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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

ECOpenhage

Ia escrever algo a respeito, mas recebi este artigo do meu amigo Marcos Kopeska, que o reproduzo, com edições para caber no espaço. Desde a infância ouço: “Não desperdice água! Não suje a rua! Não corte árvores! Não polua o ar! ...” ... O que hoje matamos faltará amanhã ... Procurando alinhar ... com a Bíblia, vejo ... por outro prisma. A natureza é e sempre será ... aliada da voz de Deus na ... revelação a nós. ... Javéh utiliza-se da natureza para criar ambiência para sua voz. Deus falou com Adão no jardim, com Hagar no deserto, Abraão na montanha, Jacó no riacho e Moisés na sarça ardente. ... Jesus pregou ... o Sermão do Monte. Inúmeras vezes Ele usou montes para orar, praias para pregar e lírios para ilustrar. Deus usou estrelas e grãos de areia para falar de suas promessas a Abraão, de nuvem para guiar seu povo, da rocha para saciar a sede do povo, corvos para cuidar de Elias e uma ilha deserta para revelar mistérios a João. ... Paulo escreve: “...o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou ... os atributos ... de Deus ... têm sido vistos ... sendo compreendidos por meio das coisas criadas,...” (Rm 1:19-20). A criação revela o Criador! ... volta-se a Ele em imensa, perfeita e eterna ... ópera, com o solfejar dos mares, o bramido dos rios, o grito dos bichos, o uivo dos ventos, o farfalhar das folhas e o jogo de cores, imagens e movimentos das matas. Nas Escrituras encontramos anjos, homens e natureza ... adorando ao Criador. “Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos. ... Sem discurso nem palavras, não se ouve a sua voz. Mas ... ressoa por toda a terra, e as suas palavras, até os confins do mundo.” (Sl 19:1-4) Einsten dizia: "Quanto mais acredito na ciência, mais acredito em Deus. O universo é inexplicável sem Deus". São inúmeras as expressões desta adoração registradas na Bíblia, mas .. estamos calando esta ópera ao Senhor. Como as matas louvarão se reduzidas? Arrancamos o que Deus plantou “como vales que se estendem, como jardins à beira dos rios, como árvores de sândalo que o SENHOR plantou.” (Nm 24:6) mas ... os bosques os transformamos em lenha para alimentar usinas. Os rios querem se apresentar nesta ... adoração: “Os rios batam palmas e cantem de júbilo os montes,” (Sl 98:8); “Levantam os rios ... o seu bramido .. e .. o seu fragor.” (Sl 93:3); mas como levantarão adoração se roubamos sua vida com detergentes, metais pesados e sacos plásticos? Como cantar “As aves do céu cantam para ti / As feras do campo refletem seu poder / Quero cantar ...” ; se engaiolamos aves e matamos feras para vender o couro? Como os ursos adorarão se violamos seu habitat com toneladas de gases que vão para a atmosfera todos os dias? Como as imensas e milenares calotas polares adorarão se estão derretendo silenciosamente e cada placa de gelo que se solta é lágrima da natureza em dor? Estamos tolhendo parte da adoração a Deus. As previsões científicas da comunidade internacional em Kioto, 1997, cumpriram-se mais rapidamente do que se pensava. Copenhage é crucial para as negociações de novos termos e compromisso. O Tratado de Kioto precisou que 55% dos países que produzem 55% das emissões o ratificassem. Entrou em vigor em fevereiro de 2005, 8 anos depois da sua abertura para assinaturas. Oremos pelo Tratado de Copenhage e pela volta da criação à esta imensa adoração. Marcos Inhauser

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

MARIA AVELAR

Minha esposa diz que ela assim se chamava, ainda que eu creia que era Alvear. Ela era membro da primeira igreja que pastoreei, a da Vila Espanhola. Magra, doente, Maria Avelar era uma destas raras pessoas que é impossível estar junto sem se sentir ao lado de uma pessoa especial. Não sei quantas enfermidades ela tinha, mas era bem doente. Muitas vezes fui à sua casa e a vi debruçada sobre a máquina de costura, meio desfalecida. Por causa das enfermidades decidi que todos os domingos iria levá-la de carro para a igreja e trazê-la de volta à sua casa. No que pese sua condição de saúde, ela “costurava para fora”, não porque fosse necessário, mas “para ajudar os outros com uns trocados”. Ela tinha uma genuína alegria em ajudar quem precisasse. Além disto, tinha sabedoria e discernimento na alocação destes parcos recursos e eles sempre chegavam em momento mais que oportuno, do que eu e minha família somos testemunhas. Um dia ela me contou uma história impressionante e o fez na ingenuidade e simplicidade que lhe eram características. Vivia ela no estado de Goiás, em uma cidadezinha “destas que só tem uma rua e a cidade mais perece uma lingüiça. Eu morava em uma ponta da cidade e a igreja era na outra, de modo que eu tinha que atravessar a cidade todos os domingos para ir à igreja.” Maria Avelar tinha uma vizinha que ela muitas vezes convidou para ir junto à Igreja. Certo dia “ao convidar a vizinha, ela me disse: eu vou se você me prometer uma coisa. Que coisa?, perguntei. Prometa e eu te digo. Eu aceitei o desafio. Ela então me disse que iria à igreja no domingo comigo se eu fosse com ela tendo um pé calçado com salto alto e o outro descalço. Eu disse: tá bom, eu faço isto por você”. No domingo à tarde lá estava Maria na frente da casa da vizinha, tal como ela lhe havia pedido. A cidade o sabia do que ia acontecer e todos estavam para ver a mulher atravessando a cidade mancando, em um espetáculo ridículo. “Pastor, eu pensei: tô levando uma pessoa para conhecer o amor de Deus. Nada pode ser ridículo. Levantei a cabeça e, como se nada estivesse errado, fui andando e cumprimentando as pessoas que vieram para ver-me. E lá fomos nós atravessando a cidade. Não deu tempo de chegar à igreja, a vizinha estava chorando. Ela me abraçou e disse: se este Deus me ama a ponto de te dar amor para você fazer isto por mim, eu quero saber mais do amor deste Deus”. Até hoje me emociono quando relembro esta história. Nunca mais ouvi falar da Maria Avelar. E lá se vão mais de trinta anos. Ela nunca foi à rádio ou à televisão se exibir por este ato. Cristão como ela é o que a sociedade precisa. A mão direita não soube o que fez a esquerda e conto isto hoje para que seu exemplo seia imitado. Marcos Inhauser

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

UNI BAN

Quando li as notícias sobre os eventos na Universidade Bandeirante, UNIBAN, minha mente rodou fazendo um trocadilho com a palavra em inglês e certa prática religiosa. No inglês “ban” é derivada de “banishment” que é qualquer decreto que proíbe alguma coisa. Implica na proibição de algo em algum território e muitas vezes tem caráter de censura ou discriminação, com o objetivo de manter o “status quo”. Comercialmente, a palavra significa embargo. Na tradição de alguns grupos religiosos, notadamente entre anabatistas radicais, o banimento foi e, em alguns casos ainda é, prática comum. Quando um membro da comunidade religiosa comete algo que é considerado grave, notadamente no campo da moral e da sexualidade, ele é banido da comunidade. Quando estas comunidades tem modelo cooperativo, onde os participantes trabalham e compartilham em condições igualitárias, o banimento representa a expulsão compulsória do disciplinado. Nestes casos, o banido é não só afastado, como os que o afastam se recusam a manter qualquer contato físico, social ou comercial com o mesmo. Há casos em que a pessoa banida tem coisas que deu a outros atiradas à porta da sua casa, forma simbólica de dizer que não querem mais nenhuma relação com o banido. Ele passa a ser um pária religioso. Alguns, baseados em recomendação da segunda carta de João (v. 10, 11) de que “não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis, porque quem o saúda tem parte nas suas más obras”, se recusam a sequer cumprimentar os banidos. A análise histórica vai mostrar que muitos deles foram atos arbitrários, sem direito à defesa, aplicação de pena desproporcional ao ato julgado, forma de exercício do poder, arrogância moral e religiosa de um grupo contra o diferente. No caso recente da Uni BAN, o que se teve foi um linchamento seguido de um banimento formal, sem que a parte, até onde se sabe, tivesse direito à proteção contra a turba na hora dos fatos, nem de defesa na sindicância. Os atos, fruto da arrogância de homens e mulheres que se consideraram moralmente superiores, é tão perverso quanto o possível atentado ao pudor que quiçás ela tenha cometido. E a sentença foi banimento. Os santos apedrejaram a pecadora, tal como se deu inúmeras vezes na história humana, sem que isto tenha nos ensinado lições que implicassem na mudança. A revogação do banimento não muda os fatos já praticados pela Universidade, tão nocivos e atentatórios à ética e moral quanto (se o foram) os praticado pela jovem. E de mais a mais, a motivação da revogação não foi o arrependimento, mas a pressão social, tanto nacional como internacional. E mostrou uma face utilitarista da Universidade que baniu alegando a guarda dos “valores da instituição”. Belos valores, explicitados pornograficamente à sociedade.

domingo, 8 de novembro de 2009

LUDAS

A sugestão do Lula de que, para se governar o país, até Jesus Cristo teria que fazer aliança com Judas, já provocou muita reação. Na minha última coluna confessei que não consegui resistir à tentação de também dar meu pitaco, não que eu tivesse coisa substancialmente diferente a dizer, mas porque, tendo algumas ideias na cabeça, cultivadas ao longo destes anos, via agora a oportunidade de colocá-las para fora. Escrevi mostrando como o Lula se julga alguém igual ou maior que Jesus Cristo, e dei alguns exemplos para provar minhas afirmações. Para surpresa minha, vários foram os e-mails concordando com o que escrevi, coisa um tanto rara. Como este espaço não me permite longas digressões, preferi escrever a coisa em dois capítulos: como ele se vê e como eu o vejo. Se nesta história há Judas, há duas possibilidades de entendimento: os aliados de Lula (o Messias) são Judas ou ele mesmo é Judas procurando um Messias para se aliar. Na história bíblica, Judas é uma pessoa com ambições políticas pertencente ao grupo dos sicários, uma ramificação dos zelotes que perpetrava violentos ataques, com punhais (sicarii), contra as forças romanas na Palestina. Outros derivam o seu nome do aramaico saqar, palavra que significava alguém "mentiroso", que é "falso". Judas, no entanto, queria mesmo é estar de bem com a elite governante e com os romanos. Sua participação inicial nos movimentos pode ter sido falsa ou ele sucumbiu às tentações do poder. Na história do Lula muitos foram os amigos e discípulos que foram entregues à execração pública, vendidos para abafar a opinião pública por trinta moedas de prata. Para não ir muito lá para trás, lembro como ele entregou à sanha das elites dominantes a colega de caminhada Cristóvam Buarque, destituindo-o com um telefonema, como entregou o Dirceu, o Pallocci e mais recentemente a Marina Silva. Neste afã de não perturbar as elites e os interesses do capital é que entendo porque ele seu governo nada fizeram para esclarecer os crimes de morte do Toninho e do Celso Daniel. Para mim o Lula é um Judas. Um Ludas que se aliou a um bando de outros Judas para a propalada governabilidade, tal como o Judas teria argumentado para justificar a entrega do Mestre. Lá também foi em nome da paz nacional que se entregou um perturbador da paz. O problema é que, na falta de um Messias, ele decidiu criar o seu, à sua imagem e semelhança. Ela vamos nós de Dilma. Marcos Inhauser

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

JUDAS OU JESUS?

Causou furor a frase do guru sobre a sugerida aliança entre Jesus e Judas. Muito já se disse a este respeito e tinha para comigo que não deveria eu me meter nesta tresloucada metáfora do sindicalista-presidente. No entanto as lombrigas me remoeram as entranhas. Fiquei a analisar o comportamento do pronunciante e tenho cá com meus botões algumas conclusões muito pessoais, que as comparto, não para disseminar o joio, mas para tentar entender o trigo. Não é de hoje que tenho prestado atenção e catalogado a insistência do guru em usar metáforas. Não conheço na história recente e mesmo anterior, alguém que usasse de tantas metáforas e analogias e que o fizesse com tal espontaneidade quanto o viajante-com-o-dinheiro-dos-tributos. Ele usa a abusa das figuras, ora com propriedade ímpar, ora com imperícia também ímpar. Só conheço outro que o fazia como ele e que se notabilizou com seus ensinos via parábolas, que foi Jesus Cristo. O guru-mór gosta da frase “nunca antes na história”. Ele se julga um divisor de águas, um ser que veio para dividir a história brasileira e quiçasmente mundial,entre o antes e o depois. Nisto ele se julga igual a Jesus Cristo, quem, sim dividiu a história entre o antes e o depois. O sindicalista também gosta de alardear que na sua gestão os famintos passaram a ter o que comer, que mais gente foi atendida nos ambulatórios, que mais transplantes se faz, que mais uma infinidade de coisas. Certa feita, quando visitava uma sinagoga, perguntaram a Jesus se ele era o Messias ao que abriu o livro do profeta Isaías e leu que os coxos andam , os cegos vêem, aos cativos é proclamado o ano da libertação. O Lula, segundo o Lula, está fazendo a mesma coisa. Jesus foi anunciado por um João Batista, voz que clamava no deserto, comia gafanhotos e mel silvestre. O Lula é o próprio. Saiu do clamar no deserto, comeu buchada de bode, bebeu o que veio e lhe deram. Se Jesus teve um precursor, o Lula foi seu próprio precursor. Nisto ele é maior que o Messias. Outras similitudes eu poderia apontar para provar que Lula se julga o Messias, o predestinado, o escolhido de Deus. Nesta condição ele tem os seus Judas e não cabe apontar porque sabidos e conhecidos pelos brasileiros. O problema é que este simulacro de Messias, ao invés de ser vendido pelo Judas, ele próprio se vendeu e se entregou. Deixou-se ser tentado pelo poder, andou transformando pedra em pão, se aliou a outros Judas, traiu a confiança de quem o elegeu e acreditou no seu reino pregado e proclamado por anos a fio e que acabou se convertendo no reino dos banqueiros, dos donos de telefonia, das construtoras, das ONGs não auditadas, dos sem-terra-com-verbas-públicas-milionárias.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

GRATAS SURPRESAS

Comecei a escrever no Correio Popular em abril de 2001. Lá se vão nove anos. Confesso que, das coisas que hoje faço, esta é a que mais prazer me dá, no que pese e-mails irados, críticas mil, pastores me chamando de anticristo campineiro, prefeito e vereadores me detestando. No entanto, vez em quando, me surpreendo. Certa feita, ao descontar um cheque em um banco, a pessoa que estava no caixa me disse: “quero que você saiba que leio suas colunas e que gosto do seu jeito de escrever”. Não preciso dizer que sai dali com a alma lavada. Em outra ocasião, ao entrar no consultório de um médico novo para mim, ele me recebeu efusivamente dizendo se sentir honrado com o fato de poder me atender, pois já me conhecia pelos meus escritos. Certa feita em um táxi tocou meu celular, atendi, tive que passar alguns dados pessoais. Terminada a ligação o motorista me perguntou; “você é o Inhauser que escreve no Correio Popular?” Respondi afirmativamente, ao que emendou: “minha mãe vai ficar com inveja porque ela é fã das suas colunas e faz coleção de todas elas. Ela recorta e arquiva tudo que você escreve.” Sei da Ditinha que também recorta as colunas e as tem arquivado. Nesta semana uma pessoa amiga me ligou dizendo que havia acabado de conhecer um fã meu. Perguntei se era um ou uma fã. Ela disse que era o Valdeci. Perguntei por que ele seria meu fã, ao que me respondeu que ele tem o que eu não tenho: “a coleção dos recortes da coluna no jornal, sem falta de nenhuma”. Não eu não tenho mesmo o recorte das colunas e o arquivo delas. Temo que não tenha todas as colunas no arquivo do meu computador, porque ele já pifou algumas vezes. Mas tenho o prazer orgulhoso de saber que há umas poucas pessoas que gostam do que faço. Andei apertando a mente aqui para encontrar quem mais gosta do que escrevo e confesso que não encontrei. Há os que me dizem por delicadeza que gostam e neles não creio. De uma coisa sei: eu gosto de escrever. E o redator chefe do jornal não detesta, ao ponto de me aturar todos estes anos sem nunca ter mexido nos meus textos, nem nas vírgulas. Aos fiéis leitores o meu obrigado. Aos que me criticam e me escrevem, obrigado com mais ênfase porque me mostram coisas que às vezes eu não vejo. Aos que lêem e não entendem o que escrevi, minha paciência. E aos que ficam bravos com o que escrevo porque lhes diz respeito, meu compromisso de continuar sendo chato. Marcos Inhauser

GRATAS SURPRESAS

Comecei a escrever no Correio Popular em abril de 2001. Lá se vão nove anos. Confesso que, das coisas que hoje faço, esta é a que mais prazer me dá, no que pese e-mails irados, críticas mil, pastores me chamando de anticristo campineiro, prefeito e vereadores me detestando. No entanto, vez em quando, me surpreendo. Certa feita, ao descontar um cheque em um banco, a pessoa que estava no caixa me disse: “quero que você saiba que leio suas colunas e que gosto do seu jeito de escrever”. Não preciso dizer que sai dali com a alma lavada. Em outra ocasião, ao entrar no consultório de um médico novo para mim, ele me recebeu efusivamente dizendo se sentir honrado com o fato de poder me atender, pois já me conhecia pelos meus escritos. Certa feita em um táxi tocou meu celular, atendi, tive que passar alguns dados pessoais. Terminada a ligação o motorista me perguntou; “você é o Inhauser que escreve no Correio Popular?” Respondi afirmativamente, ao que emendou: “minha mãe vai ficar com inveja porque ela é fã das suas colunas e faz coleção de todas elas. Ela recorta e arquiva tudo que você escreve.” Sei da Ditinha que também recorta as colunas e as tem arquivado. Nesta semana uma pessoa amiga me ligou dizendo que havia acabado de conhecer um fã meu. Perguntei se era um ou uma fã. Ela disse que era o Valdeci. Perguntei por que ele seria meu fã, ao que me respondeu que ele tem o que eu não tenho: “a coleção dos recortes da coluna no jornal, sem falta de nenhuma”. Não eu não tenho mesmo o recorte das colunas e o arquivo delas. Temo que não tenha todas as colunas no arquivo do meu computador, porque ele já pifou algumas vezes. Mas tenho o prazer orgulhoso de saber que há umas poucas pessoas que gostam do que faço. Andei apertando a mente aqui para encontrar quem mais gosta do que escrevo e confesso que não encontrei. Há os que me dizem por delicadeza que gostam e neles não creio. De uma coisa sei: eu gosto de escrever. E o redator chefe do jornal não detesta, ao ponto de me aturar todos estes anos sem nunca ter mexido nos meus textos, nem nas vírgulas. Aos fiéis leitores o meu obrigado. Aos que me criticam e me escrevem, obrigado com mais ênfase porque me mostram coisas que às vezes eu não vejo. Aos que lêem e não entendem o que escrevi, minha paciência. E aos que ficam bravos com o que escrevo porque lhes diz respeito, meu compromisso de continuar sendo chato. Marcos Inhauser

terça-feira, 13 de outubro de 2009

NOBEL?

Não é a primeira vez que o Comitê de escolha dos Prêmios Nobel surpreende. Contar as vezes em que isto aconteceu é quase contar a história do Prêmio. Há alguns que foram questionados quando foram concedidos e depois se mostrou o acerto dos questionamentos. Lembro-me particularmente do que foi concedido a Rigoberta Menchu, indígena guatemalteca, que teve oposição mesmo entre os seus conterrâneos e povos indígenas da Guatemala e mais tarde até indiciada em inquérito policial foi. Lembro-me ainda do prêmio concedido a Anwar Al Sadat e Menachen Begin, por uma reunião de paz que tiveram, um plano tirado a fórceps e que nunca foi implementado de forma significativa. Também foi criticado o prêmio dado a Oscar Árias, o costarriquenho que se diz que trabalhou pela paz na América Central, algo que a grande maioria dos centroamericanos não reconheciam. Confesso que me surpreendi com a nominação de Barak Obama. É verdade que, depois do desastre Busch, qualquer coisa seria melhor que ele. Devo também reconhecer que ele fez sua campanha e se elegeu com o lema da mudança, mas acho que fez muito pouco até agora para que o prêmio lhe seja outorgado. Se a nómina se deu pelo discurso na Universidade do Cairo, ele levou o Nobel da Oratória e não o da paz. Se foi porque propôs o diálogo entre muçulmanos e o resto do mundo, especialmente com os cristãos estadounidenses, também é discurso até agora. Se foi pela distensão com a Coréia do Norte, quem deveria ser nominado é Bill Clinton, quem lá foi e trouxe as duas jornalistas, sem fazer, aparentemente, concessões. Se foi pela decisão de não mais construir a parafernália antimísseis, chamada de guerra nas estrelas, deve-se dar a ele o Prêmio Nobel de Economia, pois fez o óbvio para um país endividado até o pescoço e atolado na crise. Tenho meus pruridos com a decisão, pois se trata de um governante que prometeu acabar com Guantánamo e não fez. Prometeu juízos justos e imparciais e até agora o que se tem é retórica. Prometeu tirar as tropas do Iraque, e elas ainda estão lá. Prometeu acabar com a guerra do Afeganistão e agora diz que a coisa vai durar e que há que enviar mais tropas. O senhor da guerra é agora Prêmio Nobel da Paz. Discurso por discurso, o Fidel e o Chavez dão olé. E, mesmo como orador, tenho lá meus senões. Chama-me a atenção que, quando dircursa, ele olha para a direita e esquerda, como se estivesse assistindo a uma partida de tênis ou pingpong. Não o vi olhando para a frente. É como se não encarasse a platéia. Não gosto disto. Passa-me a sensação de estar sendo enrolado. Quero estar errado. Neste tempo todo evitei fazer qualquer comentário sobre o Obama, dando-lhe o benefício da minha dúvida. Mas acho que exageraram na dose de mídia sobre ele. Com um aparato midiático destes e um posto de presidente do império, até discurso dá Prêmio Nobel. NO caso de Obama, melhor seria se fosse de Oratória ( neste eu também iria questionar.....) Marcos Inhauser

domingo, 11 de outubro de 2009

GRACIAS NEGRA

Eu a conheci quando tinha meus vinte e poucos anos. Eu a ouvi cantando e nunca mais deixei de ouvi-la. Comprei um cassete de músicas suas que me acompanhou um bom tempo de minha vida, nas muitas viagens que fiz. Com ela aprendi a gostar e admirar a música latino americana. Mais tarde, comprei tudo quanto pude de músicas suas. Lembro-me de, em uma viagem de quase cinco horas, ter ouvido a mesma fita cassete a viagem toda, repetindo-a sem parar. Decorei letras e mais letras de suas músicas. Chorei incontáveis vezes ouvindo-a cantar, especialmente “Gracias a la Vida”, “Cambia, Todo Cambia”, “Volver a los 17” e especialmente uma sua interpretação de “Cuando Tenga la Tierra” que apresentou em Nicarágua. Há uma outra de Gracias a la Vida, juntamente com Joan Baez, que é divina. Sua história de vida, sua luta contra a ditadura, seu compromisso ideológico com o comunismo, sua coerência entre o que acreditava e o que vivia, sua incansável maneira de trazer a alegria através de sua música, mesmo quando a saúde já a debilitava me comoviam assim como a muitos outros, haja visto a quantidade de manifestações por sua morte. Admirava seu despreendimento de cantar em parceria com os mais variados cantores e cantoras. Gravou com Milton Nascimento, Caetano Veloso, Bethânia, Joan Baez, Victor Heredia, e até com Shakira..... Para mim ela era a mais latino americana de todas as pessoas que conheci. Nascida na Argentina, nunca foi nacionalista, mas cidadã continental. Fez da sua vida uma bandeira de luta. Enfrentou os militares e a ditadura com sua voz, fez tremer aos torturadores. Presa, acusada de ser uma “pessoa suspeita”, não se dobrou e nem cedeu na sua crença. Envolveu-se na luta das Mães e Avós da Praça de Maio e com elas lutou pela busca de filhos e netos desaparecidos. Com suas músicas fez a muitos sonhar com uma nova sociedade e eu me deixei contagiar por seus sonhos de liberdade. Através dela conheci a Atahualpa Yupanqui, outro argentino latino americano. Por ela conheci os irmãos Mejía Godoy da Nicarágua antes que para lá fosse. Eu a ouvi muitas vezes cantando Sobrevivendo, uma das letras mais preciosas que conheço ao lado de “Canto da Cigarra”, que era para ela como que sua música de identidade, por dizer “tantas vezes me mataram, tantas ressuscitei”. Nunca a vi pessoalmente, mas fiquei depressivo com a notícia de sua morte, como se tivesse perdido alguém muito querido. Por causa dela, tive e tenho orgulho de ser latino americano e não posso dizer outra coisa que “Gracias Negra” usando seu apelido carinhoso que de racista nada tem. Marcos Inhauser

terça-feira, 29 de setembro de 2009

ISTO AINDA NÃO OUVI

Na recente crise que se abateu sobre Honduras e que o Brasil está enfiado até o pescoço, seja por erro diplomático brasileiro, por amadorismo e ideologia de antigos refugiados brasileiros que se abrigaram em embaixadas, seja por astúcia ou imprudência do Zelaya.
Neste imbróglio em que termos como golpistas, governo interino, presidente de fato e de direito, presidente democrático e governo imposto tem sido usados à exaustão, há um dado que não vi ainda em nenhum comentário. Refiro-me ao marco constitucional hondurenho.
A Constituição Hondurenha tem, assim como outras, algumas cláusulas pétreas, que não podem ser mudadas salvo mediante procedimentos estabelecidos e que são, via de regra, bastante exigentes. No caso brasileiro, cláusulas pétreas são a.) a forma federativa de Estado; b.) o voto direto, secreto, universal e periódico; c.) a separação dos poderes; e d.) os direitos e garantias individuais.
Cláusula pétrea é, pois, o dispositivo que impõe a irremovibilidade de determinados preceitos que são disposições não passíveis de ser abolidas por emenda, nem modificadas, constituindo o irreformável da Constituição, impossibilitando a sua reforma, remoção ou abolição. Elas possuem supremacia, paralisando a legislação que vier a contrariá-los.
A Constituição Hondurenha prevê no seu Artigo 374: “Não poderão ser reformados, em nenhum caso, ... os artigos constitucionais que se referem à forma de governo, território nacional, período presidencial, proibição para ser novamente presidente da república...” e no seu Artigo 4: ... A alternabilidade no exercício da Presidência da República é obrigatória. A infração desta norma constitui delito de traição à Pátria.”  No Artigo 239: “O cidadão que tenha desempenhado a titularidade do Poder Executivo não  poderá ser Presidente ou Designado. Aquele que ofender esta disposição ou propuser sua reforma, bem como aqueles que a apóiem direta ou indiretamente, terão cessado de imediato o desempenho de seus respectivos cargos e ficarão inabilitados por dez anos para o exercício de toda função pública”.
Não sou especialista em Direito Constitucional, mas me parece que o texto é claro. Também me parece que, ao dizer que “terão cessado de imediato o desempenho de suas funções” dá caráter sumário ao processo de destituição do “traidor da pátria” no dizer constitucional.
Ora, pelo que se sabe, o Zelaya propôs a mudança deste quesito, e, diante do levante dos tribunais e outras instâncias, transformou em plebiscito e depois em pesquisa. Assim, a coisa não é tão simples como nos quer fazer crer o sindicalista-mór e seu assessor internacional, antigo exilado em embaixada.
Para mim, algo de estranho há nesta posição brasileira de veemente condenação ao Micheletti e apoio a Zelaya, ao ponto de permitir que o mesmo faça da embaixada brasileira seu escritório de levante político.

Marcos Inhauser