Confesso que sempre tive problemas com a frase proferida por
Jesus, registrada em Mateus 21:31 “Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo: os
publicanos e as meretrizes vos precedem no Reino de Deus!” A minha incompreensão durou até
o dia que me contaram a seguinte história, vivida indiretamente por quem a
contou.
Houve uma chamada
de emergência no Serviço de Água e Esgoto, dando conta de um vazamento de
esgoto que transbordava e estava rolando abaixo na via pública. O problema
estava na Zona de Meretrício da cidade. O encarregado escalou uma equipe para
ir ao local e o motorista que deveria leva-los. O motorista escalado era membro
de uma igreja “pentencostal”, que vivia pregando a todo o mundo no trabalho e
cheio das certezas morais. Quando soube que deveria ir à Zona do Meretrício,
enfureceu-se, dizendo que não iria para o inferno, que aquele lugar era de
perdição e que ele se recusava a ir. O chefe o enquadrou e determinou que
fosse.
Na viagem de 20 minutos
foi resmungando, murmurando e reafirmando sua santidade. Os demais estavam
fazendo brincadeiras sobre o fato e com ele. Lá chegando, desceram as
ferramentas e iniciaram o trabalho, sob os olhares curiosos das meninas e da
tia que tinha a casa em frente à qual aconteceu o rompimento. O motorista
continuava a resmungar e murmurar, ao ponto dos colegas pedirem que ele fosse
embora e que, quando terminassem o trabalho, o chamariam para vir pegá-los. Ele
preferiu ficar, pregando sua “santidade”.
Uns quinze
minutos depois de iniciado o trabalho, já suados com o esforço da picareta, uma
das meninas trouxe uma jarra de suco gelado e um copo para cada um dos trabalhadores,
inclusive o motorista, que recusou a bebida para não se contaminar.
Trabalharam a
manhã toda. Almoçaram a marmita que levaram, mais o suco que novamente lhes
ofereceram. O motorista “santo” continuava a praguejar.
Lá pelo meio da
tarde terminaram o trabalho. Para surpresa deles, a senhora dona da casa
convidou-os para entrar, se lavar e um lanche que ela e as meninas haviam
preparado estava sobre a mesa. Ao entrarem, viram um banquete, todas meninas
com lenço na cabeça e avental por questão de higiene.
Aqueles homens
que haviam trabalhado no esgoto, entrado nele, se lambuzado com ele, estavam
agora sendo recepcionados por quem se preocupou com a higiene no preparo da
comida. O “santo” não entrou porque não queria se contaminar.
Quem amou o
próximo? O motorista “crente, santo e pentencostal” ou as meninas e a dona da
casa delas?
Confesso que me
emocionei quando ouvi a história por parte de quem trabalha no serviço de águia
e esgoto e me emociono agora ao escrever sobre ela. Houve graça da parte delas
e justiça empedernida e arrogante por parte do motorista.
Com uma história
como essa entendo porque Jesus disse que elas precederão os “fariseus, santos,
incontaminados e arrogantes”.
Marcos Inhauser
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