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quarta-feira, 10 de junho de 2020

1984: JÁ FOI, É OU SERÁ?


Li o romance “1984” em 1976. Ele é a visão-pesadelo de George Orwell sobre o totalitarismo. Publicado após a Segunda Guerra Mundial, permanece atual. Nele Orwell trata do abuso do poder, a negação do eu e a erradicação do passado e do futuro. Lembro-me de alguns pensamentos e sentimentos que me afloraram com a leitura.
Um deles, a sensação de que 1984, que àquela altura estava tão próximo, não me parecia que se concretizaria na data prevista pelo autor, mas que poderia ocorrer em futuro mais longínquo. O outro foi a repulsa sentida com os “reescritores da história”, encarregados que eram de reescrever os dados e discursos do regime totalitário, para que ninguém pudesse acusá-lo de ter mudado de opinião. Estes reescritores também se encarregavam de maquiar os números de safras e produtividade, para mostrar um regime mais bonito do que na realidade era.
Na sequência li “Revolução dos Bichos”, e impressionou-me a facilidade com que se mudavam as leis revolucionárias para criar uma casta e justificar os desmandos do Porco Ditador. Incentivado pelas leituras anteriores li “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, onde o autor apresenta uma sociedade organizada cientificamente. As pessoas são programadas em laboratório e domesticadas segundo os interesses da sociedade. Elas não têm consciência crítica e aceitam as notícias tal como lhes são passadas. A cultura (literatura, a música e o cinema) só solidifica o conformismo. Há avanço da técnica, a linha de montagem, a produção em série, a uniformidade, a obediência cega.

Estes três livros me vêm à mente nestes dias, com as investigações sobre as fake news, a polarização política, os desmandos governamentais, a manipulação de dados, a negação da ditadura, a exaltação de torturadores, o armamentismo da população, a imprecisão das informações presidenciais, as mentiras ditas com a firmeza de quem acredita nelas como sendo expressão da verdade. O site www.aosfatos.org fez recenseamento das frases ditas e concluiu que, em “Em 524 dias como presidente, Bolsonaro deu 1151 declarações falsas ou distorcidas”.

Não bastasse isto, a recente interferência no Ministério da Saúde transformando-o em quartel pela quantidade de militares ali alocados, sem expertise na área da saúde, causa espanto. Mais espantoso ainda é que, em plena pandemia, não se tenha um ministro médico, nem se lidere as ações de combate, jogando no colo dos governadores e prefeitos. Como desgraça pouca é bobagem, a manipulação dos dados estatísticos, a mudança nos critérios e a omissão de informação relevante para o combate ao Covid-19, vem me dar a certeza de “1984” e “Admirável Mundo Novo” não são utopias impossíveis. O número de mortos diários precisa ser reduzido pela engenharia estatística e pela reconceituação dos óbitos. Chame-se os reescritores da história!

A imprensa está noticiando o que não agrada? Fabrique-se notícias e espalhe-se pelas redes sociais! O povo vai engolir porque não tem massa crítica! Os ministros do STF estão interferindo nas decisões do mandatário? Coloque os produtores em série de manifestações e peça o fechamento do STF e Congresso! Precisa dizer algo? Crie um “curral de vaquinhas de presépio” e todos os dias faça as lives sem a mediação da grande mídia!

Marcos Inhauser


terça-feira, 23 de junho de 2009

QUASE CHOREI

Nunca gostei do bigode do Maranhão. Desde os tempos de ditadura, ele na Arena, era um ser que me causava espécie. Junto com o falecido ACM, eu os classificava como coronéis, cabresteando votos por meios que não sabia explicitar, mas que, lá nas minhas entranhas eram convicções. Quando, por destino (castigo diria eu) ele foi guindado à Presidência e veio com o Plano Cruzado, botei minhas barbas de molho, esperando para ver como ficavam as coisas, mais por causa do Funaro que por alguma seriedade que ele me inspirasse.
Não preciso dizer que ele fraquejou na hora de ter pulso para tomar decisões que evitassem a tragédia que foram os últimos dias do seu governo, com inflação estratosférica. E não as tomou porque não sabe tomar e porque preferiu privilegiar a eleição dos candidatos do PMDB e não a nação.
Mais tarde, quando na presidência do Senado, minhas vísceras reclamavam feio cada vez que ele aparecia na TV. Fiquei insone quando a filha teve condições de sair candidata e se eleger. O episódio da Lunus e da dinheirama lá encontrada sempre ficou nebulosa para mim. O dono do Maranhão apressou-se em afirmar que foi armação, mas nunca explicou convincentemente a origem da grana.
Quando estive em São Luís constatei a profusão de ruas, prédios públicos, viadutos e quejandas com homenagens à família. Acreditei piamente nos que diziam ser o Maranhão a Sarneylândia. Nunca entendi como ele, notória e declaradamente originário e domiciliado no Maranhão, podia ser Senador pelo Amapá. Cada vez que pensava nisto, vinha-me à mente Orwell na “Revolução dos Bichos”: “todos somos iguais, mas alguns são mais iguais”. Perante a lei, somos todos iguais, os que não somos Senadores e donos do Maranhão e representantes do Amapá.
Agora, quando ele está às voltas com escândalos envolvendo familiares que estão mamando nas tetas do Senado, tive estômago para, desde a primeira à última palavra, prestar atenção devota ao seu discurso da semana passada e às afirmações feitas a posteriori. Confesso, quase fui às lágrimas. Este respeitável senhor está sendo injustiçado. Como é que o neto, a neta, a sobrinha e os outros parentes, que trabalhavam no mesmo local, nunca foram visitá-lo e informar que tinham sido premiados com a sorte grande de uma boquinha no Senado? Que família disfuncional esta! Como que o seu gerente geral, que ele nomeou, teve a infeliz imperícia de fazer todas as nomeações de parentes, sem publicar para que ele ficasse sabendo? E como poderia saber destas coisas feitas à sorrelfa se nem publicado foi? Como saber que lhe pagavam aluguel de uma moradia se ele não tinha que pagá-lo, pois mora em residência oficial? Como acusá-lo de ceder o apartamento funcional a um ex-senador enfermo e carente? Nem se pode mais fazer caridade?
Por favor, este senhor tem uma folha corrida bastante ampla de serviços. Há que respeitá-lo. Ele sabe lidar com a coisa pública. Só a imprensa elitista e golpista que não o entende nem o compreende!

Marcos Inhauser