Estávamos
em uma fase difícil na igreja. Problemas com o antigo pastor, um grupo de
membros havia deixado a comunidade, éramos poucos questionando por que Deus
estava permitindo tudo aquilo. Um domingo, quando éramos meia dúzia reunidos,
com um sentimento de desânimo que pairava no ar, uma membro disse
enfaticamente: “eu não sinto mais Deus no nosso meio. Tivemos tantos problemas
e estou tão desmotivada que não sei o que fazer. Quando vinha para cá hoje tive
esta certeza – Deus não está no nosso meio”.
Ficamos
em estado de choque. Todos nos perguntávamos o que estava acontecendo e no
nosso íntimo questionávamos se Deus era conosco. Ela teve a coragem de
explicitar a pergunta que todos fazíamos no íntimo.
O pastor
iniciou o culto. No meio dele escutamos um barulho dentro do salão onde nos
reuníamos e uma voz reclamando. Era um bêbado que havia entrado de bicicleta e
tudo e tinha caído. Fomos ajuda-lo a se levantar e ele perguntou se era uma
reunião de igreja. Dissemos que sim e ele pediu para participar.
Mal o
pastor retomou a palavra ele o interrompeu, querendo falar algo, sem nexo e com
a voz empastada pela bebida. Outra vez o pastor tentou falar e ele interrompeu.
O pastor perguntou se ele queria dizer algo à igreja e ele respondeu
afirmativamente. Olhando para todos nós, como que para saber o que pensávamos,
ele sentiu o apoio da comunidade e disse ao bêbado: “pode falar que vamos te
ouvir. Depois de você eu vou falar e você vai me ouvir quietinho. Certo?”
Aquele
homem se transfigurou. Não era mais o bêbado que havia entrado de bicicleta e caído.
Parecia sóbrio. Sua história foi mais ou menos a seguinte:
“Desde
pequeno minha mãe me ensinou as coisas sobre Deus. Um dia perguntei a ela onde
Deus morava e por que nunca o tinha visto. Ela me disse que ele morava no céu e
que não se podia ver a Deus por causa da sua glória. Na adolescência, intrigado
com o fato de Deus existir ou não, raciocinei que, se Deus mora no céu, eu
devia ir ao local mais alto que conhecesse e lá pediria que ele provasse para
mim que ele existia. Subi ao monte mais alto que tinha na minha cidade e no
alto dele clamei pedindo que Deus, se de fato existisse, se revelasse a mim.
Nada aconteceu. Fiquei ali parado esperando. Acabei dormindo. Em certo momento,
fui despertado por um vento que bateu e da árvore debaixo da qual eu estava
caíram flores perfumadas e me cobriram de perfume e senti naquele momento que
era Deus dizendo para mim: eu existo.
Nunca
mais senti aquele perfume, mas nunca o esqueci. Mais de trinta anos se passaram
e hoje, quando estava passando em frente deste templo, senti o mesmo perfume
que me cobriu lá no alto da montanha. E eu entrei. E entrei para dizer para
vocês que Deus está aqui no meio de vocês. Nunca duvidem disto”.
Aquilo
caiu como bomba em nosso meio. Ficamos quietos e chorávamos. Depois de um longo
tempo de silêncio, o pastor disse: “não há mais nada a dizer hoje. Já recebemos
a Palavra de Deus”.
Estávamos
mortos pelo desânimo. Sem pedir licença e da forma mais inesperada possível ele
vem à comunidade. Entra atropelando, atropela o andamento do culto e pede a
palavra. Em sã consciência ninguém daria a ele a oportunidade de falar. Fomos
movidos a fazer uma loucura.
Descobrimos
Deus se movendo entre nós, usando alguém que não tinha credenciais
eclesiásticas. Ele foi o instrumento de Deus para nos trazer nova vida, nova
esperança, novo começo. O bêbado foi usado por Deus para nos dar novo ânimo,
ele frutificou em nosso meio, nos levou de volta a Deus e até hoje a igreja é
edificada pela palavra que ele nos trouxe.
Marcos Inhauser
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