Há os que, no fundo, criticam o fato de Ele ter escolhido
doze, de cepas tão diferentes, comportamentos variados e visões de mundo
incongruentes. Por que Ele escolheu do revolucionário (Judas, o Iscariote) ao
meloso João, passando pelo odiado publicano, coletor de impostos?
Para a empreitada que tinha em mente não teria sido mais
lógico e prudente escolher uma elite de estudiosos, oradores, teólogos e
renomados religiosos? Não teria sido melhor começar seu ministério a partir da
capital nacional e religiosa, Jerusalém? Não teria sido estratégico fazer
aliança com os sacerdotes?
A opção periférica do ministério de Jesus é acessória ou é
essencial? Ainda que os evangelhos mostrem enfoques diferentes sobre a obra e
ministério de Jesus, todos concordam com sua origem a partir de uma família
simples, morando em lugares sem expressão, iniciando o seu ministério com
alguns também sem expressão social, fazendo curas e milagres em lugares
pequenos e sem capacidade de grande repercussão.
Estas considerações me vêm à mente por causa de uma plêiade
de coisas. Vejo uma fascinação de certos líderes religioso pelo grandioso, pelo
poder, pela exposição midiática, pelas construções faraônicas. A vitalidade de
uma igreja se mede pela quantidade de horas de televisão que tem, pelos metros
quadrados de construção, pela quantidade de gente reunida, pela arrecadação.
Parece que o exemplo que Jesus deixou da bacia e da toalha,
lavando os pés aos discípulos, não tem lugar neste universo de pompa e
circunstâncias. O amor ao próximo na sua necessidade deu lugar ao amor à
estrela do momento. Gastam-se fortunas para ir ver o “cantor gospel do momento”,
para produzir Marchas para Jesus. A vida cristã é feita de empolgação e nada de
instrução. Vale o que se sente e não o que se pensa e crê.
Há quem creia que a igreja está bombando porque tem uma
esposa do presidente que é membro de uma igreja batista, porque um dos
deputados mais próximos é o Marcos Feliciano, o Silas Malafaia é amigo, que o
presidente mencionou que deve haver um evangélico no STF, que a bancada
evangélica é composta por mais de 90 deputados e senadores, que há chances de
que o novo presidente seja evangélico, etc.
O cerne do evangelho que é amar a Deus e ao próximo como a
si mesmo. Isto está, há muito, na berlinda da prática cristã. Busca-se a homogeneização
das práticas “litúrgicas” (ainda que eu tenha meus pruridos em dizer que o que
se faz é algo parecido à liturgia), uma busca acelerada por algo que seja
“diferente” na concepção da “doutrina”. A máxima é a do surfista: o que importa
é estar na crista da onda.
O recente episódio em que um pastor esfaqueou o outro por
desavenças quanto a posições bíblicas divergentes, no que pese ser um ato
isolado, é sintomático da dificuldade em conviver com o diferente. Se pudessem
interfeririam na escolha feita por Jesus de apóstolos tão diferentes. O certo
seria ter um grupo coeso, unido, marchando ao passo marcado pelos princípios
bíblicos.
A ortodoxia deve ser buscada, entendida como todos afirmando
as mesmas coisas e se reunindo nos mesmos horários e nos mesmos locais. Para o
diferente, o inferno!
Marcos Inhauser