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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

DADOS INQUIETADORES

Recentes dados trazidos à tona pelas mídias, fruto de pesquisas feitas, revelam que o segmento religioso no Brasil passa por momentos que não são os melhores. O segmento que se diz não religioso aumentou significativamente. As igrejas históricas (católicos, presbiterianos, metodistas, batistas, luteranos) perderam parcela significativa de sua membresia. Os pentecostais históricos (Assembleias de Deus, Evangelho Quadrangular, Brasil para Cristo e outras) não estão mais crescendo nas mesmas taxas que cresceram anteriormente. As neopentecostais Universal do Reino de Deus e Renascer estão começando fazer água. A primeira teve queda de 25% na sua assistência e a segunda fechou 70% de seus templos. Correm por fora a Mundial do Poder de Deus, a Internacional da Graça de Deus e a Assembleia do Malafaia. Podem estar tendo algum crescimento, mas creio que será temporário. É um modelo repetitivo, centrado na constante solicitação de dinheiro, fato que tem assustado a muitos e tem criado uma imagem falsa da igreja no Brasil. Mais recentemente, o fato de que Edir Macedo e outros líderes da Universal tenham sido indiciados e denunciados por lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e fraude para arrecadação de fundos, foi mais uma gota de água nesta tempestade que estes senhores criaram no contexto das igrejas brasileiras. Juntamente com o casal Hernandez, acusados e presos por ingresso ilegal de fundos nos EUA, fundos estes que não foram declarados também quando deixaram o Brasil, associado ao fato de que há centenas de processos por não pagamento de alugueis e outras obrigações, trazem mais lama a este segmento religioso. Traz-me curiosidade saber como pastores e líderes de igrejas tidas como sérias e que mudaram suas liturgias e forma de ser para encher seus templos com uma cópia do que os neopentecostais faziam, estão agora a ver e analisar a presente situação. Copiaram modelos que se mostravam viciados e agora estão perdidos. Muitos líderes religiosos sérios estão a perguntar o que será daqui para frente. Lembro-me de haver lido um livro nos anos 90 que comparava a igreja a um navio em alto mar que estava debaixo de uma grande tempestade. Sabiam que o navio não afundaria, mas não sabiam onde estavam nem para onde estavam sendo levados. A igreja não afundará porque, creio, não é invenção humana. Ela resistirá, tal como disse Jesus: as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Não significa que o inferno não vai adentrar a igreja (como creem muitos), mas que se o inferno entrar e entrou muitas vezes, na minha opinião), não resistirá muito tempo a convivência de gente séria que tem como único objetivo louvar e servir a Deus. O que tem se servido da igreja para projetos pessoais de riqueza ou mesmo narcísicos, podem ter seu momento de glória, mas será efêmera. Há uma igreja que precisa repensar sua forma de ser, buscar ser fiel aos ensinamentos de Jesus através de uma hermenêutica comunitária, com práticas de serviço ao próximo. Marcos Inhauser

terça-feira, 16 de agosto de 2011

DESIGREJADOS

Acabei de receber telefonema de um amigo de longa data que foi pastor e ele se caracterizou como “desigrejado” atualmente. Ele é um dos muitos que aparecem na estatística publicada nesta segunda-feira dando conta que o número de ex-evangélicos tem subido em proporções inquietantes, de 4% para 14%, o que dá um total de quatro milhões de pessoas que frequentaram igrejas evangélicas e hoje não frequentam mais nenhuma. Os dados comparam os anos de 2003 e 2009, o que me leva a crer que este número é ainda maior, por algumas razões.
O fenômeno não é novo. No início dos anos 90, colegas que estavam fazendo mestrado na área da Ciência da Religião já vinham detectando este fenômeno e alguns que pesquisavam na região da baixada fluminense chegavam a dizer que um terço era composto de pessoas ex-membros de alguma igreja.
Como pastor há quase quarenta anos, venho notando e me surpreendendo com alguns sinais. O primeiro deles é que a nova geração não tem o mesmo compromisso de frequência e participação que eu encontrava no início de meu pastorado. Na primeira igreja que pastoreei eu tinha um senhor que saía todos os domingos às 5:30 da manhã para pegar ônibus e atravessar a cidade de São Paulo e participar da igreja. Em São Carlos eu tinha um que quando viajava, fazia questão de voltar aos domingos para não faltar aos cultos. Hoje, qualquer coisa é desculpa para faltar.
Outra coisa que venho notando é que a filiação formal como membro de uma igreja encontra resistência nas gerações mais novas. Antigamente se media uma igreja pelo número de membros ativos que tinha. Isto acabou. Ninguém mais está para isto. Querem participar sem se envolver com as coisas da administração da vida da igreja. Querem os benefícios, sem as responsabilidades.
Neste quesito entra também a questão dos dízimos e ofertas. Antes as pessoas dizimavam e ofertavam na igreja, que aplicava o dinheiro segundo a decisão de uma diretoria eleita. Hoje elas tem dificuldade em ofertar nas igrejas por uma de três razões: medo de que isto vá enriquecer os pastores, pelos muitos escândalos de bispos e apóstolos que se locupletaram; ou pelo entendimento de que eles sabem administrar melhor e preferem fazer caridade com o dízimo. Não são poucos os que conheço que tem administrado e distribuído seus dízimos de acordo com necessidades que veem. Uma terceira razão é a insensatez de se ter templos faraônicos que são usados poucas horas por semana. Há mausoléus que custam uma fortuna em manutenção e que são usados duas ou três horas semanais. Um verdadeiro desperdício.
Outro fenômeno que venho notando é a gradativa transformação da igreja em negócio. Dias destes um colega pastor, destes que tem a alma pastoral, me ligou e me contou que foi avaliado depois de um tempo na igreja e esta decidiu contratar outro que tivesse perfil mais gerencial. Estavam trocando o pastoral pelo gerencial. Quando a igreja faz isto, perde a sua característica de cuidar das pessoas e passa a cuidar dos números, da quantidade, da arrecadação. Deixa de ser igreja e passa a ser negócio. Há muitas igrejas que trocaram o termo discipulado por mentoring (termo técnico do mundo corporativo), nomeiam gerentes de áreas (Educação Cristã, Ação Social, Diaconia, etc.). Há ainda as que não buscam mais pastores com sólida base teológica, mas sim animadores de auditório. Se ele sabe fazer o pessoal cantar, pular, aplaudir, chorar, motivar a contribuir, é um excelente “pastor”, não importando o quanto de abobrinha vá dizer.
Com este cenário, não é para menos que tenha saltado de 4% a 14% o número dos desigrejados.
Marcos Inhauser