Em toda família que
tenha dois ou mais filhos há um Abel e um Caim. A afirmativa pode parecer
ousada e dura, mas me explico.
Todas as vezes que se
tiver duas ou mais pessoas juntas, seja em reunião, família ou equipe, de forma
natural e não premeditada surgirá um que se destacará como líder, como a pessoa
“do bem” e outra que será a que tentará chamar a atenção sobre si com gestos,
atos ou comportamento reprováveis ou estranhos. Pode também ser
involuntariamente eleita como o bode expiatório de tudo quanto de mal aconteça.
Qual a família que,
tendo dois ou mais filhos, não têm o que estuda sem precisar que se cobre isto
dele, que arruma suas coisas, que faz o dever de casa; e outro que deixa as
coisas bagunçadas, não gosta de estudar e só quer dormir até tarde?
Na história bíblica há
vários exemplos: Abel e Caim, Isaque e Ismael, Jacó e Esaú. Davi era o “patinho
feio” entre os irmãos, assim como José que acabou vendido a mercadores de
caminho ao Egito.
Quem, trabalhando em
uma empresa, não tem nela o cara que faz tudo errado, que é mole, acomodado,
lento, alvo das piadas e saco de pancada de todos? Se é mandado embora, outro fatalmente o
substituirá.
Estas considerações me
vêm à mente porque, no plano internacional, parece que ocorre o mesmo. Há uma
extrema boa vontade das nações, indivíduos e religiões cristãs em aplaudir tudo
quanto Israel faça, mesmo que seja massacre como foi o caso de Sabra Shatila, a
mortandade no barco turco que levava ajuda humanitária, e a opressão e invasão
da Palestina.
Por outro lado, o
estigma fica por conta da Palestina que, mesmo buscando pelos meios
diplomáticos e legais ser inserida no concerto das nações abrigadas no
guarda-chuva da ONU, é tratada como nação de segunda, quiçá de terceira
categoria.
O simples fato de ter
sido recebida pela UNESCO como membro pleno levou o aliado ad eternum (EUA) a retaliar e a cortar as verbas que envia ao
órgão, como se a participação dos palestinos fosse mais perigosa que uma bomba
atômica jogada sobre Washington.
Temos uma enorme
necessidade de ter sempre um bode expiatório para nossas vidas e atos. Ë o
irmão ou irmã que encarna meu lado “do mal”, aquele que não tenho coragem de
assumir e que transfiro para este meu bode expiatório. Na empresa ele é o
culpado pelas minhas falhas e motivo dos meus risos de satisfação pela
afirmação nunca proferida de que sou melhor que ele ou ela.
No campo
internacional, precisamos de uma nação escolhida por Deus, com um povo eleito
para nos dar a esperança de que, aplaudindo tudo quanto façam, alguma benção
sobrará para mim. Preciso de um bode expiatório para jogar sobre esta nação,
ditador ou déspota todos os males.
Nestes dias nos
saciamos com os bodes expiatórios: Mubarack, Gadaffi, Hussein, Bin Laden,
Ministro do Transporte, do Turismo, da Agricultura, da Casa Civil, etc.
O único carisma que
restou foi o Steve Jobs, beatificado post
mortem como o santo da tecnologia, o que fez o que nem em sonho imaginamos
que poderíamos fazer.
Marcos Inhauser
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