Não é
nenhuma coincidência que a celebração cúltica máxima nos tempos do Antigo
Testamente seja uma refeição e, de igual forma, no Novo Testamento. Todo o
calendário litúrgico da religião judaica estava e ainda está voltada para a
celebração anual da Páscoa. A esta celebração Jesus subiu a Jerusalém, assim
como muitos faziam em Israel para, no templo, participar da festa que conferia
identidade e integridade nacionais.
Todo judeu
devia, ao menos uma vez em sua vida, participar desta festa na cidade santa.
A
centralidade e importância desta refeição comunitária se devem ao fato de ter
sido ela instituída quando o povo ainda estava no Egito, em escravidão por mais
de quatro séculos, e que, depois de nove pragas, são orientados a matar um
cordeiro, vestir-se para viagem, sandália aos pés, porque iniciariam a
peregrinação para a liberdade, conhecida como Êxodo. O sentido de comunhão
estava evidente no fato de que todos da família, inclusive as crianças, deviam
participar. Se o cordeiro fosse muito para uma família, vizinhos deviam ser
convidados para que juntos dele comessem e assim desfrutassem da experiência do
convívio celebrativo da libertação.
A
celebração tinha ainda o caráter rememorativo e educativo, pois, quando os
filhos perguntassem por que celebravam a Páscoa, os pais deviam contar a
história da escravidão no Egito e como o povo foi libertado. Além de educar, também
tinha o objetivo de evitar que os judeus fizessem com outros povos o que o
Egito havia feito com eles.
Já no Novo
Testamento a centralidade da Eucaristia não é menor, nem diferente o seu
objetivo. Cabe ressaltar que Jesus não deixou para Sua igreja a Bíblia, nem o
templo, nem um manual de doutrina, nem rituais definidos e demarcados. A única
coisa que Ele deixou foi a Eucaristia ou Santa Ceia. Ressalte-se ainda que, no
Seu ministério e muito mais depois da Sua ressurreição, ele ceou com seus
amigos, inimigos e apóstolos.
Ele
instituiu a Ceia como forma de comunhão e celebração rememorativa, tal como se
devia fazer na Páscoa. “Fazei isto em memória de mim” e “porque todas as vezes
que comerdes este pão e beberdes deste cálice, anunciais a Sua morte até que
ele venha”. Memória do Seu sacrifício e morte libertadora, assim como na Páscoa
a morte do cordeiro era libertadora.
Há entre
católicos e protestantes divergências quanto ao significado da Eucaristia.
Mesmo entre os protestantes não há consenso, havendo os que a consideram
sacramento e os que a veem como memorial.
Pessoalmente,
seguindo a tradição anabatista, creio que a Eucaristia é compreendida pela
lavagem dos pés, pela refeição comunal e pela celebração recordatória do comer
do pão e beber do cálice e que, a participação nesta celebração é meio de graça
(aqui deixo de ser anabatista e sou calvinista). A Páscoa não é um fim de
semana prolongado para que se possa ir à praia ou viajar. É a celebração da
intervenção divina na história, sempre para nosso benefício e salvação.
Marcos
Inhauser
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