Dizem que os ditados traduzem a sabedoria popular. Eu acho que
também servem para consolidar o senso comum. Um deles tem para mim mais cheiro
de senso comum que de sabedoria: “ano novo, tudo novo”. Uma variação dele é
“ano novo, vida nova”.
No Brasil de hoje e deste final de ano, tenho minhas
restrições em pensar que a magia de cruzar a meia noite de um dia para outro
seja suficiente para que coisas novas aconteçam. Bem que eu gostaria que isto
acontecesse, mas a meu espírito mais cético que esperançoso me faz a advertência:
“devagar com o andor porque o santo é de barro”.
Como esperar vida nova e tudo novo diante do cenário político
e econômico que estamos encerrando o ano? Há mágica que dê conta de transformar
tudo com a passagem do ano? É ato de fé esperar um milagre neste cenário?
Vamos lá. Não fosse um profeta Jeremias, talvez eu me
encorajasse a pensar que um milagre poderia acontecer. No que pese a
misericórdia de Deus, ele castigou o seu povo por causa das perversidades,
mentiras, corrupção de sacerdotes e reis (e seus asseclas). A idolatria
grassava solta em Israel e ele deixou que o curso da história seguisse e o povo
colhesse os frutos de suas loucuras. Foram castigados pelo seus próprios atos
desvairados.
É verdade que está ruim com o PT, mas será muito pior com o
PMDB! Olhe para as lideranças destes dois partidos e se verá uma penca de gente
acusada e sendo investigada por mal feitos na administração da res pública que eles insistem em tratar
como se fosse “res própria”. Quem os
colocou lá? O povo através do voto. Se eles agem indevidamente o fazem porque
tiveram seus mandatos renovados, no que pese as acusações que sobre eles
pesavam. Exemplos? Collor, Jader, Renan, Cunha, Lobão, Jucá, Maluf, para citar
só os mais notórios. Se o povo insiste em escolher raposas para cuidar do
galinheiro público, que moral tem para agora criticar e pedir a intervenção
divina? Se não foram fieis no pouco, com certeza se locupletarão no muito. E é
o que fizeram.
Confesso que chego às portas do novo ano com uma esperança prá
lá de anêmica. Sempre brinquei com uma frase que parece que se aplica a este
momento: “dias piores virão”. Não acredito que algo espetaculoso ou milagroso possa
acontecer, haja visto as manobras do Temer se associando ao Cunha contra o
Renan, a troca do ruim pelo péssimo na economia, a judicialização do
legislativo, a legisferante atividade do STF, as infelizes declarações do
Falcão no exercício da presidência do PT, as intervenções inadequadas e
impróprias do ex-presidente que ainda acha que é, a demora em se tomar
providências mais robustas contra o Collor, o Renan, o Lobão, o Jader, etc.
Lembro-me de uma frase de Paulo na sua carta aos Romanos,
referindo-se a Abraão: “em esperança, creu
contra a esperança”. Outra na mesma carta: “se espero o que vejo, isto já não é
esperança”.
O que vejo, entendo e prognostico como
inevitável me coloca na categoria do cético absoluto. Tenho fé em um Deus que,
no que pese as nossas barbaridades, pode vir e intervir na nossa história. Como
Gideão, estou em uma prova de fé. Não vejo saída, mas a fé me coloca uma nesga
de esperança. Anêmica é verdade, mas é fé.
Marcos Inhauser
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