Nada pode ser tão fatal para a vida humana que alguém trocar a
ação por conceitos, a realidade por ideias. Deve-se temer quem crê que pode,
somente falando e teorizando criar categorias e mudar sociedades. Os grandes teóricos
foram péssimos nas suas ações de implementação.
A vida humana é um relacionar-se em sociedade que deve dar-se
na dimensão dos valores pessoais que alicerçam o agir, mas um agir respeitoso e
tolerante para com as diferenças de prática e concepção. Ao negar a primazia
dos conceitos sobre a práxis, não estou advogando o simplismo, o reducionismo, o
ativismo, mas, antes, a práxis alicerçada no entendimento possível para cada
pessoa, segundo suas capacidades e habilidades. Nego sim a arrogância cognitiva
que, abdicando da prática, se arvora em palavra última e verdade absoluta. Nego
as concepções gestadas em ambiente climatizado de ar-condicionado.
O conhecimento só é válido quando ele tem o objetivo de
beneficiar o próximo, a sociedade. O arrogante é egóico. Pensa em si, acha que
só ele sabe e sua preocupação é promover-se. O saber autêntico não se encerra
em uma masmorra de proteção, antes deve ser fermento de esperança e promotor de
mudanças visando melhorias sociais e relacionais. Busca a verdade e a justiça,
sem se alienar do amor.
Lembro-me dos tempos de Mestrado em Educação quando
professores se acusavam de ortodoxos e revisionistas (marxistas versus
gramscianos), sem que nenhum deles tivesse uma vivência no mundo fora da
Universidade. Cansei de participar de reuniões internacionais onde o que mais
se fazia eram diagnósticos. Eram especialistas em RX, desvendando minucias de
uma fratura, mas que nunca tinham colocado um gesso ou uma tala em um braço ou
perna. Isto me faz lembrar o Dadá Maravilha: “eles trazem a problemática, eu
venho com a solucionática.”
Trago estas reflexões porque acho que se faz, uma vez mais, um
crime contra a educação neste país. Ainda que o lema da represidente seja
Pátria Educadora, ela entregou a pasta inicialmente a um conhecido
verborrágico, de tradição familiar, que de educador tinha nada e nem educado
era. Deu no que deu.
Para substituí-lo ela entrega o cargo a um filósofo. Andei
lendo coisas do Janine, coisas sobre o Janine e o vejo como mais um teórico que
terá que assumir algo que ele só conhece nas radiografias que faz. Nisto ele
empata com o Mangabeira Unger, o “ministrus
absconditus” porque sumido está.
Duvido que ele faça algo, ainda que, do fundo da minha razão quero que ele
consiga fazer algo.
O que mais me preocupa nele é sua guinada conceitual. Escreveu
ele que: “"A cultura é a
educação fora de ordem, livre e bagunçada. Para cursos, há currículos. Para a
cultura, não. Cada vez mais, a educação deverá se culturalizar: um, deixando de
seguir currículos rígidos; dois, tornando-se prazerosa; três, criativa. O
próprio caráter imprevisível da ação cultural e a dificuldade de planejá-la
fazem dela um dos modelos para o que deve ser a educação numa sociedade
criativa."
Se entendi, ele propõe uma
educação “fora de ordem, livre e bagunçada”. Se fizer isto, será a cereja no
bolo da zona que se instalou no país. Era o que faltava: um acadêmico propondo
a bagunça. Espero que não saiba fazer isto, como soe acontecer com os
acadêmicos.
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