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quarta-feira, 29 de abril de 2009

Igrejas Históricas da Paz

Volto, depois de dez anos, à República Dominicana, país que já visitei mais de vinte vezes, em função de trabalho de educação teológica que aqui realizei, sendo diretor de um seminário. À primeira impressão, parece que muita coisa mudou, pois novas avenidas, viadutos e túneis se abriram para escoar o tráfego e os cortes de luz parecem menos freqüentes e mais curtos.

No entanto, quando entro pelo país adentro, especialmente indo em direção ao Haiti, percebo que as coisas continuam iguais ao que era e, talvez, em alguns lugares, ainda mais complicado. No domingo estive em um Batei (vila de haitianos ilegais que vem à República Dominicana para trabalhar nos canaviais) e conclui, falando com as pessoas, que as coisas continuam iguais e talvez piores. Hoje vou a outro Batei onde os moradores viviam do trabalho do corte da cana e que já não tem o que fazer porque a usina fechou. Sem trabalho e na condição de ilegais, não podem sair da vila onde vivem, com medo de serem capturados pelas autoridades.

Neste contexto, as Igrejas Históricas da Paz (Irmandade, Menonitas e Quáqueros) se reuniram para convocar uma Conferência que busque ações concretas para reduzir a violência, no marco da Década para Redução da Violência. A tarefa é hercúlea, as formas de violência são múltiplas, mas algo se deve fazer, ainda que seja plantar grãos de mostarda.

Historicamente estas três igrejas tem se dedicado a elaborar uma teologia da paz e a buscar formas concretas de implementá-la. Representantes destas igrejas foram responsáveis por várias ações mundiais de denúncia da guerra, qualquer que seja, como pecado. Muitas ações foram desenvolvidas para os objetores de consciência (jovens que se negam a servir ao exército por razões de consciência), formas alternativas de serviço durante a guerra (criou-se um hospital em San Juan, Porto Rico para atender aos feridos de guerra e os que lá serviam não seriam chamado às armas). Também há forte mobilização entre os membros das Igrejas Históricas de Paz pelo desarmamento das nações e pessoal. Membros destas Igrejas tem se notabilizado por serem estudiosos das técnicas de resolução de conflitos e mediação, tendo, inclusive cursos universitários voltados ao tema e vários trabalhando para a ONU e na mediação de conflitos internacionais.

A Conferência que agora se convoca tem por objetivo reunir estas experiências pela paz na América Latina, coordenar ações e disseminar a teologia da paz entre outras igrejas e movimentos, de tal forma que a paz deixe de ser sonho e se torne realidade nas ações diárias das pessoas.

Quero ser criança, sempre

Já tive oportunidade de contar minhas peripécias com meus netos e como aprendi com a história o real robot. Mas, talvez, a mais significativa, tenha sido uma que não diretamente relacionada ao robô. Estávamos em Shanghai em um dia chuvoso e sem muita opção de passeio. Fomos a um shopping com muitos brinquedos para crianças, mas coisas eletrônicas, onde a participação é mínima: você passa a ser o objeto da ação e não senhor dela.

Minha filha viu um cartaz de um show de acrobatas chineses e nos perguntou se queríamos ir ver. Os netos perguntaram o que era isto e ela explicou. Eles se animaram. Ao me perguntar e devolvi a pergunta: mas vamos poder aplaudir com entusiasmo? Ela respondeu afirmativamente.

Lá fomos nós. Sentamos na quarta fila e meus lados, um de cada lado. Começado o espetáculo eu coloquei o menor no meu colo para que pudesse melhor ver (sentou um cabeção à sua frente) e comecei a comentar que era difícil fazer o que o acrobata estava fazendo, que por trás da exibição havia muitas horas de treino. Ao final daquela apresentação, plauadimos com entusiasmo. Em seguida, o neto mais velho também para o meu colo e comecei a dizer “uau” e eles começaram a dizer “awesome” a cada coisa mais atrevida ou difícil. A certa altura estávamos todos de tal forma envolvidos e participando do show, que gritávamos “unbelievable”, “incredible” a cada pouco e os netos aplaudiam em pé. Era uma festa. Era como estivéssemos no palco juntos, fazendo com eles as coisas.

A filha e a esposa tentavam estavam desconfortáveis com nossa euforia.

Olhando para trás, acho que foram dois shows: o dos acrobatas no palco e o nosso na platéia. Saímos em êxtase, como se tivéssemos visto o indizível. Os netos chegaram ao hotel e contaram ao pai tudo o que haviam visto e não o deixaram dormir até bem tarde da noite, tentando reproduzir os saltos e contorcionismo que viram.

Voltando para casa, eles montaram um circo no porão e começaram a praticar saltos, a melhorar a performance. E eu com eles, incentivando e vivendo a criança com eles. No dia do aniversário da avó fizemos uma apresentação de acrobacia (se é que não ofendo os acrobatas chamando assim ao que fizemos).

O Reino é assim: ele nos entusiasma, nos convida a subir ao palco e brincar como crianças. Quando deles participamos queremos contar aos outros a nossa delícia de experiência e evangelizamos pelo entusiasmo e pelo convite a ser crianças como nós. E sendo crianças sempre, nos apropriamos da plenitude do Reino.

terça-feira, 7 de abril de 2009

LEVEI UM BAILE

Ou melhor, mais de um. O primeiro foi quando recebi o pedido dos netos para fazer com eles um "real robot". O segundo baile foi pensar em algo que pudesse fazer e que se parecesse ao que me pediam. Para tanto, vários amigos me ajudaram e me deram idéias. O terceiro foi chegar aqui e começar a fazer a coisa.
Trouxe um monte de coisas, mas o básico eram algumas peças de metal e parafusos que, juntados, serviriam de estrutura para o que iríamos construir. Vim com uma idéia bastante completa e pronta e quis impor isto a eles. E aí entrou o mais completo baile que levei. Eles me mostraram o quanto eu havia perdido a capacidade de imaginar, sonhar, fantasiar, de ser criança. Eles me mostraram que mais importante que o produto pronto e acabado, a coisa bem feita, é a imaginação, o que se sonha ao fazer.
Quando menos esperei a imaginação deles estava a mil e a minha execução trôpega. Eu queria colocar algo em um local definido e eles viajavam e queriam outras coisas em outros lugares. Onde eu via uma haste mecânica, eles viam o braço, a mão, os dedos. Onde eu via um monte de hastes mal montadas, eles viam o real robot, onde eu via algo a ser completado, eles viam mundos.
Acho que é por isto que Jesus ensinou que se não nos tornarmos como crianças, não poderemos entrar no Reino de Deus. Há no Reino algo de sonho, fantasia, utopia, de possibilidade diante da impossibilidade. É um tornar-se criança, um desfrutar das coisas mais simples tirando delas as doçuras que só a fantasia e o sonho conseguem. É querer as coisas simples, as verdades menos complexas (quanto mais complexa mais possibilidade de erro), acreditar nas pessoas, viajar nas possibilidades, crer no impossível. É um contentar-se com um estilo de vida simples, onde o conforto simples e não o luxo é a tônica.
Muitos amigos me escreveram desejando-me sorte na empreitada e outros pedindo fotos da obra. Publicamente quero reconhecer que não consegui fazer um real robot nos moldes que imaginei e que os amigos imaginaram. Tampouco tenho absoluta certeza de que os netos acham que conseguimos. Mas o que valeu foi o tempo que passamos juntos, as coisas que puder ensinar de mecânica, eletricidade, de trabalho em equipe, de planejamento. Se o real robot não saiu como eu queria, a intimidade, a amizade, o amor entre mim e os netos que não tenho oportunidade de conviver porque a distância é enorme só fez aumentar.
Não há real robot mas há, por causa dele, real love and friendship e, importantíssimo, sonhos que queremos se tornem realidade.

terça-feira, 31 de março de 2009

A MALA ME CARACTERIZA

Certa vez uma psicóloga me pediu que algo que me identificaria. Fiquei na dúvida entre a sala de aula e a caneta, por me achar professor e gostar de escrever. Hoje eu ficaria na dúvida entre as mesmas coisas mais a mala de viagem. Parece que não nasci com pés, mas com rodas. Minha vida foi viajar. Já rodei um bocado.
Na semana passada, o que nunca sonhei na vida, estive em Shanghai e mais uma vez a monumentalidade das construções chinesas me deixou boquiaberto. Eu havia acabado de assistir a um documentário sobre o Edifício Torre Mayor na cidade do México e a grandiosidade dele, suas características antissísmicas e o fato de ser único na América Latina. Em Shanghai deve haver uns 50 deles. A arquitetura dos novos edifícios é arrojada, moderna e busca privilegiar conceitos ecológicos. O aeroporto de Pudong (o mais novo) tem 233 portas de embarque. Vi árvores sendo plantadas aos montes por todas as partes, assim como vi a poluição terrível que cobre a cidade e um trânsito simplesmente caótico.
Por todas as ruas que passei (e não foram poucas) havia obras de remodelação, ampliação, ajardinamento. Da janela do hotel contei ao menos 8 áreas em construção. Quando subi na torre de televisão, cartão postal da cidade que equivale a um prédio de uns 150 andares, o que vi lá em baixo foi um grande canteiro de obras.
Tal se deve a duas razões: Shanghai hospedará em 2010 a maior Convenção Internacional de Comércio e Negócios e a decisão de transformar a cidade no maior porto do mundo. Para se ter uma idéia, eles construíram um em pleno mar, com 25 quilômetros de extensão, usando umas pequenas ilhas e aterrando os espaços entre elas. A cidade é ainda a capital financeira da China, sede da maior parte das indústrias e onde as multinacionais tem seus escritórios. Simploriamente poderia dizer que Beijing é a capital política, mas Shanghai é a capital financeira e dos negócios.
Ao ver estas coisas e também saber das condições de trabalho da maioria dos chineses, fico a pensar se é certa a afirmação de que o Brasil é o campeão mundial das desigualdades sociais. Por outro lado, se só um por cento da população é rica, há na China um Brasil inteiro de milionários. Acima de tudo, há que se considerar que esta é uma sociedade que não privilegia o consumo, mas a poupança. Daí dá para entender porque eles tem mais de um trilhão de dólares aplicados nos Estados Unidos. E nosso Lula todo lampeiro se gabando de ter 200 bilhões em caixa. Isto talvez explique porque a China deve crescer só sete por cento em 2009 e o Brasil do Lula vai ficar patinando.

segunda-feira, 23 de março de 2009

TRÊS BEIJINGS

Esta é a minha terceira vez em Beijing. Na primeira delas, há quase oito anos, fiquei impressionado com a imponência das coisas. Tudo é muito grande, muito majestoso. Visitei a Grande Muralha, a Cidade Proibida, o Templo da Paz Celestial, a praça da Paz Celestial entre muitas outras coisas entre shopping centers e centros de comércio popular. A largura da avenida central da cidade foi algo que me deixou boquiaberto. Tudo me pareceu tão gigantesco, como não havia visto em nenhum outro lugar que eu tivesse visitado, exceto o Palácio de Versalhes.
Na minha segunda viagem fiquei mais tempo dentro de casa por causa do inverno e porque tínhamos vindo visitar o neto que tinha alguns meses de vida. Mesmo assim, em uma noite saímos para jantar e entramos em uma garagem no subsolo de um centro comercial e hotel que me pareceu um labirinto.
Nesta terceira vez fiquei assustado com o tamanho do novo aeroporto, com o requinte das suas dependências, com a quantidade de novas construções no entorno de onde minha filha mora, com a quantidade de coisa nova no centro da cidade, as novas avenidas e estradas, que me pareceu uma nova Beijing.
Em conversas com minha filha e amigos brasileiros que aqui vivem, bem assim alguns de outras nacionalidades, eles são unânimes em afirmar o ritmo acelerado das construções e mudanças que ocorreram para as Olimpíadas e que se estende até hoje. Aqui perto de onde estou, construíram um Centro de Convenções que muito seguramente é o maior do mundo.
Quando no sábado saímos para um passeio fora de Beijing, fiquei surpreendido pela quantidade de áreas de reflorestamento ao redor da cidade e meu genro me explicava a prioridade que se está dando para dar à cidade árvores e um cinturão verde como forma de minimizar a poluição (esta também monumental) e minorar as tempestades de areia que ocorrem em certo período do ano.
Nestas três visitas, todas feitas em período de inverno (ou final dele como esta última), não pude ver o verde que há em Beijing, especialmente com a massiva plantação de árvores para as Olimpíadas. Mas acreditando no que me dizem os que por aqui vivem, acho que terei que voltar na primavera ou outono para ver uma quarta Beijing, mais bela, mais verde e com menos céu cinza.
Uma coisa é comum às três visitas: ainda que me digam que este é um país comunista, não consigo acreditar porque tudo por aqui me cheira puro capitalismo. A quantidade de coisas com jeito ocidental, fastfood, hotéis de cadeias internacionais, em certos momentos me parece que estou em uma cidade americana ou européia.

Marcos Inhauser

domingo, 22 de março de 2009

EU TENHO O PODER

Causou-me espécie a atitude do “pastor” que atentou contra a liberdade de imprensa quando do episódio da queda do teto na Universal de Campinas. Havia decidido escrever sobre isto quando recebi da amiga, historiadora e professora Rute Salviano as seguintes reflexões:
“O ... ocorrido com o repórter no templo da Igreja Universal é ... amostra de como o poder que a si mesmo se outorgam diversos pastores ... tem prejudicado a igreja cristã e a comunidade em geral. O que ocorreu refletiu ... devido ao envolvimento ... da imprensa, mas imaginem, no dia a dia, dentro daquele templo como aquele líder arrogante deve liderar os membros de sua igreja.
O rebanho de Deus ... deve ser pastoreado sem domínio, mas com serviço e exemplo ... Acontece que os pastores que deveriam servir seus liderados acreditam que devem dominá-los e governar sobre eles. Alguns pastores ... declaram ter recebido um chamado divino de pastorear a igreja de Cristo e sabem que devem conduzi-la até o noivo. Sabem que a Igreja pertence a Cristo, que é seu Senhor. ... Porém, rapidamente de servos passam a senhores, assenhoreiam-se da noiva, dominam a igreja e acreditam que são os verdadeiros donos do rebanho e, por conseguinte, controlam a tudo e a todos dentro das quatro paredes do templo.
Membros ... são afastados de seus cargos ou por fazerem sombra ao pastor ou por mero capricho e interesse pessoal. Eles sempre têm a última palavra e a bela democracia cristã transforma-se em ditadura. Neste orgulho, nesta prepotência e arrogância crêem equivocadamente que estão servindo a Deus, mas, infelizmente servem só a eles mesmos e contam-se aos milhares os decepcionados com este tipo de liderança, totalmente anti-cristã, que já saíram das igrejas evangélicas.”
A estas considerações eu acrescentaria que quem crê que tem o poder de dar ordens a Deus, orando com atrevimento e exigindo a benção da prosperidade, se julga também no direito e com o poder de cercear a informação, dar ordens a Deus e todo o mundo, impedir o trabalho investigatório. No caso do templo da Renascer, sabe-se hoje que foi a bancada evangélica quem pressionou para que os templos não fossem vistoriados. No caso de Campinas, até hoje não entendo como se burlou a lei que impede a construção de templos, escola e afins a menos de 500 metros de posto de gasolina. A esta altura uma pergunta não quer calar: o prédio tem o habite-se?
Marcos Inhauser