Ser intolerante é discordar e desaprovar. Não há como ser
intolerante sem se posicionar contra o pensamento alheio, contra a diferença. A
recíproca (tolerância = concordância) não é verdadeira.
Se sou intolerante eu tenho opinião formada sobre algo e não
aceito que alguém possa ter opinião diferente. Isto se aplica à superioridade
racial, religiosa, comportamental, sexual, etc. Por ser intolerante, quero que
todos pensem igual a mim e só me alio aos iguais.
Por outro lado, se aceito que pode haver quem pense, aja,
decida, seja diferente de mim, isto não implica, necessariamente, que concordo
com a posição que o outro tem. Posso discordar respeitosamente, sem impor meu
ponto de vista ao outro.
Olhando no retrovisor da minha vida, dou graças a Deus
porque Ele me deu a chance de conviver com a diferença. Durante nove anos
tivemos a Vera morando e trabalhando conosco. Ela era surda e muda. Tivemos o
seu Pedro morando mais de um ano em nossa casa e ele era portador de
hanseníase. Tivemos uma mulher indígena que trabalhou em nossa casa no Equador
e ela tinha seus costumes bem diferentes dos nossos. Temos a Daisy morando
conosco há quinze anos e ela é esquizofrênica.
Eu entendia e entendo a deficiência deles e nunca precisei
ser tolerante com eles. Aprendi a lidar com as deficiências de cada um, da
mesma forma como aprendi a lidar com as características de meus três filhos e
da minha esposa e, com eles, também tive que “ser tolerante”.
Quando me relaciono com negros não preciso ser tolerante.
Entendo, aceito e vivo a igualdade. A cor da pele não me obriga a ser
tolerante. Eu aceito.
Há outras coisas que respeito, cultivo a tolerância, mas que
não concordo. Entendo as diferenças religiosas, mas isto não significa que
concordo com as doutrinas espíritas, budistas, islamitas ou judaicas. Respeito
o direito de crerem diferentemente de mim, posso conversar, trabalhar junto,
mas isto não quer dizer que concordo com o que creem ou pregam. Em muitos casos
sou co-beligerante, mas não aliado.
Entendo a opção/orientação sexual, respeito, mas isto não
quer dizer que concordo com o homossexualismo. Posso ter amigos e até pessoas
que frequentam minha casa ou a igreja que se assumem homossexuais. Não tenho o
direito de expulsá-los, de ofendê-los, de menosprezá-los, mas não posso por
isto ser acusado de ser pró homossexual. Na minha vida já tive muitos
homossexuais que vieram à igreja. Meu estudo de caso para o Doutorado foi com
uma comunidade gay a qual pesquisei por quatro anos e fui expulso por eles quando
eu disse que estava ali para estudar um caso e não para concordar.
Por outro lado, não concordar com algo não significa ser
intolerante. Torna-se intolerância quando ofendo, agrido, busco constranger a
ser igual a mim, imponho meus posicionamentos, uso de algum desequilíbrio de
poder para forçar o outro a pensar como eu.
O fato de criticar coisas, governo, partido, igrejas, gurus
evangélicos, estrelas do mundo gospel, políticos não é intolerância. É
discordância. É usar da minha liberdade de pensamento e expressão. Ao
expressá-la posso conseguir quem concorde comigo e quem discorde educadamente e
isto é tolerância.
A agressão, a ofensa, a mentira são formas de intolerância!
Marcos Inhauser