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quarta-feira, 23 de setembro de 2015

TOLERÂNCIA NÃO É CONCORDÂNCIA

Ser intolerante é discordar e desaprovar. Não há como ser intolerante sem se posicionar contra o pensamento alheio, contra a diferença. A recíproca (tolerância = concordância) não é verdadeira.
Se sou intolerante eu tenho opinião formada sobre algo e não aceito que alguém possa ter opinião diferente. Isto se aplica à superioridade racial, religiosa, comportamental, sexual, etc. Por ser intolerante, quero que todos pensem igual a mim e só me alio aos iguais.
Por outro lado, se aceito que pode haver quem pense, aja, decida, seja diferente de mim, isto não implica, necessariamente, que concordo com a posição que o outro tem. Posso discordar respeitosamente, sem impor meu ponto de vista ao outro.
Olhando no retrovisor da minha vida, dou graças a Deus porque Ele me deu a chance de conviver com a diferença. Durante nove anos tivemos a Vera morando e trabalhando conosco. Ela era surda e muda. Tivemos o seu Pedro morando mais de um ano em nossa casa e ele era portador de hanseníase. Tivemos uma mulher indígena que trabalhou em nossa casa no Equador e ela tinha seus costumes bem diferentes dos nossos. Temos a Daisy morando conosco há quinze anos e ela é esquizofrênica.
Eu entendia e entendo a deficiência deles e nunca precisei ser tolerante com eles. Aprendi a lidar com as deficiências de cada um, da mesma forma como aprendi a lidar com as características de meus três filhos e da minha esposa e, com eles, também tive que “ser tolerante”.
Quando me relaciono com negros não preciso ser tolerante. Entendo, aceito e vivo a igualdade. A cor da pele não me obriga a ser tolerante. Eu aceito.
Há outras coisas que respeito, cultivo a tolerância, mas que não concordo. Entendo as diferenças religiosas, mas isto não significa que concordo com as doutrinas espíritas, budistas, islamitas ou judaicas. Respeito o direito de crerem diferentemente de mim, posso conversar, trabalhar junto, mas isto não quer dizer que concordo com o que creem ou pregam. Em muitos casos sou co-beligerante, mas não aliado.
Entendo a opção/orientação sexual, respeito, mas isto não quer dizer que concordo com o homossexualismo. Posso ter amigos e até pessoas que frequentam minha casa ou a igreja que se assumem homossexuais. Não tenho o direito de expulsá-los, de ofendê-los, de menosprezá-los, mas não posso por isto ser acusado de ser pró homossexual. Na minha vida já tive muitos homossexuais que vieram à igreja. Meu estudo de caso para o Doutorado foi com uma comunidade gay a qual pesquisei por quatro anos e fui expulso por eles quando eu disse que estava ali para estudar um caso e não para concordar.
Por outro lado, não concordar com algo não significa ser intolerante. Torna-se intolerância quando ofendo, agrido, busco constranger a ser igual a mim, imponho meus posicionamentos, uso de algum desequilíbrio de poder para forçar o outro a pensar como eu.
O fato de criticar coisas, governo, partido, igrejas, gurus evangélicos, estrelas do mundo gospel, políticos não é intolerância. É discordância. É usar da minha liberdade de pensamento e expressão. Ao expressá-la posso conseguir quem concorde comigo e quem discorde educadamente e isto é tolerância.

A agressão, a ofensa, a mentira são formas de intolerância!
Marcos Inhauser

terça-feira, 26 de março de 2013

OS MEUS DOIS NEURÔNIOS ESTÃO FERVENDO


Um dos dois neurônios que tenho está fervendo. O outro está em estado de convalescência. Eles nunca funcionaram bem, mas, desde a semana passada, entraram em curto-circuito. Por todos os meios e exercícios tentei reanimá-los, mas estão em pane.
A coisa começou na semana passada quando li que o Conselho Federal de Medicina decidiu propor que o aborto seja legal até o terceiro mês de gestação. Segundo o presidente do CFM, Roberto Luiz d'Avilla, “é inaceitável que mulheres morram em abortos realizados sob condições inseguras”. Ele também criticou “a desigualdade de meios à disposição de mulheres ricas e pobres que desejam interromper a gravidez. A realidade dos fatos mostra as mulheres fazendo aborto com uma grande iniquidade. As ricas em condições seguras e as pobres, totalmente inseguras. E elas [as pobres] é que estão enriquecendo as estatísticas de mortalidade e de morbidade. Ou seja, as complicações, perdendo útero, perdendo partes do intestino, morrendo. Isso que não é possível. Essa desigualdade é inaceitável do ponto de vista médico".
O que me deixa intrigado é a lógica utilizada. Na argumentação se diz que os abortos ilegais produzem muitas mortes (terceira causa de morte em gestantes) e internações na rede pública, em função dos procedimentos inadequados. O que sobra para o Estado são as “pobres”, porque as ricas têm como arcar com os custos. Qual a garantia que a legalização dará às pobres condições seguras de praticar o aborto? Ou a consequência disto é prover clínicas de aborto do SUS?
Por outro lado, a salvaguarda da vida da mãe é determinada pela morte certa de um inocente. O possível risco de vida da mãe determina a morte certa do feto. Mais: em um momento em que se têm inúmeros métodos de controle da natalidade (até camisinha grátis o governo tem dado), engravidar pode ser visto como irresponsabilidade ou descuido. Esta atitude vitima quem não teve nada a ver com a história: o feto, a criança. A sentença da morte certa, feita de forma correta e legalizada!
A segunda pancada no meu teco veio da proposta encaminhada pelos redatores do novo Código Penal Brasileiro. Outra vez a lógica me deu nó neural: criminaliza-se o racismo, a homofobia, mas se legaliza a morte via aborto. É crime afirmar ser contra a homossexualidade, mas será avalizada, talvez até com dinheiro público via SUS, quem quiser interromper uma vida embrionária.
Ainda que seja pastor, não me valho de argumentos teológicos ou religiosos para expor minha indignação. Poderia fazê-lo e o farei em outra oportunidade. Quero, sim, explicitar a lógica de dois pesos e duas medidas. É crime racismo, mas é legal o aborto. É crime a homofobia, mas é legal a interrupção da gravidez. Denegrir alguém é mais crime que matar alguém!
Só espero que não venham com mais coisas e acabem inviabilizando o neurônio que sobrou. É verdade que ele levou um belo tranco com as eleições dos presidentes do Senado e Câmara. Mas os meus neurônios estão com a saúde frágil. E o SUS não tem tratamento para eles.
Marcos Inhauser