Um dos dois
neurônios que tenho está fervendo. O outro está em estado de convalescência. Eles
nunca funcionaram bem, mas, desde a semana passada, entraram em curto-circuito.
Por todos os meios e exercícios tentei reanimá-los, mas estão em pane.
A coisa começou na semana passada quando
li que o Conselho Federal de Medicina decidiu propor que o aborto seja legal
até o terceiro mês de gestação. Segundo o presidente do CFM, Roberto Luiz d'Avilla, “é
inaceitável que mulheres morram em abortos realizados sob condições inseguras”.
Ele também criticou “a desigualdade de meios à disposição de mulheres ricas e
pobres que desejam interromper a gravidez. A realidade dos fatos mostra as
mulheres fazendo aborto com uma grande iniquidade. As ricas em condições
seguras e as pobres, totalmente inseguras. E elas [as pobres] é que estão
enriquecendo as estatísticas de mortalidade e de morbidade. Ou seja, as
complicações, perdendo útero, perdendo partes do intestino, morrendo. Isso que
não é possível. Essa desigualdade é inaceitável do ponto de vista médico".
O que me deixa
intrigado é a lógica utilizada. Na argumentação se diz que os abortos ilegais
produzem muitas mortes (terceira causa de morte em gestantes) e internações na
rede pública, em função dos procedimentos inadequados. O que sobra para o
Estado são as “pobres”, porque as ricas têm como arcar com os custos. Qual a
garantia que a legalização dará às pobres condições seguras de praticar o
aborto? Ou a consequência disto é prover clínicas de aborto do SUS?
Por outro
lado, a salvaguarda da vida da mãe é determinada pela morte certa de um
inocente. O possível risco de vida da mãe determina a morte certa do feto. Mais:
em um momento em que se têm inúmeros métodos de controle da natalidade (até
camisinha grátis o governo tem dado), engravidar pode ser visto como
irresponsabilidade ou descuido. Esta atitude vitima quem não teve nada a ver
com a história: o feto, a criança. A sentença da morte certa, feita de forma
correta e legalizada!
A segunda
pancada no meu teco veio da proposta encaminhada pelos redatores do novo Código
Penal Brasileiro. Outra vez a lógica me deu nó neural: criminaliza-se o
racismo, a homofobia, mas se legaliza a morte via aborto. É crime afirmar ser
contra a homossexualidade, mas será avalizada, talvez até com dinheiro público
via SUS, quem quiser interromper uma vida embrionária.
Ainda que seja
pastor, não me valho de argumentos teológicos ou religiosos para expor minha
indignação. Poderia fazê-lo e o farei em outra oportunidade. Quero, sim,
explicitar a lógica de dois pesos e duas medidas. É crime racismo, mas é legal
o aborto. É crime a homofobia, mas é legal a interrupção da gravidez. Denegrir alguém
é mais crime que matar alguém!
Só espero que
não venham com mais coisas e acabem inviabilizando o neurônio que sobrou. É
verdade que ele levou um belo tranco com as eleições dos presidentes do Senado
e Câmara. Mas os meus neurônios estão com a saúde frágil. E o SUS não tem
tratamento para eles.
Marcos Inhauser
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