Há uma coisa que tem me irritado e que não entendo como,
estudantes da Bíblia, cometem o mesmo erro dia após dia. Há uma recomendação de
Jesus no sentido de não usar de “vãs repetições ... porque pensam que pelo
seu muito falar serão ouvidos” (Mateus 6:7).
Tenho notado o exercício da repetição nos cânticos (os
chamados “corinhos”), especialmente os de louvor, onde frases de senso comum e jargões
são repetidos à exaustão. “Eu te louvo, Oh! Deus”, “glorificado seja o teu nome”,
“Tu és grande”, “Tu és digno de ser louvado”, “Tu és eterno”, “Tu és santo”,
etc. Poderia citar uma quantidade enorme de exemplos destas “pérolas”.
Ocorre que elas não estão só nas letras dos cânticos, boa
parte deles de pobreza ímpar no conteúdo. Os cantores e líderes de louvor se
sentem na liberdade/obrigatoriedade de rechear os intervalos entre um cântico e
outro com sermonetes que nada mais são do que a repetição da mesmice acima
descrita. Na prática, a liturgia, ramo de estudos e prática ligados ao culto,
foram depauperados e, em muitos lugares, totalmente desprezados ou
ridicularizados.
A escolha dos cânticos se dá, não por critério de mensagem e
unidade temática, mas pelo nível de entusiasmo e empolgação que a música e seu
ritmo provocam. O que vale é a animação e não a mensagem. Sendo assim, não
estranha que a mesmice não aborreça, como a mim o faz.
O problema é que se fossem só os cânticos, talvez se perdoasse
porque os músicos e cantores não estudaram Bíblia e teologia com profundidade.
O que também me molesta são os sermões que repetem a mesmice. Há um certo
rebuscamento nas frases, nas ilustrações, mas a essência é sempre a mesma.
Mudam o texto, mudam as histórias, mas o ensino se resume a uns poucos
conceitos, repetidos em outras palavras, sermão após sermão. Variações do mesmo
tema.
Outra mesmice são os vídeos que circulam a granel na
internet e que entopem nossos celulares. São os que transferem as prédicas e os
púlpitos para uma tela. Pregam a mesmice, com a diferença de que o fazem no
vídeo e buscam alcançar o maior número de pessoas. Recebo destas mensagens aos
montes e, quando tenho paciência de escutar, percebo a dificuldade em encontrar
gente falando seus próprios pensamentos, algo que seja fruto da sua experiência.
Falam banalidades e repetem o que outros disseram. Já ouvi a mesma história
contado por quatro pregadores diferentes, cada qual com o ar de que estava
contando uma novidade.
Posso parecer pedante ao dizer estas coisas, passando a impressão
de que sou diferente. Nada disto. Quantas vezes eu me peguei no círculo vicioso
da mesmice, quantas vezes fiquei com vergonha de um sermão, aula ou algo que
escrevi. Não tenho o dom de trazer a novidade todas as vezes que falo, prego,
ensino ou escrevo. Tenho consciência disto. Eu me policio, e busco novas fontes
de informação. Nos últimos anos tenho lido coisas fora do mundo bíblico e
teológico, buscando refletir sobre o diálogo que pode existir entre os mundos,
às vezes díspares. O problema não é repetir algo algumas vezes. O problema é
não perceber que está falando a mesmice e achado que descobriu a quadratura do
círculo.
Marcos Inhauser