História ou "lenda", conta-se que Constantino viu um
sinal no céu: uma cruz com as insígnias "com este sinal você
vencerá". Constantino estava fraquejando nas suas crenças no Panteão
Romano e inclinado a acreditar em um só Deus. Por causa da visão a cruz foi
colocada nos escudos. Constantino venceu a batalha, como prometia a visão, e
ele passou a se achar o escolhido por Deus.
Constantino tornou-se um enigma para os cristãos e
historiadores. Foi conversão ou movimento político para colocar os cristãos sob
sua influência? Muitos acreditam na inteligência de Constantino e os primeiros
anabatistas acreditavam que a conversão era fake. Com ele a igreja se afastou
de sua origem simples. A mãe de Constantino, Helena, "se converteu"
pouco depois que o marido a deixou.
Aliado às vitórias que obteve após a visão e o sinal da cruz
colocado nos escudos, algo aconteceu a Constantino. A melhor das hipóteses é
que ele se converteu, e a pior é que ele tomou uma decisão política.
Ele viveu cercado por filósofos, sábios e pagãos. Em raras
ocasiões, ele se conformava às exigências da adoração cristã. Suas cartas aos
bispos mostram quão pouco as diferenças teológicas o interessavam. Os bispos
foram tratados por ele como assistentes políticos. Os concílios eclesiásticos
foram convocados e presididos pelo imperador. Para ele, o cristianismo
significava um meio, não um fim.
Ele usou a linguagem monoteísta que qualquer pessoa aceita.
Durante a primeira parte de sua conversão, ele participou do cerimonial exigido
como Pontifex Maximus; mas os templos pagãos foram restaurados, ele usou
os ritos cristãos, assim como os ritos pagãos, usou fórmulas mágicas para
proteger as plantações e curar doenças.
Ocorreram mudanças: os símbolos pagãos desapareciam; os bispos
tinham maior poder em suas comunidades e localidades; as igrejas eram isentas
de impostos; houve legalização e direito de posse; a propriedade dos mártires
poderia pertencer à igreja sem fazer inventário; templos foram construídos com
dinheiro público; a nova capital Constantinopla foi construída por Constantino
para ser a nova sede do império e da Igreja; a proibição do culto às imagens; as
seitas cristãs começaram a sofrer perseguição.
Muitos ficaram felizes com as mudanças, vendo a mão de Deus.
Outros tinham preocupações pessoais específicas ligadas a heresias que
grassavam pelas igrejas. Elas não eram vistas pelo imperador como assuntos
religiosos, mas como ameaça ao império.
Percebe-se que usar a religião para realização de projetos
pessoais de poder é coisa antiga. Outro já usaram, tanto na Antiguidade como na
Modernidade. À medida que a população cristã cresce em um país, candidatos “evangélicos”
aparecem. Que o diga a Guatemala.
A ingenuidade de grande parcela do segmento religioso acredita
que, porque o candidato usa um versículo da Bíblia como lema de campanha, ou
participa de alguns cultos, se deixa batizar ou se casou com uma membro de
igreja batista, ele tem a chancela do divino sobre sua proposta. Outros,
pretensos líderes evangélicos que detém algumas horas de programação televisiva
pagas com o suor alheio, precisando que suas dívidas fiscais milionárias sejam
perdoadas por uma canetada do presidente-evangélico, ficam babando ovos à sua
volta.
O evangelho já alerta quem usa de trechos do evangelho para se
eleger: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas
aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.” Promover o
armamentismo, mentir repetidas vezes, ofender, desprezar os 58.000 mortos não é
ser cristão, ainda que diga Senhor, Senhor!
Marcos Inhauser