Há tempos venho me preocupando com o empobrecimento da
liturgia e culto. O que era algo pensado, elaborado, feito com unidade e
sequência lógica, foi, gradativamente, sendo substituído pelo “louvor” (um
amontoado de cânticos desconexos na mensagem, escolhidos mais pelo entusiasmo
que geram que na mensagem que trazem), a mensagem elaborada, estudada e bem
fundamentada foi substituída pelos testemunhos de qualidade duvidável, que
produziram o neologismo “tristemunho”.
Unidade litúrgica é algo que se perdeu e se desconhece
nos cultos modernos. Teologia é sinônimo de palavrão e a própria liturgia ou é
desconhecida ou é rejeitada como sendo algo que restringe a liberdade do
Espírito. Os que propugnam que o culto deve ser livre para que se dê o agir do
Espírito, não percebem que repetem as mesmas fórmulas domingo após domingo.
Confundem excitação com espiritualidade, empolgação com manifestação
espiritual.
Parece que se perdeu o conhecimento e o entendimento do
culto em Israel, tanto no tabernáculo como templo, onde havia uma família
inteira dedicada exclusivamente a isto (a família dos levitas), o culto tinha
seus regulamentos (há todo um livro dedicado a este ordenamento, o de
Levíticos), os cânticos eram selecionados a dedo e formaram o Saltério. Até a
roupa dos sacerdotes tinha seu regulamento!
Falar de liturgia hoje em dia é recuperar a riqueza que
se tinha e foi se perdendo. Mostrar a relação entre o culto, a adoração e a
cura é algo que, ainda que praticado em muitos templos, não tem sido feito com
a devida fundamentação bíblica e teológica. Adoração é uma arte perdida! Muitos
dos que se promovem como líderes de adoração não tem a mais mínima noção do que
teológica e biblicamente isto significa: curvar-se em homenagem, atribuir valor
à divindade. Adoração é falar com Deus e não falar de Deus. Nos cânticos,
orações, litanias, confissões falamos a Deus de nossas vidas e vicissitudes. Na
mensagem ouvimos a Deus falando e nos dando esperança.
Por que cultuamos? Qual o papel da música e do cântico
no culto? Sempre houve instrumentos para ajudar no canto congregacional? A
congregação sempre foi permitida a cantar durante os cultos? O que esperamos
que aconteça quando as pessoas saem do templo e retornam às suas casas? Pode
haver cura durante o culto? Qual o papel dos dons no culto?
Conhecer estes aspectos leva as pessoas a ter melhor
clareza na hora de adorar. Perceberão que a adoração não é medida pelo barulho,
pelas palmas, pelo volume do som, pela quantidade de lágrimas, pelo
brilhantismo dos músicos ou seja lá o que for. A adoração é feita em espírito e
em verdade. Ela é uma atitude pessoal de render-se, de inclinar-se diante de
Deus, de exaltá-lo, de submeter-se a Ele. Não é tempo de exposição narcísica
(tal como se dá em muitos púlpitos que se transformam em palcos de
exibicionismo), mas de contrição e humildade.
Marcos Inhauser