Leia mais

Há outros artigos e livros de Marcos e Suely Inhauser à sua disposição no site www.pastoralia.com.br . Vá até lá e confira

Mostrando postagens com marcador esperança. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador esperança. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

ESPERANÇA SOLIDÁRIA

Se há uma coisa que todos temos na virada deste ano é a esperança. É verdade que toda regra tem sua exceção e a chacina em Campinas foi a ação de um desesperançado.
Depois de um ano cheio de sobressaltos e apertos, muita gente querida morrendo, nada mais lógico e natural que querer de que este novo ano nos dê a esperança de que será melhor. No entanto, a esperança é subversiva. Ela faz uma crítica ao presente e pensa o amanhã diferente. Ao questionar o presente, os que dele tiram seu proveito, especialmente pelas vias escusas da propina e corrupção, se sentem ameaçados. Usam dos meios que dispõem para preservar o status quo, seja promulgando leis que só atendem aos seus interesses ou prolatando sentenças monocromáticas que permitem a um preso sair da cadeia para tomar posse como prefeito ou vereador.
Se a sociedade permanece alienada e não reage a estas situações, por melhores e mais bem fundadas que sejam suas esperanças, elas se tornarão em desesperança a curto prazo. Para que a esperança prospere, temos que levar em conta que os atos de esperança não estão fundados na análise dos passos pretéritos, no que fiz ou fizemos ontem. O que move para a concretização é a visão do futuro, a qual gera a dinâmica de atuação no presente. É a u-topós que se busca, no melhor sentido do ainda-não-dado, a utopia.
Por paradoxal que possa parecer, são os que mais sentiram a desesperança os que têm maior força e vitalidade na construção da esperança. Ela não é construída pelos que estão acomodados com o presente, pelos abonados ou alienados. Só os que sentiram na carne a fome, a injustiça, a opressão, a malandragem, a extorsão, podem dar musculatura e ossos à esperança. Conservadores não têm esperança porque ela é o amanhã e eles só querem preservar o hoje. Conservadores estão contentes com o que têm, mas os desesperançados não querem continuar a viver nesta condição. Daí a semente da esperança e da u-topia.
A esperança nasce do discurso que contagia. Não pode ser solitária, mas coletiva e a transformação do solitário em coletivo se dá pela pregação do sonho. Só sonhamos o amanhã quando, ao trocar ideias sobre o presente e analisar em conjunto, em um processo de hermenêutica comunitária do presente, nos damos conta de que precisa ser mudado e o amanhã sonhado e construído. Esperança solitária é planta que nasce e morre com o primeiro sol. A esperança solidária é árvore que sobrevive às intempéries.
A esperança solidária é dinâmica na medida em que é processual, porque é construída na caminhada. Uma esperança rígida nos seus detalhes é suicida. Talvez este tenha sido o erro de Marx e muitos marxistas. O futuro tinha que ser só do jeito que sonharam.
Um dos problemas com os cristãos é que eles têm sua esperança engessada: sabem com detalhes como será o amanhã, se há tribulação antes, no meio ou depois, se vão viver no céu ou na Jerusalém celestial, se vão reconhecer amigos na eternidade, se vão cantar hinos ou morar em palacetes. A esperança de muitos é “sair-deste-mundo”, mas se esquecem que o mandato de Jesus é “ir-ao-mundo” para ser sal da terra e luz do mundo. Na oração do Pai Nosso nos ensinou a pedir “venha o Teu reino”, mas muitos oram “leva-me para o Teu Reino”.
Como cristãos vivemos entre-mundos: o paraíso perdido e a morada futura. Voltar ao passado é suicídio, porque impossível. Viver o presente é suicídio porque opressivo e injusto. Sonhar e construir o futuro, mudando hoje a mim e ao meu entorno é vida. Não haverá amanhã se todos os dias continuo igual.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O NOVO ANÊMICO


Dizem que os ditados traduzem a sabedoria popular. Eu acho que também servem para consolidar o senso comum. Um deles tem para mim mais cheiro de senso comum que de sabedoria: “ano novo, tudo novo”. Uma variação dele é “ano novo, vida nova”.

No Brasil de hoje e deste final de ano, tenho minhas restrições em pensar que a magia de cruzar a meia noite de um dia para outro seja suficiente para que coisas novas aconteçam. Bem que eu gostaria que isto acontecesse, mas a meu espírito mais cético que esperançoso me faz a advertência: “devagar com o andor porque o santo é de barro”.

Como esperar vida nova e tudo novo diante do cenário político e econômico que estamos encerrando o ano? Há mágica que dê conta de transformar tudo com a passagem do ano? É ato de fé esperar um milagre neste cenário?

Vamos lá. Não fosse um profeta Jeremias, talvez eu me encorajasse a pensar que um milagre poderia acontecer. No que pese a misericórdia de Deus, ele castigou o seu povo por causa das perversidades, mentiras, corrupção de sacerdotes e reis (e seus asseclas). A idolatria grassava solta em Israel e ele deixou que o curso da história seguisse e o povo colhesse os frutos de suas loucuras. Foram castigados pelo seus próprios atos desvairados.

É verdade que está ruim com o PT, mas será muito pior com o PMDB! Olhe para as lideranças destes dois partidos e se verá uma penca de gente acusada e sendo investigada por mal feitos na administração da res pública que eles insistem em tratar como se fosse “res própria”. Quem os colocou lá? O povo através do voto. Se eles agem indevidamente o fazem porque tiveram seus mandatos renovados, no que pese as acusações que sobre eles pesavam. Exemplos? Collor, Jader, Renan, Cunha, Lobão, Jucá, Maluf, para citar só os mais notórios. Se o povo insiste em escolher raposas para cuidar do galinheiro público, que moral tem para agora criticar e pedir a intervenção divina? Se não foram fieis no pouco, com certeza se locupletarão no muito. E é o que fizeram.

Confesso que chego às portas do novo ano com uma esperança prá lá de anêmica. Sempre brinquei com uma frase que parece que se aplica a este momento: “dias piores virão”. Não acredito que algo espetaculoso ou milagroso possa acontecer, haja visto as manobras do Temer se associando ao Cunha contra o Renan, a troca do ruim pelo péssimo na economia, a judicialização do legislativo, a legisferante atividade do STF, as infelizes declarações do Falcão no exercício da presidência do PT, as intervenções inadequadas e impróprias do ex-presidente que ainda acha que é, a demora em se tomar providências mais robustas contra o Collor, o Renan, o Lobão, o Jader, etc.

Lembro-me de uma frase de Paulo na sua carta aos Romanos, referindo-se a Abraão: “em esperança, creu contra a esperança”. Outra na mesma carta: “se espero o que vejo, isto já não é esperança”.

O que vejo, entendo e prognostico como inevitável me coloca na categoria do cético absoluto. Tenho fé em um Deus que, no que pese as nossas barbaridades, pode vir e intervir na nossa história. Como Gideão, estou em uma prova de fé. Não vejo saída, mas a fé me coloca uma nesga de esperança. Anêmica é verdade, mas é fé.

Marcos Inhauser


terça-feira, 13 de novembro de 2012

SINAIS DE ESPERANÇA?


Não tenho vocação para Poliana (a famosa protagonista da obra de Eleanor H. Porter que via tudo “cor de rosa”). Estou mais para o cético que duvida de tudo, no que pese o fato de ser uma pessoa de fé. Até no campo da fé tenho minhas dúvidas e duvido das teologias que tem amplo apoio popular, porque, como aprendi com Taleb (A Lógica do Cisne Negro), o senso comum e as verdades maciçamente aderidas tem grande chance de ser erro.
Ademais, como colunista (não sei se sou colunista por ser crítico ou se critico por ser colunista – uma questão shakespeariana), aguço meus olhos e senso crítico para, neste espaço, questionar certos senso comuns e verdades palacianas. Tenho uma forte influência do Foucault, pois creio que a verdade é a versão dos vitoriosos. A dos perdedores é a sub-versão. Talvez por isto eu admire e creia na Bíblia, pois é a memória histórica dos vencidos, dos pobres, da periferia.
Devo dizer que nestes dias ando meio de ressaca neste meu ceticismo. Há uma série de coisas que me fazem crer que algo novo anda acontecendo. Estou com o profeta Isaías quando diz: “Eis que estou a fazer uma coisa nova na terra, que logo vai acontecer, e, de repente, vocês a verão. Prepararei um caminho no deserto e farei com que estradas passem em terras secas” (Is 43:19).
Digo isto por uma série de acontecimentos que se deram nestes tempos e que, para mim, são sinais alentadores.
Um deles (já mencionado por mim neste espaço) é o julgamento do Mensalão e nesta semana a condenação do Dirceu, Genoíno e Delúbio. Como a grande maioria dos brasileiros, tinha meus receios de que a coisa acabaria em pizza. Ao ver a atuação do Toffoli e Lewandovski, temi pelo pior. Depois de salutares bate-bocas e até a saída do plenário do ministro revisor (o que evidencia, como bem disse o Ayres Brito, que não há conchavos ou acertos por baixo do pano), tem-se a condenação de um modelo de fazer política. Como bem lembrou um dos ministros (que não me recordo quem foi), o esquema quadrilheiro inviabilizava um dos poderes da República ao cooptar, mediante pagamentos, o livre exercício do legislativo. Aliado ao fato de que a cúpula do PT tem se dedicado a criticar o STJ e a mídia (para alguns, o quarto poder) percebe-se a vocação totalitária desta casta petista. Só o Executivo comandado por eles é que é legítimo. Com o perdão do trocadilho, não era Genuíno, era Genoíno!
As virgens impolutas da ética política (nos tempos de oposição) se mostraram as prostitutas babilônicas nos tempos de reinação (no sentido ambíguo do termo): reinar = governar e reinar = brincadeira infantil em que se desafiam deliberadamente regras de comportamento estabelecidas ou certos limites impostos; travessura; traquinice.
Tal como alguns salmistas, eu me alegro com a derrota dos opressores e corruptos. Vou soltar rojão quando vir esta gente atrás das grades, porque meteram a mão no meu e no nosso dinheiro.
Marcos Inhauser