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quarta-feira, 29 de março de 2017

FALTAM PASTORES

Estou no pastorado há 44 anos. Já vi muita coisa, conheci pastores exemplares como foram o Joás Dias de Araujo, o Nephtali Vieira Junior, Naor Garcia entre outros. Há no pastorado, no dizer do Rev. Joás, um mistério. Eu acrescentava que é um mistério místico. Há uma mística na vocação, na imposição das mãos para a ordenação e no próprio desenvolver do ministério pastoral.
O pastorado é a vocação para o trabalho com pessoas, com tal intensidade e autoridade que pode e muitas vezes entra nos detalhes da vida pessoal e até íntima da vida dos fiéis. Não é só o pregar. Este é um dos trabalhos e talvez o de menos importância e de resultados comprovadamente baixos. Pergunte a uma pessoa na segunda-feira qual foi o tema do sermão pregado na igreja e certamente você escutará com muita frequência: “não lembro”.  OO aconselhamento pessoal, familiar, conjugal, a orientação de jovens e adolescentes, o ensino de valores éticos e morais, a confissão espontânea de pecados, a conversa onde as dúvidas bíblica e teológica surgem, o visitar enfermos, famílias, estar presente nos momentos marcantes da família e nos ritos de passagem, são alguns dos aspectos que diziam/dizem respeito ao trabalho pastoral.
Acontece que os tempos mudaram e a sociedade também. Já não é tão fácil visitar as famílias em suas casas, uma vez que muitas delas se encontram fechadas a maior parte do tempo. Lembro-me da primeira igreja que pastoreei nos Estados Unidos e que, ligando para os telefones dos membros, fazia um pastorado de secretária eletrônica. O que era uma celebração para muitos, hoje, o receber o pastor para uma visita pode ser um incômodo por ser o horário quando a família, que esteve separada durante todo o dia, tem agora para se reunir e conversar.
O trabalho do pastor como conselheiro foi cedendo espaço para os psicólogos, psicanalistas e outros profissionais. Antes não se exigia do pastor conhecimentos mais profundos sobre o ser humano e suas relações. Hoje precisa estudar várias linhas para poder fazer um trabalho significativo.
Os pastores pastoreavam comunidades onde ele conhecia a todos pelo nome. Era o pastor que sabia da vida de cada ovelha. Com o advento das mega-igrejas, os pastores perderam o contato pessoal com a membresia. De pastores passaram a ser animadores de auditórios, as suas congregações se transformaram em plateia, de doutrinadores passaram a ser motivadores. O evangelho do “cada um tome a sua cruz” foi banalizado, para um evangelho da graça barata, da vida cristã anônima, individualista, solitária. É a comunhão comigo mesmo. A membresia e fidelidade a uma congregação foi substituída pelo turismo eclesiástico. A participação fiel a uma congregação local foi trocada pelas igrejas de grife.
De doutrinadores, hoje muitos são apeladores (no mais negativo sentido da palavra). Vivem de fazer apelos para que os presentes contribuam acima do que haviam se disposto a fazer. Deixam de dar com alegria para serem contribuidores constrangido. Inventam símbolos, eventos, programas com o fim de “motivar” a contribuir.
O servo da comunidade se transformou e ganhou títulos pomposos de apóstolos e quejandas. O serviço anônimo ao próximo cedeu espaço ao tempo televisivo pago a peso de outro. O mistério místico do pastorado virou narcisismo midiático.
Faltam pastores. Sobram animadores de plateia, arrecadadores, show-men.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 17 de abril de 2013

MEGAIGREJAS

Megaigrejas são fenômeno novo. As grandes congregações estavam ausentes da história da Igreja Cristã. Em qualquer período histórico não havia mais do que uma dúzia destas congregações em todo o mundo, mas nenhuma delas se enquadra no que hoje são as megaigrejas. Elas são mais do que igrejas com frequência enorme. São congregações com padrão distinto de organização nas relações, nos ministérios e na associação. A rápida proliferação desta forma de vida congregacional ocorreu nas últimas décadas. Quase todas as megaigrejas foram criadas depois de 1955.
O crescimento explosivo experimentado por essas congregações não existiu antes da década dos oitenta. Dados coletados em 1992 nos Estados Unidos revelam algo em torno de 350 de tais congregações.
A característica mais evidente das megaigrejas é o número de pessoas presentes em uma semana. O atendimento tamanho deve girar em torno de 2.000 pessoas para que elas passem a ser consideradas como tais.
O tamanho de algumas megaigrejas pode ser enganoso. Uma contagem de milhares de frequentadores raramente é exata. Estimar a participação com base no número de pessoas pela quantidade de assentos disponíveis é algo que carece de precisão. Muitos denunciam um atendimento inflacionado, sob a alegação de que ninguém frequenta mais de uma vez por semana a igreja. Assim, na maioria dos casos, o que se tem são estimativas, mesmo porque, uma das características destas igrejas é não ter um rol de membros.
O grande número de frequentadores cria várias dinâmicas. Se se atinge a massa crítica de 2000, a força numérica se torna em poderoso fator de atração. Um líder destas igrejas disse que “quando se atinge certo tamanho, a igreja se torna autogeradora: atrai as pessoas por seu tamanho. As pessoas sabem que vão estar na TV e que o lugar é grande. Há uma sensação de que alguma coisa está acontecendo e tamanho gera mais crescimento”.
A grande igreja cria um movimento de atração de outros. Um fluxo de carros de domingo em uma rua tranquila desperta o interesse. Grandes edifícios e amplos estacionamentos marcam presença no entorno.
Muitas vezes não é apenas o tamanho que caracteriza a megaigreja. A maioria experimenta crescimento rápido ao longo de um período de tempo muito curto. É "sucesso instantâneo" que muitas vezes define uma megaigreja na ecologia religiosa. Este aumento explosivo define esta congregação para além de outras opções espirituais da comunidade. Elas são igrejas dependentes da figura de um líder, muitas vezes autocrático. Ele é a cara visível da igreja e é conhecida como a “igreja do fulano”.
Considerados estes fatores, algumas perguntas se impõem: são as megaigrejas verdadeiras igrejas? Se a essência da igreja cristã é a comunhão, que comunhão há entre duas, três, quatro mil pessoas? Elas são congregações ou auditórios? O que prevalece é o estilo de vida simples ou o espalhafato tecnológico? A adoração genuína ou o show dos “modernos levitas?”
Marcos Inhauser