Leia mais

Há outros artigos e livros de Marcos e Suely Inhauser à sua disposição no site www.pastoralia.com.br . Vá até lá e confira

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A FARSA GIRATÓRIA


O recente episódio de um “segurança” (estou sendo irônico) do Bradesco que matou um cliente porque este foi questioná-lo sobre o fato de o haver barrado na porta giratória no dia anterior, é a crônica de uma tragédia anunciada.
No dia 13/02/2008 escrevi neste espaço sobre a “Humilhação Giratória”, onde dava exemplos concretos e pessoais de situações em que comprovei que as portas giratórias de muitos bancos são uma farsa. Aconteceu de novo comigo nesta segunda-feira.
Tal como faço há mais de 10 anos, fui à agência do Bradesco no Jardim do Trevo. Vestido com uma bermuda e chinelo, somente com a chave do carro à mão e um relógio no pulso, fui barrado pela “giratória”, devidamente acionada pela “otoridade”. Fiquei indignado, mas coloquei a chave na caixa e novamente fui barrado. Não havendo nada mais que pudesse “ser detectado”, a “otoridade” me liberou. Conversei com o funcionário sobre um problema com o caixa eletrônico e fui orientado a voltar ao caixa. Assim procedi e em menos de cinco minutos tentei regressar ao interior, tendo sido novamente barrado. Indignado, fiquei parado, travando a porta até que um funcionário viesse me atender. Ele me perguntou se era cliente do banco, disse que sim e ao passar pela porta, novamente fui barrado. Ele pediu à “otoridade” que me liberasse. Fui pedir explicações a um funcionário graduado da agência que me disse que as chaves foram detectadas. Eu lhe perguntei por que nunca me pararam antes, se ao menos três vezes por semana entro na mesma agência com a chave no bolso. Ele olhou para o meu pulso e disse que era por causa do relógio. Argumentei que entrava com o mesmo relógio e chave há anos. As explicações foram simplistas e simplórias.
Na mesma agência já entrei com celular e Ipod no bolso da calça, sem que os mesmos tenham sido detectados. Quando, por mais de uma vez, para fazer testes, fiquei com o celular na mão, fui barrado. E isto sempre na mesma agência. Já tentei entrar com o case do meu RayBan na cintura e me barraram, mas o RayBan no bolso da camisa ou sendo usado não é detectado.
Disse e digo. Afirmei e reafirmo. Em muitas das agências bancárias não existe detector de metal. O que existem são umas “otoridades” com a arma do controle remoto na mão, fazendo a seleção visual dos agraciados e castigados. Notem como eles sempre estão com a mão no bolso ou dentro do colete. São eles os “detectores de metais”.
No dia 8/12/2010 escrevi aqui, ao comentar a diferença das agências bancárias do Brasil e da República Dominicana: “Não havia a maldita porta giratória, mentira de detecção de metais existente na grande maioria das agências, que se trava segundo a vontade de um mal treinado segurança. Na verdade as portas giratórias detectam negros e mulheres, quase sem exceção parados e depenados de seus pertences antes que possam entrar.”
Só tenho uma explicação para o que aconteceu ontem: houve uma detecção de bermuda, chinelo e óculos escuro.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

DADOS INQUIETADORES

Recentes dados trazidos à tona pelas mídias, fruto de pesquisas feitas, revelam que o segmento religioso no Brasil passa por momentos que não são os melhores. O segmento que se diz não religioso aumentou significativamente. As igrejas históricas (católicos, presbiterianos, metodistas, batistas, luteranos) perderam parcela significativa de sua membresia. Os pentecostais históricos (Assembleias de Deus, Evangelho Quadrangular, Brasil para Cristo e outras) não estão mais crescendo nas mesmas taxas que cresceram anteriormente. As neopentecostais Universal do Reino de Deus e Renascer estão começando fazer água. A primeira teve queda de 25% na sua assistência e a segunda fechou 70% de seus templos. Correm por fora a Mundial do Poder de Deus, a Internacional da Graça de Deus e a Assembleia do Malafaia. Podem estar tendo algum crescimento, mas creio que será temporário. É um modelo repetitivo, centrado na constante solicitação de dinheiro, fato que tem assustado a muitos e tem criado uma imagem falsa da igreja no Brasil. Mais recentemente, o fato de que Edir Macedo e outros líderes da Universal tenham sido indiciados e denunciados por lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e fraude para arrecadação de fundos, foi mais uma gota de água nesta tempestade que estes senhores criaram no contexto das igrejas brasileiras. Juntamente com o casal Hernandez, acusados e presos por ingresso ilegal de fundos nos EUA, fundos estes que não foram declarados também quando deixaram o Brasil, associado ao fato de que há centenas de processos por não pagamento de alugueis e outras obrigações, trazem mais lama a este segmento religioso. Traz-me curiosidade saber como pastores e líderes de igrejas tidas como sérias e que mudaram suas liturgias e forma de ser para encher seus templos com uma cópia do que os neopentecostais faziam, estão agora a ver e analisar a presente situação. Copiaram modelos que se mostravam viciados e agora estão perdidos. Muitos líderes religiosos sérios estão a perguntar o que será daqui para frente. Lembro-me de haver lido um livro nos anos 90 que comparava a igreja a um navio em alto mar que estava debaixo de uma grande tempestade. Sabiam que o navio não afundaria, mas não sabiam onde estavam nem para onde estavam sendo levados. A igreja não afundará porque, creio, não é invenção humana. Ela resistirá, tal como disse Jesus: as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Não significa que o inferno não vai adentrar a igreja (como creem muitos), mas que se o inferno entrar e entrou muitas vezes, na minha opinião), não resistirá muito tempo a convivência de gente séria que tem como único objetivo louvar e servir a Deus. O que tem se servido da igreja para projetos pessoais de riqueza ou mesmo narcísicos, podem ter seu momento de glória, mas será efêmera. Há uma igreja que precisa repensar sua forma de ser, buscar ser fiel aos ensinamentos de Jesus através de uma hermenêutica comunitária, com práticas de serviço ao próximo. Marcos Inhauser

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

RESPONSABILIZE-SE

Quando uma empresa precisa de funcionário ela abre a vaga, anuncia, recebe currículos, analisa-os, entrevista os candidatos e, pelo processo seletivo, escolhe o que melhor se ajusta aos requisitos do cargo. O funcionário, por sua parte, tem responsabilidades a cumprir e uma justiça trabalhista a seu favor ou como algoz, caso faça algo errado. No setor público o processo é idêntico. A cada quatro anos abre-se a vaga para prefeito, vereador, deputado, senador e presidente. Os candidatos se apresentam no processo seletivo, a banca examinadora (os eleitores) escolhe aquele que a seu juízo tem mais condições de trabalhar pela cidade, estado ou país. Ele assume o cargo e tem responsabilidades a cumprir e um salário pago pelo exercício da função. Assim como na iniciativa privada, ele tem certa autonomia. No caso do prefeito, ele pode contratar assessores e secretários para atuarem nas várias pastas. Esta contratação está implícita no cargo, mas é feita pela autoridade que sua eleição lhe dá. Ao escolher fulano ou sicrano, ele não se isenta da responsabilidade pelos atos ilícitos que venham a cometer, mesmo porque, é da sua função fiscalizar os seus subordinados. Da mesma forma a Câmara. Os vereadores são eleitos, empossados e pagos. Devem legislar e fiscalizar o Executivo. Estes vereadores podem também contratar assessores para ajuda-los na tarefa de fiscalização e devem exigir destes o cumprimento de suas funções. . Se não o fazem, são relapsos, coniventes ou comprados. A incompetência ou inapetência de um vereador ou de vereadores em fiscalizar é crime de lesa população, porque ganham para fazer o que não fazem. Ora, nos recentes episódios na cidade de Campinas, mais especificamente o das construções com alvarás indevidos ou inexistentes, a responsabilidade é do secretário da área, mas é, no final das contas, do prefeito que o nomeou e dos vereadores que, com a penca de assessores que tem, não fizeram o que deveriam ter feito. Foi preciso o Ministério Público para descobrir “o que se fazia dentro da casa do prefeito” e que ele alega ignorância e traição de amizades de longa data. Se prefeito, secretário e vereadores não fizeram aquilo para o qual foram contratados (eleitos) e pagos regiamente, que se processe a cada um deles e se exija que os compradores das casas e apartamentos agora embargados sejam recompensados sem que percam um centavo do que investiram de boa fé, acreditando que em Campinas havia governo e não quadrilha. Que cada um deles (prefeito, vereadores, secretários e fiscais) sejam responsabilizados pela inação (ou deveria escrever ina$$ão?). Esta catatonia governamental custou um rombo aos cofres públicos pelo que foi desviado e pelo que foi pago em salário para fazer o que eu não fizeram. Já vi cálculos do desvio. Gostaria de ver os cálculos com o dinheiro jogado fora com gente incompetente ou conscientemente preguiçosa e omissa. Que os lesados por este time de funcionários relapsos acionem a justiça e peçam o reembolso do dinheiro que é deles e também o dos salários que não mereceram e não merecem. Marcos Inhauser

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

VAI ACABAR EM PIZZA?

Quando do processo de cassação do prefeito Dr. Hélio, levantavam-se questões sobre o sucessor dele, uma vez que o vice-prefeito, quem por lei deveria assumir, estava também enrolado. A saída seria que o presidente da Câmara assumisse. Ocorre que, nos bastidores se articulava que seria muito difícil alguém querer assumir o cargo por um mandato tampão, sendo que depois não poderia concorrer à eleição e ter um mandato completo. Falava-se em “deixar o Vilagra na Prefeitura” e buscar alternativas para que o processo se estendesse até a posse do novo prefeito, eleito pelas urnas. Desconfiado por natureza, especialmente com a classe política, eu identificava nestas conversas um cheiro de pizza no ar. Tinha para comigo que haveria um baita jogo de cena para que as coisas ficassem como estão. Tive a pachorra de assistir a toda a sessão da Câmara que recebeu a denúncia contra o Vilagra, assisti aos poucos discursos feitos (quem mais falou foi o PT) e notei e anotei o que o líder deles (aceito por indicação oral ao presidente da Câmara, em desobediência ao Regimento Interno que pede que a indicação através de carta) entrou com pedido rejeição da denúncia alegando que os fatos apontados não estavam relacionados ao exercício do mandato de prefeito e que, por isto, não poderia ser investigado por uma Comissão Processante. Anotei também que o mesmo líder, conhecido o resultado, declarou que entrariam com recurso junto ao Judiciário. Notei e anotei que o presidente da câmara, quando “soube” da decisão do juiz, se disse “surpreso” e afirmou que a coisa estava agora no colo do juiz e do Judiciário, que avocou para si a decisão de manter o prefeito, no que pese a decisão da Câmara. Estranhei. Ele disse que a Câmara recorreria da sentença, primeiramente junto ao mesmo juiz pedindo que revisse a decisão tomada e que depois, se necessário, iriam às instâncias superiores. Notícias dão conta de que o Tribunal de justiça negou provimento ao recurso da Câmara e o Vilagra continua no cargo. Ora, para que ele tenha um mínimo de governabilidade terá que se acertar com a Câmara que votou maciçamente contra sua permanência. Os mesmos vereadores que o afastaram agora vão negociar apoio. Que me perdoem os vereadores, mas isto tem, no mínimo, cheiro de pizza no ar. Em que bases serão negociados estes acordos? Como entender esta negociação se há na mesma Câmara investigação de compra de voto pelo não afastamento do Dr. Hélio? Seria a Câmara, que já teve vereadores envolvidos em escândalos de ticket-refeição, pedágios, funcionários fantasmas, nepotismo, se convertido em Convento de Santos Políticos? Eu, de minha parte, homem de fé, devo confessar que minha fé não chega a tanto. Marcos Inhauser

BARRIL DE ALEGRIA

Este é o nome de uma ONG que desenvolve um trabalho com crianças e adolescentes carentes e em situação de risco. Ele abrange os distritos de Joaquim Egídio, Sousas e bairros da cidade de Campinas como o Jardim
São Fernando. O objetivo do trabalho é oferecer a eles alternativa para o desenvolvimento pessoal, interpessoal e resgatá-los da exclusão social, violência, preconceitos, drogas e marginalização através da prática do futebol.
O Barril de Alegria não tem fins lucrativos, foi criado em setembro de 2005 por César Caetano. O trabalho nunca recebeu nenhum apoio da Prefeitura, mas utiliza a praça de esportes Jordão Cesarini, situado a Rua Valentim Santos Carvalho,
no distrito de Joaquim Egídio.
Ocorre que esta praça encontra-se em total estado de abandono pela administração da subprefeitura. Apesar dos constantes apelos e reuniões com o secretário de esportes e subprefeito nada de concreto é feito. Reuniões com vereador e com membros do Conselho Tutelar já foram feitas e o problema persiste. Há a necessidade de se fazer a limpeza da quadra, pintura de todo o complexo, corte da grama e marcação das linhas no campo de futebol, religação da energia elétrica da quadra esportiva e dos vestiários, uma vez que subprefeito cortou o fio que caiu com a queda de um dos galhos de eucalipto. Ao invés de consertar, preferiu cortar a eletricidade.
Existe um processo em andamento dentro da Secretaria de Esportes da Prefeitura
de Campinas, com reunião já feita com o secretário Sr. Petta. Misteriosamente o processo vai e volta dentro dos setores vários da Prefeitura e não se consegue uma definição. A solicitação feita neste processo é que a Prefeitura entregue a manutenção da praça aos cuidados da ONG Barril de Alegria, que buscará parcerias para realizar a manutenção.
Não fazem e não deixam fazer.
Que me perdoem, mas não consigo deixar de me perguntar: não fazem por incompetência, por inapetência, ou por conveniência? Se por incompetência, que se afaste o Secretário de Esportes e o subprefeito. Se por inapetência, que se baixem ordens superiores para que a coisa seja feita. Se por conveniência a coisa me parece mais grave. Seria, por acaso, que, ao transferir a manutenção da praça para a ONG serão menos licitações e tomadas de preço que o poder público terá que fazer e assim menos chances de “tirar uma lasca”. Veja que o raciocínio não é descabido visto que indícios de favorecimento nas licitações e contratos são a marca da administração que saiu e, queira Deus, não seja a da nova administração.
DE qualquer forma, isto é mais uma evidência do descaso e do descalabro que a cidade de Campinas está enfiada, graças à República de Mato Grosso que se instalou com o cego, surdo e mal informado Dr. Hélio. Ele não sabia de nada, não viu nada e nem escutou coisa alguma. Parece que deste mal também padecem o Secretario de Esportes e o Subprefeito de Joaquim Egidio.
Marcos Inhauser

terça-feira, 23 de agosto de 2011

NO PARAÍSO HÁ DISCIPLINA

O paraíso tem limites. Nem tudo se pode no paraíso. Há coisas possíveis e impossíveis. O paraíso não é o desfrutar de tudo que queremos, mas o desfrutar de tudo que podemos. No Éden havia um limite: até aqui podem comer de tudo; daqui para frente já não mais. Isto requeria uma dose de autocontrole, de disciplina.
Uma das coisas que tem me preocupado na tão propalada pós-modernidade é a ausência de critérios universais pela absoluta relativização e subjetivização dos valores morais. É certo e bom o que julgo como tais. Sou eu e mais ninguém quem deve ditar normas éticas para mim.
Uma vertente disto é a orientação que se tem passado aos pais de que a educação dos filhos não pode ser negativa (é proibido falar “não aos filhos”) antes deve ser de completa liberdade para que a criança descubra por si mesma o que pode e não pode. Ocorre que, a uma criança que não soube ouvir e obedecer “nãos”, será um adulto que não saberá dizer não quando isto for necessário. Uma das grandes consequências disto é que, quando lhe oferecerem drogas, porque na infância não lhe ensinaram a respeitar limites, não terá autocontrole para dizer não. Antes, porque tinha que descobrir por si o certo e o errado, se atirará de corpo e alma, tal como o educaram.
Não há paraíso sem domínio próprio, sem autocontrole, sem disciplina. Já no paraíso edênico, o lugar perfeito criado por Deus, havia um limite que impunha aos seus habitantes uma dose de domínio próprio. Estavam no paraíso, mas nem tudo lhes era permitido. O paraíso não é anarquia, a ausência de regras ou comportamento ético. Muitos são os que buscam o paraíso no comportamento aético ou antiético e se dão mal porque encontram o inferno.
Acabo de ler um livro que trata dos modelos de pais e sua influência sobre as filhas. A autora, depois de muito pesquisar, afirma que um pai que tenha autoridade (o que é diferente de ser autoritário – fabricante de ordens), que coloque de forma clara e precisa os limites dos “podes” e “não podes”, traz benefícios duradouros para seus filhos. A grande maioria deles não terá problemas de comportamento, nem mesmo na adolescência, e a vida sexual deles será qualitativamente melhor que a de filhos e filhas provindas de lares anárquicos.
Há limites no trabalho. Quem o faz além da conta se estressa, se enferma, ganha morte. Há coisas que podem e devem ser feitas no trabalho e há outras que não podem ser feitas. Um comprador de uma firma não pode comprar além de certos limites determinados pelas necessidades da sua empresa. O encarregado dos pagamentos não pode pagar além do devido e das reservas existentes. O atleta tem seus limites e deve conhecê-los e respeitá-los. Se ele treina para correr dez quilômetros e um dia decide correr trinta ou quarenta e cinco, poderá se lesionar gravemente. O cantor tem seus limites ditados pela extensão da sua voz. Poderá alcançar até um determinado limite os agudos e graves. Tentar ir além pode redundar em prejuízo à sua voz. Há limites no comer e no beber. O excesso pode se constituir no pecado da glutonaria e da bebedice, com os consequentes sintomas e enfermidades que isto acarreta.
O limite de não poder tocar na árvore do conhecimento do bem e do mal estabelece uma dimensão ecológica: há limites na capacidade e autoridade do ser humano de explorar a criação do Senhor. Deus criou o mundo e tudo o que nele há e o deu ao ser humano. Ocorre que esta doação não foi completa. Houve restrição. Mesmo no paraíso não se pode tudo e avançar o sinal é alterar o equilíbrio da natureza com a introdução da morte. Quando o ser humano explora a natureza de maneira irracional e sem considerar o equilíbrio ecológico, está trazendo morte à terra, à vegetação, aos animais. Ir além do que lhe é permitido no uso da natureza é repetir o pecado original, é trazer morte.
Em todo lar, família, trabalho, negócio, enfim em tudo que fazemos, há coisas permitidas e não permitidas. Educar os filhos para viver esta realidade é uma prova de amor e de responsabilidade.
O paraíso requer responsabilidade. Se é verdade que há limites a serem postos e obedecidos, também é verdade que o estabelecimento deles tem suas consequências. As decisões no paraíso não são inconsequentes: produzem, sempre, vida ou morte. O fato de haver necessidade de limites não nos dá autoridade de ir colocando-os onde bem entendemos. De cada ato de estabelecer limites ou de transgredi-los há um preço a ser pago. Há limites que produzem morte e há os que produzem vida. O legalismo é uma tentativa de colocar limites além da conta, gerando a morte da consciência crítica. Para o legalista só há uma alternativa: obedecer. O pai autoritário, o líder religioso legalista, o governante totalitário não permitem arguições, só obediência.
Cada limite colocado merece uma reação igual e contrária. Pode ser questionado e até desacreditado. Os limites perdurarão na medida em que produzem vida naqueles que os respeitam. E esta deve ser a chave para analisar os limites que temos nos nossos paraísos: desobedecê-los produz morte? E esta é a eterna alternativa que todos temos diante de nós: ou comemos da árvore da vida ou comemos da árvore da morte.
Marcos Inhauser

terça-feira, 16 de agosto de 2011

DESIGREJADOS

Acabei de receber telefonema de um amigo de longa data que foi pastor e ele se caracterizou como “desigrejado” atualmente. Ele é um dos muitos que aparecem na estatística publicada nesta segunda-feira dando conta que o número de ex-evangélicos tem subido em proporções inquietantes, de 4% para 14%, o que dá um total de quatro milhões de pessoas que frequentaram igrejas evangélicas e hoje não frequentam mais nenhuma. Os dados comparam os anos de 2003 e 2009, o que me leva a crer que este número é ainda maior, por algumas razões.
O fenômeno não é novo. No início dos anos 90, colegas que estavam fazendo mestrado na área da Ciência da Religião já vinham detectando este fenômeno e alguns que pesquisavam na região da baixada fluminense chegavam a dizer que um terço era composto de pessoas ex-membros de alguma igreja.
Como pastor há quase quarenta anos, venho notando e me surpreendendo com alguns sinais. O primeiro deles é que a nova geração não tem o mesmo compromisso de frequência e participação que eu encontrava no início de meu pastorado. Na primeira igreja que pastoreei eu tinha um senhor que saía todos os domingos às 5:30 da manhã para pegar ônibus e atravessar a cidade de São Paulo e participar da igreja. Em São Carlos eu tinha um que quando viajava, fazia questão de voltar aos domingos para não faltar aos cultos. Hoje, qualquer coisa é desculpa para faltar.
Outra coisa que venho notando é que a filiação formal como membro de uma igreja encontra resistência nas gerações mais novas. Antigamente se media uma igreja pelo número de membros ativos que tinha. Isto acabou. Ninguém mais está para isto. Querem participar sem se envolver com as coisas da administração da vida da igreja. Querem os benefícios, sem as responsabilidades.
Neste quesito entra também a questão dos dízimos e ofertas. Antes as pessoas dizimavam e ofertavam na igreja, que aplicava o dinheiro segundo a decisão de uma diretoria eleita. Hoje elas tem dificuldade em ofertar nas igrejas por uma de três razões: medo de que isto vá enriquecer os pastores, pelos muitos escândalos de bispos e apóstolos que se locupletaram; ou pelo entendimento de que eles sabem administrar melhor e preferem fazer caridade com o dízimo. Não são poucos os que conheço que tem administrado e distribuído seus dízimos de acordo com necessidades que veem. Uma terceira razão é a insensatez de se ter templos faraônicos que são usados poucas horas por semana. Há mausoléus que custam uma fortuna em manutenção e que são usados duas ou três horas semanais. Um verdadeiro desperdício.
Outro fenômeno que venho notando é a gradativa transformação da igreja em negócio. Dias destes um colega pastor, destes que tem a alma pastoral, me ligou e me contou que foi avaliado depois de um tempo na igreja e esta decidiu contratar outro que tivesse perfil mais gerencial. Estavam trocando o pastoral pelo gerencial. Quando a igreja faz isto, perde a sua característica de cuidar das pessoas e passa a cuidar dos números, da quantidade, da arrecadação. Deixa de ser igreja e passa a ser negócio. Há muitas igrejas que trocaram o termo discipulado por mentoring (termo técnico do mundo corporativo), nomeiam gerentes de áreas (Educação Cristã, Ação Social, Diaconia, etc.). Há ainda as que não buscam mais pastores com sólida base teológica, mas sim animadores de auditório. Se ele sabe fazer o pessoal cantar, pular, aplaudir, chorar, motivar a contribuir, é um excelente “pastor”, não importando o quanto de abobrinha vá dizer.
Com este cenário, não é para menos que tenha saltado de 4% a 14% o número dos desigrejados.
Marcos Inhauser

terça-feira, 9 de agosto de 2011

SÍNDROME DE COELET

O nome é estranho, porque transliteração (mal feita) da palavra hebraica para “pregador”. Coelet é o termo técnico para se referir ao escritor/pregador/sábio do livro de Eclesiastes, na Bíblia. Precisar quem era é um problema, mas há consenso de que deva ser Salomão, já velho, depressivo e desesperançado. Ele diz: “É ilusão, é ilusão, diz o Coelet. Tudo é ilusão. A gente gasta a vida trabalhando, se esforçando e afinal que vantagem leva em tudo isso? Pessoas nascem, pessoas morrem, mas o mundo continua sempre o mesmo. O sol continua a nascer, e a se pôr, e volta ao seu lugar para começar tudo outra vez. O vento sopra para o sul, depois para o norte, dá voltas e mais voltas e acaba no mesmo lugar. Todos os rios correm para o mar, porém o mar não fica cheio. A água volta para onde nascem os rios, e tudo começa outra vez. Todas as coisas levam a gente ao cansaço—um cansaço tão grande, que nem dá para contar. Os nossos olhos não se cansam de ver, nem os nossos ouvidos, de ouvir. O que aconteceu antes vai acontecer outra vez. O que foi feito antes será feito novamente. Não há nada de novo neste mundo. Será que existe alguma coisa de que a gente possa dizer: ´Veja! Isto nunca aconteceu no mundo´? Não! Tudo já aconteceu antes, bem antes de nós nascermos.” Lembrei-me dele com esta nova crise nos mercados mundiais. Também lembrei do Friedrich Nietzche, que, até onde entendi o que dele estudei (se é que entendi alguma coisa), tinha uma concepção meio que espiralada do eterno retorno da história, de tal forma que as coisas se repetem, não de forma idêntica, mas semelhante. Confesso que é difícil não ser contaminado pela desesperança e depressão do Coelet, especialmente nestes dias. Escrevi há um mês (“Nem direita, nem esquerda” 13/7) que as diferenças ideológicas, políticas, teológicas, litúrgicas estão se acabando, tudo convergindo para a mesmice. Há uma predominância do senso comum, das platitudes aceitas irrefletidamente, um exorcismo das diferenças, uma demonização do menino que diz que o rei está nu. Um país comunista, a China, é o maior investidor capitalista na economia do império! Não sei se ser diferente, crítico, cético já foi menos penoso que em nossos dias. Mas sei que isto tem um preço alto. Ser profeta e dizer o novo, o diferente, anunciar o castigo e a reconstrução é tarefa fadada à solidão. Que o diga Jeremias! Não dá holofote, mas caverna. À esta nova crise dos mercados não faltarão profeteiros (religiosos e seculares) a denunciar mazelas, pregar tribulação e anunciar salvação. No entanto, temos um problema insolúvel: há que crescer economicamente para dar empregos a milhares que diariamente entram ao mercado de trabalho, sob pena de ter as cidades incendiadas por hordas de jovens desesperançados, tal como acontece hoje em Londres e aconteceu no Egito, Síria, etc. Para que tenham emprego, há que ter gente consumindo o que se produz. Para produzir há que buscar recursos naturais, que arrebenta a natureza e polui as cidades, rios e mares. Há uma população mundial inviável para o tipo de economia que praticamos, que valoriza o lucro e a exploração sem limite. Estamos nos colapsando. Há esperança? Eu creio no Reino de Deus, na irrupção de Deus na história para nos dar um novo céu e nova terra. Mas hoje estou como Abraão (“crendo contra toda esperança”) e como o Coelet (“vaidade das vaidades, tudo é vaidade”, “será que existe alguma coisa de que a gente possa dizer: ´Veja! Isto nunca aconteceu no mundo?´”). É a síndrome do Coelet. Marcos Inhauser

SÍNDROME DE COELET

O nome é estranho, porque transliteração (mal feita) da palavra hebraica para “pregador”. Coelet é o termo técnico para se referir ao escritor/pregador/sábio do livro de Eclesiastes, na Bíblia. Precisar quem era é um problema, mas há consenso de que deva ser Salomão, já velho, depressivo e desesperançado. Ele diz: “É ilusão, é ilusão, diz o Coelet. Tudo é ilusão. A gente gasta a vida trabalhando, se esforçando e afinal que vantagem leva em tudo isso? Pessoas nascem, pessoas morrem, mas o mundo continua sempre o mesmo. O sol continua a nascer, e a se pôr, e volta ao seu lugar para começar tudo outra vez. O vento sopra para o sul, depois para o norte, dá voltas e mais voltas e acaba no mesmo lugar. Todos os rios correm para o mar, porém o mar não fica cheio. A água volta para onde nascem os rios, e tudo começa outra vez. Todas as coisas levam a gente ao cansaço—um cansaço tão grande, que nem dá para contar. Os nossos olhos não se cansam de ver, nem os nossos ouvidos, de ouvir. O que aconteceu antes vai acontecer outra vez. O que foi feito antes será feito novamente. Não há nada de novo neste mundo. Será que existe alguma coisa de que a gente possa dizer: ´Veja! Isto nunca aconteceu no mundo´? Não! Tudo já aconteceu antes, bem antes de nós nascermos.” Lembrei-me dele com esta nova crise nos mercados mundiais. Também lembrei do Friedrich Nietzche, que, até onde entendi o que dele estudei (se é que entendi alguma coisa), tinha uma concepção meio que espiralada do eterno retorno da história, de tal forma que as coisas se repetem, não de forma idêntica, mas semelhante. Confesso que é difícil não ser contaminado pela desesperança e depressão do Coelet, especialmente nestes dias. Escrevi há um mês (“Nem direita, nem esquerda” 13/7) que as diferenças ideológicas, políticas, teológicas, litúrgicas estão se acabando, tudo convergindo para a mesmice. Há uma predominância do senso comum, das platitudes aceitas irrefletidamente, um exorcismo das diferenças, uma demonização do menino que diz que o rei está nu. Um país comunista, a China, é o maior investidor capitalista na economia do império! Não sei se ser diferente, crítico, cético já foi menos penoso que em nossos dias. Mas sei que isto tem um preço alto. Ser profeta e dizer o novo, o diferente, anunciar o castigo e a reconstrução é tarefa fadada à solidão. Que o diga Jeremias! Não dá holofote, mas caverna. À esta nova crise dos mercados não faltarão profeteiros (religiosos e seculares) a denunciar mazelas, pregar tribulação e anunciar salvação. No entanto, temos um problema insolúvel: há que crescer economicamente para dar empregos a milhares que diariamente entram ao mercado de trabalho, sob pena de ter as cidades incendiadas por hordas de jovens desesperançados, tal como acontece hoje em Londres e aconteceu no Egito, Síria, etc. Para que tenham emprego, há que ter gente consumindo o que se produz. Para produzir há que buscar recursos naturais, que arrebenta a natureza e polui as cidades, rios e mares. Há uma população mundial inviável para o tipo de economia que praticamos, que valoriza o lucro e a exploração sem limite. Estamos nos colapsando. Há esperança? Eu creio no Reino de Deus, na irrupção de Deus na história para nos dar um novo céu e nova terra. Mas hoje estou como Abraão (“crendo contra toda esperança”) e como o Coelet (“vaidade das vaidades, tudo é vaidade”, “será que existe alguma coisa de que a gente possa dizer: ´Veja! Isto nunca aconteceu no mundo?´”). É a síndrome do Coelet. Marcos Inhauser

terça-feira, 2 de agosto de 2011

JUIZO TEMERÁRIO

Já contei aqui uma história dele (“Um pastor paradigmático” 22/02/2011), mas conto outra, por ser também paradigmática de um comportamento bastante comum. Estávamos em um Acampamento Menonita em San Juan de la Maguana, na República Dominicana, para um conferencia de igreja. Havia umas 200 pessoas, entre elas uma jovem que tinha certa deficiência mental, mas muito atenciosa e serviçal. Do local de reuniões ao refeitório havia uma distância de uns 500 metros e à noite não havia iluminação para sair do refeitório ao auditório, o que fazia com que as pessoas andassem por um caminho escuro. Certa noite fiquei até mais tarde no refeitório conversando com alguém e quando fiz menção de sair para o auditório, a jovem me perguntou se podia ir comigo porque tinha medo de andar no escuro sozinha. Disse que sim e lá fomos nós conversando. Fiz a elas algumas perguntas e ela me respondia e nas suas respostas ficava ainda mais evidente as dificuldades mentais que tinha. Eu caminhava devagar porque parecia que ela também tinha alguma dificuldade para andar, especialmente naquelas circunstâncias. Quando já estávamos bem próximos do auditório, havia na estreita calçada uma saliência. Ela tropeçou, caiu e começou a gritar e a chorar alto. No escuro eu não conseguia ver se ela havia se machucado ou não. Alguns homens vieram ajudar e a levamos para o salão onde o pessoal cantava. Ela entrou chorando alto, um tanto descontrolada, típico de uma pessoa em suas condições. Chamou a atenção de todos. O pastor convidado (o mesmo que era doutor em Apocalipse e que tinha estudado a Bíblia sozinho, sem ajuda de ninguém, só do Espírito Santo), veio correndo até ela e sem fazer uma única pergunta, começou a expulsar o demônio dela. Eu que tinha saído para buscar um remédio, quando voltei, vi ao redor dela uns dez homens orando, gritando, berrando e expulsando o demônio. Confesso que fiquei atônito, com vontade de fazer um esparramo e dizer que os endemoninhados eram eles que não perceberam a condição da moça, nem sabiam o que tinha acontecido. Assumiram que se uma mulher entra em um local de culto chorando é manifestação do demônio e pronto. Deixei a coisa rolar. Depois que ela se acalmou, os “exorcistas de araque” saíram dando glórias e ao iniciar sua “prédica” (uma arenga, na verdade) ele disse que o poder de Deus havia se manifestado naquele lugar pela expulsão de quem quis tumultuar o culto maravilhoso que teriam. Eu me acerquei a ela para saber se havia se machucado e percebi que havia torcido o tornozelo que já começava a inchar e tinha escoriado o joelho. A menina precisou ser levada embora para ser medicada porque não havia no local condições sequer de fazer uma compressa com gelo. O pregador ficou. Na avaliação dele, o culto foi uma benção! A avaliação dela eu não sei, não perguntei e ela não me falou. Na minha avaliação foi uma encenação, uma farsa, um tempo de arrogância religiosa. Conto isto porque sei, por testemunho de outros e por outras experiências, que tal prática é comum nos meios religiosos. Há uma impressionante tendência em pegar um sinal e fazer com ele um diagnóstico completo. Já ouvi muitas vezes que “fulano teve uma conversão verdadeira”, pelo fato de haver chorado durante um culto com apelo. Se não chorar, “não se converteu genuinamente”. Já vi alguém ser acusado de herege porque estava usando uma versão de Bíblia que não era a que aquela igreja adotava. A lista poderia se estender, mas não o faço porque cada de um de vocês se recordara de uma situação idêntica, na qual, talvez você mesmo tenha sido vítima de um juízo precipitado. O gozado é que até hoje nunca ouvi ninguém pregar sobre o pecado do juízo temerário, precipitado. Biblicamente falando, ele é tão pecado quanto tantos outros tão veementemente combatidos. Marcos Inhauser