Que me perdoem os poucos leitores que tenho, mas fui
treinado por meu pai, por minha professora de filosofia e pelas leituras de
Nassim Taleb e Michel Foucault a duvidar de todas as informações que me chegam,
especialmente as relacionadas aos políticos.
Foucault, nas suas últimas aulas, tratava da parresía
(falar a verdade) na democracia, algo incomum. Citando Platão e Isócrates diz
que, em geral, as pessoas querem ouvir os que “falam no sentido dos seus
desejos” e que “a democracia não é o lugar privilegiado da parresía ...
e [onde] o exercício da parresía é mais difícil” (A Coragem da Verdade,
Pg. 51). Com o Nassim Taleb refinei algo que já tinha: tudo o que tem aprovação
da maioria, é senso comum, best seller, tem grande chance de ser engodo.
Vivemos uma democracia que elegeu um presidente que, à
medida que as investigações avançam e o Facebook revela, se sabe que usou de
desinformação, fake News e robôs para gerar clima antagônico ao oponente e
favorável à sua candidatura. Ao fazer isto e polarizar a eleição entre petismo
e conservadorismo, o fez por meios maquiavélicos e nada republicanos. Sabe-se
que o uso de desinformação, postagens com mensagem não comprovadas, dados
incorretos, são a tônica deste que não é um parresiasta. Até um site
dedicado a contar as informações equivocadas foi montado (aosfatos.org).
Quero trazer uma inquietação e não uma afirmação. Ele fez
alguns testes para saber se teve a Covid-19. Disse que os exames deram
negativo. O jornal Estadão conseguiu na Justiça, depois de várias chicanas da
parte do requerido, que os exames fossem apresentados e o foram com pseudônimos
e justificou-se que assim era por razões de segurança. Neste tempo ele alardeou
que era uma gripezinha, receitou a milagrosa hidroxicloroquina, mesmo não sendo
médico e contra o posicionamento da comunidade científica, afirmou mais de uma
vez que havia certa histeria na veiculação jornalística, tentou maquiar os
números de infectados e mortos, brigou com a OMS.
Mais recentemente ele fez um novo teste. Para surpresa geral,
ele vem a público e diz que está com Covid-19, apresenta o teste positivo e
agora com seu nome. Mais: faz uma entrevista coletiva, retira a máscara para
anunciar o fato e que estava muito bem. No outro dia aparece mais de uma vez
tomando a milagrosa pílula de hidroxicloroquina e afirmando que estava dando
resultados e que estava se sentindo bem.
Estranhei. Todas as pessoas que estiveram com ele nos dias
anteriores, quando testados, deram negativo. O Embaixador dos EUA e esposa, as
pessoas que com ele viajaram a Florianópolis, os ministros, filho e assessores.
Até a esposa testou negativo. Ele é um fenômeno! Não infectou ninguém, apesar
do seu descuido com os protocolos que seu governo estabeleceu para todos (menos
ele!).
Minha pergunta: será que esta revelação não é fake? Será que
ele não veio dizer que estava com a Covid-19 para mostrar que, tal como disse,
é uma gripezinha? Será que o remédio maravilhoso não está enchendo os bolsos de
quem o fabrica? Como pôde não ter infectado a esposa e o filho? Como este
evento da “gripezinha” ajuda a alavancar a candidatura em 2022? Há alguma
relação entre a prisão do Queiroz, o emudecimento estranho e a gripezinha? Há
alguma relação entre o cancelamento de contas da família no Facebook e esta
Covid-19, como forma de criar um boi de piranha?
O tempo dirá. Alguém vai acabar dando com a língua nos
dentes e ficaremos sabendo a verdade.
Marcos Inhauser