A primeira sinalização é de que não há nenhum resultado
fruto de uma única causa. Querer reduzira morte do jovem boliviano a um
sinalizador disparado por alguém é tão estúpido quanto o indivíduo que usou o
artefato.
A segunda é que há uma grave falha no sistema de vigilância
e policiamento na entrada e comércio de armas e outros artefatos. Um sujeito
qualquer (mesmo um adolescente, se se comprovar a história da autoacusação
feita) pode comprar por R$ 20,00 um sinalizador na 25 de março.
A terceira é que é fácil atravessar as fronteiras do Brasil
para o exterior e vice-versa, portando artefatos que podem ser usados para
matar, como foi o caso.
A quarta é que é possível entrar em estádios com artefatos
perigosos, dentro de uma mochila, seja ela de um brasileiro, seja de um
boliviano (porque fogos de artifício também foram usados pela torcida de
Oruro).
A quinta é que, mais uma vez, se sinaliza que as torcidas
organizadas estão mais para máfia que para torcida. Sabe-se há bom tempo que há
alto índice de sujeitos com passado nada recomendável, dirigindo estas
agremiações.
A sexta é que, ao interior das torcidas, a ascensão social e
de poder se dá pelo arrojo e destemor na prática de “atos de coragem”. Os novos
passam por processos e ritos de iniciação e ganham status à medida que se mostram
mais valentes. Isto ficou patente no discurso do adolescente que afirma ter
sido ele que atirou o sinalizador para que fosse notado pelos colegas.
A sétima é que, na tentativa de dar uma resposta à pressão
popular e internacional, a polícia, a esmo, selecionou um grupo e os prendeu,
sem ter conseguido, até o presente momento, comprovar a real participação deles
nos eventos trágicos. Um sinalizador não pode ser disparado por duas pessoas e
há dois acusados de fazê-lo.
Uma sucessão de violências.
A luta contra a violência precisa mudar e renovar o tecido
da vida política. Deve criar nova identidade política, controlada e assumida
pelo próprio povo, pela organização dos marginalizados e pelos organismos das
classes dominantes.
O aprendizado centrado na crueldade, na violência, na tortura,
leva o torturado, o que sofreu a crueldade e a violência a ter um aprendizado
que vai gerando na pessoa uma agressividade e violência que ele acaba aplicando
no outro, tendo ou não uma voz de comando que o leve a agir. A violência gera a
violência.
A fome é tão violência quanto a tortura, a falta de moradia
é tão violenta quanto a prisão arbitrária, o sinalizador lançado contra um
torcedor é tão violento quanto a prisão indiscriminada e aleatória de
torcedores.
A violência é uma força que fere a vida e destrói a
liberdade e a dignidades humanas. Ela restringe, controla e determina
comportamentos de pessoas, grupos sociais e instituições políticas e culturais.
Tanto quanto em qualquer outro período da história, a
violência nos machucou. Juntemos forças para mudar esta cultura.
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