O escritor/pregador/sábio do livro de Eclesiastes, é assim
chamado no hebraico. Determinar quem era ele é coisa quase impossível, ainda
que muitos creiam ser Salomão, já velho, depressivo e desesperançado. Há no
livro um refrão: “É ilusão, é ilusão, diz o Coelet. Tudo é ilusão. A gente
gasta a vida trabalhando, se esforçando e afinal que vantagem leva em tudo
isso? ... o mundo continua sempre o mesmo. O sol continua a nascer, e a se pôr,
e volta ao seu lugar para começar tudo outra vez. O vento sopra para o sul,
depois para o norte, dá voltas e mais voltas e acaba no mesmo lugar. Todos os
rios correm para o mar, porém o mar não fica cheio. A água volta para onde
nascem os rios, e tudo começa outra vez. Todas as coisas levam a gente ao
cansaço—um cansaço tão grande, que nem dá para contar. ... O que aconteceu
antes vai acontecer outra vez. O que foi feito antes será feito novamente. Não
há nada de novo neste mundo.”
O Coelet me dá a garantia de que há uma espiritualidade da
depressão ou da desesperança. E ando com ela estes dias, provocada e alimentada
pelo noticiário político e policial brasileiro. Já me entusiasmei com alguma
aparente novidade que a Lava Jato estaria trazendo, mas se considero as penas
até aqui impostas, concluo que há premiação em ser criminoso e que o crime
compensa. O Sérgio Machado está em prisão no palacete que tem em Fortaleza. O
Delcídio passou um mês se esfalfando na praia, com direito a fotos no Facebook.
O Paulo Roberto , o Yussef, o Cerveró, o Barusco, e outros mais já estão em
casa.
Mas, a minha maior decepção tem sido o STF. Tenho ficado
indignado, irritado e desesperançado com os narcisos do STF: Gilmar Mendes,
Lewandovsky e Marco Aurélio. Não podem ver uma luz que pensam que é holofote e
já saem a dar entrevistas e fazer afirmações enviesadas. Eles me dão a
impressão que agem com a seguinte máxima: o que posso fazer/dizer que vai me
colocar na mídia? Agora vem mais um para disputar as luzes: Alexandre de
Moraes.
Outro que tem me decepcionado é o tal do decano. Por ser o
mais antigo eu esperava, que fosse mais sensato e menos dado a malabarismos.
Qual o quê. O Celso de Mello atravessou alinha da sensatez ao dar o voto no
caso da linha sucessória (o caso em que o Renan seria impedido de assumir a
presidência), dizendo que ele estaria impedido, mas que continuaria na
Presidência do Senado. Uma decisão salomônica: cortou o filho ao meio! Depois,
quando teve que julgar o foro privilegiado do Moreira Franco, contrariando o
que já havia sido decidido anteriormente sobre o caso Lula, elaborou uma
sentença rococó, que exigiu a ciência da hermenêutica jurídica para entender o
que disse e no final, decidiu mantê-lo no cargo, mas passível de deliberação
pelo plenário do STF. Outra decisão salomônica!
Morreu o Teori Zavaski. Ainda fico me perguntando como uma
figura do naipe dele, com a importância que tinha no cenário brasileiro, se
mete a viajar em um avião de um amigo, com duas desconhecidas, para ir a uma
cidade cujo aeroporto não tem aparelhagem adequada. No lugar dele o
sorumbático/errático presidente nomeia a pessoa que se encarregou de colocar na
cadeia quem chantageou a esposa. É o exercício da gratidão! Um futuro ministro
do STF galgado pelo agradecimento.
Para não me delongar mais, a sabatina do Alexandre de Moraes
no Senado, em uma CCJ presidida pelo monge das virtudes políticas, enrolado até
ao pescoço em denúncias várias, com a parceria de seus filhos, é uma encenação.
As cartas estão marcadas. Vão perguntar o óbvio, ele vai responder como querem
ouvir, receberá os elogios dos sabatinadores e as críticas de uns poucos, para
dar a aparência de democracia.
Concluo com o Coelet: “Todas as coisas levam a gente ao
cansaço—um cansaço tão grande, que nem dá para contar. ... O que aconteceu
antes vai acontecer outra vez.” E está acontecendo hoje.
Marcos Inhauser