Leia mais

Há outros artigos e livros de Marcos e Suely Inhauser à sua disposição no site www.pastoralia.com.br . Vá até lá e confira

Mostrando postagens com marcador crescimento das igrejas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador crescimento das igrejas. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 17 de abril de 2013

MEGAIGREJAS

Megaigrejas são fenômeno novo. As grandes congregações estavam ausentes da história da Igreja Cristã. Em qualquer período histórico não havia mais do que uma dúzia destas congregações em todo o mundo, mas nenhuma delas se enquadra no que hoje são as megaigrejas. Elas são mais do que igrejas com frequência enorme. São congregações com padrão distinto de organização nas relações, nos ministérios e na associação. A rápida proliferação desta forma de vida congregacional ocorreu nas últimas décadas. Quase todas as megaigrejas foram criadas depois de 1955.
O crescimento explosivo experimentado por essas congregações não existiu antes da década dos oitenta. Dados coletados em 1992 nos Estados Unidos revelam algo em torno de 350 de tais congregações.
A característica mais evidente das megaigrejas é o número de pessoas presentes em uma semana. O atendimento tamanho deve girar em torno de 2.000 pessoas para que elas passem a ser consideradas como tais.
O tamanho de algumas megaigrejas pode ser enganoso. Uma contagem de milhares de frequentadores raramente é exata. Estimar a participação com base no número de pessoas pela quantidade de assentos disponíveis é algo que carece de precisão. Muitos denunciam um atendimento inflacionado, sob a alegação de que ninguém frequenta mais de uma vez por semana a igreja. Assim, na maioria dos casos, o que se tem são estimativas, mesmo porque, uma das características destas igrejas é não ter um rol de membros.
O grande número de frequentadores cria várias dinâmicas. Se se atinge a massa crítica de 2000, a força numérica se torna em poderoso fator de atração. Um líder destas igrejas disse que “quando se atinge certo tamanho, a igreja se torna autogeradora: atrai as pessoas por seu tamanho. As pessoas sabem que vão estar na TV e que o lugar é grande. Há uma sensação de que alguma coisa está acontecendo e tamanho gera mais crescimento”.
A grande igreja cria um movimento de atração de outros. Um fluxo de carros de domingo em uma rua tranquila desperta o interesse. Grandes edifícios e amplos estacionamentos marcam presença no entorno.
Muitas vezes não é apenas o tamanho que caracteriza a megaigreja. A maioria experimenta crescimento rápido ao longo de um período de tempo muito curto. É "sucesso instantâneo" que muitas vezes define uma megaigreja na ecologia religiosa. Este aumento explosivo define esta congregação para além de outras opções espirituais da comunidade. Elas são igrejas dependentes da figura de um líder, muitas vezes autocrático. Ele é a cara visível da igreja e é conhecida como a “igreja do fulano”.
Considerados estes fatores, algumas perguntas se impõem: são as megaigrejas verdadeiras igrejas? Se a essência da igreja cristã é a comunhão, que comunhão há entre duas, três, quatro mil pessoas? Elas são congregações ou auditórios? O que prevalece é o estilo de vida simples ou o espalhafato tecnológico? A adoração genuína ou o show dos “modernos levitas?”
Marcos Inhauser

terça-feira, 16 de agosto de 2011

DESIGREJADOS

Acabei de receber telefonema de um amigo de longa data que foi pastor e ele se caracterizou como “desigrejado” atualmente. Ele é um dos muitos que aparecem na estatística publicada nesta segunda-feira dando conta que o número de ex-evangélicos tem subido em proporções inquietantes, de 4% para 14%, o que dá um total de quatro milhões de pessoas que frequentaram igrejas evangélicas e hoje não frequentam mais nenhuma. Os dados comparam os anos de 2003 e 2009, o que me leva a crer que este número é ainda maior, por algumas razões.
O fenômeno não é novo. No início dos anos 90, colegas que estavam fazendo mestrado na área da Ciência da Religião já vinham detectando este fenômeno e alguns que pesquisavam na região da baixada fluminense chegavam a dizer que um terço era composto de pessoas ex-membros de alguma igreja.
Como pastor há quase quarenta anos, venho notando e me surpreendendo com alguns sinais. O primeiro deles é que a nova geração não tem o mesmo compromisso de frequência e participação que eu encontrava no início de meu pastorado. Na primeira igreja que pastoreei eu tinha um senhor que saía todos os domingos às 5:30 da manhã para pegar ônibus e atravessar a cidade de São Paulo e participar da igreja. Em São Carlos eu tinha um que quando viajava, fazia questão de voltar aos domingos para não faltar aos cultos. Hoje, qualquer coisa é desculpa para faltar.
Outra coisa que venho notando é que a filiação formal como membro de uma igreja encontra resistência nas gerações mais novas. Antigamente se media uma igreja pelo número de membros ativos que tinha. Isto acabou. Ninguém mais está para isto. Querem participar sem se envolver com as coisas da administração da vida da igreja. Querem os benefícios, sem as responsabilidades.
Neste quesito entra também a questão dos dízimos e ofertas. Antes as pessoas dizimavam e ofertavam na igreja, que aplicava o dinheiro segundo a decisão de uma diretoria eleita. Hoje elas tem dificuldade em ofertar nas igrejas por uma de três razões: medo de que isto vá enriquecer os pastores, pelos muitos escândalos de bispos e apóstolos que se locupletaram; ou pelo entendimento de que eles sabem administrar melhor e preferem fazer caridade com o dízimo. Não são poucos os que conheço que tem administrado e distribuído seus dízimos de acordo com necessidades que veem. Uma terceira razão é a insensatez de se ter templos faraônicos que são usados poucas horas por semana. Há mausoléus que custam uma fortuna em manutenção e que são usados duas ou três horas semanais. Um verdadeiro desperdício.
Outro fenômeno que venho notando é a gradativa transformação da igreja em negócio. Dias destes um colega pastor, destes que tem a alma pastoral, me ligou e me contou que foi avaliado depois de um tempo na igreja e esta decidiu contratar outro que tivesse perfil mais gerencial. Estavam trocando o pastoral pelo gerencial. Quando a igreja faz isto, perde a sua característica de cuidar das pessoas e passa a cuidar dos números, da quantidade, da arrecadação. Deixa de ser igreja e passa a ser negócio. Há muitas igrejas que trocaram o termo discipulado por mentoring (termo técnico do mundo corporativo), nomeiam gerentes de áreas (Educação Cristã, Ação Social, Diaconia, etc.). Há ainda as que não buscam mais pastores com sólida base teológica, mas sim animadores de auditório. Se ele sabe fazer o pessoal cantar, pular, aplaudir, chorar, motivar a contribuir, é um excelente “pastor”, não importando o quanto de abobrinha vá dizer.
Com este cenário, não é para menos que tenha saltado de 4% a 14% o número dos desigrejados.
Marcos Inhauser

terça-feira, 10 de agosto de 2010

COLCHA DE RETALHOS

Lá pelos anos setenta eu batia na tecla de que a música e os cânticos nas igrejas precisavam deixar de lado o ranço anglosaxônico e assumir o sabor dos ritmos brasileiros. Eu não estava só nesta empreitada, haja visto que muitos, como eu, batíamos nesta tecla. Algumas coisas começaram a surgir. Um xote aqui, um samba ali, um baião, etc. Paralelo a isto, havia um outro grupo que sustentava que os cânticos deviam ser os mais bíblicos possíveis, e muitos se dedicaram a musicalizar trechos inteiros dos salmos e outras partes bíblicas. Não há que negar que houve uma forte efervescência e renovação na hinódia. Nestes dias tenho prestado atenção aos cânticos que as igrejas estão cantando e há algumas coisas que me chamam a atenção. A primeira delas é a saturação de cânticos de louvor e adoração, em detrimento de outros temas como confissão, consagração, crescimento espiritual, etc. Um amigo liturgista que toma o Pai Nosso como modelo litúrgico afirma que os cânticos só ficam no “Pai Nosso que estás nos céus” e se esquecem das demais petições da oração dominical. Isto leva a uma religiosidade alienada e alienante. Outro que toma o texto de Isaías ¨, afirma idêntica coisa, dizendo que a parte do “Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios” não entra mais na liturgia das igrejas. O segundo aspecto que me tem chamado a atenção é o uso e abuso de jargões, quase todos tirados de trechos das Escrituras, fazendo com que as letras dos cânticos se tornem em verdadeiras “colchas de retalho” de fragmentos bíblicos. Temos como o poder de Deus, a santidade de Deus, a onipotência, são repetidos ad nausean, sem que tais letras acrescentem absolutamente nada ao que já se tem. Com isto, estes cânticos não traduzem a reflexão de alguém, o teologizar. É como se juntassem frases soltas relacionadas a um mesmo tema e disto fazem a letra “inspirada” de um cântico. A terceira coisa é que o momento dos cânticos domina boa parte do tempo de culto, em detrimento do tempo de ensino da Palavra, com cantores/pregadores de sermonetes que são repetições dos mesmos jargões cantados nos hinos. Com isto o culto, na grande parte das igrejas empobreceu, para não dizer que faliu. Há quantidade de música e pobreza de teologia. Há ministração de louvor sem ministração da Palavra. Depois me perguntam porque muitos já não querem mais ir às igrejas. Marcos Inhauser

terça-feira, 16 de março de 2010

DECLÍNIO DAS IGREJAS

O movimento de “crescimento da igreja” nasceu nos EUA e se propagou mundo afora. Passados alguns anos de euforia, avaliações recentes tem mostrado que “apesar dos milhões de dólares em mídias, milhões de participantes, milhares de preletores, milhares de clínicas, simpósios, conferências, congressos e centenas de métodos e estratégias de marketing, as receitas para crescimento de igreja prescritas pelos norte-americanos não estão funcionando para eles mesmos”. Só as Assembléias de Deus nos EUA cresceram. Todas as demais igrejas históricas perderam membros, segundo relata o Anuário das Igrejas Americanas e Canadenses de 2010. Segundo a publicação, a Convenção Batista do Sul, segunda maior denominação dos EUA e por muitos anos uma das responsáveis pelo crescimento dos evangélicos, relatou um declínio no número de membros pelo segundo ano consecutivo, com menos 0,24%. O Anuário também relata declínio contínuo na membresia de praticamente todas as denominações. A Igreja Católica sofreu perda de 1,49%. A situação pode ser ainda pior, pois onze das 25 maiores igrejas não atualizaram seus relatórios. Entre elas: a Igreja de Deus em Cristo, a Convenção Batista Nacional e a Convenção Batista Nacional da América, respectivamente a 5ª, 6ª e 8ª maiores denominações nos EUA. Ainda mais crítica seria a situação se a maioria dos imigrantes não fosse oriundos de países com fortes tradições religiosas e que tem dado mais consistência a estes números. Mesmo as Assembléias de Deus cresceram tímidos 1,27%, de acordo com valores apresentados no Anuário. As igrejas com maiores percentuais de declínio são: a Igreja Presbiteriana dos EUA, com -3,28%; as Igrejas Batistas Americanas nos EUA, -2,00%, e a Igreja Evangélica Luterana na América, -1,92%. Os números relatados no anuário 2010 foram coletados pelas igrejas em 2008 e enviados ao Anuário em 2009. Segundo Julia Duin, editora de religião do The Washington Times, o percentual da população americana que é membro de alguma igreja – incluindo mórmons e testemunhas e Jeová, alcança hoje 49%, totalizando 147,3 milhões, pouco menos de metade da população americana". No Canadá, o quadro é ainda mais dramático. Mantido o percentual de declínio, que hoje totaliza 13.000 membros/ano apenas na Igreja Anglicana, em 2061 só haverá um só anglicano no país. (As informações acima foram retiradas da Revista Soma em artigo escrito por Philippe Leandro). Minha experiência em contato com vários líderes de denominações históricas me mostra que a situação no Brasil não é diferente. Ainda que não tenhamos números precisos o bastante para nos dar uma visão mais clara, há a constatação generalizada de declínio também nos vários ramos presbiterianos, metodistas e luteranos. Talvez os Batistas não enfrentem a coisa mais agudamente, mas creio que é questão de tempo. O que tem levado a isto? Uma pergunta que tentarei refletir e responder na próxima coluna. Marcos Inhauser