Nos idos de 1514, vinte e dois anos depois que Colombo
aportou às terras da América, na ilha que hoje é Santo Domingo, se fez o
relatório Albuquerque, onde se relatava o massacre a que os indígenas estavam
sendo submetidos. Neste processo de extermínio era comum uma prática espanhola
que cortava as mãos dos prisioneiros de guerra e, em seguida, se obrigava aos
assim mutilados a sair correndo até que morressem, prática esta também usada
por Espanha no extermínio dos indígenas. Para as mulheres a prática consistia,
ademais da mutilação das mãos, também a dos seios. Ela tinha o objetivo de
semear o terror nos nativos.
Para se ter uma ideia da sanguinolência dos “colonizadores”,
deve-se mencionar o Campo de batalha de Añaquito. Benito Juárez de Carbajal buscava
o representante do monarca Carlos, o vice-rei Blasco Nuñes de Vela. Ao
encontrá-lo, o cobriu dos mais variados impropérios, desconsiderando que o
vice-rei já estava enfermo e combalido. O próprio Benito teria cortado a cabeça
do infeliz, não fosse a admoestação de Pedro Puelles, pelo que pediu a um
escravo que o fizesse, mas teve o cuidado de pegar a cabeça pelas barbas, pintar-lhe
os lábios, passar uma corda pelos olhos e o amarrar em seu cavalo, desfilando
com o troféu por onde fosse. Se fez isto com um conterrâneo, o que não fez com
os nativos?
E por que o faziam? Pelo ouro e pela prata que extraiam
daqui e mandavam a Europa. A riqueza dos países de Europa está vestida do
sangue destes nativos que, ou foram mortos, ou foram obrigados a trabalhar para
os colonizadores que vieram trazer a nova fé pela evangelização. Bartolomé de
las Casas, voz profética neste império de terror, disse: “A causa foi a cobiça
e ambição insaciáveis que (os colonizadores) possuíam, que foram maiores que
podem existir no mundo, por ser aquelas terras (América) tão felizes e ricas, e
as pessoas tão humildes, tão pacientes e tão facilmente submissas, pelas quais
(os colonizadores) não tiveram respeito, nem estima, que não as trataram como
bestas, mas como esterco das praças”.
Muitas outras coisas poderiam ser descritas para que se
tenha uma ideia mínima do que foi o horror da “evangelização da América pela
mão dos colonizadores”. Este afã de dar cores religiosas ao ímpeto ambicioso,
levou sacerdotes a fazer batismo no atacado, reunindo todos de uma aldeia e
borrifando água sobre eles, na convicção de que estavam batizando a todos e
assim salvando suas almas do inferno. Com Atahualpa, a quem a lenda atribui ter
muito ouro, se conta que pagou uma montanha aos seus captores e em seguida o
levaram para o sacrifício. No desejo que que não morresse pagão, o batizaram
momentos antes de sacrificá-lo.
Conta-se ainda que, mais especificamente no Brasil, com o
surto da malária, muitas crianças estavam morrendo. Os sacerdotes, no desejo de
salvá-los, iam até eles e os batizavam. Como morriam logo em seguida, a água do
batismo passou a ser chamada de “água da morte”, e os pais recusavam que fossem
batizadas. Inventou-se então o “batismo sub-reptício”, quando o sacerdote
levava escondido um pano molhado e, sem que os pais percebessem, apertavam o
lenço e umas gotas de água deles saíam, considerando isto como batismo
salvador.
Trago estas coisas porque, no momento que vivemos, muitos há
que estão imbuídos de uma religiosidade da ganância, onde o ouro e a prata dos fiéis
o que os move, onde a teologia da prosperidade só enriquece os pregadores e
donos de igrejas, onde as práticas sub-reptícias e terroristas, incitam os
incautos a encher as borras dos “evangelizadores”. E há os que ostentam títulos
de deputados e senadores!
Marcos Inhauser