Recebi
o seguinte artigo do Rev. Marcos Kopeska Paraizo: “Não consigo entender os
reducionismos a partir da terminologia que a “pós modernidade gospel” adotou
para “espiritualizar”. Não consigo quando perguntam: “E aí mano! Vai no show do ........ (cantor gospel famoso). O preço do
ingresso está salgado, mas é porque que ele está no auge da unção.” Não entendo alguns pastores: “Está mais fácil para contratar o testemunho
do .......(estrela pop que se converteu ao cristianismo) , afinal já ficou muito conhecido e já está em queda. Mas ainda dá
arrepios quando o ouvimos.” Ou ainda: “Se
garantirmos a venda de 300 CD´s do
cantor ...... ele faz um desconto de 20% no cachê e ainda dá o seu testemunho
de conversão e faz apelo.”
Não há
diferença entre o mercado secular do entretenimento e o novo “mercado cristão”.
Basta comparar a cultura dos resultados lucrativos do mercado da música secular
e veremos a decadência cultural a que nos submetemos. É fato que dos anos
noventa para cá não tivemos mais gente como Djavan, Chico Buarque, Gal Costa,
Renato Teixeira, etc. Eram poesias que conjugavam melodia, emoções, sentimentos
e histórias. Obras dos anos setenta e oitenta que se eternizaram com suas
métricas elegantes e suas mensagens inteligentes.
A “anticultura”
determinou que as gravadoras deveriam investir em “Tchá tchá tchá”, “Ré te te”
ou “Créu, creu, créuuuu...”, para lucrar com a exploração do insaciável apetite
por futilidades da grande massa não pensante da nação. Por sua vez, o meio
evangélico entrou pelo no pragmatismo, explorando os mais recentes veios da
Prosperidade e do Triunfalismo. Não é de hoje que vivemos de manias. Lembro-me
que há cerca de vinte anos os cânticos em alta eram os que proclamavam batalha
espiritual. Cantava-se em todos os cultos sobre general, marcha, escudo e
bandeira. Depois fomos tomados pela mania do “vento” e só se cantava sobre
vento do Espírito. Hoje estamos a “era das águas” e não temos um culto de
domingo em que não se cante sobre águas, chuva, rios, ondas ... Fomos perdendo
a criatividade. Nossa musicalidade é refém das ondas que vêm e que vão sem
deixar saudade.
É
neste circuito que surgem os mega shows da fé. Mas o que é adoração? O que é
unção? O que é fé? O que um adorador como Davi, que compôs lindos salmos sobre
os atributos de Deus, pensaria sobre este mercado efervescente e afoito por
cifra$? O que Paulo, o apóstolo que tombou sua vida pela expansão do
cristianismo, pensaria sobre os conceitos de unção que vão desde tremeliques e
histerismos, até quedas e desmaios. O que os mártires pensariam sobre os rasos
conceitos de fé desta geração de líderes que prefere entreter bodes a alimentar
ovelhas?
A fé
não é show de poder ou carismas pessoais, mas o conjunto de convicções que nos
faz viver com determinação o evangelho que abraçamos. Penso no pastor M.Z. (nome preservado por
razões de segurança); no meu amigo pastor queniano P.M. que hoje vive no Chifre
da África sob constante risco de vida; na missionária Nazareth Divino, hoje
morando com Cristo, mas que sofreu espancamentos e apedrejamentos por pregar a
salvação em Cristo nos países fechados ao cristianismo; no Paulo Cappelletti
pregando dignidade e transformação a prostitutas, ladrões e travestis nos becos
da noite paulistana. Estes realmente fazem, em humilde silêncio, o show da abnegação,
porque descobriram sim o verdadeiro significado da fé. Anônimos aos homens,
aplaudidos nos céus. A este show eu quero assistir. Este show eu aplaudo. É o
show da fé.”