergonham o Brasil.
Envergonha o Brasil, dona Dilma, um governo com 37
ministérios incompetentes e um Ministro da Pesca que entende tanto disto quanto
eu de física quântica.
Envergonha a prática de construir a base parlamentar na base
de alianças com partidos, entregando ministérios de “porta fechada”.
Envergonha o Brasil um ministro da Economia que até o final
de 2012 dizia que o PIB seria de 3% ou mais e deu 0,9%.
Envergonha o Brasil a quantidade de deputados e senadores,
pagos a peso de ouro e com aposentadorias nababescas, para fazer quase nada.
Envergonha o ter coisas para serem votadas há anos, como é o
caso do novo pacto federativo, que uma vez mais, no que pese o prazo dado pelo
STF, não será votado.
Envergonha a depredação do patrimônio público seja por
privatizações questionáveis, seja pelas licitações viciadas.
Envergonha o país a quantidade de dinheiro jogado fora em
obras iniciadas e abandonadas.
Envergonha o dinheiro gasto com propaganda de governos federal,
estaduais e municipais.
Envergonha a quantidade de escolas em péssimas condições.
Envergonha o salário de merreca dos professores.
Envergonha a qualidade do atendimento na saúde, a falta de
médicos e de infraestrutura nos hospitais.
Envergonha o processo de aposentadoria e os salários pagos
aos aposentados.
Envergonha a iqualidade dos orçamentos e contratos feitos
com as empreiteiras, que sempre recebem aditivos aumentando significativamente
os custos finais.
Envergonha que as obras de infraestrutura viária da Copa nunca
tenham saído do papel.
Envergonha o despreparo deste governo da Dilma, que vem a
público fazer um segundo discurso, orientada por marqueteiros, vendendo o seu
programa de governo e propondo uma Constituinte restrita, coisa que, no dia
seguinte, teve que voltar atrás, dizendo que não disse o que disse e que
entenderam errado o que disse.
Envergonha a falta de estratégia em lidar com as
manifestações públicas e as demandas populares. Dizer que o povo quer que as “reformas
sejam mais rápidas” (sic). Quando se está parado, qualquer velocidade será mais
rápida. E o governo da Dilma está parado há 30 meses.
Envergonha o eterno retorno da “reforma política” sem que
nunca se faça nada de concreto desde o tempo do FHC.
Envergonha a classe de partidos políticos que temos, muitos comprados
para dar sustentação política (sic) ao governo.
Envergonha que o partido da presidente tenha tentado, por
várias vezes e diversas maneiras, cercear a livre expressão, a liberdade de
imprensa, a autonomia de investigação do ministério público.
Envergonha ter mensaleiros condenados sendo parlamentares e
recebendo como tais.
Envergonha ter o Maluf, condenado aqui e fora do país, como
aliado deste governo.
Eu me envergonho do (des)governo que temos!!
quinta-feira, 20 de junho de 2013
NÃO UMA QUESTÃO DE CENTAVOS, MAS DE DIREITOS
Este é um país sui generis. Não há igual. Já contei aqui que
em uma visita que fazia à Guatemala, a capital estava em pé de guerra com pneus
queimando, barricadas e manifestações porque haviam subido o preço do ônibus em
alguns poucos centavos (algo em torno de R$ 0,05). No Equador, onde vivi, um
aumento de centavos na gasolina fazia o país parar.
Durante
bom tempo fiquei a me perguntar por que os brasileiros são lenientes e
coniventes com a enorme quantidade de fatos que vêm à tona a toda hora, dando
conta de sobrepreços, propina, desvios de recursos. Por que não há uma revolta
social de magnitude com esta corrupção toda?
Hoje
tenho que dizer que me dou por satisfeito. E mais que satisfeito: uma
manifestação sem a comandância dos focos de podridão que são os partidos e os
sindicatos.
Ademais,
a mobilização foi possível por causa da terrível incapacidade da Polícia Militar
em lidar com manifestações. Depois de vinte anos sem ter que fazer frente à
mobilização das massas, a PM (talvez por herança do período da ditadura ou por
nunca ter se afastado dos métodos de outrora), achou que acabaria com a coisa
com gases lacrimogênio e pimenta, com cassetete e truculência. Deu no que deu.
Mais gente saiu à rua e tudo indica que o movimento crescerá.
A
repercussão internacional e as manifestações de solidariedade havidas em várias
partes do mundo, com a imprensa internacional reverberando os fatos aqui
ocorridos, colocou o governo central em alerta de que a coisa está feia e pode
piorar. Como o lulo-petismo quer a todo custo a reeleição da sua camarilha, um
movimento destes pode botar água no chopp.
Por
outro lado, se a cada denúncia há uma convulsão nacional, qual o grau de
maturidade do povo brasileiro? A pessoa e a nação maduras se conhecem pelo
equilíbrio em lidar com as emoções e em dosar as reações diante dos fatos
desagradáveis ou trágicos. Reações desproporcionais, emocionalizadas, são
evidência de imaturidade. Ao ter uma reação de espera, de cobrar explicações via
meios comunicação, ao usar a rede social para manifestar sua indignação e
irritação, ao assistir aos telejornais com vívido interesse, ao ler os jornais
e analisar os fatos, a nação mostra maturidade. Maturidade está na manifestação
pacífica e ordeira. Imaturidade está na ação de uns poucos radicais que usam do
momento para extrapolar.
Gostaria de ver incluída na pauta destas reivindicações a
indignação do brasileiro com a tentativa de golpe que o petismo está
pretendendo dar no Ministério Público, ao impedi-lo de investigar, uma vez que,
na história recente, os deputados e senadores levados à barra dos tribunais o
foram por obra do MP.
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 12 de junho de 2013
RUTE
Estava saindo de Rio Preto quando o celular tocou. Passei
para minha esposa atender porque estava dirigindo. Percebi que ela falava com
alguém que, no momento, não estava reconhecendo e eu também estava curioso para
saber quem era. Depois soubemos se tratar de um grande amigo.
À medida que a conversa se desenrolava, percebi tratar-se de
uma notícia triste e o nome que se falava era Rute. Rodei meu banco de dados
mental e só encontrei uma Rute. E era dela que estavam falando. Falecera na
sexta-feira e o enterro seria no domingo à tarde e a pessoa, gentilmente nos
avisava da morte, pois sabia do carinho que tínhamos por ela e ela por nós.
No momento em que comecei a juntar as peças da conversa que
ouvia e me certificava de que se tratava da Rute, uma profunda tristeza foi
invadindo meu coração. Era como se estivesse perdendo alguém muito importante
na vida
Rute era uma pessoa especial no duplo sentido do termo. Era
especial porque sempre (e este sempre tem valor absoluto), quando me via, abria
um sorriso e vinha me abraçar. Queria saber estava bem. Eu, do meu jeito,
brincava com ela e também me interessava em saber como ela estava.
Rute era especial porque, Deus, na Sua vontade e soberania,
permitiu que ela tivesse algumas necessidades especiais, que lhe obrigaram a
terapias e doses maciças de remédio. No que pese as suas características, ela
sempre foi um estímulo para meu ministério. Quando ela vinha à igreja, sentia-me
amado e apoiado.
A notícia da Rute me fez revisar meu passado como pastor.
Conclui que em quase todas as igrejas pelas quais passei e pastoreei, Deus me
deu uma pessoa especial para, de maneira sincera e honesta, me dar as
boas-vindas, me abraçar e se interessar por mim. Também conclui que estas
pessoas especiais tem o dom divino de serem honestas e transparentes. Elas,
quando gostam de alguém, realmente gostam. E se não gostam, não fazem esforço nenhum
para passar a gostar. Percebi também que, em todos os casos, quando ia para a
igreja, tinha o desejo consciente de encontrar a estas pessoas para ser
cumprimentado, abraçado. Era como se precisasse de uma injeção da graça para
iniciar os trabalhos.
Encontrei também estas pessoas especiais em quase todas as
igrejas que já visitei. Na Church of the Brethren, nos Estados Unidos, há um
jovem negro que faz questão de cumprimentar cada um dos mais de quatro mil
participantes da Conferência Anual. Ele dá a mão e diz: Deus te abençoe e te dê
a paz. Às vezes ela volta à mesma pessoa algumas vezes e quando se diz que ele
já havia cumprimentado, ele repete a sua benção.
A Rute me ajudou no ministério e fez falta no tempo em que
se ausentou e fará falta com a sua partida. Por tudo o que foi para mim,
obrigado Deus e Rute.
Marcos Inhauser
quarta-feira, 29 de maio de 2013
É IXTRANHO!
Lembrei da frase
do Zagalo, no seu peculiar jeito de falar, ao ouvir as lambanças ocorridas com
a Caixa e o Bolsa Família: “é ixtranho, muito ixtranho.”
É estranho que
um banco do porte da Caixa, que administra o Bolsa Família, que tem impacto sobre
milhões de pessoas, decida fazer o depósito antecipado da parcela mensal. Que
me perdoem os ingênuos, nunca vi banco favorecer a vida de ninguém, muito menos
dar dinheiro antes da hora.
É estranho que o
depósito tenha sido feito sem notificação aos interessados e sem que se
prevesse a comoção que isto poderia causar.
É estranho que
se diga que foi boato o fato de que beneficiários tenham acessado na sexta o seu
extrato e tenham visto o depósito antecipado e não tenham acreditado em um “presente
da Dilma”, pois certamente estavam acreditando que no dia determinado, uma nova
parcela seria depositada. Lógica simplista de quem vive das migalhas do
governo.
É estranho que
uma ministra do governo tenha atribuído à oposição a onda de boatos, sem ter em
mãos a mais mínima informação, sendo obrigada a desdizer o que disse, alegando
que o que disse não queria dizer o que foi dito.
É estranho que o
vice-presidente da Caixa tenha vindo a público dizer que havia determinado a
antecipação das parcelas para fazer frente à onda de saques que houve, como
forma de aliviar a tensão social que o fato gerou. Mais tarde veio com a
história de que, quando determinou a antecipação, ele não tinha a informação de
que ela já havia sido feita.
É estranho que o
presidente da Caixa venha a público afirmar que não era do seu conhecimento a
antecipação das parcelas e que, por isto, demorou uma semana para trazer
explicações, uma vez que precisava levantar todas as informações necessárias
para o esclarecimento.
É estranho que
dois bilhões de reais (que é o total conhecido do Bolsa Família) seja
antecipado, sem que o vice-presidente e o presidente da Caixa tomassem
conhecimento do fato inusitado.
É estranho,
muito estranho, que a razão para tal antecipação seja a atualização do sistema feita entre março e abril deste ano e que, de
acordo com Hereda, a Caixa identificou 700 mil a 1 milhão de beneficiários
portadores de mais de um Número de Identificação Social (NIS). Com a
atualização, essas pessoas passaram a ter apenas o número mais antigo do NIS, o
que poderia gerar confusão na hora do pagamento, segundo o presidente.
É estranho que ele não tenha explicado se a duplicidade
do NIS implica e duplicidade de pagamentos. Se assim for, dizer que o Bolsa
Família seria cortado não é boato. Por outro lado, como pode um banco que administra
estas contas permitir que no mínimo 700 mil inscrições tenham sido feitas em
duplicata?
É estranho que a presidente Dilma tenha dito que era “desumano
e criminoso” o que estava acontecendo e que, agora, se sabe, foi gente do seu
governo que aprontou a lambança.
É ixtranho, muito ixtranho.
Marcos Inhauser
quarta-feira, 22 de maio de 2013
NÃO UM ZÉ: O ZÉ
Eu o conheci há
mais de 30 anos. Estávamos em um encontro e um dos preletores faltou. Foi
quando ele disse que tinha um texto que poderia ser lido. Nunca me esqueço: O
Primeiro De(s)maio, um trocadilho sobre as condições do trabalho e o dia
primeiro de maio, dia do Trabalhador.
Depois disto nos
encontramos incontáveis vezes, seja em reuniões, conferências, seminários ou
tomando um chopp. Cada vez que eu o ouvia falar e compartilhar suas ideias
minha admiração por ele crescia.
Por duas vezes
eu tive a honra de apresenta-lo como conferencista. Falei o que pensava dele:
uma cabeça brilhante, um poeta, um artista das palavras e dos conceitos, hábil
no uso das metáforas, etc.
Certa feita eu o
convidei para falar sobre a história do pensamento humano (não podia dizer que
era história da filosofia porque o auditório religioso era extremamente
conservador). No caminho para o salão encontramos uma senhora e eu o apresentei
como Doutor José. Ela mal tinha se afastado ele me deu uma bronca: “Marcão, não
quero mais que você me apresente do jeito que você faz. Quando você for me
apresentar, diga que sou o Zé. Nada mais.” “Mas Zé...” tentei retrucar e ele
foi enfático: “Só Zé. Nada mais. Entendido?”
Eu já tinha
preparado o discurso de apresentação. Ia dizer que era autor do livro
Corpoética, Cosquinhas no Umbigo da Filosofia, Papo de Boteco e outras coisas
mais. Fiquei mudo. Fiz o que ele me pediu: “aqui está o Zé”.
O grupo cantou um hino que dizia: “é mui certo que a gente tropeça, por isso Senhor, eu preciso de ti./Bem sei
que nas preces eu posso buscar-te / Jamais
dessa bênção na vida eu descri, / Contudo,
é possível que eu dela me aparte / Por
isso Senhor eu preciso de ti.”
Ele começou
dizendo: “este sou eu. Já tropecei, já me apartei. Peço a vocês para não
acreditarem no que vou dizer, mas que examinem e só aceitem aquilo que entenderem
ser certo.”
Começou com os
pré-socráticos e veio desfilando até o existencialismo. Eu estava abismado
porque o auditório, que eu tinha certeza teria resistências, estava
participando, fazendo perguntas, etc.
No período da
tarde veio o segundo preletor. Começou dizendo que queria fazer algumas
observações sobre o que o Zé havia dito, porque podia dar lugar a
interpretações heréticas. E começou a desfilar um rosário de certezas e
jactância.
Uma hora de
palestra do segundo orador, o presidente do grupo veio até mim e perguntou:
“Não dá para fazer este cara calar e colocar o Zé no lugar dele?”
Perguntei ao Zé,
depois, porque não queria que o apresentasse da forma como queria. Ele me disse
duas coisas que me marcaram: “primeiro que você exagera. E quando você exagera
as pessoas ficam esperando a fala de um gênio. E eu não o sou. Dizendo que sou
o Zé, qualquer coisa que vier depois disto é lucro.”
Não vou dar o
nome completo dele para não levar outra bronca. Mas quem quiser saber quem é,
me escreva que eu conto. Isto o Zé não pode me proibir....... E o faço como
gratidão pelo muito que com ele aprendi e tenho aprendido.
Marcos Inhauser
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