Leia mais

Há outros artigos e livros de Marcos e Suely Inhauser à sua disposição no site www.pastoralia.com.br . Vá até lá e confira

Mostrando postagens com marcador neto. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador neto. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

ABALADO POR UM BIGODE



Mais que isto! Estou emocionalmente abalado por um bigode!
Não me lembro de ter alguma vez achado o bigode de alguém bonito. Antes, ainda que tenha o meu há mais de 44 anos, acho que há muitos que são filtro de comida. Quando li sobre a quantidade de ácaros e bactérias que vivem nos bigodes, tive vontade de raspar o meu. Fui proibido pela esposa. A partir daí passei a higienizar o meu com muito mais cuidado.
Já vi fotos de concurso de bigodes, eleitos por tamanho, estilo, corte, etc. Acho ridículo. E na política brasileira sempre detestei o “bigode do Piauí”.
Mas o bigode que mexeu comigo não teria condições de entrar em um concurso. Alguns até teriam dificuldade em chamar de bigode, uma vez que é ralo, mais parecendo penugem (deveria dizer “pelugem”), projeto de algo que um dia será um bigode. Por agora é um “quase-bigode”, mas mesmo assim mexeu profundamente com minhas emoções.
No final da semana passada recebi a foto de meu neto mais velho, que mora na China. Hoje ele está com 14 anos e lá estava ele com seu “quase-bigode”. Demorei para reagir, paralisado que fiquei com o que via. Depois de um tempo para me recuperar do knockout, olhei com mais atenção e ampliei a foto. De início pensei se tratar de brincadeira dele, uma vez que gosta de editar fotos e vídeos. Mas quem me mandava a foto era minha filha e em seguida dizia: estou ficando velha! Foi o golpe de misericórdia. Eu já tenho um neto com bigode!
Os sociólogos falam dos ritos de passagem, cerimônias religiosas (no mais das vezes) que vão marcando as etapas da vida. Eu prefiro falar de “eventos de passagem” ou “fatos de passagem”. Um deles foi o dia em que minha filha veio nos visitar. Ela morava em Taiwan e estava grávida. Lembro-me com a clareza de algo que acaba de acontecer. Assim que ela entrou na nossa casa, fui ao seu encontro e, ao invés de abraçá-la, me ajoelhei diante dela, coloquei minha cabeça na sua barriga e orei agradecendo a Deus pelo filho que estava gerando e pelo neto que estávamos esperando. Lembro-me de ter orado para que ela fosse uma mãe abençoada e abençoadora e eu o meu neto fosse uma benção na nossa vida!
Estávamos em Beijing quando ele nasceu. Quando o tomei pela primeira vez no colo, não consegui segurar as lágrimas. No meu coração orei: faça desta criança uma benção e permita que eu seja uma benção na vida dele.
Cada vez que nos encontrávamos aqui ou na China, era uma celebração. Juntos inventamos coisas, brincamos de trem com cadeiras deitadas no chão, imaginamos pesca de tubarão, eu o vi deslumbrados com os barcos, navios e ônibus. Juntos fizemos um robô, berramos feito loucos em um show de acrobacia em Shangai, corremos e quase morri de canseira na Grande Muralha, fui ao campo de golfe vê-lo treinar e jogar. Qual moleque travesso, gargalhei aos montes quando arrumei para ele uma partida de golfe com a revelação brasileira. Quando o menino da mesma idade dele apareceu e tinha o dobro do tamanho do meu neto, ele olhou para mim pasmo e me perguntou: “vô, o senhor tem certeza de que ele só tem 13 anos?” Vibrei quando, depois de estar perdendo nos nove primeiros buracos ele ganhou a partida nos buracos seguintes.
Obrigado Deus! Eu já tenho um neto com bigode. Nos meus botões acho que tenho sido uma benção para ele. Ele, sim, tem sido uma benção na minha vida! 
Marcos Inhauser

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

ARGUMENTATIVO


Meu neto Thiago tem seis anos de idade. Ele é um formigão: adora doces. Há alguns meses, por recomendação médica, começou-se a controlar a quantidade de açúcar diária. A mãe dedicou-se à árdua tarefa, restringindo a dieta. Todos os dias ele pede bala e ela diz que não vai dar para o bem da saúde dele.
Dia destes ele perguntou à mãe:
̶ Quando eu crescer eu vou casar. E quando eu casar vou ter filho?
̶ Sim, você poderá casar e ter filho.
̶ Quando eu tiver filho eu vou dar duas balas todos os dias para ele!
A mãe percebeu a alfinetada do filho e retrucou:
̶ Quando você tiver seu filho você vai se preocupar com a saúde dele e também vai se preocupar com o que ele come e quanto come, especialmente em se tratando de doces.
̶ Mas eu vou dar duas balas para ele todos os dias!
̶ Aí você não estará preocupado com a saúde dele.
̶ Mas eu vou estar preocupado com a felicidade dele também, e por isto vou dar duas balas todos os dias.
Não é a primeira vez e nem sou o único a ser surpreendido com as afirmações dos filhos e netos. Isto faz parte da história da humanidade.
No entanto, tenho para comigo, no que penso sou secundado por muitos outros, as crianças de hoje estão mais “inteligentes”, mais rápidas no gatilho e mais argumentativas.
Há algumas possíveis explicações para isto. A própria expressão “dar à luz” tinha um significado original diferente daquele que hoje damos. Ela se referia ao dia em que a criança, depois da quarentena em quarto escuro no qual era mantida logo após o nascimento, era trazida à luz. Isto era, em alguns casos, quarenta dias depois do nascimento. A criança era confinada e, de certa forma, engessada nas fraldas, faixas e cueiros. Parece que era proibido se mexer, espernear, sentir a liberdade depois de meses encerrado na bolsa uterina. Justificava-se dizendo que devia ser enfaixado para que a coluna “endurecesse”.
As exposições aos estímulos externos eram mínimas. Seu mundo, no mais das vezes, era viver no “chiqueirinho”.
Houve uma mudança drástica no nascimento, cuidado, educação e oportunidades. Elas estão mais livres e soltas, seus pais saem a passear com elas logo nos primeiros dias de vida, ouvem música, veem televisão, vão às escolinhas, interagem com outras crianças, aboliu-se o chiqueirinho, acessam o celular, IPhone, Ipad, games.
Os brinquedos estimulam o raciocínio e a capacidade argumentativa. Mais que ordens verticais, os pais aprenderam a dialogar e a explicar aos filhos o por que das coisas. Eles aprendem e argumentam. E nós nos surpreendemos e ficamos de queixo caído.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Quero ser criança, sempre

Já tive oportunidade de contar minhas peripécias com meus netos e como aprendi com a história o real robot. Mas, talvez, a mais significativa, tenha sido uma que não diretamente relacionada ao robô. Estávamos em Shanghai em um dia chuvoso e sem muita opção de passeio. Fomos a um shopping com muitos brinquedos para crianças, mas coisas eletrônicas, onde a participação é mínima: você passa a ser o objeto da ação e não senhor dela.

Minha filha viu um cartaz de um show de acrobatas chineses e nos perguntou se queríamos ir ver. Os netos perguntaram o que era isto e ela explicou. Eles se animaram. Ao me perguntar e devolvi a pergunta: mas vamos poder aplaudir com entusiasmo? Ela respondeu afirmativamente.

Lá fomos nós. Sentamos na quarta fila e meus lados, um de cada lado. Começado o espetáculo eu coloquei o menor no meu colo para que pudesse melhor ver (sentou um cabeção à sua frente) e comecei a comentar que era difícil fazer o que o acrobata estava fazendo, que por trás da exibição havia muitas horas de treino. Ao final daquela apresentação, plauadimos com entusiasmo. Em seguida, o neto mais velho também para o meu colo e comecei a dizer “uau” e eles começaram a dizer “awesome” a cada coisa mais atrevida ou difícil. A certa altura estávamos todos de tal forma envolvidos e participando do show, que gritávamos “unbelievable”, “incredible” a cada pouco e os netos aplaudiam em pé. Era uma festa. Era como estivéssemos no palco juntos, fazendo com eles as coisas.

A filha e a esposa tentavam estavam desconfortáveis com nossa euforia.

Olhando para trás, acho que foram dois shows: o dos acrobatas no palco e o nosso na platéia. Saímos em êxtase, como se tivéssemos visto o indizível. Os netos chegaram ao hotel e contaram ao pai tudo o que haviam visto e não o deixaram dormir até bem tarde da noite, tentando reproduzir os saltos e contorcionismo que viram.

Voltando para casa, eles montaram um circo no porão e começaram a praticar saltos, a melhorar a performance. E eu com eles, incentivando e vivendo a criança com eles. No dia do aniversário da avó fizemos uma apresentação de acrobacia (se é que não ofendo os acrobatas chamando assim ao que fizemos).

O Reino é assim: ele nos entusiasma, nos convida a subir ao palco e brincar como crianças. Quando deles participamos queremos contar aos outros a nossa delícia de experiência e evangelizamos pelo entusiasmo e pelo convite a ser crianças como nós. E sendo crianças sempre, nos apropriamos da plenitude do Reino.