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terça-feira, 10 de agosto de 2010

SINDICALISMO PELEGO

Ficou patente neste primeiro de maio a diferença entre os sindicatos ao redor do mundo e o sindicalismo brasileiro. O noticiário trazia manifestações em várias partes do mundo, todas enfocando direitos e reivindicações dos operários. Talvez, a mais candente delas tenha sido a dos sindicatos gregos que convocaram os operários para protestar contra o anunciado corte de salários e aumento de impostos. Tanto em Atenas quanto em Tessalônica a coisa esquentou nos enfrentamentos entre manifestantes e polícia. Na Espanha a coisa também foi movimentada. Com uma taxa de desemprego nas alturas, sindicatos chamaram às ruas para protestas contra as políticas do governo. Na Alemanha não foi diferente. Lá também a polícia teve de intervir. Países como Portugal, Suíça e Áustria também tiveram suas mobilizações e protestos por conta do dia do trabalho. Aqui, na terra da República Sindicalista, a coisa foi bem diferente. Centrais Sindicais, endinheiradas com o imposto sindical onde cada trabalhador brasileiro, sindicado ou não, contribui compulsoriamente com um dia de trabalho, fizeram festa chapa branca. Financiados por estatais, promoveram shows, sorteios e transformaram o palco das apresentações em palanque de candidatura oficial. O sindicalista-mor foi ao evento e se gabou de “nunca na história um presidente se apresentou em uma concentração de trabalhadores depois de sete anos de governo”. Dinheiro público, via estatais e bancos, pagaram a conta de um sindicalismo que tem seus dirigentes e ex-dirigentes lotados nas Diretorias de Estatais, ganhando polpudos subsídios pela contribuição que dão nestes Conselhos Deliberativos. Tente saber onde estão estes sindicalistas. Vamos a alguns exemplos: Jair Meneguelli ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC foi promovido Presidente do Conselho Nacional do Sesi. Heiguiberto Navarro, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC é assessor do Secretário Nacional de Estudos e Políticas da Presidência da República. João Vacari Neto ex-presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo é membro do Conselho Nacional de Itaipu. Paulo Okamoto, ex-tesoureiro da CUT é presidente do SEBRAE. Luis Marinho, ex-presidente da CUT, acabou virando ministro da Previdência e atualmente é prefeito de São Bernardo. Wilson Santarosa, do Sindicato dos Petroleiros de Campinas, é gerente de comunicação da Petrobrás e membro do Conselho Deliberativo da Petros. João Antonio Felício, ex-presidente da CUT é membro do conselho do BNDES. O Vicentinho virou prefeito Outros mais poderiam ser citados. Salário médio destes novos dirigentes do capitalismo de Estado: R$ 25.000,00 mensais. Deste jeito fica fácil achar patrocínio oficial para os convescotes de primeiro de maio, pois estão todos lotados em áreas “estratégicas”. O sindicalismo chapa-branca e pelego se transformou na militância político partidária, com dirigentes pelegos apoiando a candidata oficial. Marcos Inhauser

RUIM DILMAIS

Estava girando os canais da televisão para encontrar algum que estivesse dando notícias e eis que me deparo com o programa do Datena (na minha opinião, devia ir para o Guiness pela capacidade de repetir as mesmas frases ad nausean). No início, confesso que não a reconheci. Quando a reconheci, fiquei com dó. Mais parecia a Dona Xepa. Um figurino do tipo comprado em camelô, uma postura de quem estava desconfortável. Fui forçado a reconhecer que era ela, a candidata nascida a fórceps. Sua presença, postura e fala foram ruins dilmais. Ela parecia mais um ET que uma candidata a presidente. Senti insegurança, desconforto e falta de molejo para responder às perguntas. Sofrível. Comecei a me perguntar o que será do horário eleitoral gratuito. Aguentar o Serra tentando ser professor, a Dilma vendendo ser cria do Lula (mas que nem com DNA se acha traços de parentesco), a Marina com seu discurso monótono-ambietalista. As perspectivas de se melhorar o quadro com os vices parece que também que está fadada ao enfadonho. Temer, Dornelles e Guilherme Leal. Deste jeito, a cada programa que assistir, vou tomar um Prozac. Mas a cara de ET da Dilma deve ser vista junto com algumas outras coisas. A cara que ela tem hoje, não é a cara que ela tinha e deveria ter ao natural. A plástica que fez mudou a cara (acho que o mesmo cirurgião plástico que fez as plásticas da Elza Soares fez a da Dilma e a da primeira dama). O seu currículo acadêmico também passou por uma plástica, que arredondou formas incluindo um doutorado em Ciências Econômicas na Unicamp que nunca fez. Depois soube-se que seu relatório sobre as obras do PAC também tinham cirurgias plásticas, indicando realizações não feitas. Nas andanças com o gurumór, inaugurou obras inacabadas, plástica de mostrar o que não existe. O PAC2 rejuvenesce obras do PAC1, outra obra plástica. Nestes dias descobriu-se que ela é ruim dilmais também na net: colocou em seu site (http://www.dilmanaweb.com.br/) uma foto de juventude que não é sua, mas da Norma BengelL, participando de passeata no Rio. Os desavisados vão engolir gato por lebre e achar que ela é quem está na foto do meio, porque a da esquerda e da direita são dela. Confesso que recebi outra foto da Dilma, em uniforme militar e com um charuto na boca. Nesta ela estava mais à vontade que diante das câmeras do Datena e mais natural que a foto da Norma Bengell. Parece que o povo simples é quem está com a razão: é a Vil-má Duxefe! Marcos Inhauser

PALAVRAS MÁGICAS

Quero falar palavras mágicas. Quero falar da educação com sua realidade de um sistema educacional elitizante, gerado por empresários-educadores, que vendem a peso de ouro o diploma que habilita ao exercício de uma profissão, pago às custas da fome dos filhos, embrulhado com palavras mágicas como "doutor", "bacharel", etc.. Quero colocar minha inquietação com o currículo que se obedece nos anos de estudo, quando ensinam palavras mágicas como "competição", "competência", "excelência", "carreira profissional". Ensinam a obediência a processos, mas sem nos alertar que procedimentos, normas, princípios, podem ajudar na execução ou amarrar e escravizar. Fazem-nos entendidos em processos, mas não em pessoas. Ensinam-nos a lidar com as palavras, mas não nos mostram como trabalhar com o próximo. Um ensino que não nos leva a ver no próximo, ser humano, imagem e semelhança de Deus, mas a considerá-lo funcionário, cliente, paciente. E cliente é palavra mágica: ela provoca o aparecimento do dinheiro. Dinheiro, palavra mágica. Tem o poder de comprar o direito e de assassinar a justiça. Compra pareceres, fabrica laudos, acelera o andamento processual, mas também pode paralisá-lo. Compra favores, corrompe, lubrifica engrenagens burocráticas, aluga horas de carícias e amor. A palavra dinheiro transforma pessoas em milionários. A palavra dinheiro abre portas antes fechadas, incrementa o número de amigos. Pobre. Eis aqui uma palavra, a única talvez, que não seja mágica. A palavra pobre não tem poder, não cria coisas, não abre portas. Pobre não é cliente: é paciente; não é cliente: é réu. O pobre não tem advogado, tem "assistência jurídica" que a magia das palavras dos ricos transformou em "justiça gratuita". Mas a magia das palavras revela coisas. Se há "justiça gratuita", há "justiça paga”, e seria isto eufemismo para "justiça comprada"? Pobre. Objeto de desprezo, pessoa jurídica portadora de deveres e obrigações, nunca de direitos. Elemento indesejável nas ante-salas de consultórios e escritórios. Palavra amorfa e inócua. Pobres não tem casa, terra, comida, saúde, médico. Não tem direitos, não recebe justiça, não tem advogado. Advogado. Palavra com apelo: provém de "ad" mais "vocare" no sentido de "chamar ao lado de", "chamar para estar junto de". A idéia está ainda mais clara no grego "parácleto", que comporta a idéia daquele que ajuda, anima, intercede, defende a causa alheia". Advogado, portanto, está mais para sinônimo de amigo, na dimensão daquele que se dá a favor do próximo, principalmente o próximo necessitado. Advocacia é algo muito próximo do sacerdócio, do ministério de servir, de amparar necessitados, de lutar pelos direitos de outrém. Ocorre que, pela prática de alguns (e o plural aqui é significativo porque abrangente) conseguiram a mágica de transformar a advocacia, sinônimo de amizade e sacerdócio, em algo que induz a pensar em trambique. Advocacia-sacerdócio e advocacia-amizade aprende-se nos bancos escolares e no convívio com mestres e profissionais do Direito que vivem a realidade da verdadeira advocacia. Quais verdadeiros sacerdotes e amigos, servem eles de exemplo e modelo. Marcos Inhauser

quinta-feira, 15 de abril de 2010

A MAGIA DAS PALAVRAS MÁGICAS

Eu não entendia bem. Era muito prá minha cabeça: por que tanta celeuma sobre o orador da turma? A minha confusão aumentou ainda mais quando decidiram pedir uma prévia aos possíveis oradores. Eu me perguntava: prá que tanta coisa, tanto medo, tanto controle se o que orador fará é ir à frente, num dia de festa, prá dizer algo a um auditório desatento e a formandos em vias de despedir-se? Prá mim, ser orador da turma era o cumprimento de uma formalidade, um dizer por dizer, um falar às paredes. Mas se o orador da turma profere discurso tão inócuo quanto eu cria, era muito prá minha cabeça o processo que estávamos vivendo prá ver se me deixavam falar às paredes no dia da formatura. Então surgiu-me a suspeita de que, ainda que nem todos ouçam o que diria, isto tem poder muito grande sobre os que prestam atenção. Poderá ser pequeno frasco com poderoso veneno ou suave aroma reconfortante. Se pode ser veneno ou perfume, o problema se resume nas palavras empregadas. Tudo vai da escolha certa das palavras para o momento certo. Seria julgado se escolhi bem ou mal as palavras. Mais recentemente pensei que estas meditações antigas se aplicavam também a escrever semanalmente esta coluna. Palavras. Proferir ou escrevê-las. Esta é a minha missão. Tenho consciência de que usar palavras transcende ao emitir sons ou grafar com tinta. Não é o concatenar palavras de forma a dar sentido ao que falo. O mundo das palavras é um mundo mágico, que faz aparecer o oculto, cria sensações, ilude, esconde. Magia é a tentativa humana de manipular os deuses. Palavras mexem com os deuses e eles podem não gostar. Palavras tiram os véus que encobrem e trazem à luz o que estava oculto e isto pode não agradar. Palavras revelam, diagnosticam, amaldiçoam e bendizem, fazem revoluções e guerras, celebram acordos, estabelecem a paz. Palavras provocam iras e paixões; amor e ódio; ofendem e acariciam; destroem e constroem. Palavras constroem mundos, realizam sonhos, concretizam a Utopia. Compram votos com oferta de empregos. Palavras entram no coração do ser humano. Palavra, a maior ferramenta que alguém possui, traço indelével da obra criadora de Deus. Não emito sons. Não falo às paredes. Não sou orador porque orador é quem fala bonito, esperando o aplauso e o elogio ao final da fala. Não discurso. Discurso é próprio de palanque, onde a verborragia fácil vende ilusões, qual camelô vendendo ervas medicinais. Gosto da magia. E qual mágico que de sua cartola e fraque tira coisas escondidas, quero também eu tirar da cartola do meu coração inquietações, coisas que muitos não sabem que lá existem. Qual mágico, quero tirar para fora do meu coração, não as pombas brancas, meigas e dóceis, mas a dura realidade de um país onde uma minoria de latifundiários, banqueiros e empresários mata à fome parcela da população, usando para escamotear a realidade palavras mágicas como "justiça social", "reforma agrária" "desenvolvimento", "produtividade" e outras mais. Marcos Inhauser

terça-feira, 6 de abril de 2010

PEDOFILIA E RELIGIÃO

Os recentes casos de pedofilia que vieram a público envolvendo sacerdotes são coisas que vão saindo das catacumbas do silêncio dos que sofreram, exigindo a abertura dos arquivos canônicos dos que se silenciaram. Quando o pedófilo é um religioso, seja ele sacerdote católico, pastor evangélico, pai-de-santo, ou seja lá o que qual título tenha em função de sua função religiosa, a figura do sagrado e o simbólico que se encarnam nestes líderes têm uma forte carga emocional e religiosa, desequilibrando as relações de poder entre estes e seus fiéis. As palavras dos religiosos, no imaginário dos fiéis, estão muito próximas de ser “vox Dei”. Eles falam em nome de Deus e muitos falam e agem como se deuses fossem. Esta aura do sagrado que acompanha a figura do religioso é também compreendida pelo imaginário popular associada à santidade dos atos, palavras e pensamentos. Por conseguinte, quando um religioso faz uma abordagem sensual ou uma investida sexual, há nesta sua ação um poder muito maior que a mesma ação feita por um leigo ou não religioso. A investida clerical tem a capacidade de apresentar-se como algo divino, sagrado, isento de culpa ou pecado. No imaginário de quem sofre a investida, pode ocorrer a idéia que aceder às insinuações ou investidas sexuais de um religioso é forma de agradar a Deus, porque se está agradando a um “servo de Deus”. Assim, o ato hediondo pode revestir-se de sacralidade e o pecado do abuso ser entendido como salvação. Um dado a ser considerado neste contexto é que muitas vezes os religiosos manejam informações passadas em confessionários, aconselhamentos ou sessões. Nos casos mais recentes que se conhece, havia a condição de internos em instituição ou de coralistas. As pessoas procuram religiosos para abrir a eles problemas, dificuldades, traumas, abusos. Elas se expõem a eles no desejo sincero de serem ajudadas, orientadas, ouvidas, entendidas, amadas. Muitas confessam suas fraquezas, tropeços, necessidades, carências. O uso indevido destas informações, especialmente para valer-se delas em uma investida sexual, é algo tão ou mais ignominioso que usar sedativo para entorpecer a vítima. Quando esta investida se dá com crianças ou adolescentes a coisa se torna monstruosa. Se no imaginário de pessoas adultas já há a possibilidade de confundir e misturar a pessoa humana com o sagrado que ela representa, o que não passará na cabeça de crianças que sofrem a investida de um “servo de Deus”? Elas foram ensinadas que os religiosos são pessoas sérias, confiáveis, que exigem certos comportamentos de seus fiéis, como não roubar, não matar, não mentir, honrar pai e mãe. Mas eles nunca ouviram de púlpito que não podiam ser abraçados, tocados ou beijados pelo sacerdote, pastor ou religioso, mesmo porque estes temas são proibidos nos púlpitos e nas classes de catequese ou estudo bíblico. Marcos Inhauser

IGREJA DOS ESCÂNDALOS

Há quem se assuste com recentes episódios escandalosos envolvendo as igrejas. Nestes dias, as acusações de pedofilia contra clérigos católicos, acusações que remontam quase duas décadas e que já obrigou a Igreja Católica a fazer acordos, chegou bem perto do papa. Na Alemanha, Irlanda, Bélgica Estados Unidos e Brasil, pipocaram denúncias e surgiram possíveis vítimas de tais abusos. No entanto, parece-me que muitos há que se esquecem de algumas coisas relacionadas a escândalos e a igreja. Se olharmos para a narrativa evangélica vamos perceber que o ato maior da vida de Cristo se deveu a um escândalo: no círculo mais próximo a Jesus, um seu discípulo roubava e o vendeu por trinta moedas de prata. Mais adiante um pouco, quando a igreja dava seus primeiros passos houve o escândalo de Ananias e Safira, que mentindo, retiveram parte do produto da venda de um imóvel. Um pouco mais adiante, vamos encontrar o escândalo das viúvas dos helenistas que estavam sendo preteridas na distribuição da comida, o que levou a igreja a criar o diaconato. Há ainda o caso do mago Simão, que quis comprar o dom do Espírito para com ele ganhar algum dinheiro, gerando o termo “simonia”, mais tarde usado para os que vendiam ou compravam postos eclesiásticos e por causa disto amealhavam fortunas. Cito estes casos para ficar nos bíblicos. Se fosse percorrer a história da igreja, poderia elencar uma infinidade de escândalos envolvendo clérigos, leigos e a instituição igreja. À luz destes fatos, os recentes escândalos do “apóstolo e a bispa” (sic) flagrados com entrada ilegal de dinheiro nos EUA, as muitas acusações feitas pela Receita e Polícia Federal à maneira como a IURD maneja seus fundos, as rádios “evangélicas piratas”, a compra a peso de ouro de tempo nas televisões, as acusações de desvio moral contra líderes das igrejas, nos colocam em xeque. Por outro lado, estes episódios, tantos os bíblicos como os não registrados nas Escrituras porque mais recentes, mostram que a Igreja, no que pese sua aludida origem divina, é formada de seres humanos e estes são tão falhos como se na igreja não estivessem. Mas o fato de cometerem o que cometem sendo membros das igrejas, não devem ser protegidos nem escondidos, mas devem receber exemplar punição, o que, não tem acontecido. Se a igreja não o faz, perde sua credibilidade e claudica na sua função profética. A Igreja é divino/humana, mas os escândalos são totalmente humanos, mesmo que alguns queiram atribuir tais obras a Satanás.

terça-feira, 23 de março de 2010

DE RAINHA A RELES Já foi o tempo em que a teologia era a Rainha das Ciências. Nos idos tempos da Idade Média, a ciência era medida como verdadeira pela sua consonância com os ensinamentos da Igreja. Quando discordava da teologia, morte aos hereges era a sentença, haja visto o que aconteceu a Galileu, entre outros. Já foi o tempo em que a Igreja reinou soberana e entronizava e destronava reis, promovia a Inquisição e não era questionada pela sociedade. Os poucos que a isto se aventuravam eram condenados. Lá se vão os tempos em que a teologia e a Igreja ditavam o que podia ou não ser lido, criando o Index, relação dos livros e autores proibidos. Idos são os tempos em que, como representante de Deus na terra, por ser Ele o Criador de tudo, a Igreja era a autoridade visível a administrar tal propriedade divina. Para tanto, a Igreja expedia autorizações para que os “descobridores” pudessem entrar em novas terras e dela se assenhorear, por terem a permissão divina via Igreja. A Igreja, ao longo dos séculos foi perdendo sua autoridade e vigência. Primeiro foi o questionamento feito por Lutero e os reformadores da autoridade espiritual da Igreja em perdoar pecados. Depois, o marco mais claro desta derrocada foi o Iluminismo, que questionou as verdades da fé, dos milagres e da própria existência de Jesus como divino. Junte-se a isto que o religioso Isaac Newton, com a lei da gravidade tirou o Deus que sustentava as estrelas e astros no céu, e reduziu-O a uma fórmula. Mais tarde, Marx tirou Deus da história e Freud o tirou de dentro do ser humano. Assim, com início no século XIX, a igreja veio perdendo seu espaço, vigência e poder na sociedade. A Rainha das Ciências se enrolou ao entender o que acontecia no mundo. Movimentos fundamentalistas e conservadores, tanto na Igreja Católica como nas Protestantes, ao invés de pensarem a fé como resposta ao mundo em que viviam e tentar dar respostas às perguntas que o momento histórico planteava, se limitaram a repetir antigas fórmulas teológicas e teólogos, como se Agostinho, Lutero, Calvino e Tomás de Aquino fossem os últimos iluminados. O advento da fragmentação religiosa que o mundo viu surgir, com o surgimento dos mais variados modos religiosos cristãos, notadamente os de corte pentecostal e neo-pentecostal, trouxe à tona uma miríade de “pregadores de abobrinha”, gente sem nenhuma formação bíblico-teológica, analfabetos bíblicos e que mal compreendem o que lêem, que tem tido acesso às rádios e televisões, vociferando suas “verdades” como se Vox Dei fossem. Arrogantes, petulantes e impostores, deram a pá de cal no sepultamento da credibilidade da Igreja. Gananciosos, transformaram a pregação em venda do sucesso, da riqueza fácil, anunciaram que “o fim justifica os meios” e a riqueza pessoal foi construída às custas das ofertas dos incautos. Ser Igreja hoje é ser vitrine para o escárnio, para a zombaria, para a desconfiança. Não fosse o profeta Jeremias quem disse que “ai de mim se me calar, porque tua voz me queima por dentro” e “fostes mais forte que eu e prevalecestes”, eu já teria pendurado as chuteiras. Marcos Inhauser

terça-feira, 16 de março de 2010

DECLÍNIO DAS IGREJAS

O movimento de “crescimento da igreja” nasceu nos EUA e se propagou mundo afora. Passados alguns anos de euforia, avaliações recentes tem mostrado que “apesar dos milhões de dólares em mídias, milhões de participantes, milhares de preletores, milhares de clínicas, simpósios, conferências, congressos e centenas de métodos e estratégias de marketing, as receitas para crescimento de igreja prescritas pelos norte-americanos não estão funcionando para eles mesmos”. Só as Assembléias de Deus nos EUA cresceram. Todas as demais igrejas históricas perderam membros, segundo relata o Anuário das Igrejas Americanas e Canadenses de 2010. Segundo a publicação, a Convenção Batista do Sul, segunda maior denominação dos EUA e por muitos anos uma das responsáveis pelo crescimento dos evangélicos, relatou um declínio no número de membros pelo segundo ano consecutivo, com menos 0,24%. O Anuário também relata declínio contínuo na membresia de praticamente todas as denominações. A Igreja Católica sofreu perda de 1,49%. A situação pode ser ainda pior, pois onze das 25 maiores igrejas não atualizaram seus relatórios. Entre elas: a Igreja de Deus em Cristo, a Convenção Batista Nacional e a Convenção Batista Nacional da América, respectivamente a 5ª, 6ª e 8ª maiores denominações nos EUA. Ainda mais crítica seria a situação se a maioria dos imigrantes não fosse oriundos de países com fortes tradições religiosas e que tem dado mais consistência a estes números. Mesmo as Assembléias de Deus cresceram tímidos 1,27%, de acordo com valores apresentados no Anuário. As igrejas com maiores percentuais de declínio são: a Igreja Presbiteriana dos EUA, com -3,28%; as Igrejas Batistas Americanas nos EUA, -2,00%, e a Igreja Evangélica Luterana na América, -1,92%. Os números relatados no anuário 2010 foram coletados pelas igrejas em 2008 e enviados ao Anuário em 2009. Segundo Julia Duin, editora de religião do The Washington Times, o percentual da população americana que é membro de alguma igreja – incluindo mórmons e testemunhas e Jeová, alcança hoje 49%, totalizando 147,3 milhões, pouco menos de metade da população americana". No Canadá, o quadro é ainda mais dramático. Mantido o percentual de declínio, que hoje totaliza 13.000 membros/ano apenas na Igreja Anglicana, em 2061 só haverá um só anglicano no país. (As informações acima foram retiradas da Revista Soma em artigo escrito por Philippe Leandro). Minha experiência em contato com vários líderes de denominações históricas me mostra que a situação no Brasil não é diferente. Ainda que não tenhamos números precisos o bastante para nos dar uma visão mais clara, há a constatação generalizada de declínio também nos vários ramos presbiterianos, metodistas e luteranos. Talvez os Batistas não enfrentem a coisa mais agudamente, mas creio que é questão de tempo. O que tem levado a isto? Uma pergunta que tentarei refletir e responder na próxima coluna. Marcos Inhauser

segunda-feira, 15 de março de 2010

CORPO ESQUARTEJADO

Não foram poucas as vezes em que, tendo buscado atenção médica para um problema de saúde, me senti esquartejado. Cada médico cuidava de uma parte de mim e não via ninguém me vendo como um todo. O advento das especialidades médicas teve o condão de dar a cada especialista mais conhecimento sobre uma porção cada vez menor do corpo humano. De uma experiência de internação, cirurgia, infecção hospitalar e convalescência prolongada, fiquei com outra sensação de mal-estar: eu era paciente, não um ser humano completo. Era o paciente da gastro, não o ser humano inteiro. Revisei uma tese doutoral no ano passado onde a autora traz esta inquietação à tona e o faz a partir da sua prática no campo da fisioterapia. Recusando a prática de tratar o paciente como uma pessoa lesionada em uma das partes de seu corpo, percebeu que este mesmo ser humano que ali estava tinha uma vida, relações familiares e sociais, sentimentos, auto-estima, sonhos, frustrações, medos, ansiedade e que este conjunto de variáveis interfere de maneira consciente e inconsciente no tratamento e na recuperação. Na busca de uma abordagem holística, ela percebeu que quanto mais cuidava do ser integral e não somente da parte lesionada, melhores e mais rápidos eram os resultados. Esta sua experiência relatada de forma clara, objetiva, desafiadora, fazendo-o no campo conceitual traz o relato de suas experiências na clínica. Ao sua tese notei o quanto a medicina e ciência correlatas deixaram de lado o humano para tratar do paciente. Esta é a reclamação mais constante do atendimento na rede pública de saúde. Não há quem, tendo mais idade, não sinta saudades do médico de família, aquele que atendia a todos e a tudo, mas que ao entrar no seu consultório, nos conhecia pelo nome e se lembrava das coisas que tivemos e, como que tivesse uma bola de cristal, já sabia por que ali estávamos. Tive a felicidade de ter alguns destes médicos para me atender e a meus filhos e esposa. Dois pediatras, que mais que médico eram amigos, são até hoje procurados pelos meus filhos quando se defrontam com algum problema com seus filhos. Mesmo a filha que mora na China, vira e mexe liga para o Tio Moimando (que é como eles o chamavam como crianças). Já falei aqui do dr. Luís Belintani que atendeu minha filha e possibilitou que ela nos desse a benção de um neto e uma neta e que salvou a outra de complicações seríssimas. Em outra oportunidade falei aqui do Dr. Brasilino (se não erro o nome) que se interessou por um problema de minha filha e fez dela um estudo de caso. Mas ainda tenho o Dr. João Carlos (cardio), o Lysias (Uro) e o Edson (gastro e cirurgia), o Danilo (psiquiatra). Mais que médicos, são amigos. A eles minha gratidão. Marcos Inhauser

terça-feira, 2 de março de 2010

SILÊNCIO CRIMINOSO

A antiga literatura semítica de cunho sapiencial valoriza o silêncio como expressão da sabedoria. Há um verso bíblico diz que “o falar é prata, mas o calar-se é ouro”. Tiago, mais tarde, diz que “quem refreia a sua língua sábio é”. Na história da devoção e da espiritualidade há uma forte ênfase no silêncio e na contemplação. Os mosteiros e conventos se prezavam pela preservação desta atmosfera silenciosa, porque o barulho e as palavras podem distrair. Também, e por diversas vezes, critiquei nosso guia mor pela sua verborragia, afirmando que ele fala demais, e quem fala demais dá bom dia a cavalo. Citar as vezes em que o mesmo fez isto já foi objeto de livros escritos com as pérolas da incontinência verbal do sindicalista mor. Ele seria muito mais sábio e sóbrio se refreasse a língua. Ocorre que, a mesma literatura semítica introduz um aspecto no qual o silêncio não deve prevalecer. Em um texto sacerdotal, se afirma que “quando alguma pessoa pecar, ouvindo uma voz de blasfêmia, de que for testemunha, seja porque viu, ou porque soube, se o não denunciar, então levará a sua iniqüidade.” (Lev 5:1). Segundo este preceito, calar-se diante do pecado, da injustiça, da blasfêmia é ser conivente e copartícipe do pecado. Pois isto ocorreu neste dias com o nosso guru. É de sobejo sabido que este governo tem suas afinidades ideológicas e afetivas com o regime da ilha de Fidel Castro. Lá há dissidentes políticos que são prisioneiros e o são porque nenhuma ditadura aceita a crítica, a oposição consciente e consistente. Liberdade de expressão não é o forte do regime castrista. Um desses prisioneiros fez greve de fome por oitenta dias e morreu no dia em que nosso guia estava chegando à ilha. Houve uma condenação geral por parte de governos e estados. O nosso, bem ao estilo lulista, tergiversou e acabou por condenar a greve de fome como instrumento de pressão política. Que o prisioneiro tenha morrido não é de estranhar. A violência contra a dissidência na ilha é forte e constante, haja visto o que fizeram com a bloqueira Yoani Sanchez e seu esposo. Mas que o presidente tenha se calado diante desta brutalidade foi tão absurdo quanto a desculpa dada por Raúl Castro de que os Estados Unidos eram os responsáveis por esta tragédia. O guru fala quando não deve falar, fala o que não deve falar, mas quando deve falar, fica calado. Este silêncio é criminoso. Marcos Inhauser