As últimas pesquisas sobre a religiosidade no Brasil têm
revelado o crescente número de pessoas que se afirmam arreligiosas ou ateias.
Acrescente-se a isto os que declaram ter fé, mas que se negam a estar
vinculados a uma estrutura religiosa. Outro dado que veio à luz nos últimos é a
queda no número dos que estavam vinculados à Universal e o crescimento da
Igreja Mundial do Poder de Deus.
O crescente número dos não-religiosos e ateus se deve a um
processo que se deu na Europa a partir da Segunda Guerra Mundial e que se
convencionou chamar de secularização, que leva as pessoas a não mais considerar
ensinos tradicionalmente religiosos como normativos para as suas vidas,
preferindo adotar valores culturais ou de mercado. Há indícios que este
secularismo está também vinculado à melhoria das condições sociais e
econômicas, pois, tendo mais recursos, menos dependentes de Deus se tornam.
Nesta vertente é comum encontrar os que se valem do
pragmatismo ou utilitarismo para justificar ações e comportamentos. Mais que
isto, a secularização tem o condão de retirar as esperanças, especialmente as
relacionadas à vida futura e até mesmo uma vida aqui mais justa e próspera.
No caso específico do contexto brasileiro, além da propalada
ascensão econômica da classe D (fato discutível e que merece aguardar dados
estatísticos de mais longo prazo), há a religiosidade secularizante.
A partir dos anos 70, com o surgimento e explosão do
neo-pentecostalismo e a competição acirrada que se estabeleceu entre as várias
correntes, a fé se tornou marketing (O Show da Fé!), as bênçãos viraram mercadoria
e Deus foi esvaziado para se tornar em ajudante de ordens de pregadores que
ousam dar-lhe ordens.
Transformada a fé em marketing e a benção em mercadoria que
se compra nos templos dos “iluminados”, onde um bispo ou apóstolo determina a
Deus o que deve acontecer, a dimensão mística e numinosa da fé e do sagrado se
perdem e a racionalidade cartesiana do “pagar para receber” transforma a
experiência sagrada da oração, da meditação, da comunhão, do serviço, do amor
ao próximo em algo secularizante: Deus se deixa vender! E o Deus que se deixa
vender não é Deus e, portanto, passo a ser ateu.
A religião do sucesso tem a habilidade de criar frustrados e
decepcionados. Faz aumentar o número dos ex-membros de alguma igreja, que
detestam pastores e cultos, que buscam formas alternativas de viver a fé, seja
em pequenos grupos ou em vidas cristãs isoladas, muitos se dedicando ao autodidatismo
bíblico e teológico, mãe das grandes heresias.
A religião midiática que cresce na direta proporção das
horas de programa de televisão que veicula, que gasta milhões mensais para
repetir ad nauseam as mesmas coisas, que promete o q não entrega, que fala mais
em dinheiro que em amor ao próximo, mais em poder que em serviço, não é
religião: é comércio. E comércio é o deus Mamom, secular e secularizante.