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terça-feira, 3 de maio de 2011

BANCOS E BANCOS

Na minha recente viagem à República Dominicana por algumas vezes tive que ir a uma agência bancária, acompanhando a pessoa que me hospedava. Confesso que fiquei surpreso e não pude deixar de considerar as diferenças entre o que vi e o que sofro. A agência, de padrão médio no seu tamanho, tinha 14 caixas, com operadores em todos eles. Não havia ninguém na fila, quatro dos operadores estavam atendendo clientes e os outros 10 estavam esperando clientes. Em uma das vezes fiquei mais de duas horas esperando a solução de um problema de transferência internacional de dinheiro e não vi, em nenhum momento, formar-se fila para o atendimento. Logo que chegamos à agência, meu amigo, um estadounidense, me informou que eu deveria tomar um café na agência, porque era o melhor que ele já havia tomado. Achei que era uma cafeteria interna que cobrava pelo café servido. Qual nada. Era café servido gratuitamente aos clientes. O estacionamento amplo era gratuito. Não havia a maldita porta giratória, mentira de detecção de metais existente na grande maioria das agências, que se trava segundo a vontade de um mal treinado segurança. Na verdade as portas giratórias detectam negros e mulheres, quase sem exceção parados e depenados de seus pertences antes que possam entrar. Um amigo, não dominicano e não cliente do banco, precisava trocar um cheque em dólares para ter algo para gastar em moeda nacional. O banco girou o cheque sob a garantia do gringo que era cliente. E pagaram a cotização corrente, sem taxas ou outras cobranças subreptícias. A transferência internacional de recursos para que a Conferência se realizasse se deu em menos de uma hora. Ontem tive que ir a três agências bancárias brasileiras, de três bancos diferentes, dois estatais e um privado. Em todos eles só haviam três ou quatro caixas. Em um deles os três existentes estavam com operadores, mas que, quando perceberam que a fila diminuiu, passaram a fazer outras coisas e não atenderam mais, como se houvesse um número mínimo de clientes que devem ficar na fila, não importa o motivo. Nos outros dois, no que pese haver quatro caixas, em um não havia operador em um deles e no outro faltavam dois. A razão alegada quando perguntei, era que estavam em horário de almoço, no que pese ser este um dos horários de maior quantidade de clientes. Demorei em um deles 35 minutos para ser atendido. No outro, não havia dinheiro no caixa eletrônico dentro da própria agência!!! Na minha frente havia um correntista tentando sacar um cheque próprio que era de outra agência e não lhe permitiram. Um título vencido só podia ser pago no banco emissor do bloqueto, no que pese a existência do código de barras, uma câmara de compensação de títulos e as instruções sobre multas e juros. Não havia café, o banheiro, se existe, só um iluminado é quem sabe onde fica, o estacionamento é pago. E quando recebo o extrato, percebo que fui tungado em taxas e tarifas que só um iniciado em siglas e mutretas consegue entender. Há bancos e bancos. No Brasil eles colocam bancos para a gente esperar sentado. E nós bancamos os maiores lucros da banca internacional.

CIDADES DE PAZ

Estou aqui na República Dominicana para a Conferência de Igrejas Históricas da Paz, que reúne as três famílias denominacionais de igreja que historicamente tem trabalhado pela paz: a Irmandade, os Quáqueros e os Menonitas. Gente vinda de 19 países se reuniu aqui naquilo que foi o berço da mal denominada colonização da América, quando em 1492, os espanhóis aqui chegaram e daqui se esparramaram pelo Continente, levando a cruz e a evangelização, e com ela a violência e a exploração. Nesta terra das Américas muito se fez que atentou contra a paz, nos níveis individuais, familiares, sociais, religiosos. Ouro foi levado aos montes para a Europa e populações inteiras de indígenas foram dizimadas, como o que ocorreu em Cuba e República Dominicana, e outros poucos sobraram em outros países. Nesta América se teve a primeira nação livre e negra, o Haiti, formada por escravos que haviam sido trazidos para as plantações de cana. Chama atenção o fato de, no que pese o fato de ser a mais antiga nação livre da América e quase totalmente negra, é até o hoje a mais pobre desta América. Não posso deixar de mencionar que sempre achei que esta situação se deve à discriminação racial que se fez e faz em relação a esta nação. Uma coisa me chamou a atenção: o nível de violência nas cidades latino americanas, os mais altos do mundo. Em parte isto de deve ao tráfico, em parte à corrupção, em parte a uma cultura de violência em que fomos criados e que se perpetua nos meios de comunicação. Mas não poderia deixar de mencionar e ressaltar que também isto se deve à omissão das igrejas que tem pregado um evangelho alienante e alienado, insistindo na salvação das almas e na prosperidade mágica, mas deixando de lado o cerne de que o evangelho é boa nova de paz. João Driver, teólogo latino americano que tem se notabilizado por sua contribuição sobre a teologia da paz, afirmou aqui nesta Conferência: “se o que pregamos não é o evangelho da paz, não pregamos evangelho algum”. E esta paz não é só a paz com Deus, mas a paz que se estende ao próximo e estabelece novas relações, elimina barreiras, quebra inimizades, perdoa ofensas e dívidas. Queremos que nossas cidades tenham paz e para tê-la precisamos pregar a paz que o evangelho traz, perdoar e restabelecer relações. Não é uma questão de prosperidade: é uma questão de acabar com a inimizade.

POR QUE, VOVÔ?

Dia destes sai com meu neto para ir ao mercadinho e andamos pela rua até lá. Ao caminhar, passamos por um local onde pessoas se sentam debaixo de uma árvore para almoçar. No local havia papel, marmitex e garrafa pet jogados ao léu. Ele ficou indignado e me perguntou: “por que as pessoas sujam o planeta? Será que eles não sabem que isto faz mal para eles e para os outros? Custa muito colocar as coisas no lixo?” Mal tinha acabado de me perguntar estas coisas, ele pegou a garrafa pet na mão. Eu perguntei o que iria fazer com ela, ao que me respondeu: ”encontrar um lixo para jogar”. Devo alertar que se trata de uma criança de cinco anos. O fato me fez refletir e concluir algumas coisas. A primeira delas é que há escolas que estão seriamente empenhadas em ensinar seus alunos a considerar a questão do lixo, da poluição e da ecologia. Graças a Deus ele participa de uma destas escolas. A segunda é que estes temas não passavam nem ao longe das temáticas que foram abordadas no meu tempo de escola, em nenhum dos graus que cursei, nem mesmo no mais recente, quando do doutorado. A terceira é que, graças a Deus, há uma nova mentalidade que vem surgindo e ganhando corpo nas novas gerações. Meu neto não é caso isolado. Em muitas oportunidades vi reportagens sobre escolas que estão trabalhando seriamente a temática, crianças que estão crescendo com consciência ecológica, pais conscientes que estão passando isto aos filhos. A quarta é que há na nova geração uma crítica ao comportamento de adultos que não tem tal consciência. Ele logo perguntou, em tom acusatório, sobre a irresponsabilidade dos que ali fazem seu tempo de descanso diário. Se até a algum tempo os valores que os pais deviam deixar aos seus filhos e netos era a honradez, honestidade e trabalho, hoje, além destas há o cuidado ecológico. As novas gerações, em um tempo não muito no futuro, vão olhar o estrago que estamos fazendo e vão nos acusar de ter destruído o planeta, inviabilizando a vida saudável dele e deles. Confesso que me arrepia pensar no mundo em que meus netos vão viver quando adultos. Dois estão morando em Beijing, uma das cidades mais poluídas do mundo. É verdade que o governo está tentando fazer algo para reverter o quadro (eu já escrevi sobre isto aqui nesta coluna). Os outros dois estão vivendo em Valinhos, menos poluído. Mas o que será do mundo deles daqui a 20 anos? Se nossos filhos e netos nos acusarem de irresponsabilidade, a carapuça estará na medida exata da nossa cabeça, porque muito pouco estamos fazendo para minorar o dano.

terça-feira, 1 de março de 2011

POR QUE, VOVÔ?

Dia destes sai com meu neto para ir ao mercadinho e andamos pela rua até lá. Ao caminhar, passamos por um local onde pessoas se sentam debaixo de uma árvore para almoçar. No local havia papel, marmitex e garrafa pet jogados ao léu. Ele ficou indignado e me perguntou: “por que as pessoas sujam o planeta? Será que eles não sabem que isto faz mal para eles e para os outros? Custa muito colocar as coisas no lixo?” Mal tinha acabado de me perguntar estas coisas, ele pegou a garrafa pet na mão. Eu perguntei o que iria fazer com ela, ao que me respondeu: ”encontrar um lixo para jogar”. Devo alertar que se trata de uma criança de cinco anos. O fato me fez refletir e concluir algumas coisas. A primeira delas é que há escolas que estão seriamente empenhadas em ensinar seus alunos a considerar a questão do lixo, da poluição e da ecologia. Graças a Deus ele participa de uma destas escolas. A segunda é que estes temas não passavam nem ao longe das temáticas que foram abordadas no meu tempo de escola, em nenhum dos graus que cursei, nem mesmo no mais recente, quando do doutorado. A terceira é que, graças a Deus, há uma nova mentalidade que vem surgindo e ganhando corpo nas novas gerações. Meu neto não é caso isolado. Em muitas oportunidades vi reportagens sobre escolas que estão trabalhando seriamente a temática, crianças que estão crescendo com consciência ecológica, pais conscientes que estão passando isto aos filhos. A quarta é que há na nova geração uma crítica ao comportamento de adultos que não tem tal consciência. Ele logo perguntou, em tom acusatório, sobre a irresponsabilidade dos que ali fazem seu tempo de descanso diário. Se até a algum tempo os valores que os pais deviam deixar aos seus filhos e netos era a honradez, honestidade e trabalho, hoje, além destas há o cuidado ecológico. As novas gerações, em um tempo não muito no futuro, vão olhar o estrago que estamos fazendo e vão nos acusar de ter destruído o planeta, inviabilizando a vida saudável dele e deles. Confesso que me arrepia pensar no mundo em que meus netos vão viver quando adultos. Dois estão morando em Beijing, uma das cidades mais poluídas do mundo. É verdade que o governo está tentando fazer algo para reverter o quadro (eu já escrevi sobre isto aqui nesta coluna). Os outros dois estão vivendo em Valinhos, menos poluído. Mas o que será do mundo deles daqui a 20 anos? Se nossos filhos e netos nos acusarem de irresponsabilidade, a carapuça estará na medida exata da nossa cabeça, porque muito pouco estamos fazendo para minorar o dano. Marcos Inhauser

A DILMA OU A LULA

A eleição da Dilma para a presidência, por suas características e apadrinhamento, impõe a pergunta: o que elegemos? Uma mulher com identidade política própria ou uma versão Lula de saias? Ao prestar-se atenção às falas do Lula durante o período da campanha, a dúvida permanece e se exacerba, vez que usou frases como: “vou viajar o Brasil e o que eu perceber que não está certo, vou pegar o telefone e dizer prá Dilma – você precisa acertar isto”; “vou colar a faixa presidencial no meu corpo”; “não vou entregar a faixa presidencial à sucessora”. Com estas e outras que poderiam ser aqui elencadas, fica a certeza de que ele terá um longo e doloroso processo de esvaziamento da figura que incorporou como poucos: a de ser o presidente. Ele gostou da coisa e não vai largar assim tão fácil. O discurso da Dilma logo após a eleição é emblemático e enigmático: emblemático porque procurou se apresentar-se como mulher que conduzirá a nação, mas ao mesmo tempo é conhecida e reconhecida como gerentona, uma característica bastante masculina. Disse que vai dar continuidade à obra iniciada pelo Lula, se emocionou ao agradecer a ele o tempo de trabalho conjunto, exaltou-o ao ponto de o colocar como sábio, e que vai bater à sua porta muitas vezes. Ela assim revela um regime de codependência. O noticiário, por sua vez, vem dizendo que o Lula já está interferindo na escolha de ministros, sugerindo a permanência do Mantega e Meirelles, e talvez o Haddad. Ela, por sua vez, diz que só comunicará o seu ministério depois de conversar com o presidente, o que significa que ele vai interferir, ou no mínimo participar, do processo de escolha. Tantos sinais ambíguos geram incertezas e inseguranças, além da tremenda incógnita. Elegemos a Dilma ou a Lula? Só o tempo dirá. Mas um sinal para mim ficou evidente: no seu discurso logo após a eleição ela falava ladeada por homens. A única mulher que ali estava era uma ilustre desconhecida (ao menos para mim). Isto me indica que o governo da Dilma pode até ser presidido por uma mulher, mas ladeado de homens, que certamente terão papel preponderante e marcante no estabelecimento das políticas. Um deles vai coordenar o processo de transição (um que renunciou por causa de um escândalo) e o outro vai negociar com homens, donos dos partidos da coalizão, os nomes para compor os primeiro e segundo escalões e que, com toda certeza serão em sua grande maioria formado de homens. Assim, a primeira presidente do Brasil, vai ser mais enfeite feminino em um governo masculino. Marcos Inhauser

DOIS A MAIS OU A MENOS

Nestes dias de campanha eleitoral e profusão de pesquisas, o brasileiro viu incorporar-se ao vocabulário a expressão “margem de erro de dois pontos porcentuais para mais ou para menos”. Na esteira deste jargão pseudocientífico há duas linhas gerais de comportamento. A primeira delas quer nos passar a idéia da cientificidade das pesquisas, a exatidão dos cálculos e da capacidade previsora de tais dados. Baseados em dados coletados ao longo de anos de pesquisa, tabulados e calculados segundo algoritmos próprios, cada instituto busca a maior exatidão possível, medida pelo diferencial entre os dados levantados e os oriundos das urnas. Tal exatidão às vezes aparece (considerados os pontos da margem de erro) e outras foge à realidade. Isto, no caso mais recente e evidente, foi a eleição do senador Aloysio Nunes, que estava em terceiro lugar nas pesquisas e veio a ser o mais votado. De outro lado, há os que veem as pesquisas como meio de manipulação da opinião pública com o objetivo de levar a massa a votar no candidato que mais chances tem de ganhar, uma vez que há em muitos o desejo de “não perder o voto”, como se eleição fosse uma loteria ou campeonato. Para estes há que se considerar que tais pesquisas são contratadas a peso de ouro, cujos contratantes são, via de regra, pessoas ou grupos interessados nos resultados das eleições. Neste contexto, causa profunda estranheza a recente pesquisa divulgada nesta terça, dando conta que a candidata tem margem de 12 pontos em relação ao concorrente. Tal número destoa de pesquisas feitas por outros institutos e de maneira alarmante, uma vez que, em prazo de dias, a candidata consegue uma margem positiva de 6 a 8 pontos sobre o adversário. A ser verdade, o que teria acontecido de tão significativo que justificasse tal salto? Nada que se tenha notícia. Na guerra pelo voto, está valendo qualquer coisa. Desde panfleto assinado por bispo católico condenando o aborto e quem tem uma posição minimamente favorável, a pastores Malafala e Wellington Bezerra pedindo votos (de graça que não foi), a demonização das privatizações, alegada incompetência por ter fechado um negócio de 1,99, etc. Por que não usar também métodos “científicos” para confundir a opinião pública? Que mal há em uma pesquisa com margem de erro fora do padrão? Se mais tarde for comprovada a intenção em apresentar dados não comprovados nas pesquisas, isto não tirará a vitória e diplomação do/a eleita. E assim ficamos, nós os que votamos, como massa de manobra de políticos e marqueteiros inescrupulosos. Marcos Inhauser

GOVERNO DILCEU

Reveladora e pouco divulgada a fala do Zé Dirceu a sindicalistas na Bahia, quando explicou qual é o propósito do PT em um governo da Dilma. O evento ocorreu no dia 13 de setembro de 2010. Reproduzo alguns trechos. “A eleição da Dilma é mais importante do que a ... do Lula, porque é a eleição do projeto político, ... a Dilma nos representa. A Dilma não era uma liderança que tinha uma grande expressão popular, eleitoral, uma raiz histórica no país, como o Lula ... ela é a expressão do projeto político, da liderança do Lula e do nosso acúmulo desses 30 anos. ... Se ... queremos aprofundar as mudanças , temos que cuidar do partido e ... cuidar dos movimentos sociais, da organização popular ... da consciência política, da educação política e ... das instituições, fazer (a) reforma política e temos que nos transformar em maioria. Nós temos uma maioria para eleger o presidente até porque fazemos uma aliança ampla... (com 0 ) PC do B, PDT, PSB, PMDB, PT, PRB e PR. ... o Lula é maior que o PT. Eles é que não têm ninguém maior que o partido deles. Ainda bem que nós temos o Lula, que é duas vezes maior que o PT. Mas nós temos que transformar o PT num partido ... O PT tem que se renovar, tem que abrir o PT para a juventude. ... Quem pode ter poder? Primeiro o poder econômico, as forças armadas. As forças armadas estão hoje profissionalizadas, o poder econômico se aliou com qual poder? Com a mídia. E qual é o poder que pode se contrapor ao poder econômico e ao poder da mídia no Brasil? É o poder político, que tem problemas graves de fisiologias, de corrupção, tem desqualificação ... “ O que ele não falou claramente neste discurso é que este PT levou e aparelhou o Estado com petistas e sindicalistas. Ele disse que o PT levou sindicalistas para o governo, mas não disse quantos. Estudo feito pela FGV e publicado pelo GLOBO em junho do ano passado identificou que dos ocupantes de DAS 5 e 6 e de cargos de Natureza Especial (NE), 25,9% desses profissionais eram filiados a partidos políticos, sendo que 80% deles declararam ser do PT. No primeiro mandato de Lula, os filiados eram 24,8%. A pesquisa mostra também que há um grande contingente de profissionais com filiação sindical - 45% no primeiro mandato e 42,8% no segundo. Se o governo Lula foi do Lula e o da Dilma vai ser do PT, e se o Estado já está lotado de petistas e sindicalistas, o governo Dilma mais Dirceu, o Dilceu, vai aperfeiçoar a obra de transformar o estado num apêndice partidário. Marcos Inhauser

terça-feira, 5 de outubro de 2010

LULA, O GRANDE PERDEDOR

A opinião é pessoal e certamente não será endossada por muitos. Para mim, o grande perdedor desta eleição foi o gurumór. Ele insistiu em fazer uma eleição plebiscitária e não conseguiu. A terceira via veio de onde ele menos esperava, por uma pessoa que ele “engoliu” enquanto esteve no ministério e só não a colocou fora antes por causa da pressão internacional, dado o respeito que ela tinha. Uma ex-militante petista, que representa O PT não lambuzado com as mazelas de mensalão e Erenices, com um tema que não lhe agrada, vez que, vira e mexe ataca o Ibama por causa das licenças ambientais. Ele fez o PT de Minas engolir uma aliança esdrúxula com o PMDB para assegurar a vitória do Hélio Costa e deu no que deu. Nem o Senador conseguiu fazer. Perdeu de goleada. Ele investiu na candidatura do Mercadante, veio a público e usou da TV para pedir votos, mas não conseguiu fazê-lo passar dos 30% históricos que o PT tem no estado de São Paulo. Ele jogou as fichas na candidatura do Netinho e viu o candidato que estava na ponta, segundo as pesquisas, dançar e ficar em terceiro lugar. Ele jogou todas as fichas na candidatura da Ideli Salvati em Santa Catarina e ela amargou uma derrota acachapante. Investiu no Agnelo Queiroz no DF e, apesar dos escândalos envolvendo o Roriz e a renúncia deste e a substituição por uma candidata laranja, o candidato do PT vai a segundo turno. Pode-se afirmar que ele fez o governador do RS, mas lá, com o desastre da Yeda, qualquer poste falante ganharia a eleição. Ele fez o Jaques Wagner na Bahia, mas me pergunto se a eleição se deu pelo apoio do Lula ou tinha gravidade própria. No Maranhão (estranha aliança com a oligarquia mais longeva deste Brasil, que merece ser estudada por detetives), teve a eleição da Roseana na bacia das almas, assim como também o foi a do Tião Viana no Acre. A pergunta é por que o Lula, com tão alta popularidade, não conseguiu passar este apoio aos seus candidatos? Eu me pergunto: se o Lula estivesse concorrendo a um terceiro mandato, ele teria 80% dos votos. Toda a discussão sobre os Fichas Limpa tem levado mais gente a ficar atenta às denúncias de corrupção e o caso da Casa Civil foi emblemático. Mais do que isto, tenho para comigo que o que tirou votos foi a verborragia presidencial e o ódio destilado contra a imprensa. Foi um tiro no pé. Quero um país com liberdade de expressão e de imprensa e não um país a la Chavez e Castro que determinam o que deve ou não ser publicado. Pela liberdade de imprensa, tantas vezes ameaçada por este governo do PT, voto contra. Marcos Inhauser

terça-feira, 28 de setembro de 2010

JUSTIÇA ELENTORAL

Estamos no imbróglio jurídico. A Suprema Corte gastou um baita tempo para não decidir nada. Demorou para tratar do recurso impetrado pelo Roriz e quando o considerou, não chegou a lugar nenhum. Repetiu-se na suprema casa o que vem acontecendo nas instâncias inferiores, quando já tivemos eleitos que foram cassados no final de um mandato que nunca poderiam ter assumido. Esta vagareza jurídica, associada aos meandros advocatícios e a infinidade de recursos e truques para delongar a sentença final tem dado ao povo brasileiro um senso de balbúrdia jurídica. Mesmo uma lei que foi sancionada sob demanda de quase dois milhões de assinaturas, com a pressão feita aos parlamentares, houve um estratagema malicioso de trocar uma única palavra no texto aprovado pela Câmara, coisa que jogou areia na farofa da festa que se queria fazer com a lei da Ficha Limpa. Não é a primeira vez que os espertalhões colocam vírgulas ou palavras de sentido dúbio com o objetivo de não fazer a “lei pegar”. Isto não é novidade, uma vez que o Jobim veio a público dizer que, como relator da Constituição de 88, enxertou nela coisas não aprovadas pelo Congresso. E em casas com várias centenas de “atos secretos”, não se pode esperar transparência. Aliado ao impasse, ao menos para mim, veio a confirmação da suspeita de que os notáveis inventores de sentenças atravessadas, Gilmar Mendes, Toffoli e Marco Aurélio Mello, e o também promulgador geral de habeas corpus (Gilmar Mendes), não frustariam àqueles que esperavam ver o STF dar corda às candidaturas suspeitas. Por outro lado, o presidente, acertadamente não deu o voto de minerva, mas também, e equivocadamente, não proclamou o que deveria proclamar, que a decisão da instância inferior deveria prevalecer. A lentidão que este processo revela há também a não menos tartaruguice do grumór, quem deveria, em agosto, ter indicado o substituto do Eros Grau e não o fez. Tudo indica que não o fez por conveniência política, para deixar ao próximo presidente, que ele tem certeza será a Dilma (eu tenho minha dúvidas), escolher quem lhe poderia facilitar a vida, tal como aconteceu com a última indicação do notável saber jurídico do antigo advogado de sindicatos. Com esta e mais aquelas, sugiro que se troque o nome de Justiça Eleitoral para Justiça É-lento-ral. Seria mais justo com a velocidade com que julga as coisas. Marcos Inhauser

QUARENTA ANOS DEPOIS

No último sábado tivemos a reunião celebrativa dos quarenta anos de formatura no Colégio Culto à Ciência, que ocorreu no dia 7 de dezembro de 1970. Os antigos adolescentes meio virando jovens alí estavam, com o mesmo pique de outrora, relembrando antigas façanhas e traquinagens. Creio que não há quem participe destes eventos de rever velhos amigos que não tenha a atitude inconfessa de olhar para os outros e ver o quanto o tempo afetou a anatomia de cada um. É impressionante a capacidade que o tempo tem de presentear com barrigas, roubar ou tingir de prata os cabelos. Uma constatação empírica é que o tempo é muito mais cruel com os homens que com as mulheres. Elas ali estavam sem grandes mudanças quanto ao que eram. A reunião comemorativa trouxe-me, além da alegria de rever amigos e reviver momentos ímpares da vida, a surpresa ao ver que todos podíamos, quarenta anos depois, ainda cantar de memória o hino do nosso colégio. Isto mostra que o Culto à Ciência foi algo marcante na vida dos que ali tiveram a oportunidade de estudar. Digo isto porque por muitas vezes eu afirmei a amigos e conhecidos que tive a honra de ter sido o pior aluno de uma das melhores classes brasileiras do Científico. O CECC era referência, padrão de educação para outros, ali estavam os melhores professores e o ingresso se dava por um vestibulinho. E até hoje não entendo como consegui fazer parte desta turma. Nas conversas recordamos professores, seus modos e tiques. Não podíamos deixar passar as recordações do Milton Urubu e seu indefectível terno preto que, segundo a lenda, vinha sozinho ao Colégio, tão acostumado estava. Outro tema constante foram os antigos comerciais, produtos e guloseimas. Falamos de Glostora, Óleo de Quina de Petróleo, Conga, Xarope São João, Grapette, Pasquim, entre tantas outras coisas. Ali sentado e conversando eu me perguntava aos botões: haverá este tipo de comemoração para a geração que hoje está se formando no segundo grau? Não tenho muita vivência nas escolas de hoje para aquilatar com precisão, mas tenho a impressão de que hoje os alunos não tem mais este sentido de pertencimento ao Colégio onde estudam, a escola não é mais tão marcante como o foi na década de 70. Passar de ano era uma façanha digna de comemorações etílicas. Nem passava pelas nossas cabeças a tal da aprovação automática. Colar nas provas era uma engenharia digna de filmes de 007. Tirar boas notas era façanha a ser conquistada a cada mês em todas as disciplinas. Não quero ser saudosista, mas o sendo: já não se fazem professores, diretores e Colégios como os que tivemos no CECC nos 60 e 70! Marcos Inhauser