Meu
neto Thiago tem seis anos de idade. Ele é um formigão: adora doces. Há alguns
meses, por recomendação médica, começou-se a controlar a quantidade de açúcar
diária. A mãe dedicou-se à árdua tarefa, restringindo a dieta. Todos os dias
ele pede bala e ela diz que não vai dar para o bem da saúde dele.
Dia
destes ele perguntou à mãe:
̶
Quando eu crescer eu vou casar. E quando eu casar vou ter filho?
̶
Sim, você poderá casar e ter filho.
̶
Quando eu tiver filho eu vou dar duas balas todos os dias para ele!
A mãe
percebeu a alfinetada do filho e retrucou:
̶
Quando você tiver seu filho você vai se preocupar com a saúde dele e também vai
se preocupar com o que ele come e quanto come, especialmente em se tratando de
doces.
̶
Mas eu vou dar duas balas para ele todos os dias!
̶
Aí você não estará preocupado com a saúde dele.
̶
Mas eu vou estar preocupado com a felicidade dele também, e por isto vou dar
duas balas todos os dias.
Não é a
primeira vez e nem sou o único a ser surpreendido com as afirmações dos filhos
e netos. Isto faz parte da história da humanidade.
No
entanto, tenho para comigo, no que penso sou secundado por muitos outros, as
crianças de hoje estão mais “inteligentes”, mais rápidas no gatilho e mais
argumentativas.
Há
algumas possíveis explicações para isto. A própria expressão “dar à luz” tinha
um significado original diferente daquele que hoje damos. Ela se referia ao dia
em que a criança, depois da quarentena em quarto escuro no qual era mantida
logo após o nascimento, era trazida à luz. Isto era, em alguns casos, quarenta
dias depois do nascimento. A criança era confinada e, de certa forma, engessada
nas fraldas, faixas e cueiros. Parece que era proibido se mexer, espernear,
sentir a liberdade depois de meses encerrado na bolsa uterina. Justificava-se
dizendo que devia ser enfaixado para que a coluna “endurecesse”.
As
exposições aos estímulos externos eram mínimas. Seu mundo, no mais das vezes,
era viver no “chiqueirinho”.
Houve
uma mudança drástica no nascimento, cuidado, educação e oportunidades. Elas
estão mais livres e soltas, seus pais saem a passear com elas logo nos
primeiros dias de vida, ouvem música, veem televisão, vão às escolinhas,
interagem com outras crianças, aboliu-se o chiqueirinho, acessam o celular,
IPhone, Ipad, games.
Os
brinquedos estimulam o raciocínio e a capacidade argumentativa. Mais que ordens
verticais, os pais aprenderam a dialogar e a explicar aos filhos o por que das
coisas. Eles aprendem e argumentam. E nós nos surpreendemos e ficamos de queixo
caído.
Marcos
Inhauser
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