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terça-feira, 15 de setembro de 2009

BÍSPOLO OU APOSTOLISPO?

Há alguns anos, a pedido de um amigo que morava fora, liguei para uma casa de recuperação de viciados em drogas, de orientação evangélica, para obter informações sobre as condições de internação e custos, visto que tinha um filho de membro da igreja necessitando de recuperação.
Liguei para a tal Casa de Recuperação e fui atendido pelo evangelista Cicrano. Perguntei a ele como poderia obter informações, ao que me informou que eu deveria ligar mais tarde para falar com o Missionário Beltrano, que era o encarregado, e que havia saído para uma missão.
Liguei mais tarde, o Evangelista me atendeu, passou a ligação para o Missionário, quem me disse que a informação estava errada porque, na realidade, quem podia passar estas informações era o Pastor Mengano, pois só ele tinha autoridade para isto. O Missionário me deu outro telefone, liguei para lá, pedi para falar com o Pastor Mengano, ao que me informaram que o Pastor havia sido promovido a Reverendo no domingo anterior. Pedi para falar com o Reverendo. De boa fala, mas todo enrolado nos “s” e nas concordâncias, ele me explicou as condições gerais de ingresso, custo, método de trabalho, visitação, etc.
O que me chamou a atenção é que o interessado deveria preencher um formulário que seria examinado por uma Diretoria presidida pelo Bispo Gerais. Ironicamente perguntei se havia apóstolo também na hierarquia da instituição.
Pertencendo a uma tradição teológica que se primou por considerar todos os membros da igreja iguais, que se recusou a dar títulos uns aos outros, limitando-se a se chamar de irmãos e irmãs (daí porque o nome Irmandade), fico pasmo com esta hierarquização no seio das comunidades, que já não sei se posso chamá-las de cristãs.
Como parece que ainda não inventaram um título superior a “apóstolo” (uma usurpação de nome dado aos doze mais Matias e Paulo), não me surpreenderia se amanhã aparecesse alguém se denominando Bíspolo ou Apostolispo, junção de Bispo mais Apóstolo e sendo superior hierarquicamente a tudo o que existe.
Ou, talvez, alguém que se encoraje a ter o título que um amigo a quem chamei de Bíspolo, me devolveu dizendo que ele me nomeava “Vicepresidente da Trindade”. E não estamos para menos, tal a quantidade de Bispos e Apóstolos autoproclamados e autoordenados dando ordens a Deus, como se Ele empregado deles fosse. Um deles, que tem vídeo no Youtube, começa sua oração dizendo; “Pai, pelos créditos que tenho diante de Ti, eu ordeno que, num raio de cinco quilômetros ao meu redor, todos os demônios sejam derrotados.”
Haja presunção. Para estes, o título de Vicepresidente da Trindade talvez seja pouco. Que tal o de coDeus?

Marcos Inhauser

terça-feira, 14 de julho de 2009

CADÊ OS PROFETAS?

Não é de hoje que me preocupo com a dimensão profética da igreja. Não me refiro às profetadas, tão comum em centros que mais se parecem a adivinhações e chutes prognósticos, nem aos que se sentem porta-vozes de Deus para manipular a vida de incautos, mas à dimensão vetero-testamentária, de pessoas vocacionadas por Deus para diagnosticar o presente, para denunciar os pecados individuais, fossem eles cometidos por pessoas simples como pelos reis, e o pecado nacional (tão esquecido pelos púlpitos e animadores de auditório religioso). Falo do pro+phemi, do pro+phetai, dos Isaías, Jeremias, Amós, Habacuques modernos.
Lembro-me de um renomado pastor guatemalteco, diretor de seminário e aclamado como teólogo, em uma reunião de seminários dizia ser a Guatemala o país latino americano mais evangélico e evangelizado em todo o continente. Na hora das perguntas, lhe perguntei como explicava o fato de ser (era isto 1990) o país mais violento politicamente da América. Ele me disse que não estava ali para falar de política. Mas este homem, quando pastor de uma igreja que fica atrás do Palácio Nacional, permitiu que tropas do Exército se colocassem na torre da Igreja para vigiar e atirar nos manifestantes. E ele sabia que eu sabia disto, porque estive na sua igreja e constatei isto.
Mais recentemente fui visitar minha filha na China e fomos três vezes à Igreja que é permitido aos estrangeiros freqüentar. Ela me explicava que há relativa liberdade, que podem cantar, orar, convidar outros estrangeiros, podem pregar aos nacionais em suas casas e aos empregados, mas que não podem falar de política, nem falar “mal do governo”. A função profética está castrada.
Olho para a igreja brasileira e fico a procurar profetas no sentido bíblico e não os encontro. Conheci o Federico Pagura, argentino, metodista, mistura de profeta e poeta. Conheci Dom Pedro Casaldáliga. Li sobre o Helder Câmara e o respeitei e o respeito. E entre os evangélicos? Quem foi ou é profeta denunciando escândalos, os desmandos, a locupletação da coisa pública, as hienas do erário?
Que igreja é esta, a brasileira, muito mais conhecida pelos “louvores”, solicitação à exaustão de ofertas e dízimos, pelos escândalos de seus “pastores”, pela falta de ética generalizada em seus vereadores, deputados e senadores? Que igreja é esta que seus líderes mais gostam de holofotes, de palcos, multidões, loas, carrões, televisão, rádio que ter cara e coragem para denunciar os pecados nacionais? Onde estão os Jeremias, Amós, Habacuques, Isaías, Miquéias?
Esta é uma igreja manca, enferma. Falta-lhe coragem para o ministério que não dá holofotes, que mais leva às cavernas que aos palcos. Uma igreja que tem mais cantores e milagreiros que pastores e profetas. Uma igreja que tem mais animadores de auditório que doutrinadores, que tem mais excitação que adoração, mais embusteiros que mensageiros.

domingo, 22 de março de 2009

EU TENHO O PODER

Causou-me espécie a atitude do “pastor” que atentou contra a liberdade de imprensa quando do episódio da queda do teto na Universal de Campinas. Havia decidido escrever sobre isto quando recebi da amiga, historiadora e professora Rute Salviano as seguintes reflexões:
“O ... ocorrido com o repórter no templo da Igreja Universal é ... amostra de como o poder que a si mesmo se outorgam diversos pastores ... tem prejudicado a igreja cristã e a comunidade em geral. O que ocorreu refletiu ... devido ao envolvimento ... da imprensa, mas imaginem, no dia a dia, dentro daquele templo como aquele líder arrogante deve liderar os membros de sua igreja.
O rebanho de Deus ... deve ser pastoreado sem domínio, mas com serviço e exemplo ... Acontece que os pastores que deveriam servir seus liderados acreditam que devem dominá-los e governar sobre eles. Alguns pastores ... declaram ter recebido um chamado divino de pastorear a igreja de Cristo e sabem que devem conduzi-la até o noivo. Sabem que a Igreja pertence a Cristo, que é seu Senhor. ... Porém, rapidamente de servos passam a senhores, assenhoreiam-se da noiva, dominam a igreja e acreditam que são os verdadeiros donos do rebanho e, por conseguinte, controlam a tudo e a todos dentro das quatro paredes do templo.
Membros ... são afastados de seus cargos ou por fazerem sombra ao pastor ou por mero capricho e interesse pessoal. Eles sempre têm a última palavra e a bela democracia cristã transforma-se em ditadura. Neste orgulho, nesta prepotência e arrogância crêem equivocadamente que estão servindo a Deus, mas, infelizmente servem só a eles mesmos e contam-se aos milhares os decepcionados com este tipo de liderança, totalmente anti-cristã, que já saíram das igrejas evangélicas.”
A estas considerações eu acrescentaria que quem crê que tem o poder de dar ordens a Deus, orando com atrevimento e exigindo a benção da prosperidade, se julga também no direito e com o poder de cercear a informação, dar ordens a Deus e todo o mundo, impedir o trabalho investigatório. No caso do templo da Renascer, sabe-se hoje que foi a bancada evangélica quem pressionou para que os templos não fossem vistoriados. No caso de Campinas, até hoje não entendo como se burlou a lei que impede a construção de templos, escola e afins a menos de 500 metros de posto de gasolina. A esta altura uma pergunta não quer calar: o prédio tem o habite-se?
Marcos Inhauser