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quinta-feira, 21 de junho de 2012

ESPIRITUALIDADE DISTORCIDA OU FÉ?


Preocupa-me o conceito de “fé” nos dias e no contexto em que é usado nos dias de hoje no Brasil.. Ela é ensinada fé como virtude mágica, varinha de condão, um “abra cadabra gospel” que produz coisas mirabolantes. Recuso-me a aceitar a fé infantil e estúpida de um pastor que segurava serpentes para provar a veracidade de um verso da Bíblia. Valeu para ele o dito popular: “Se quiseres, confia na pata do coelho: mas lembra-se de que ela não deu sorte ao coelho.”
Recuso-me a aceitar a fé como palavra de ordem que sai de lábios jactanciosos dizendo o que deve Deus fazer. Quando as ações de Deus forem sugestionadas ou dirigidas pelos humanos, ele terá deixado de ser Deus.
Recuso-me a crer que fé é o que faz com que as massas supervalorizem a autoflagelação e o sacrifício, em detrimento da graça pela qual fomos atraídos a Cristo. Ora, se a fé exigisse sacrifícios, a graça não seria graça. Então o que é fé? Fé é crer cega e dependentemente de Deus, mesmo que isso pareça um atentado à sanidade.
Conta-se que numa grande cidade, numa avenida sem nenhum semáforo, um pai procurava atravessar segurando a mão da filha de sete anos. Depois de alguns minutos de indecisão e de espera, o pai alcançou o outro lado da avenida tendo sempre a filha à mão. Ao se encontrar do outro lado, a menina exclamou: “Aquele edifício tem 10 andares. Eu os contei direitinho!” Porque confiava no pai, a menina não tinha visto o perigo da rua e dos carros. Quem confia no Senhor, fica em paz! Isso é fé. Esta é a definição de Hebreus 11:1 “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem.” Não vejo Deus, mas confio absolutamente que, em sua soberania, ele sempre terá o melhor para mim. Não vejo o futuro, mas creio em quem está à frente: Jesus. Fé expressa em forma de confiança absoluta, de esperança imortal, de serenidade em meio às tempestades.
Analisando a religiosidade tupiniquim vejo mais crendices do que fé real e inabalável. Certa vez, três amigos encontraram-se após muitos anos de separação. Contando suas experiências, um deles disse: “Sou um homem muito infeliz. Perdi todo o dinheiro que possuía. Não tenho mais nada”. O outro disse: “É difícil a sua situação, mas não é tão triste quanto a minha. Perdi minha esposa e meus dois filhos. Oh! Se pudesse dar tudo o que você perdeu para tornar a vê-los!” O terceiro amigo disse: “A infelicidade de vocês é pequena comparada à minha. Um de vocês perdeu o dinheiro, que pode ser recobrado. O outro perdeu os queridos, porém, espera encontrá-los no céu. Mas eu perdi o que de mais precioso existe sobre a terra: perdi a fé”. (Rev. Marcos Kopeska, editado para que caiba neste espaço).

quarta-feira, 6 de junho de 2012

ASSASSINOS DE CONVERSAS


Fui à festa junina no colégio de meus netos para vê-los participar das atividades. Enquanto esperava fui me irritando com o volume do som. Quatro enormes caixas acústicas “animavam” o ambiente. O encarregado do barulho, em uma barraca ao lado da quadra, estava com o fone de ouvido posto e não sei se tinha noção do quão alto o som estava.
À medida que esperava a apresentação, me perguntava: será que não percebem o dano que podem estar causando aos ouvidos das crianças que aqui estão? Como podem enfatizar a reciclagem, ensinando a selecionar o lixo e evitando a poluição, se eles mesmos promovem a poluição sonora? O som equalizado para reforçar os graves, batia na cabeça como se fosse marreta. Eu que sou movido a música, estava irritado com ela.
Quando terminou a apresentação eu achei que teria alívio. Que nada! Lá estava a “música ambiente” em volume tão alto que dificultava a conversa com as pessoas que conhecia. Um tinha que gritar para o outro para ser ouvido e entendido. Saí de lá antes do previsto, cuspindo marimbondos.
Aquele era um tempo em que as famílias estavam reunidas, que as pessoas se encontravam e se cumprimentavam, um tempo de celebração da amizade que foi atrapalhado por um DJ sem noção, que acreditava que a sua música era mais importante que a amizade e as conversas. Longe do local onde as pessoas estavam, o DJ não percebia o estrago que estava fazendo.
Esta não é a primeira vez que fico irritado com a “música ambiente” que é mais música que ambiente”. Detesto restaurantes com música ao vivo. Quando vou a um deles o faço em companhia da esposa, dos filhos ou amigos e o que quero é conversar, trocar ideias, contar piadas. E lá está o barulho a atrapalhar. Ao final, na hora da conta, ainda querem me cobrar o “couvert artístico”. Querem que eu pague por ter sido atrapalhado na conversa, por ter ficado irritado, por ter ficado com dor-de-cabeça.
Lembro-me de um restaurante no interior do estado de Goiás onde fui jantar. Havia um cara grunhindo, equipado com um vilão que mais parecia arma que instrumento musical, cantando desafinado. Horrível! E ainda tiveram a ousadia de me cobrar R$ 15,00 para ser torturado pelo indivíduo. Não paguei.
Outra feita, em uma festa de casamento, quando as famílias que há tempos não se encontravam e tinham a oportunidade de colocar as novidades em dia, foram literalmente impedidas de fazê-lo por causa de um desajustado, equipado com uma mesa de som, que botou putz-putz para tocar e que ninguém conseguia fazer mais nada que ficar calado e olhando um para a cara do outro. Para mim ele tinha a necessidade de ser notado, mais que a noiva. E conseguiu. Todos o xingaram.
Estes sonoplastas de araque são assassinos de conversas. Matam o diálogo interpondo a violência da altura de seu som. A música ambiente é para suavizar, estabelecer um clima ameno e nunca para agredir. Ela deve facilitar o diálogo, o encontro, a conversa e não matar uma das coisas mais preciosas do ser humano: falar e ouvir.
Marcos Inhauser

MELHOROU, E MUITO!


Há mais de quinze anos ou eu ou minha esposa, mensalmente, temos que ir à farmácia de alto custo para a retirada de medicamentos para uma pessoa incapacitada de fazê-lo. Nas primeiras vezes (e por alguns anos) tivemos que ir um cubículo na Unicamp onde, ainda que muito bem atendidos pelos que ali trabalhavam, havia problemas na entrega dos medicamentos, pois ora faltava este ou aquele, ora faltavam os dois. A gente tinha que ficar ligando para saber se tinha chegado (isto quando conseguia ser atendido, pois o telefone vivia ocupado) e não poucas vezes, mesmo tendo chegado os medicamentos, não eram suficientes para cobrir a demanda. Invariavelmente havia que chegar muito cedo, enfrentar fila e não poucas vezes perdia-se a manhã toda para a retirada dos medicamentos.
Quando a coisa começou a funcionar com certa regularidade, fomos surpreendidos com a decisão, sabe-se lá de quem, de mudar a farmácia para outro local, no bairro Ponte Preta. No início a coisa foi um caos. O que começava a funcionar passou a ser um caos. Filas enormes, falta de funcionários e tinha muito mais gente para retirar medicamentos que na Unicamp, pois, ao que parece, concentraram tudo em um só local. Era um festival de gente brava e reclamações, algumas até ofensivas.
Com o passar do tempo algumas mudanças começaram a ser implementadas. Há uma pré-seleção e muitos nem mais precisam pegar a fila para ter a senha. O processo de retirada passou a ser melhor, as orientações quanto aos documentos e receitas necessárias foram melhor explicadas, a renovação passou a ser agendada, as datas de retirada passaram a ser marcadas previamente quando da retirada dos medicamentos, as filas diminuíram, há mais gente trabalhando e atendendo ao público e até um serviço de “ouvidoria” foi implementado. Nas últimas vezes que lá estive não mais percebi reclamações (que eram constantes), não mais gente brava com o atendimento (também constantes no modelo anterior) e não mais tive que voltar por falta de medicamentos.
A falta de planejamento, comum no setor público, quando esperam acabar para então fazer a licitação e a compra, com a devida demora que o processo acarreta, parece (e espero que assim continue) que são coisa do passado, ao menos para a Farmácia de Alto Custo. Isto é o que ocorre nos centros de saúde, onde há muito, não se encontra o terceiro remédio que precisamos retirar e que não há na farmácia de alto custo. Há meses não há fluoxetina e, quando perguntadas, as funcionárias respondem: “só Deus sabem quando vai chegar”. E isto que o prefeito-tampão é médico e o prefeito-defenestrado também o é.
De minha parte quero deixar registrado aqui o meu reconhecimento pela melhoria significativa havida. Quero também afirmar que quando pessoas comprometidas, mesmo sendo funcionários públicos, decidem melhorar o serviço prestado, conseguem fazê-lo. Que o exemplo seja seguido por outros órgãos do setor público.
Marcos Inhauser

quinta-feira, 17 de maio de 2012

MODERNOS VERSALHES


Na semana passada escrevi algo sobre os hábitos higiênicos nos palácios da Europa nos séculos XVII e XVIII e sobre o fato de que no palácio de Versalhes não havia banheiros. As fezes eram jogadas janelas afora. As pessoas não escovavam dentes, nem tomavam banhos regulares e por isto precisavam ser abanadas para disfarçar o mau cheiro.
Enquanto escrevia a coluna comecei a pensar se a situação atual é diferente. Dos Palácios modernos, especialmente os brasileiros, tem saído muito mau cheiro, muita caca. Sejam eles Palácios federais, estaduais ou municipais, o que se tem notícia é que são fétidos e enlameados (perdão pelo eufemismo, mas o espaço não me permite o uso da palavra correta). Os Palácios fétidos são ligados aos poderes Judicial, Legislativo e Executivo. O recente escândalo do Cachoeira veio mostrar o quanto a lama entrou nos palácios e quanto mau cheiro está exalando e por exalar.
Pensei também que as tais CPIs são como leques a esparramar o mau cheiro, afastar o mau cheiroso, sem nos dar a segurança de que os outros gambás também serão retirados. Os paladinos da moral acabam por se mostrar empresários do mal. Aí estão os desembargadores flagrados com o dinheiro dos precatórios, os deputados mamando na contravenção dos bingos, os asseclas encontrados nos palácios se beneficiando de esquemas de sobrefaturamento (vide o recente caso na PM de São Paulo com o encarregado de autorizar alvarás de construção e que tem mais de 120 imóveis), governadores que se enriquecem do dia para a noite ou jantando em restaurantes de contas astronômicas pagas por empresário que se locupleta com o dinheiro público, senadores donos de estado ou proprietários do gado mais fértil do mundo, prefeitos que montam esquemas milionários de desvio, tal como o correu em Campinas e outras cidades da região e no Brasil.
Neste sentido, fico à espera de novidades mau cheirosas na Prefeitura de Campinas, outra vez. Notícia veiculada por este jornal na semana passada mostra como os partidos políticos perderam a vigência em Campinas, cedendo espaço às negociações diretas dos vereadores com o Executivo.
Fontes bastante bem informadas me passaram um dado preocupante: depois da ascensão do novo prefeito, tem havido um festival de nomeação de novos coordenadores e criação de novas coordenadorias na Sanasa, todas com salários entre quatorze e vinte e cinco mil. Até uma Coordenadoria de Saúde Bucal foi criada, só Deus sabe para quê. Boa parte dos recém-nomeados não tem histórico de trabalho com a Sanasa.
Não é de hoje que a Sanasa, ao invés de tratar o esgoto e a água, tem recebido o esgoto da política. É emblemático o fato de ter a Sanasa um prédio sem janelas, envidraçado em sua totalidade, impedindo que se veja de fora o que lá dentro acontece. Total falta de transparência!!!
Marcos Inhauser

quarta-feira, 9 de maio de 2012

CHEIROSOS E LIMPINHOS


Com algumas exceções, todos somos cheirosos e limpinhos.
Isto nem sempre foi assim. Quando se visita o Palácio de Versailles, observa-se que não há banheiros! As fezes humanas eram atiradas pelas janelas do palácio. Na Idade Média não existia pasta de dente, escovas de dentes, perfumes, desodorantes, papel higiênico. As pessoas eram abanadas não por causa do calor, mas do odor que as pessoas exalavam, pois não tomavam banho, não escovavam os dentes, não usavam papel higiênico e não faziam higiene íntima. Os nobres eram os únicos que podiam ter quem os abanassem, espalhando o mau cheiro que o corpo e suas bocas exalavam.
Na Idade Média, a maioria dos casamentos ocorria no mês de junho (início do verão), pois o primeiro banho do ano era tomado em maio. Assim, em junho, o cheiro das pessoas ainda estava tolerável. Como alguns odores já começavam a exalar, as noivas carregavam para disfarçar buquês de flores junto ao corpo, dando assim origem ao costume de se casar em maio e carregar buquês.
Os banhos eram tomados numa única tina. O chefe da família era o primeiro. Depois, sem trocar a água, vinham os outros homens da casa, as mulheres e, por fim, as crianças. Quando chegava a vez delas, a água já estava tão suja que era possível perder o bebê lá dentro. É por isso que existe a expressão em inglês "don't throw the baby out with the bath water” (não jogue o bebê junto com a água do banho).
Os telhados não tinham forro e as madeiras que os sustentavam eram o lugar para animais se aquecerem. Quando chovia, começavam as goteiras e os animais pulavam para o chão. Assim surge a expressão "it's raining cats and dogs" (está chovendo gatos e cachorros).
Os que tinham dinheiro possuíam pratos de estanho. Certos alimentos oxidavam o material e muita gente morria envenenada. Os tomates, sendo ácidos, foram considerados venenosos. Os copos de estanho eram usados para beber cerveja ou uísque. Essa combinação, às vezes, deixava o indivíduo no chão (numa espécie de narcolepsia induzida pela bebida alcoólica e pelo óxido de estanho). Alguém que passasse pela rua poderia pensar que estava morto, recolhia o corpo e preparava o enterro. O corpo era velado por alguns dias e a família ficava esperando para ver se o morto acordava ou não. Surgiu assim o velório.
A Inglaterra nem sempre teve espaço para enterrar todos os mortos. Os caixões eram abertos, os ossos tirados e o túmulo era utilizado para outro defunto. Às vezes, ao abrir os caixões, percebiam que havia arranhões nas tampas, do lado de dentro, o que indicava que aquele morto tinha sido enterrado vivo. Surgiu a ideia de amarrar uma tira no pulso do defunto que passava por um buraco no caixão e ficava amarrada a um sino. Após o enterro, alguém ficava de plantão ao lado do túmulo durante uns dias. Se o indivíduo acordasse, o movimento de seu braço faria o sino tocar. Ele seria "saved by the bell", ou salvo pelo gongo, expressão essa por nós usada até os dias atuais.  (Condensado de um artigo anônimo que recebi há muito tempo).
Marcos Inhauser

quarta-feira, 2 de maio de 2012

MOEDA DE TROCA


A recente cachoeira de vídeos e áudios que tem vindo a público, revelando o lado fétido e nada ético da vida pública e política de altas autoridades da república e da polícia, revela também algumas coisas que merecem ser consideradas.
Sabe-se hoje que o Procurador Geral da República já sabia dos descaminhos do Senador Demóstenes há três anos e nada fez para que o mesmo fosse devidamente enquadrado. Pergunta-se hoje o que o levou a ficar três anos engavetando o assunto. Seria ele Procurador ou, como foi o antecessor, Engavetador Geral da República?  Quais interesses ele defendia ou que temores tinha para que as coisas não fossem trazidas a público?
Outra pergunta que se faz é por que só agora a coisa veio a publico, na profusão de evidências, onde a cada dia nova revelação aparece, como se a cachoeira do esgoto fosse conta-gotas? Haveria alguma estranha relação entre os fatos hora revelados e o julgamento a ser feito pelo STJ sobre o mensalão? Haveria aqui alguma possível moeda de troca ou “presta atenção” à oposição? Seria algo do tipo: se vocês quiserem mexer fundo na lama do mensalão, nós temos uma cachoeira de fezes para jogar sobre vocês.
Causa-me estranheza que a CPI dos Corruptores, tantas vezes aventada e necessidade urgente nesta república de mal feitos, nunca tenha saído do papel e nem mesmo é aventada pelos políticos de plantão. Já se fez algo para punir um ou outro pego na corrupção, mas nada que tocasse no âmago da questão. Se há corruptos há corruptores. Que as construtoras são as grandes vilãs, todo mundo sabe e evidências já foram levantadas, todas devidamente arquivadas por sentenças judiciais, sob a legação de ilegalidade no levantamento das provas. Quem, em sã consciência, acredita que desta vez vão pegar os tubarões? Será que vão mexer fundo na coisa, pegando a construtora que mais contratos tem com o Governo Federal? Duvido e aposto que não. Providencialmente pegaram um lambari da construtora e o puseram em prisão, o Cavendish já saiu de cena, a Alckmin já disse que vai rever os contratos com a Delta, a própria Delta já abriu mão de algumas obras mais vistosas (Maracanã e Petrobrás). Assessores do Agnelo Queiroz já renunciaram para “ter tempo de preparar a defesa”, o Marconi Perilo nega de pés juntos que nada tem a ver com a coisa. Vai sobrar para quem?
O Demóstenes vai receber seu quinhão por ter batido forte no governo e agora recebe o troco. Os dois delegados da PF vão cair em desgraça, os deputados Lereia e o Protógenes vai receber seu quinhão de vingança, o Nercessian é figura insípida e não afeta o tabuleiro do jogo e vai sobrar até para o Tulio Maravilha.
Mas tubarão não vai cair nesta rede. É ano eleitoral e a moeda de troca vai rolar. Vai se fingir que se investiga, vai se fingir que se pune, cada partido vai receber seu quinhão das construtoras, laboratórios farmacêuticos e bancos e continuamos sendo o mesmo país que sempre fomos. E assim será financiada a campanha eleitoral. Quanto mais derem para os partidos, menos chances tem as construtoras, bancos, laboratórios de serem chamados a se explicar na CPI.
Marcos Inhauser

A DECEPÇÃO FOI ELEITO


Nada que me surpreendesse. O resultado da “eleição” na câmara Municipal de Campinas era, para mim, o conto de um final previsível. Eu já disse aqui que o Pedro Serafim não entrou na história de graça. Ele tinha e tem seus objetivos. Seu sonho desde criancinha era um dia ser prefeito de Campinas e conseguiu, ainda que pela via indireta, mesmo porque, se fosse pela urna eu tenho minhas dúvidas de que seria eleito.
Ele, na sua trajetória política, é uma decepção. Em 2010, quando da sua eleição para a presidência da Câmara já se alertava para o fato de que o ele era um dos parlamentares mais ausentes na Câmara. Quase não participava das comissões e nas sessões.  Chegava atrasado e costumava sair antes de terminar as reuniões.  Os vereadores foram questionados sobre os motivos que os levaram a votar nele e não responderam. Nos corredores muitos parlamentares admitiram que Serafim iria rever o valor dos salários dos vereadores.
Aqui está a segunda grande decepção: a forma como conduziu a discussão e aprovação do aumento salarial de 126%. À época eu escrevi: “A Câmara Municipal de Campinas, no melhor dos espíritos natalinos, decidiu dar-se um belo presente: aumento nos salários de 126%! ... Qual o índice usado para que eles aprovassem os 126%? E por que foi feito em uma aprovação às surdinas e de forma sorrateira?”. Na semana seguinte escrevi: “como acreditar no comandante em chefe da decisão que autoconcedeu-se o escandaloso aumento de 126%. O meu raciocínio é: a questão do aumento foi proposta, discutida, aceita e aprovada nos bastidores, bem assim a maneira sorrateira de aprovar. ... Causou-me espanto as afirmações do agora prefeito tampão, ... de que o aumento era para que houvesse independência do legislativo (... confissão de promiscuidade...). “
A terceira decepção é que, no mandato tampão queria governar juntamente com os vereadores, sugerindo o conluio do executivo com o legislativo, inconstitucional. Mais tarde disse que não conseguiu fazer grandes coisas no mandato tampão porque era temporário, ainda que tivesse todo o poder da caneta para fazer acontecer coisas. Se não soube se impor na autoridade de tampão, como acreditar que se imporá no mandato tampão-eleito? Temporário por temporário, os dois os são.
No dia da eleição, em entrevista, disse que daria um choque de gestão e que “controlaria a transparência das contas”. Ato falho? Para mim confissão de um estilo, porque já mostrou na Câmara como controla a informação quando do episódio do aumento salarial. O que a população espera e reclama é que a transparência das contas não seja controlada, mas feita de forma clara.
Não tenho dúvidas: Campinas continuará sem prefeito até dezembro. Até lá haverá muita campanha, muito acerto de bastidores e vereadores tentando limpar a barra que sujou nestes episódios todos. De minha parte não reelejo a nenhum deles!
Marcos Inhauser

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Carta de Princípios da Criança Diabética


Há alguns anos presto serviço voluntário junto à ONG Pró-Diabéticos. Fundada em 2005, pela Sra. Claudia Filatro, mãe de uma criança com diabetes tipo1, a ONG Pró-Crianças e Jovens Diabéticos, sediada em Campinas/SP, e com filial em Guarujá/SP, conta com cerca de 30 voluntários, nasceu com a missão de prover amor, orientação e meios aos pacientes portadores de diabetes tipo 1, com prioridade para crianças e adolescentes de baixa renda, e seus familiares.
O Diabetes mellitus (DM) é um dos principais problemas de saúde pública mundial, tendo afetado no ano de 2011 cerca de 366 milhões de pessoas e com uma estimativa de 552 milhões de indivíduos afetados no ano de 2030 se medidas de prevenção não forem adotadas.
O Diabetes mellitus tipo 1 (DM1) é o distúrbio metabólico mais frequente na infância e na adolescência e caracteriza-se pela deficiência absoluta da secreção de insulina, resultante da destruição autoimune das células beta do pâncreas.
Recentemente a ONG trabalhou dura e arduamente na elaboração da “Carta de Princípios dos Direitos da Criança e do Adolescente com diabetes tipo 1”. Esta é mais uma iniciativa inédita da ONG, cujo papel é defender os direitos, interesses e necessidades das crianças e adolescentes de baixa renda com diabetes tipo 1. A Carta visa garantir os direitos básicos dessa população e para isto precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional.  A forma de se conseguir isto é através de Abaixo Assinado eletrônico com 50.000 assinaturas on line.
Com esta carta busca-se o direito de receber cuidados especiais de um Cuidador capacitado em diabetes tipo 1 que ajudará o paciente a receberem os cuidados especiais; que ajudará a criança a gerenciar em nível domiciliar o tratamento medicamentoso do paciente, assim como do plano alimentar de prescrito pelo médico ou de nutricionista; controlará as crises agudas e complicações, manterá registros glicêmicos, estímulo e/ou acompanhamento do paciente nas atividades físicas, visando sempre concentrar esforços no tratamento preventivo.
A ONG lança agora a campanha para as assinaturas sejam colhidas e que podem ser firmadas por pessoas físicas, jurídicas, associações de portadores de diabetes, e demais entidades de defesa dos direitos da criança.
A forma de aderir à campanha e deixar sua assinatura é acessando o site:: http://www.peticoesonline.com/peticao/carta-de-principios-dos-direitos-da-crianca-e-do-adolescente-com-diabetes-tipo-1/456.
Colhidas as assinaturas necessárias, o próximo passo será a entrega da Carta com as devidas assinaturas eletrônicas à Ministra dos Direitos Humanos Maria do Rosário Nunes, ao Ministro da Saúde Alexandre Padilha, Coordenador Nacional de Saúde da Criança e do Adolescente do Ministério da Saúde e ao CONANDA (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente), a fim de que sejam implementadas as ações necessárias que assegurem a efetivação dos direitos dessa população.
Marcos Inhauser

quinta-feira, 12 de abril de 2012

MEU TEMPLO É A COZINHA


Meu altar é o fogão.
Minha ceia é o arroz e feijão, salada e mistura.
A mesa é a celebração da comunhão.
Os vapores das panelas são o incenso das minhas orações.
O cheiro é a antecipação do paraíso.
A reunião é a adoração.
O barulho dos comensais é o canto de louvor.
Não falo em metáforas, mas na concretude dos fatos de entender que cada refeição é uma Eucaristia. Cada vez que entro na cozinha eu o faço com reverência. Gosto de cozinhar e entendo que fazê-lo é um ato de amor ao próximo. Cozinho não para mim, mas para os meus familiares, os meus amigos. Esmero-me.
Cortar uma cebola ou um tomate é um ato de celebrar ao Criador ao ver as texturas, a disposição das sementes, o cheiro, o gosto. Colher a salsa e a cebolinha é um ato de usufruir do criado e o prazer do sabor na comida. Mesmo folhas minúsculas, moídas, picadas, esmagadas, trazem tempero e a delícia da criação ao prato preparado. Temperar uma carne, um peixe, um frango é um ato de adoração ao Criador que nos deu a comida e a sabedoria em prepará-las.  Que mundo mais sem graça seria se tudo viesse pronto, como fast food divino. Ele deixou a nós a liberdade para temperar, acrescentar sabores, mudar formas, variar arranjos.
A cozinha requer uma estola sacerdotal. O avental é a estola do sacerdote cozinheiro. E cozinheiro que se preze tem seus instrumentos próprios: tem suas facas, sua chaira, sua pedra de afiar, a colher de mexer. Não é qualquer faca, nem qualquer colher. Há hora certa de entrar em cena. Dependendo do que se vai cortar ou mexer, lá vai o instrumento certo. Há uma liturgia no ato de cozinhar.
Cada vez que preparo uma comida posso dizer com toda propriedade e sem nenhuma blasfêmia que “isto é meu corpo dado por vós”, “isto é meu sangue dado por vós”. Quem nunca saiu de uma cozinha exausto e moído de canseira? Quem nunca cortou o dedo preparando a comida? Mais que isto, posso dizer que é meu corpo e meu sangue porque o alimento ali apresentado teve horas de trabalho, de vida consumida para trazê-lo e coloca-lo à mesa. E cada vez que apresento o alimento na mesa da comunhão, propicio o milagre da ressurreição: corpos famintos, esmaecidos pela canseira, tem seu vigor renovado, sua vida ressuscitada.
Sentar-se à mesa tem um quê de sacramental. As inimizades não resistem a uma comida fraternal, a unidade é fortalecida pelo fato de compartilhar da comida. A solidariedade é enriquecida por ter que desfrutar da comida pensando que o outro também deve comer. Há o milagre da multiplicação: quantas vezes você serviu uma janta ou almoço e achou que a comida era pouca? E quantas vezes, apesar disto, sobrou um pouco no fundo da panela?
Cada vez que juntos comemos, esperamos a oportunidade de um novo comer, uma nova reunião, uma nova Eucaristia. Cada almoço e jantar deve ser uma Eucaristia celebrada na intimidade do lar, no convívio dos queridos e no convite dos que queremos nos reconciliar.

Marcos Inhauser

terça-feira, 3 de abril de 2012

A REFEIÇÃO RELIGIOSA


Não é nenhuma coincidência que a celebração cúltica máxima nos tempos do Antigo Testamente seja uma refeição e, de igual forma, no Novo Testamento. Todo o calendário litúrgico da religião judaica estava e ainda está voltada para a celebração anual da Páscoa. A esta celebração Jesus subiu a Jerusalém, assim como muitos faziam em Israel para, no templo, participar da festa que conferia identidade e integridade nacionais.
Todo judeu devia, ao menos uma vez em sua vida, participar desta festa na cidade santa.
A centralidade e importância desta refeição comunitária se devem ao fato de ter sido ela instituída quando o povo ainda estava no Egito, em escravidão por mais de quatro séculos, e que, depois de nove pragas, são orientados a matar um cordeiro, vestir-se para viagem, sandália aos pés, porque iniciariam a peregrinação para a liberdade, conhecida como Êxodo. O sentido de comunhão estava evidente no fato de que todos da família, inclusive as crianças, deviam participar. Se o cordeiro fosse muito para uma família, vizinhos deviam ser convidados para que juntos dele comessem e assim desfrutassem da experiência do convívio celebrativo da libertação.
A celebração tinha ainda o caráter rememorativo e educativo, pois, quando os filhos perguntassem por que celebravam a Páscoa, os pais deviam contar a história da escravidão no Egito e como o povo foi libertado. Além de educar, também tinha o objetivo de evitar que os judeus fizessem com outros povos o que o Egito havia feito com eles.
Já no Novo Testamento a centralidade da Eucaristia não é menor, nem diferente o seu objetivo. Cabe ressaltar que Jesus não deixou para Sua igreja a Bíblia, nem o templo, nem um manual de doutrina, nem rituais definidos e demarcados. A única coisa que Ele deixou foi a Eucaristia ou Santa Ceia. Ressalte-se ainda que, no Seu ministério e muito mais depois da Sua ressurreição, ele ceou com seus amigos, inimigos e apóstolos.
Ele instituiu a Ceia como forma de comunhão e celebração rememorativa, tal como se devia fazer na Páscoa. “Fazei isto em memória de mim” e “porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes deste cálice, anunciais a Sua morte até que ele venha”. Memória do Seu sacrifício e morte libertadora, assim como na Páscoa a morte do cordeiro era libertadora.
Há entre católicos e protestantes divergências quanto ao significado da Eucaristia. Mesmo entre os protestantes não há consenso, havendo os que a consideram sacramento e os que a veem como memorial.
Pessoalmente, seguindo a tradição anabatista, creio que a Eucaristia é compreendida pela lavagem dos pés, pela refeição comunal e pela celebração recordatória do comer do pão e beber do cálice e que, a participação nesta celebração é meio de graça (aqui deixo de ser anabatista e sou calvinista). A Páscoa não é um fim de semana prolongado para que se possa ir à praia ou viajar. É a celebração da intervenção divina na história, sempre para nosso benefício e salvação.

Marcos Inhauser