Não tenho vocação para Poliana (a
famosa protagonista da obra de Eleanor H. Porter que via tudo “cor de rosa”).
Estou mais para o cético que duvida de tudo, no que pese o fato de ser uma pessoa
de fé. Até no campo da fé tenho minhas dúvidas e duvido das teologias que tem
amplo apoio popular, porque, como aprendi com Taleb (A Lógica do Cisne Negro),
o senso comum e as verdades maciçamente aderidas tem grande chance de ser erro.
Ademais, como colunista (não sei
se sou colunista por ser crítico ou se critico por ser colunista – uma questão
shakespeariana), aguço meus olhos e senso crítico para, neste espaço,
questionar certos senso comuns e verdades palacianas. Tenho uma forte
influência do Foucault, pois creio que a verdade é a versão dos vitoriosos. A
dos perdedores é a sub-versão. Talvez por isto eu admire e creia na Bíblia, pois
é a memória histórica dos vencidos, dos pobres, da periferia.
Devo dizer que nestes dias ando
meio de ressaca neste meu ceticismo. Há uma série de coisas que me fazem crer
que algo novo anda acontecendo. Estou com o profeta Isaías quando diz: “Eis que estou a fazer uma coisa nova na terra, que
logo vai acontecer, e, de repente, vocês a verão. Prepararei um caminho no
deserto e farei com que estradas passem em terras secas” (Is 43:19).
Digo isto por uma
série de acontecimentos que se deram nestes tempos e que, para mim, são sinais
alentadores.
Um deles (já
mencionado por mim neste espaço) é o julgamento do Mensalão e nesta semana a
condenação do Dirceu, Genoíno e Delúbio. Como a grande maioria dos brasileiros,
tinha meus receios de que a coisa acabaria em pizza. Ao ver a atuação do
Toffoli e Lewandovski, temi pelo pior. Depois de salutares bate-bocas e até a
saída do plenário do ministro revisor (o que evidencia, como bem disse o Ayres
Brito, que não há conchavos ou acertos por baixo do pano), tem-se a condenação
de um modelo de fazer política. Como bem lembrou um dos ministros (que não me
recordo quem foi), o esquema quadrilheiro inviabilizava um dos poderes da
República ao cooptar, mediante pagamentos, o livre exercício do legislativo. Aliado
ao fato de que a cúpula do PT tem se dedicado a criticar o STJ e a mídia (para
alguns, o quarto poder) percebe-se a vocação totalitária desta casta petista.
Só o Executivo comandado por eles é que é legítimo. Com o perdão do trocadilho,
não era Genuíno, era Genoíno!
As virgens
impolutas da ética política (nos tempos de oposição) se mostraram as
prostitutas babilônicas nos tempos de reinação (no sentido ambíguo do termo):
reinar = governar e reinar = brincadeira infantil em que se desafiam
deliberadamente regras de comportamento estabelecidas ou certos limites
impostos; travessura; traquinice.
Tal como alguns
salmistas, eu me alegro com a derrota dos opressores e corruptos. Vou soltar
rojão quando vir esta gente atrás das grades, porque meteram a mão no meu e no
nosso dinheiro.
Marcos Inhauser