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quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

PMDBrecht

Uma empresa é composta de uma diretoria e alguns departamentos, tais como comercial, financeiro e operacional. No caso de uma construtora, há ainda o de engenharia e um de execução das obras contratadas. Os nomes para estes departamentos podem variar e a quantidade pode aumentar, à medida que os negócios evoluem. No caso de uma construtora com obras em outros países, espera-se que haja um departamento dedicado às obras em solo nacional e outro que cuide das obras no exterior.
Nas recentes revelações sobre o funcionamento da Odebrecht, não só havia os que acima mencionei (os nomes podem variar), mas, sabe-se que havia um Departamento de Operações Estruturadas, nome pomposo para o departamento que cuidava de azeitar a máquina, pagando propina aos mais diferentes agentes públicos. Para nós que estamos de fora das investigações e nos inteiramos dos fatos à medida que são trazidos à tona pela mídia, já estávamos assustados e pasmos com a facilidade com que a empresa destinava milhões para este ou aquele político.
Com a revelação de que 77 executivos e ex-funcionários da empresa estavam firmando uma delação premiada, confesso que me assustei e me perguntei: como pode ter 77 altos funcionários na maracutaia? Era este o valor maior da empresa: negócios conseguidos via azeitadas milionárias?
No final da semana passada ficamos sabendo que a Odebrecht tinha outro Departamento: o de Operações Legislativas, onde políticos graduados, como se empregados assalariados da empresa fossem, atuavam na Câmara e no Senado para fabricar leis, isenções, empréstimos e quejandas, sempre atendendo aos interesses do empregador. Não se exagera ao dizer que a empresa “comprava” eleições de pessoas confiáveis que garantiam a contrapartida, como também governava o país a seu interesse. Agora, de forma mais clara, dá para entender a transfiguração da lei anticorrupção feita pela Câmara e a pressa do campeão mundial de investigações, o Renan em aprovar a lei de abuso de autoridade que, na verdade, é uma lei de tapa-boca.
Com estas revelações se consolida uma antiga convicção minha: a eleição via marqueteiro e exposição midiática é um atentado à democracia. Ela explica as eleições do Tiririca,  Russomano, Agnaldo Timóteo, Moacir Franco. Mas, mais do que isto, elege o Kassab, Paulinho da Força, Pimentel, Geddel, Eliseu Padilha, Moreira Franco, Jucá, Lobão, Collor, Cabral, Pezão, Paes, entre tantos outros. Por que os políticos são os maiores detentores de concessões de rádios e televisão neste país? Uma eleição na base do voto distrital misto muito contribuiria para acabar com esta distorção.
Por outro lado, isto nos leva a prestar, mais do que nunca, atenção no que fazem estes funcionários de empresas, alocados no legislativo, Tribunais de Contas e Judiciário. Fatos recentes corroboram o que acabo de dizer. Isenções para tráfego interestadual de mercadorias, redução de IPI, facilidades de acesso a créditos subsidiados, viagens internacionais da presidência para alavancar negócios, Fundo Partidário, CARF, são mofos onde prosperam as bactérias políticas e apaniguadas da podridão.
Por mais “saudável” e “transparente” que possa parecer uma emenda, decisão, sentença, Medida Provisória, é bastante provável que haja um interesse escuso no bojo delas.
Diante disto, não posso deixar de perguntar: o que estaria por trás de decisão de manter o executivo-mor da Odebrecht no Legislativo, Renan? Quanto custou o impeachment da Dilma para colocar na presidência o confiável Temer? Quanto custou a demora de sete anos para que se tornasse réu em uma das muitas investigações que sobre ele pesam? Quanto custa aos interessados, a demora em investigar e denunciar muitos dos acusados, como, por exemplo, Jucá, Padilha, André Moura, Serra, Alckmin, Wagner, Mercadante, etc.?
Só me vem à mente uma frase bíblica atribuída a Jesus: pode a árvore má produzir bons frutos? Pode o Temer e o PMDB fazer algo sem estar com o DNA que os têm caraterizado?
Marcos Inhauser