Por razões de trabalho e passeio já comi em muitos e
variados restaurantes, em vários países, desde os chiques até o muquifo. Há uns
sete anos voltei a um bom restaurante que eu frequentei nos década de oitenta.
Lá entrando vi que tudo estava mudado. O garçom que veio me atender eu o
reconheci dos tempos em que lá estive. Perguntei: “há quanto tempo o senhor
trabalha aqui?”. Há mais de 40 anos, responde ele. Eu repliquei: eu sei disto
porque o senhor já me atendeu várias vezes há vários anos. Ele então medisse: “naquele
tempo isto aqui era um restaurante, hoje é um comedor. Tenho vergonha de
trabalhar aqui porque esta coisa de comida self-service e por quilo é uma
desgraça”.
O difícil é encontrar um bom restaurante na maioria das
cidades que visito. E nestas andanças descobri que os restaurantes por quilo são
todos iguais. A mesma variedade, os mesmos temperos, um pouco mais quente neste
ou mais frio naquele. Alguns com reposição imediata, outros que esperam acabar
para repor. As mesmas saladas, o mesmo arroz e feijão, a mesma macarronada
(alho e óleo ou à bolonhesa), as mesmas sobremesas.
Perguntei um dia ao dono de um restaurante destes (onde comi
muitas vezes ao longo de doze anos). E ele me disse: “se eu inventar e colocar
comida diferente, acaba sobrando. Os clientes preferem sempre o mesmo”.
Isto tem acontecido com as igrejas e religiões. Se a gente
vai a uma Presbiteriana, Metodista, Batista, Assembleia ou igreja independente,
a mudança entre uma e outra será mínimo, cosmético. Todas adotam o mesmo
cardápio: muito louvor capitaneado por um grupo de jovens, com mini sermões
entre uma música e outra, orações genéricas, pregação sem contribuição da
reflexão do pregador (mais do mesmo) e benção final.
Parece que as pessoas vão em busca de um cardápio igual, mas
em locais diferentes, tal como faço quando estou em uma cidade por dois ou três
dias: como em restaurantes diferentes, ainda que saiba que o cardápio é o
mesmo.
Nas igrejas isto acontece. As pessoas vão hoje ao
restaurante presbiteriano, no domingo seguinte ao restaurante batista central,
depois ao nazareno e assim por diante. Tal como nos restaurantes por quilo,
cada um pega o que gosta e na quantidade que consegue comer. E, na quase
totalidade das vezes, a comanda vem: o momento das ofertas!
O chef aparece vestido de terno e gravata ou com vestes talares
típicas dos sacerdotes, há certa pompa na sua presença porque é o vox Dei daquele restaurante. Tal como
nos restaurantes por quilo que compram os ingredientes em locais
especializados, com pre-parados, muitos dos sermões são buscados em sites. O
sermão virou commodity: toma-se emprestado sem citar a fonte, compra-se um já
feito, faz-se uma colcha de retalhos com as ideias de vários autores e lá vai a
gororoba alimentar os clientes daquele domingo.
Estava ouvindo uma pregação juntamente com um amigo e, acerta
altura, o pregador falou algo que não era do estilo e nem da capacidade
intelectual do orador. Imediatamente meu amigo pegou o celular e achou onde o
sujeito tinha “roubado o sermão”. Sobra de outro restaurante servido como
comida recém feita.
Não aguento mais comida por quilo e nem igreja da mesmice!
Marcos Inhauser