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quarta-feira, 1 de maio de 2019

ELOGIO À BURRICE


Erasmo de Rotterdam, em 1509, escreveu o famoso “O Elogio da Loucura”,  publicado em 1511, e que influenciou a Reforma Protestante e a civilização ocidental.
O livro tem seu lado satírico e sombrio, trabalha a loucura como forma de autodepreciação, ataca os abusos da doutrina católica considerando muitos como superstição, alude às práticas corruptas da Igreja Católica.
Nele loucura é comparada a uma deusa que é filha de Plutão e Frescura, educada pela Inebriação e Ignorância, que têm a companhia de Philautia (amor-próprio), Kolakia (elogios), Lethe (esquecimento), Misoponia (preguiça), Hedone (prazer), Anoia (Loucura), Tryphe (falta de vontade), Komos (destempero) e Eegretos Hypnos (sono morto).
Eu o li há algum tempo e voltou à memoria nestes dias quando há, ao que me parece, um elogio à Ignorância e à Burrice, que é um grau mais profundo da primeira. Tivemos um Ministro da Educação que me fez lembrar a educadora Inebriação (deslumbramento) talvez pelo fato de ser colombiano a gerir a educação brasileira. Isto o levou a mostrar as influências de Komos (destempero) e que, no que pese que era chamado de filósofo, teve seu lado Lethe (esquecimento) e não fez o que se esperava que fizesse: não administrou, nem sentou bases para um plano nacional da educação. Com isto mostrou seu lado Eegretos Hypnos (sono morto).
Defenestrado por incompetência, entra no seu lugar outro ministro. Este se parece ao filho de Plutão e Frescura. Plutão é um deus que sai das entranhas do pai, Saturno, entra no panteão e assume o poder do universo. O mundo dos mortos no interior da terra foi o que lhe coube governar, mesmo contra a sua vontade. Era sombrio, irritadiço e pouco admirado, por estar descontente com o que lhe tocou. Viajava à noite em um carro puxado por apavorantes cavalos negros, guardando as chaves do inferno.
O novo ministro que substitui o incompetente filósofo, também mostra as influências das companhias que teve. Ao vir a público dizer que a filosofia e a sociologia não devem mais receber atenção nas escolas e na graduação por não serem estudos que produzem resultados financeiros, mostrou Philautia (amor próprio – “eu estudei o que útil”), adorou a Kolakia (elogios – os ignorantes bateram palmas), revelou que se esqueceu que estudou filosofia e sociologia para se graduar e assim exagerou na influência de Lethe (esquecimento). Seu posicionamento revela também a influência de Misoponia (preguiça), Anoia (Loucura) e Tryphe Komos (destempero).
Isto revela que estamos com um presidente que escolhe mal a maioria dos seus ministros, já teve que executar dois deles, tem outros que são calcanhar de Aquiles (o do Turismo e a Doidamares), foca no insignificante (comercial e gerente marketing do BB, golden shower etc.), fala o que não deve, mostra-se péssimo negociador porque cede antes mesmo de se iniciar o processo, tem suas influências de Misoponia (preguiça) deixando para o Congresso o que deveria ser seu foco maior (a Reforma da Previdência), adora Kolakia (elogios) e se perturba com as críticas.
A maior burrice é a ilogicidade da afirmação de que a Filosofia e a Sociologia são supérfluas, mas tem num autoproclamado filósofo/astrólogo o seu mentor e dos filhos e alguns ministros.
Estamos precisando um pouco do deus Sofrósine (moderação, moderação, discrição e autocontrole) e o exorcismo da deusa Afrodite, a das paixões desenfreadas, que tem grande influência sobre os filhos. 
Marcos Inhauser


quarta-feira, 8 de abril de 2015

A AÇÃO SUBSTITUÍDA PELO CONCEITO

Nada pode ser tão fatal para a vida humana que alguém trocar a ação por conceitos, a realidade por ideias. Deve-se temer quem crê que pode, somente falando e teorizando criar categorias e mudar sociedades. Os grandes teóricos foram péssimos nas suas ações de implementação.
A vida humana é um relacionar-se em sociedade que deve dar-se na dimensão dos valores pessoais que alicerçam o agir, mas um agir respeitoso e tolerante para com as diferenças de prática e concepção. Ao negar a primazia dos conceitos sobre a práxis, não estou advogando o simplismo, o reducionismo, o ativismo, mas, antes, a práxis alicerçada no entendimento possível para cada pessoa, segundo suas capacidades e habilidades. Nego sim a arrogância cognitiva que, abdicando da prática, se arvora em palavra última e verdade absoluta. Nego as concepções gestadas em ambiente climatizado de ar-condicionado.
O conhecimento só é válido quando ele tem o objetivo de beneficiar o próximo, a sociedade. O arrogante é egóico. Pensa em si, acha que só ele sabe e sua preocupação é promover-se. O saber autêntico não se encerra em uma masmorra de proteção, antes deve ser fermento de esperança e promotor de mudanças visando melhorias sociais e relacionais. Busca a verdade e a justiça, sem se alienar do amor.
Lembro-me dos tempos de Mestrado em Educação quando professores se acusavam de ortodoxos e revisionistas (marxistas versus gramscianos), sem que nenhum deles tivesse uma vivência no mundo fora da Universidade. Cansei de participar de reuniões internacionais onde o que mais se fazia eram diagnósticos. Eram especialistas em RX, desvendando minucias de uma fratura, mas que nunca tinham colocado um gesso ou uma tala em um braço ou perna. Isto me faz lembrar o Dadá Maravilha: “eles trazem a problemática, eu venho com a solucionática.”
Trago estas reflexões porque acho que se faz, uma vez mais, um crime contra a educação neste país. Ainda que o lema da represidente seja Pátria Educadora, ela entregou a pasta inicialmente a um conhecido verborrágico, de tradição familiar, que de educador tinha nada e nem educado era. Deu no que deu.
Para substituí-lo ela entrega o cargo a um filósofo. Andei lendo coisas do Janine, coisas sobre o Janine e o vejo como mais um teórico que terá que assumir algo que ele só conhece nas radiografias que faz. Nisto ele empata com o Mangabeira Unger, o “ministrus absconditus” porque sumido está. Duvido que ele faça algo, ainda que, do fundo da minha razão quero que ele consiga fazer algo.
O que mais me preocupa nele é sua guinada conceitual. Escreveu ele que: “"A cultura é a educação fora de ordem, livre e bagunçada. Para cursos, há currículos. Para a cultura, não. Cada vez mais, a educação deverá se culturalizar: um, deixando de seguir currículos rígidos; dois, tornando-se prazerosa; três, criativa. O próprio caráter imprevisível da ação cultural e a dificuldade de planejá-la fazem dela um dos modelos para o que deve ser a educação numa sociedade criativa."

Se entendi, ele propõe uma educação “fora de ordem, livre e bagunçada”. Se fizer isto, será a cereja no bolo da zona que se instalou no país. Era o que faltava: um acadêmico propondo a bagunça. Espero que não saiba fazer isto, como soe acontecer com os acadêmicos.