O profeta Zacarias disse certa feita que “Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de
Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador, humilde, montado em
jumento, num jumentinho, cria de jumenta. Destruirei os carros de Efraim e os
cavalos de Jerusalém, e o arco de guerra será destruído. Ele anunciará paz às
nações; o seu domínio se estenderá de mar a mar e desde o Eufrates até às
extremidades da terra.” (9:9,10)
A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém,
montado em um jumento, deve ser vista como a diferença de sua visão. Ele não
veio montado em cavalo, animal usado pelos soldados guerreiros. Veio no
jumento, porque sua mensagem não era a do arco e espada, mas a da paz, da
verdade e do amor. Veio não da forma esperada, mas quebrando paradigmas.
Para se entender o conceito cristão de paz
é preciso quebrar os paradigmas que nos levam a pensar que a paz reina quando
não há guerra, não há conflito. No entanto, esta é uma visão reducionista da
paz cristã. Tomando por base a concepção antiga do shalom, a paz cristã tem a ver com saúde, harmonia, ausência de
violência em todos os seus níveis (físico, emocional e psicológico), com
moradia segura, alimentação necessária, com descanso regular, com reconciliação
e outras coisas mais.
Sem a reconciliação não há paz. Sem o
perdão não há paz. Sem a tolerância não há paz. Em uma sociedade onde reina a
intolerância, onde torcedores de uma equipe agridem a matam os de outra equipe,
onde o diferente é pisoteado, o homossexual é execrado pública e
privativamente, onde o negro é desprezado por ter uma cor diferente, onde o
gordo é visto como glutão ou sem autocontrole, a paz é um imperativo iniludível
e uma prática impostergável.
Mas o evangelho da paz não é o anúncio de uma
vida fácil e cômoda. A fidelidade a Deus e a Seu Filho, que implicam em
práticas de paz, implicam em perseverança. As dificuldades não nos devem
assombrar, antes fortalecer, uma vez que fomos alertados: “neste mundo tereis
aflição, tende bom ânimo, eu venci o mundo”. Não devemos esperar melhores
tempos que os profetas e Jesus tiveram. Todos eles, na sua proclamação e
prática da paz, padeceram e não poucos morreram por ela.
Isto é paradoxal. Ao proclamarmos e
praticarmos a paz seremos alvos da violência dos que ganham com a exploração do
próximo, dos que são corruptos, ladrões. Evitar a perseguição por meios
desonestos é desonestidade igual à praticada por quem persegue. Há um preço a
se pagar pela paz.
Saliente-se que Jesus iniciou seu
ministério pregando o arrependimento e a chegada do Reino de Deus, um reino de
paz. Isto se daria não pela reforma das instituições políticas e econômicas
existentes, mas pela vivência de uma nova comunidade, alicerçada em um novo
paradigma: amor ao próximo como a si mesmo. Se se ama o outro na mesma
intensidade com que se amo a si mesmo, não há lugar para depreciar, mesmo que
seja ou pense diferente. A diferença não será motivo para separação e exclusão,
mas para conhecimento, enriquecimento com o conhecimento e vivência da
diferença: isto é paz.
Aceitar o outro na sua condição, com suas
ideias e comportamento é amor. Discriminar, acusar, vilipendiar porque é
diferente é ser prepotente, arrogante e assassino do outro. Nesta atitude não
se promove a paz.
Marcos Inhauser
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