Leia mais

Há outros artigos e livros de Marcos e Suely Inhauser à sua disposição no site www.pastoralia.com.br . Vá até lá e confira

Mostrando postagens com marcador autoconhecimento. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador autoconhecimento. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

CONHECER-SE: UM DILEMA HISTÓRICO

Demócrito nasceu e viveu entre 460-370 a.C. Filósofo do período pré-socrático, foi o primeiro a formular a teoria atomista que afirmava que tudo é composto de átomos, partículas indivisíveis que diferem apenas pela forma, tamanho, posição e ordem. Não se conhece seus escritos completos, só alguns fragmentos, muitos deles através de citações de Aristóteles, quem era seu crítico.

Ele tem alguns conceitos universais (no sentido de que valiam para a sua época e para a nossa). No fragmento 72 ele diz: “desejar violentamente uma coisa é tornar-se cego para o demais”. A paixão desenfreada por algo ou por uma ideia é sinal de cegueira para outras verdades. O vida focada em um só assunto perde a dimensão e visão das demais. A pessoa passa a ter uma visão de tubo e os ouvidos se fecham para tudo o que não confirma o que crê.

O exagero de acreditar em algo mostra que, de alguma forma, o sujeito está fora de si ou que perdeu o senso de realidade. É um obstinado, cego para outras perspectivas e possibilidades, com a impossibilidade de enxergar-se. Acaba sendo ridículo.

O filósofo Karl Popper, filósofo da ciência, rejeitou as posições indutivistas clássicas propondo o falsificacionismo, porque, para ele, pelas ciências empíricas não se prova nada, mas se falsifica. Tudo deve ser examinado por experimentos decisivos. O que a experiência e as observações podem e fazem é encontrar provas da falsidade de uma teoria. Quando isto acontece, há que eliminá-la por ser falsa e buscar outra que explique o fenômeno em análise. Percebe-se assim que, para o obcecado pelas verdades que crê, não admite ser questionado e muito menos, que alguém prove a falsidade de seu posicionamento. Ele é a verdade e nunca admitirá que pode estar errado. Entra-se no surreal de que a mentira é “liberdade de expressão”.

Quem se conhece a si mesmo, sabe dos seus limites e não exagera na convicção de suas crenças, antes é alguém aberto ao diálogo, ao confronto, ao contraditório. Aceita que, mesmo que creia com toda a força dos argumentos que têm em mãos, pode ser que seu ponto de vista esteja errado ou seja falso. Isto é maturidade. Quem não se enxerga não vê o outro. Só aceita quem diz o que ele diz ou o que ele quer ouvir. O que pensa diferente é inimigo.

O sujeito maduro tem a capacidade de examinar seus próprios sentimentos, de ver-se desde fora de si mesmo, distanciar-se dos exageros que os sentimentos promovem e, assim, reduzir o risco da miopia obtusa que a extremada convicção lhe dá. Cabe aqui o provérbio bíblico: “quem confia no próprio coração é um insensato (28:26).

Em tempos de exacerbação das opiniões via redes sociais, onde cada um tem o poder de escrever e dar sua opinião sobre tudo, mesmo sobre coisas que nunca soube que existia ou que não é de sua área de conhecimento, percebe-se, seja pela ortografia, pela sintaxe ou pela lógica que se revelam ignorantes. No dizer do apóstolo Paulo: “Desviando-se algumas pessoas ..., perderam-se em loquacidade frívola, pretendendo passar por mestres ..., não compreendendo, todavia, nem o que dizem, nem os assuntos sobre os quais fazem ousadas asseverações.” (ITm 1:11).

Marcos Inhauser

 


quarta-feira, 4 de julho de 2018

TENHO MEDO


TENHO MEDO
Medo todos o temos. Alguns com mais intensidade, outros menores. O problema não é tê-los, mas se deixar dominar por eles. Pior ainda é não reconhecer que eles existem.
Para não incorrer neste erro, quero nomear alguns que tenho e que moldam meu comportamento quando aparecem.
Tenho medo de quem tem explicação para tudo. Se você não está se sentindo bem, lá vem elas com a explicação de que você comeu isto ou aquilo. Se você tem uma diarreia, são prontas em escolher algo que possa ter feito mal. Se tem uma dor de cabeça, culpam do ar poluído ao travesseiro. Elas têm uma obsessão por explicações!
Tenho medo de quem tem respostas simplistas. Os maiores problemas e os mais complexos elas o resolvem com uma única decisão. Fastia-me e me dá medo quem vem com a conversa: "se eu fosse o presidente da república iria resolver o problema da corrupção em uma semana", "se fosse meu filho daria um jeito nele na hora", "garanto para você que resolvo isto no vá".
Tenho medo de quem fala muito. Fala sobre o que sabe e o que não sabe. O importante é falar. Cansam com sua verborragia. Um causo puxo outro causo e te alugam por horas.
Tenho medo de quem me ensina a fazer coisas sem que eu lhes tenha pedido. A frase "sabe o que você deve fazer” ou sua variante “eu, no seu lugar faria isto” me deixam aterrorizado. Eu não pedi a opinião, não vejo nelas competência para sair dando lições e lá vem elas me ditando o que devo fazer. O pior é quando, ao nos encontrarmos mais tarde, vem me cobrar se fiz ou não o que me ensinou. 
Tenho medo de quem dá receitas de remédio. Tenho medo de ter tosse, porque já ouvi todo o tipo de remédio, chá ou simpatia para parar de tossir. O pior é quando, no auge do desejo de ajudar, fazem a gororoba e te forçam a tomar a meleca que fizeram para "cortar a tosse".
Tenho medo de quem fica explicando Deus. “O que Deus quer te ensinar é ...”, “a vontade de Deus para a sua vida é ....", ‘Deus fez isto porque Ele quer ...”. As variantes são muitas, todas blasfemas.
Tenho medo de quem, mal me conhecendo, me elogiam.
Tenho medo de quem, me conhecendo muito, me criticam nas coisas que sabe que faço com sinceridade.
Tenho medo de quem fala mal do outros para mim, porque serei o próximo de quem elas falarão mal.
Tenho medo de quem vem com o discurso: “Deus me falou”, “o Senhor me orientou”, “ouvi a voz de Deus me dizendo”.
Tenho medo de quem dá ordens a Deus.
Tenho medo de ficar perto de políticos, porque posso perder algo.
Tenho medo de resultado de laboratório porque podem dizer que estou pior do que penso que estou.
Tenho medo dos autodidatas porque aprenderam sem ter que confrontar o que que aprenderam e por isto acham que são donos da verdade.
Tenho medo de quem começa suas frases com “na verdade”.
Tenho medo de comida típica.
Tenho medo de mim quando fico bravo.
Marcos Inhauser