Uma empresa é composta de uma diretoria e alguns
departamentos, tais como comercial, financeiro e operacional. No caso de uma
construtora, há ainda o de engenharia e um de execução das obras contratadas.
Os nomes para estes departamentos podem variar e a quantidade pode aumentar, à
medida que os negócios evoluem. No caso de uma construtora com obras em outros
países, espera-se que haja um departamento dedicado às obras em solo nacional e
outro que cuide das obras no exterior.
Nas recentes revelações sobre o funcionamento da Odebrecht,
não só havia os que acima mencionei (os nomes podem variar), mas, sabe-se que
havia um Departamento de Operações Estruturadas, nome pomposo para o
departamento que cuidava de azeitar a máquina, pagando propina aos mais
diferentes agentes públicos. Para nós que estamos de fora das investigações e
nos inteiramos dos fatos à medida que são trazidos à tona pela mídia, já
estávamos assustados e pasmos com a facilidade com que a empresa destinava
milhões para este ou aquele político.
Com a revelação de que 77 executivos e ex-funcionários da
empresa estavam firmando uma delação premiada, confesso que me assustei e me
perguntei: como pode ter 77 altos funcionários na maracutaia? Era este o valor
maior da empresa: negócios conseguidos via azeitadas milionárias?
No final da semana passada ficamos sabendo que a Odebrecht
tinha outro Departamento: o de Operações Legislativas, onde políticos
graduados, como se empregados assalariados da empresa fossem, atuavam na Câmara
e no Senado para fabricar leis, isenções, empréstimos e quejandas, sempre
atendendo aos interesses do empregador. Não se exagera ao dizer que a empresa
“comprava” eleições de pessoas confiáveis que garantiam a contrapartida, como
também governava o país a seu interesse. Agora, de forma mais clara, dá para
entender a transfiguração da lei anticorrupção feita pela Câmara e a pressa do
campeão mundial de investigações, o Renan em aprovar a lei de abuso de
autoridade que, na verdade, é uma lei de tapa-boca.
Com estas revelações se consolida uma antiga convicção
minha: a eleição via marqueteiro e exposição midiática é um atentado à
democracia. Ela explica as eleições do Tiririca, Russomano, Agnaldo Timóteo, Moacir Franco.
Mas, mais do que isto, elege o Kassab, Paulinho da Força, Pimentel, Geddel,
Eliseu Padilha, Moreira Franco, Jucá, Lobão, Collor, Cabral, Pezão, Paes, entre
tantos outros. Por que os políticos são os maiores detentores de concessões de
rádios e televisão neste país? Uma eleição na base do voto distrital misto
muito contribuiria para acabar com esta distorção.
Por outro lado, isto nos leva a prestar, mais do que nunca,
atenção no que fazem estes funcionários de empresas, alocados no legislativo,
Tribunais de Contas e Judiciário. Fatos recentes corroboram o que acabo de
dizer. Isenções para tráfego interestadual de mercadorias, redução de IPI,
facilidades de acesso a créditos subsidiados, viagens internacionais da
presidência para alavancar negócios, Fundo Partidário, CARF, são mofos onde
prosperam as bactérias políticas e apaniguadas da podridão.
Por mais “saudável” e “transparente” que possa parecer uma
emenda, decisão, sentença, Medida Provisória, é bastante provável que haja um
interesse escuso no bojo delas.
Diante disto, não posso deixar de perguntar: o que estaria
por trás de decisão de manter o executivo-mor da Odebrecht no Legislativo,
Renan? Quanto custou o impeachment da Dilma para colocar na presidência o
confiável Temer? Quanto custou a demora de sete anos para que se tornasse réu
em uma das muitas investigações que sobre ele pesam? Quanto custa aos
interessados, a demora em investigar e denunciar muitos dos acusados, como, por
exemplo, Jucá, Padilha, André Moura, Serra, Alckmin, Wagner, Mercadante, etc.?
Só me vem à mente uma frase bíblica atribuída a Jesus: pode
a árvore má produzir bons frutos? Pode o Temer e o PMDB fazer algo sem estar
com o DNA que os têm caraterizado?
Marcos Inhauser